Capítulo 19 - Caso difícil
Há uma hora naquele lugar com os dois policias que não se desgrudavam dela, Sara já se sentia mais fedida que um peixe podre.
O corpo da vítima, além de está em estado avançado de decomposição, ainda se encontrava num lixão a céu aberto e pra piorar mais ainda a situação de Sara, metade dos membros inferiores e superiores foram cortados e jogados em diferentes partes daquele lixão. Sara estava revirando aquele lugar a procura das quatro partes. Ainda bem que o lixão não era tão grande senão, ela passaria a noite toda ali. Ô casinho filha da mãe esse!
Enquanto Sara procurava as partes que faltavam no corpo que por sinal já havia sido removido dali, a perita resmungava e xingava Grissom dos piores nomes possíveis e conhecidos.
_É um caso simples e fácil... Divirta-se! - ela falava tentando imitar a voz do supervisor. _Cínico! Ele fala na maior cara de pau. Como alguém pode ser assim? - falava consigo mesma.
Ela estava inconformada com aquele caso que seu chefe lhe deu. Ele fez aquilo de propósito.
Os policiais que acompanhavam a perita olhavam pra ela intrigados e achando que ela não fosse normal, já que desde que chegaram ali a mulher não parava de falar sozinha.
_E o cachorro ainda me manda sozinha pra um caso desses. Às vezes tenho vontade de acabar com aquele sujeito. - Sara encontra a primeira parte dos membros. Fotografa-o e o embala. Agora só faltavam três.
Atrás da perita uma voz grossa se pronunciou.
_Com quem gostaria de acabar?
Como Sara estava de costas e muito P da vida, nem se atinou pra voz da pessoa só fez responder achando que fosse um dos policiais que tivessem lhe perguntado.
_Com aquele infeliz do Grissom, que pra minha desgraça é meu supervisor.
_Não devia falar assim dele, se não seu chefe pode te dar uma suspensão.
Sara se virou pra pessoa com a intenção de lhe dizer que pouco lhe importava ser suspensa, só que ao fazer isso descobriu que quem falava com ela o próprio Grissom.
Por segundos, a mulher ficou calada só encarando o supervisor a sua frente que a olhava com uma das sobrancelhas erguidas, surpreso pelas coisas que já tinha ouvido a subordinada falar a seu respeito.
Depois que se recuperou da surpresinha nada agradável, Sara falou:
_Olha só... Se não é o próprio aqui na minha frente.
_Cínico... Cachorro... Infeliz... Não quero nem pensar nos outros belos nomes pelos quais já me xingou antes de eu aparecer.
_O que quer aqui?
Grissom se dirigiu aos policiais primeiro antes de responder a pergunta de Sara.
_Vocês poderiam nos dar licença? É que preciso falar a sós com a nervosinha da minha subordinada aqui.
Os dois oficiais saíram deixando os dois peritos sozinhos.
_Você não vale um tostão, sabia? Me põe num caso desses sozinha e depois aparece aqui com a cara mais cínica do mundo. Eu devia jogar um saco de lixo desses bem no meio da sua fuça isso sim.
_Além de maluca é violenta também?
_Não me provoca!... Que eu saiba devia estar em uma reunião com o Xerife e não aqui. Foi isso que me disse quando me deu essa droga de caso solo.
_Ei! Caso é caso independente do que seja temos que resolvê-los. E quanto à reunião, ela foi adiada por isso estou aqui... Vim ajudar no caso.
_Nossa como ele é bonzinho!... Quer dizer que vai me ajudar?
_É, a não ser que queira continuar fazendo as coisas sozinhas o que pra mim não é problema algum. Pois assim posso ficar sentadinho aqui só observando enquanto você acaba de analisar tudo o que tem pra analisar e depois vamos para o laboratório.
Grissom colocou sua maleta no chão, sentou-se sobre ela e ficou olhando de uma forma irritante e cínica pra Sara.
A perita não tava acreditando naquilo. O que ele queria ali? Irritá-la? Porque se for isso já estava conseguindo.
_Desde quando aprendeu a ter humor negro assim?
_Acho que desde que você entrou pra minha equipe.
_Que engraçado! - ironiza. _Se veio ajudar então vai pra lá. - apontou pra esquerda. _Ainda não fui para àquele lado.
_Você não manda em mim. Eu que sou o chefe.
_Então chefe faz o seguinte... Vai pro inferno que é melhor.
O supervisor não deixou de dar um sorriso discreto com a resposta mal criada dela. Era fácil fazê-la se irritar.
Sara virou-se pra ir cuidar de seu serviço, mas ainda ouviu uma última provocação da Grissom.
_Não quer me acompanhar até o inferno? É que não sei o caminho!
Sara nem se deu ao trabalho de responder e seguiu seu caminho. Grissom se levantou sorrindo por ter conseguido tirá-la do sério. Em seguida foi pra onde Sara havia indicado que ele fosse.
X X X X X X X X X
_Esse cheiro não vai sair de mim tão cedo.
A perita resmungava enquanto eles se encaminhavam para os carros. Enfim tinham encontrado as quatro partes dos membros e agora o resto seria feito no laboratório.
_Usa limão que sai. - disse o supervisor que vinha logo atrás dela acompanhado de um policial.
Sara olhou para o outro policial que vinha a seu lado e perguntou:
_Percebeu que tem um inseto chato que não se cala?
O policial só fez sorri do quê ela falou.
_Agora sou um inseto. Que maravilha! - Grissom resmunga com certo tom de ironia. _Já reparou que a cada instante me chama de algo diferente? A sua filha é menos infantil que você, sabia?
Ela parou e virou-se pra ele.
_Já deu de gracinhas!
Mais uma mísera "gracinha" e Sara explodiria com ele.
_Não sou palhaço pra ficar fazendo gracinhas. - passou por ela e chegou a seu carro.
_Qual é a sua, hein? Acho que não veio aqui pra ajudar coisa alguma. Veio foi só pra atazanar a minha cabeça não é?
Eles estavam parados em frente ao carro dele. Grissom guardou as evidências no porta-malas do veículo sob o olhar furioso de Sara que esperava sua resposta.
Os policiais só observavam chefe e subordinada discutirem. Grissom vendo que os dois olhavam pra ele e pra Sara, disse que aos mesmos que podiam ir, pois ele e sua subordinada também já iriam. Os dois se foram e Grissom só então se dispôs a responder à Sara.
_Eu não vim te atazanar coisa alguma. Vim somente te ajudar.
_Mas não é o que parece.
_Só que é isso que vim fazer. Vou ser bem sincero com você, eu não viria. Só que minha consciência ficou me perturbando então eu vim.
_Sua consciência? Conta outra! - não acreditava em nada do que ele dizia.
_É sério, ela ficava: "Grissom vai lá ajudar aquela pobre coitada. Ela não vai dar conta desse caso sozinha." Aí eu vim meio a contragosto, mas vim.
Ele disse tudo isso com a cara mais deslavada possível e isso foi a gota d'água pra Sara. Pra ela, ele tinha extrapolado o limite da sua paciência com aquilo de chamá-la de pobre coitada.
_Agora você vai ver quem é a pobre coitada.
Sara foi na direção de Grissom e começou a dar tapas nele, que se protegia colocando os braços na frente para que os golpes que sua subordinada lhe dava, não pegassem em seu rosto.
_Cheguei ao meu limite seu palhaço. -ela batia nele.
_Ei, para!... Ai!... Isso dói sabia? - ele reclamou se defendendo dos golpes dela.
_É pra doer mesmo. Isso é pra você aprender e parar de me encher a paciência.
Ele por dentro não podia negar que estava se divertindo com aquele acesso de raiva dela. Sem motivo algum queria tirá-la do sério e realmente conseguiu.
Enquanto apanhava, ele começou a rir daquela situação toda e isso deu mais raiva em Sara, que entendeu que ele estivesse fazendo graça da cara dela.
_E o cretino ainda ri. - batia com mais força nele.
_E você queria que eu chorasse? -provocou.
_Eu não sei como os outros te suportam.
_Eles são meus amigos... Au! A sua mão é pesada... Acho que ficou maluca de vez. - falava rindo dela.
_Você pode até me demitir por isso, mas pelo menos fiz o que queria seu sem graça.
Em um gesto rápido, Grissom conseguiu segurar nos pulsos de Sara fazendo com que ela não conseguisse mais bater nele. Logo na sequência, ele prensou a mulher entre o carro e ele, não deixando espaço pra que Sara saísse.
_Me larga, Grissom! - saiu quase como uma ordem.
_Não! E pra sua informação eu não vou te demitir por isso.
_Olha que chefe bom eu tenho. - diz séria e cheia de sarcasmo. _Por que não fará isso? - Sara o encarou firme nos olhos.
_Porque...
Grissom parou de falar e não conseguiu mais continuar, porque aqueles olhos castanhos o fitando firme e desafiadoramente o fizeram perder as palavras. Algo no fundo daqueles olhos, o paralisou e o fez estremecer sem motivo. Suas mãos que seguravam os braços de Sara pareceu receber uma descarga elétrica dando-lhe um choque que na mesma hora o fez largá-la e afastar-se da perita pra não tomar outro choque. Meio desnorteado com tudo aquilo, ele se desculpou com Sara.
_Me desculpe! - desviou seu olhar do dela.
Ele não sabia por quê, mas tinha medo de voltar a encará-la nos olhos de novo.
_Machuquei seu braço?
_Não, mas se tivesse feito isso não estaria vivo pra perguntar.
_Ótimo! Então acho melhor irmos... Temos um caso ainda em aberto.
Sara notou a mudança drástica e brusca de humor dele. Nem de longe agora ele parecia o mesmo sujeito que fazia gracinhas e a provocava como há um minuto. Ele tinha voltado ao seu habitual jeito sério e de semblante fechado, exatamente, como quando o conheceu no supermercado.
_Você é bipolar?
_Não! - diz seco. _Agora chega dessas discussões e provocações já fomos longe demais. Temos trabalho e é melhor voltarmos a ele.
O supervisor se encaminhou pra porta de seu carro para entrar nele, só que antes disso, Sara o segurou impedindo que entrasse.
_Antes de ir, vai me responder por que não vai me demitir? Eu te faltei com o respeito, fui insubordinada e te agredi fisicamente. É motivo de sobra pra que faça isso, então por que não vai me demitir?
Leva um par de segundos pra que o supervisor satisfaça a curiosidade de sua subordinada com uma resposta.
_Não quero minha equipe desfalcada! Além do mais, dará muito trabalho achar outra pessoa pra vaga. É só por isso que não te demito satisfeita? Agora vamos para o laboratório. - entrou em seu carro.
X X X X X X X X
Durante a investigação não houve uma provocação ou qualquer outra 'gracinha' de ambas as partes. Sara até estranhou o jeito de Grissom. Ele parecia incomodado com algo e sequer a olhava. Ela até achou melhor assim, já que ele não lhe perturbava e isso evitava brigas.
O caso foi meio enrolado porém eles o resolveram. Conseguiram identificar o corpo que era de um empresário que estava sumido há dias. E com o avanço da investigação, descobriram que o tal empresário uns dias antes de desaparecer havia vendido metade das ações de sua empresa por 30 milhões de dólares à um grupo financeiro. Descobriram também que ele não tinha parentes vivos e que a única pessoa próxima à ele era sua esposa, ou seja, ela era sua única herdeira. Só que algo chamou a atenção na história. Com um pouco mais de investigação acabaram descobrindo que o casamento deles passava por uma crise e que a esposa tinha um amante, só que o marido não sabia disso.
Daí não foi tão difícil juntarem um mais um e chegaram ao resultado. A esposa num acordo acabou confessando que ela tinha matado o marido com a ajuda do amante. Fizeram isso para que ela pudesse ficar com todo o patrimônio do esposo.
Sara chegou a sala de descanso e encontrou os outros por lá.
_Olha só se não é a morena mais linda desse laboratório. - Greg falou com um enorme sorriso.
Ela retribuiu o sorriso só que não foi muito animado.
_O que foi Sara? - Nick nota a expressão séria no rosto dela.
_Cansaço, Nick só isso. - sentou-se ao lado dele e encostou a cabeça no ombro do amigo.
_Pensei que nem tivesse vindo hoje. - Catherine comentou.
_É que me atrasei por isso não me viram.
_Pela sua cara o caso foi bem difícil.
_Bota difícil nisso, Warrick. Decomposição.
Todos fizeram uma careta quando ela disse do que se tratava seu caso.
_Ninguém merece, mas você... - Greg chegou perto dela pra cheirá-la. _Não está com cheiro do morto. - brincou o jovem.
_Eu usei limão, seu engraçadinho por isso não estou fedendo.
Grissom entrou na sala dispensou todos de forma rápida e saiu logo em seguida.
_O que deu nele?
_Não sei e nem quero saber, Greg. Já o aturei bastante no caso, por isso não faço questão alguma de saber o que ele tem. Vou pra casa. Tchau pra vocês! - levantou-se e saiu da sala.
_Pelo visto eles se estranharam de novo.
_Isso já não é novidade nenhuma, Warrick. - Nick resmungou ao amigo.
_O dia que esse dois não brigarem vai chover dinheiro. - Greg brincou.
_Quando isso acontecer, eu quero estar na rua pra pegar essa grana. -Nick disse rindo e fazendo os outros rirem também.
_Sabe... Pra mim, eles ainda vão se entender qualquer dia.
_Cath...Tenho minhas dúvidas quanto à isso. Mas como dizem por aí, a esperança é a última que morre, então acredite nisso, Catherine. Bem gente vamos embora também que o chefe já nos dispensou. - Warrick avisou já levantando da cadeira e sendo imitado pelos demais logo em seguida.
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