Capítulo 12 - Quão bom é bater?

Yung-ji saiu para levar o chefe até o aeroporto, mas quando voltou, encontrou Vanessa de joelho, com a cabeça abaixada.

— Senho... — ele começou a falar, mas parou quando a fitou melhor.

O chão estava gelado e as palmas das mãos dela, que o tocavam, tremiam. O olhar perdido, paralisado no meio do nada e completamente frio era o mais assustador. Yung-ji, como um bom guarda-costas/amigo andou devagar até a menina parada no chão e sussurrou:

— Senhorita Kim, você está... — mais uma vez, Yung-ji precisou parar de falar, pois Vanessa se mexeu.

Seus ombros caíram e a coreana levantou a cabeça lentamente, parando no rosto do guarda-costas. Ele até quis falar alguma coisa, mas de repente, percebeu que aqueles inocentes olhinhos puxados começaram a lacrimejar. Então, antes que ela pudesse desabar, se abaixou e ficou em frente a ela.

— Senhorita Kim...

Ela piscou uma vez, talvez na tentativa de cessar com as lágrimas e continuou calada, olhando-o.

— Senh...

— Yun-ji — ela sussurrou, quase sem forças. Os ombros caíram mais e uma lágrima solitária escorreu, parando no chão.

Nee... Senhoria Kim.

— Yung-ji — desta vez, sua voz saiu embargada e ela soltou o ar pela boca — Por que ela me odeia?

Mwo? — perguntou, franzindo o cenho.

— Por que... — então, as lágrimas começaram a cair e ela abaixou a cabeça. O choro começou tímido, mas de repente, a intensidade aumentou e ela já estava chorando alto.

Yun-ji sentiu o coração apertar ao vê-la tão triste. Nunca soube que ela tinha mais amigos além de Jeong-ho e ficou feliz quando as brasileiras se aproximaram. Mas, vendo-a daquela forma, começou a ter muita raiva de Melissa Caller.

— Senhorita Kim... — sussurrou e puxou-a, lentamente, para um abraço apertado.

Vanessa encostou a cabeça no terno de Yung-ji e o abraçou. Suas mãos apertavam a manga do terno dele e, ela se permitiu chorar mais.

Wae? — dizia, entre lágrimas, soluços e grunhidos angustiados — Wae...

— Não sei... — o guarda-costas falava ao mesmo tempo que acariciava os cabelos dela — Mas vai passar...

Ficaram abraçados por alguns minutos até que Vanessa pegou no sono e Yun-ji a colocou no sofá. Gostava, estranhamente, do fato dela manter o equilíbrio entre as lágrimas e o sono. Sempre que terminava de colocar tudo para fora e ficava mais leve, a pequena coreana dormia. Por vê-la com o mesmo costume, se sentiu aliviado.

— Eu já venho, senhorita Kim... — falou, pegando as chaves do carro.

Ele não podia deixar Vanessa sair do quarto, afinal recebeu ordens duras de Yeong-gi e a menos que quisesse que sua mãe, que estava na Coreia, sofresse por suas ações, tinha que obedecer. Mesmo assim, sendo um homem com mais de trinta anos, não podia deixar de se colocar no lugar daquela pequena coreana. Viu Vanessa Kim nascer e crescer. Quando Yeong-gi era duro demais com a filha, ele estava lá para tentar ajudá-la a passar por tudo, como na vez que recebeu instruções de não levar comida para a garota, mas a ignorou e entregou-a uma sacola com cookies de chocolates. Então, assim como no passado, ia buscar conciliar as obrigações com a humanidade que habitava em si.

Meia hora depois, ele voltou para o apartamento com duas sacolas médias cheia de comida.

— Senhorita Kim? — a chamou, colocando a sacola em cima da mesa — Eu sei que a senhorita está chateada com tudo que aconteceu, mas precisa comer...

Ele esperou por uma resposta, mas Vanessa não respondeu. Permaneceu fingindo que estava dormindo. No entanto, ela acordou dez minutos depois que Yung-ji saiu e ficou chorando.

— Vamos, por favor, senhorita Kim... — disse, pegando a sacola de cima da mesa, abriu-a e tirou de lá uma porção de cookies de chocolate.

— Eu não estou com fome, Yung-ji... — o som de sua voz quase não foi ouvido.

O guarda-costas soltou o ar pela boca e fechou os olhos. Em seguida, tentou manter a pose e chacoalhou a sacola para ela ouvir.

— Tem certeza que perdeu a fome? — disse, abrindo mais a sacola e começou a tirar alguns itens dela — Eu trouxe uns doces a mais pra você. Tem cooki, bolos, tortas... — Yung-ji parou de falar quando viu que a coreana não se moveu. Soube na hora que a situação era pior do que tinha pensado.

Ele pressionou os lábios, olhou-a pelos cantos dos olhos e disse:

— Quer que eu ligue para ele?

— Por que... eu não morri... na barriga da Eomma?

— Senhorita Kim... — o coração de Yung-ji apertou novamente e ele jogou o Cookie dentro da sacola.

— O que eles têm de diferente? — disse, sentando-se com as pernas cruzadas. Depois, olhou para Yung-ji e tomou a sacola de suas mãos.

Ele sorriu de canto. Em seguida, sentou no sofá, ao lado dela, e cruzou os braços ao mesmo tempo que respirava fundo.

Appa nunca me ouve e se recusa a dar atenção às minhas vontades e opiniões. Pensei que ela fosse diferente, mas também ignorou quando falei que não queria ser ajudada. Yung-ji, eu disse que ele era assustador e mesmo assim... — ela soltou o ar e enfiou um doce qualquer na boca. — Como eles podem ser diferentes?

— Não sei, por que vocês eram amigas?

— Por que... ela parecia se importar.

— Será que...

— Não! — reclamou, fitando-o com raiva — Ela não fez isso porque se importa. Quem faz isso? Talvez o appa esteja certo e aprendi essa verdade tarde demais.

— Verdade?

"Nari, as pessoas não são confiáveis e quando alguém se aproxima, tem uma estratégia. Por isso, sempre tenha uma melhor e fique um passo à frente..." — repetiu a frase que ouvia quando criança.

Yung-ji fitou o teto e pegou um Cooki da sacola.

— Vai passar...

Silêncio nebuloso.

— Não, Yung-ji — finalmente disse, deitando-se do outro lado do sofá. E com a voz carregada de rancor, terminou a frase, dizendo: — Eu farei passar...

Depois disso, o guarda-costas preferiu comer em silêncio.

Vanessa adormeceu mais tarde e ele saiu da sala com cuidado para não acordá-la. Do lado de fora, sacou o celular do bolso e ligou para Jeong-ho. Contou tudo que tinha acontecido. O coreano disse que estava em período de avaliações, que eram as últimas do ano, mas que precisava ficar lá. Também conseguiu acalmar o guarda-costas dizendo-lhe que assim que possível ligaria para a melhor amiga e quando entrasse de férias, iria visitá-la. Isso deixou Yung-ji um pouco mais calmo, mas sabia que Vanessa Kim ainda tinha que lidar com dias piores e sentiu pena dela.

[...]

— O que aconteceu? — Fernando Walk perguntou, assim que viu Vanessa descer do carro. Seus olhos e nariz estavam avermelhados e inchados.

— Eu não tenho nada para falar com você, nem com sua namorada... — respondeu, sem olhá-lo. Em seguida, começou a andar e tentou ignorar a presença do universitário, mesmo com dificuldade.

— Eu soube de tudo, mas Melissa só quis te ajudar.

— Me ajudar? — disse, parando de andar e virou para encarar ele — Acha que falar com o melhor amigo do meu appa é me ajudar, Fernando? Aish! — respirou fundo para tentar manter a calma.

Jeong-ho sempre dizia que o melhor era não brigar, era bom manter a paz, até com aqueles que fazem mal. Mas a que custo? Estava farta de ser a boazinha que apanhava de todos! Acordou decidida a mudar de uma vez por todas!

— Vanessa, por favor... Tente entendê-la — falou segurando em seu braço com cuidado. Ele dizia que Vanessa fazia parte do grupo de pessoas que chamava de "calmas estressadas". Ela costumava ser gentil, mas se alguém a irritasse, mostraria a que veio. Por isso, antes que a coisa piorasse, tentou acalmá-la, mostrando que não foi até ali para brigar.

Jugeullae? — Yung-ji perguntou em coreano, e se aproximou de Fernando — Solte-a.

Ele obedeceu.

— Olha aqui, Fernando Walk — a coreana deu um passo em frente e o fitou, sustentando o olhar de desprezo — Eu não quero ter nada a ver com sua namoradinha. Aliás, nem com ela, nem com você.

Fernando a deixou passar e a viu se afastar.

De longe, Vanessa avistou Melissa e Rebeca passarem pela entrada da universidade. Pediu desculpas a Deus e Jeong-ho mentalmente pelo que ia fazer, mas estava fora de si. Não podia viver se comportando como uma idiota, deixando com que todos fizessem dela o que bem entendessem. Já tinha chegado ao limite e a traição de Melissa Caller foi a gota d'água. Assim como os faraós, ia mostrar a que veio com o peso do chicote.

— Melissa! — gritou, caminhando rápido até ela.

— O que foi? Está tudo bem com você? E esses olhos inc...

Aish, Ya! — Vanessa gritou, tirando as mãos de Melissa do seu rosto — Acha mesmo que sou idiota a esse ponto?

— Pera lá, Vanessa. Não pode falar assim com minha melhor amiga, ouviu? — Rebeca comentou, ficando na frente de Melissa.

— Me poupe você também, Rebeca — revirou os olhos e empurrou-a para longe — Você é só a sombra da Melissa, não percebeu? Ninguém aqui liga pra você. Inclusive, se a Melissa morrer essa sua popularidade escorre pelo ralo!

— Vanessa! — Melissa a repreendeu — Eu não sei o que você tem, mas não pode maltratar as pessoas assim. Ninguém tem culpa!

Ya! Não tem culpa? — ela gritou, e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os — Estou farta, Melissa. Quem é a culpada do meu inferno? É você, fofoqueira!

Melissa se aproximou dela e lhe deu um tapa no rosto. Sabia o que Vanessa viveu, mas isso não lhe dava o direito de maltratar ninguém, inclusive ela.

Ya! — Ela gritou, no bom e velho tom coreano de gritar que dava arrepios até na espinha de quem ouvia. Os olhos cerrados, punhos fechados e nariz fumegando. Vanessa levantou a cabeça, olhou para Melissa e falou entre dentes: — O que você acabou de fazer?

— Eu não sei o que deu em você, mas quem pensa que é para me ofender desse jeito? — Melissa reclamou ficando irritada.

— Sua cobra! — Vanessa gritou, e avançou, pegando no cabelo de Melissa com raiva.

Nunca tinha feito nada parecido. Em todas as vezes que foi ofendida, buscou abaixar a cabeça e mantinha o controle. Seguia os conselhos de Jeong-ho e de Deus, quando diziam que se alguém batesse de um lado da face, deveriam oferecer o outro. Mas sua política de comportamento começou a sofrer mudanças a partir dali.

Não, não ia oferecer a outra face, na verdade, ia bater com mais força!

— Vanessa, solta ela! — Rebeca gritou, tentando afastá-las.

— Não se meta, Rebeca! — disse, puxando o cabelo de Melissa com mais força, fazendo-a dar um grito logo em seguida — Eu estou farta dessa palhaçada! Todo mundo pisa em mim. Me tratam como lixo, não respeitam o que digo ou penso, mas a partir de hoje isso terá um fim. Está ouvindo, Melissa Caller? Por sua causa minha vida voltou pra o inferno e você vai me pagar!

— Senhorita Kim! — Yung-ji finalmente conseguiu alcançá-la, pois ela tinha saído na frente correndo atrás de Melissa — Senhorita Kim, por favor, solte-a. A senhorita nunca teve esse comportamento antes...

— Acostume-se, Yung-ji. Nunca mais, nunca mais alguém vai pisar em mim como o appa costuma fazer e vou começar por você! — falou para Melissa e puxou mais ainda o cabelo dela a fazendo dar outro grito de dor.

— Me solta, sua maluca! Me solta...

— Não!

— Rebeca, pelo amor de Deus faz alguma coisa! — Melissa pediu, quase chorando de dor.

— Vanessa! — Fernando disse, parando de frente para ela — Solta ela, por favor? Eu sei que está com raiva, mas não é assim que se resolvem as coisas. Olha só o tanto de gente que está vendo isso...

De alguma maneira, aquelas palavras a lembraram de Jeong-ho. Era aquele tipo de comentário que ele faria se a visse daquele jeito. Por isso, mesmo relutante, em respeito a Jeong-ho, soltou-a com raiva. Melissa perdeu o equilíbrio e quase caiu no chão, com as mãos na cabeça.

— A partir de hoje, não chegue perto de mim, traidora! — falou, firme — Lembre-se dessa dor. Se você pensar em me fazer mal, sentirá uma dor pior ainda!

Ela girou os calcanhares, pegou a bolsa que deixou cair e saiu de lá, pisando firme, os deixando boquiabertos. À medida que andava, sentia a adrenalina pulsar no sangue e apesar de ter conhecimento da tristeza que perdurava o coração, gostou do que fez. Afinal, sempre foi a que apanhou e não sabia como era "bom" bater também.

Jugeullae - Quer morrer?

Mwo - O quê?

Ya - Ei

Wae - Por que?

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