Prólogo
Desde os seis anos, após a morte de meus pais, vivo em um internato feminino na Suíça, em uma pequena aldeia nos Alpes, perto da fronteira com a Áustria.
Tenho poucas lembranças de meus pais e da minha primeira infância.
Este lugar, com suas paisagens cobertas de neve e o ar puro das montanhas, é meu lar e minha única realidade há muito tempo.
Ao completar dezoito anos, no entanto, vejo esse capítulo da minha vida chegar ao fim.
Hoje, a diretora do colégio se reuniu comigo para informar que minha permanência na instituição está prestes a terminar. Dentro de uma semana, terei que deixar este refúgio acolhedor e voltar ao Brasil, um país que, embora seja minha pátria, nunca chamei de lar.
A vida no internato foi marcada por rotinas e amizades que se tornaram parte fundamental da minha história. Aqui, fiz boas amizades, meninas que compartilharam comigo os pequenos e grandes momentos da adolescência — as risadas durante o recreio, as conversas na hora do jantar, as aulas de música, as noites em claro antes das provas.
Cada uma delas me deixara uma lembrança e hoje, ao olhar para trás, percebo que este companheirismo foi o único contexto familiar que tive, além do Dr. Laércio Amparo e sua família, que moram no Brasil. Ele, sua esposa e filhas são a única "família" que conheço. A distância, embora geográfica, não impediu que nos víssemos nas férias escolares, momento em que viajávamos todos juntos para diferentes partes do mundo, menos para a minha terra natal. Sempre estranhei a falta de contato com outros parentes que, por alguma razão desconhecida, foram afastados de mim.
Dr. Amparo, meu tutor e padrinho, sempre esteve presente em minha vida, sendo meu apoio constante. Eu o chamo carinhosamente de tio.
Meus pais confiavam muito nele, a ponto de deixá-lo com minha guarda e com a administração da fortuna que será transferida para mim quando retornar ao Brasil.
A formatura, que deveria ser a celebração do fim de uma longa etapa da minha vida, é marcada por uma sensação agridoce. A felicidade de conquistar o diploma de ensino médio, de estar pronta para um novo começo, mistura-se com a saudade do lugar que sempre me protegeu e das pessoas com quem convivi por tantos anos.
Minha chegada ao Rio de Janeiro já está marcada.
Agora que os preparativos para a viagem estão em curso, uma parte de mim não consegue se entusiasmar. Daqui a uma semana, terei que deixar este local e aqueles que tanto estimo.
Sempre estive ciente que esse dia chegaria, o que não abranda a angústia que sinto.
Deixar para trás as montanhas suíças e a tranquilidade do colégio para enfrentar a agitação do Rio de Janeiro, com seus ritmos frenéticos e paisagens vibrantes, não é algo simples para mim.
Sei que minha vida vai mudar em definitivo.
Mas, talvez, o que mais me incomode é o pressentimento de que, ao voltar ao Brasil, novas verdades sobre mim mesma e sobre meu passado começarão a surgir — verdades que até agora permaneceram ocultas.
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