Capítulo 146 - Uma espiã disfarçada
Mary estava recolhendo o lixo da cesta da recepção quando viu Sara passar ali em frente e cumprimentar a Judy e a própria Mary com um sorriso.
—Nossa, eu achei que ela nem viria hoje!
A encarregada da limpeza ouviu Judy lhe murmurar com certo espanto.
—E eu achei que ela parecia muito bem para quem passou pelo o que ela passou juntamente com o Dr. Grissom ontem.
Mary comentou observando Sara seguir seu caminho para a sala onde os demais peritos deveriam estar. Era impressão sua ou a perita parecia feliz? Mas como isso seria possível dada à situação delicada a qual passara na última noite? Aí tinha!
—Você achou, Mary?
—Sim! – Ela confirmou enquanto lembrava-se do que Teri havia lhe ‘’pedido’’ que descobrisse. Talvez a aparente felicidade da perita tivesse relação com a desconfiança de Teri em relação ao supervisor Grissom e Sara. E se fosse isso descobriria e contaria a loira. _Terminei por aqui. Vou cuidar de recolher os demais lixos. Tchau!
Mary saiu com pressa e sem dar tempo a Judy de proferir mais alguma palavra. Dobrando o corredor e longe dos olhos da recepcionista, a faxineira mandou uma SMS para o celular de Teri.
‘’Sara veio trabalhar. E tinha que ver o sorriso que ela trazia nos lábios ao passar pela recepção. ’’
‘’Sorriso?’’ – Foi a resposta mais que imediata de Teri.
‘’Exatamente! Acho que sua desconfiança pode ter um fundo de verdade. Ou então por qual outra razão ela chegaria assim depois do que acontece? Tentarei descobrir hoje mesmo o que me pediu!’’
Não deu nem um minuto que ela enviou outra resposta e essa veio curta e grossa da parte da loira.
‘’Não quero que tente. Quero que descubra! Até mais!’’
A faxineira leu e tratou de guardar o aparelho celular no bolso no instante seguinte para voltar ao serviço antes que alguém lhe visse ali de bobeira e reclamasse disso.
Enquanto isso sem sequer imaginar que naquele turno estaria sob forte vigilância dos olhos astutos da faxineira, Sara seguia pelo corredor do laboratório. O sorriso de orelha a orelha ao qual não saía de seu rosto desde quando saíra do hospital, ela tentou inutilmente disfarçar assim que pôs os pés no laboratório, mas não estava conseguindo. Porém, ela fez questão de escondê-lo assim que faltavam poucos passos de chegar aonde seus colegas de trabalho se encontravam. Por hora não diria nada a eles pra evitar que a boa notícia se espalhasse sem querer e chegasse aos ouvidos de quem não devia, causando o mesmo reboliço que da outra vez. Deixaria para partilhar as boas novas com os amigos em outro lugar mais apropriado, longe do local de trabalho deles.
Mas o problema é que ela estava tão feliz por ter se acertado com Grissom que tentar disfarçar sua felicidade e esconder dos amigos o sorriso bobo ao qual involuntariamente deixava escapar, tornava-se uma árdua tarefa. Entretanto, ela teria que disfarçar e mais ainda, ser bem convincente, pois estaria cercada de excelentes CSI’S que certamente perceberiam algo de diferente nela.
—Boa noite, gente! – Ela cumprimentou aos meninos que já se encontravam na sala conversando animadamente.
—Boa noite, Sara! – Os três responderam em coro.
—E a Catherine?
—Com Ecklie!
O diretor do laboratório havia chamado a loira, instantes atrás para lhe dar instruções a respeito da supervisão do turno já que Grissom estava ausente por motivos de total conhecimento de todos ali.
—Sara ontem nem tivemos a chance de falar direito com você. Mas como está passando depois do que aconteceu?
—Estou bem apesar de que ainda me sinto um pouco assustada com o acontecido, Greg, mas vou superar esse susto rapidamente.
—Com certeza vai. E realmente, uma situação como a que você e Grissom passaram, é algo tremendamente assustador.
—Não faz idéia do quanto, Warrick!
—Sara não teria sido melhor você ter pedido uma licença de dois dias pra...
—Não, não, Nick... – Imediatamente, a morena interrompeu o amigo. _Eu achei melhor vir trabalhar mesmo e ocupar a mente pra não ficar pensando no que aconteceu. Além do mais, a equipe já está desfalcada de um integrante, e dois seria demais!
—Meninos, o trabalho chegou! – Catherine anunciou entrando na sala. _Sara!! Oi! Pensei que nem viesse trabalhar hoje depois do que aconteceu na última noite.
—Eu preferi vir a ficar em casa remoendo o que aconteceu.
—Mas, você se sente bem mesmo para trabalhar?
—Pode ficar tranquila que estou ótima! Ou do contrário não viria.
Pra quem na noite passada esteve na mira de um sujeito desequilibrado e presenciou o ex-marido levar um tiro diante de seus olhos, Catherine percebeu que sua amiga estava realmente ótima.
—Ok! Se você diz que está ótima então acredito!... Vamos ao trabalho pessoal! – Anunciou a loira antes de dar início a distribuição dos casos.
***
—Eu ainda acho que você devia ter ficado pelo menos essa noite em casa pra se refazer do susto de ontem. – Nick comentou enquanto guiava seu carro tendo Sara sentada ao seu lado no banco do carona.
—Já disse que estou ótima, Nick, sério! Não havia necessidade alguma de eu ficar em casa.
O perito resolveu se calar e não insistir mais naquilo, pois se ela estava teimando em dizer que estava bem, então ela devia estar mesmo. Sabia que ela não mentiria aquele respeito.
_Você tem notícias de como está o Grissom? Eu pretendia ir visitá-lo antes de vir trabalhar, mas ocorreu um imprevisto que me impediu de ir ao hospital. Pensei em ligar, mas me dei conta de que não tinha o número do hospital.
—O Grissom está bem!
Sem ao menos perceber já que estava com a atenção a pista, Nick nem viu o sorriso que escapou dos lábios de Sara ao lhe responder!
—É mesmo? Foi visitá-lo então? – O perito lançou um rápido olhar para amiga antes de fazer a curva e pegar o retorno pra ir para a outra avenida.
—Sim! Antes de vir trabalhar, eu dei uma passada no hospital pra saber como ele estava e também para levar a Liv pra visitá-lo. Ela acabou descobrindo por intermédio de um noticiário na TV, que o Grissom estava num hospital e na mesma hora disse que queria vê-lo. Então eu não tive outra escolha senão levá-la até ele. – Explicou à morena.
—Aposto que ele deve ter ficado feliz em receber a visita de vocês.
—Sim! – Foi impossível conter o sorriso ao responder a essa pergunta.
E dessa vez, Nick não deixou de notar o sorriso da amiga assim que estacionou em frente à loja onde já havia algumas viaturas com policias a espera dos peritos.
—Posso saber o motivo desse sorriso?
—Nada de mais ora! – Ela tentou dissimular sua felicidade, mas estava sendo tão difícil isso. _O quê? – Sara percebeu o olhar incisivo de seu amigo para si.
—Nada! Só que... Tenho a ligeira impressão de que você está diferente hoje! Parece feliz, sei lá!
Felicidade é algo que salta aos olhos e que dificilmente se consegue esconder ainda mais, de pessoas as quais convivem com você e te conhecem tão bem.
—Levando em consideração os acontecimentos de ontem e o fato de o desfecho não ter sido o pior, eu creio que devo estar ‘’feliz’’ mesmo. Pois estou bem e o Grissom também apesar do tiro que levou.
Sara limitou-se a dizer. Ela poderia sim contar a Nick o real motivo de sua ‘’expressão diferente’’, pois tinha absoluta certeza de que o amigo guardaria segredo, porém a morena decidiu não fazer isso porque queria compartilhar aquilo quando os demais estivessem juntos. Não queria contar primeiro pra um, depois para o outro e assim por diante. E desse modo, ela acabou por dizer o que disse a Nick a fim de ‘’justificar’’ o que astutamente o amigo havia percebido, ou do contrário, acabaria atraindo mais suspeitas do mesmo.
—Bem, olhando por essa ótica realmente você tem razão de estar feliz mesmo. Aliás, todos nós temos razão pra estar feliz também já que dois amigos nossos estão bem. – Ele piscou para a amiga de tantos anos.
***
Vagando despretensiosamente com seu carrinho de limpeza pelos corredores do laboratório, Mary procurava por Sara a quem viu retornar de sua cena de crime há certo tempo, mas até o presente momento ainda não teve a sorte de reencontrá-la a fim de espreitá-la e pegar alguma conversa ‘’reveladora’’ sua com alguém, a qual renderia à faxineira a informação que Teri tanto queria.
Mas eis que com um pouco mais de insistência na busca, ela acabou encontrando a perita na companhia de Archie na sala de áudio e vídeo. Esse local por sinal havia sido o primeiro no qual a faxineira havia passado ao iniciar sua busca incansável por Sara. Fingindo que passava um pano pela parede de vidro da sala, Mary apurou bem seus ouvidos na tentativa de ouvir a conversa dos dois e conseguiu constatar alguns segundos depois de escuta, que eles falavam a respeito de algum caso no qual a perita estava trabalhando naquela noite.
Disfarçadamente, ela permaneceu por ali somente a espreita e quando viu a perita se encaminhar para sair da sala, a faxineira recolheu suas coisas e rapidamente tornou a seguir a perita com a mesma discrição com a qual seguiu Sara a primeira vez. Porém, no meio de sua discreta ‘’perseguição’’, a faxineira foi parada por alguém que lhe disse que no segundo andar do prédio estavam precisando rápido dos serviços de limpeza dela. Mary não teve outra alternativa senão dá um tempo na sua ‘’perseguição’’ a Sara e ir cuidar do seu trabalho ou caso contrário, seria chamada a atenção por seus superiores e pior, poderia acabar despertando a desconfiança de seu ‘’alvo’’.
Durante as horas que se seguiram naquele turno, Mary não teve mais qualquer outra oportunidade sequer de espionar Sara porque sempre lhe aparecia algum serviço para fazer. Parecia que justamente naquela noite, todos ali resolveram necessitar de seus serviços de limpeza pra insatisfação da faxineira que via sua chance de ganhar uma boa e ‘’fácil’’ grana ser adiada para quem sabe, o próximo turno. Ela até já estava se conformando com isso, mas ao se aproximar da sala de armários, a faxineira escutou Catherine em uma conversa com Sara, e resolveu escutar na intenção de descobrir algo que valesse a pena.
—Soube que foi visitar o Grissom ontem antes de vir pra cá.
—Nick te contou isso foi?
Seu amigo com certeza deve ter ‘’repassado’’ essa informação a loira. Porém, para a surpresa de Sara, ela descobriu que não foi Nick quem contou aquilo a Catherine.
—Não! Foi o Grissom mesmo quem comentou comigo ontem quando ligou pra saber como estavam as coisas por aqui.
—Ah, foi?! – Ela ficou surpresa com aquilo.
—Sim! A sua visita e a da Liv, deixaram-no bem contente.
—Ele te disse isso?
—Não foi preciso! Só de ouvi-lo falar, dava pra sentir a alegria dele. Olha... Sei que o momento não é o mais apropriado pra esse tipo de conversa, mas... Depois do que houve ontem não acha que devia deixar a mágoa pra trás e dar uma chance a você e o Grissom. A vida é curta e o amanhã é uma incógnita. O pior podia ter acontecido ao Grissom ontem, mas felizmente isso não aconteceu. Então não desperdice mais tempo presa a um sentimento como a mágoa. O Gil já disse tantas vezes que está arrependido e te ama tanto, Sara.
—Catherine...
—Sei que já banquei a advogada dele inúmeras vezes pra você, mas da mesma forma que bancava a sua advogada pra ele, eu me vejo no direito de agir da mesma forma com relação ao meu amigo. Gosto de vocês dois e gosto mais ainda de vocês juntos.
—Catherine...
—Aposto que você está louca pra me mandar calar a boca e parar com esse assunto, não é? Então fique tranquila, porque eu vou me calar e parar com o assunto por aqui mesmo, pois já estou dando fora daqui agorinha mesmo. Tchauzinho e pensa no que eu disse!
Catherine saiu tão às presas da sala na intenção de evitar dar oportunidade a Sara de lhe dizer qualquer coisa em resposta ao ‘’discurso’’ que acabara de lhe dirigir, que nem notou a presença de Mary do lado oposto ao qual ela seguiu.
Dentro da sala de armários, Sara balançou a cabeça e começou a rir da amiga e de sua rápida fuga.
—Catherine... Catherine... Se você soubesse! - Ainda sorrindo, a morena apanhou sua bolsa e saiu da sala sem também notar a presença de Mary ali do próximo.
A faxineira por sinal não deixou de ficar bem intrigada com essas últimas palavras que ouvira da perita. Não perdendo tempo, ela pegou seu celular e ligou imediatamente a Teri a fim de lhe contar o que acabara de escutar. No quarto toque da chamada, ela ouviu a voz sonolenta de Teri atender a ligação. Pediu desculpas por ter acordado a mulher e então lhe disse que tinha ouvido algo bem interessante. Ao ser indagada por Teri a respeito do que era, a faxineira então lhe contou sobre a conversa que ouviu e também o que Sara disse após a saída de Catherine da sala.
—Isso quer dizer o quê afinal? Que ela e Grissom estão juntos?
—Talvez sim, talvez não! Eu ainda não sei bem.
—E você me ligou pra quê se não tem certeza de nada?
—Poxa, eu achei que te interessaria saber do que ouvi.
—Olha quando você tiver algo certo e principalmente, algo de concreto, me liga! Passar bem! – Teri encerrou a ligação grosseiramente e sem dar à menor chance a faxineira de pronunciar mais alguma coisa.
—Nossa, quanta falta de educação!... – A faxineira resmungou encarando o celular. _Mas eu vou conseguir tão logo a informação que quer Teri e aí, você terá que me pagar muito bem por ela.
E pelos três dias que se seguiram, Mary continuou seguindo de maneira discreta cada passo de Sara ali pelo laboratório e espreitando cada conversa da perita com os amigos, principalmente as com Catherine, no único intuito de descobrir o que Teri lhe ‘’pedira’’ pra descobrir.
Entretanto, a faxineira não viu ou ouviu nada que confirmasse de fato que Sara e Grissom tinham reatado, muito pelo contrário, pela forma como ouvia Sara falar, eles ainda continuavam mesmo separados. Mas o que Mary nem imaginava, era que a perita já havia combinado com Grissom de não comentar com os amigos ali no trabalho sobre eles, pra todos os efeitos eles continuavam separados. Os dois contariam aos colegas somente quando o supervisor saísse do hospital e de preferência, fora do local de trabalho deles.
A faxineira passou a Teri a informação de que os dois continuavam separados e exigiu seu pagamento por ter conseguido isso. A loira lhe pagou como haviam combinado e não deixou de ficar mais tranquila e feliz em saber que aqueles dois não haviam se reconciliado mesmo com as insistentes investidas de Catherine em fazer a cabeça de Sara para que ela perdoasse Grissom e o aceitasse de volta.
De posse da informação de que Grissom continuava livre – o que não era verdade, mas Teri sequer imaginava isso. - a perita loira começou a pensar num jeito de se aproximar do supervisor para reconquistá-lo. Mas o que ela mal podia sonhar é que nem teria tempo pra tentar algo, pois tão logo a verdade seria despejada sobre ela como uma bacia de água fria, muita fria!
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