Capítulo 136 - Amiga imaginária
_Any??
Sara chamou pela babá logo que entrou em casa e ouviu-a responder que estava na cozinha. Largando sua bolsa sobre o sofá, a morena seguiu para onde Any disse estar.
_Oi! Já ia tirar a mesa do café.
_Pode tirar, já tomei café mesmo.
_Ah, já?! Com o pessoal do laboratório? – Indagou a babá enquanto começava a desfazer a mesa do café com a ajuda de Sara.
_Não! Na verdade foi com o Ernest! Ele me convidou no início do meu trabalho e eu aceitei.
Any encarou Sara imediatamente com uma expressão de confusão.
_Esse Ernest por acaso não é aquele policial que você me contou que parece estar interessado em você?
_Parece não, ele está. Me disse isso com todas as letras durante o nosso café e ainda me pediu pra vê-lo com outros olhos, Any.
_Uau!!... E você, o que disse?
A babá já podia imaginar qual seria a resposta, mas ainda assim indagou Sara pra ter certeza se realmente ela fez o certo. E foi com alívio que ouviu da morena que ela tinha dito ao policial que não estava em condições de se relacionar com ninguém e a razão disso já era bem conhecida pela babá.
_E qual foi à reação dele?
_Ele ficou obviamente decepcionado, mas acredita que depois ele me propôs de sermos amigos?
_Sério?
_Sim! E se não bastasse isso, ele ainda intercedeu em prol do Grissom quando contei o que ele fez.
Any ficou boquiaberta com isso. O sujeito leva um fora, depois propõe amizade e ainda intercede pelo ex da mulher que ele se declarou? Que cara é esse? Só pode ter saído de algum conto de fadas!
_Sabe que começo a gostar desse policial? E mais ainda por ele ter intercedido pelo Grissom. Devia dar ouvidos a ele já que a mim não escuta.
_Pode parar. Independente do que ele disse a respeito do Grissom, a minha opinião de não perdoá-lo continua a mesma, Any.
A babá balançou a cabeça negativamente. Meu Deus como ela é teimosa mesmo!
_E aquela coisinha chamada segunda chance?... Acho que Grissom merece, sabia?
Sara revirou os olhos. Lá vinha mais uma vez Any bancar a advogada de Grissom. Desde que contou a babá sobre o pedido de perdão do supervisor após ele ter descoberto a verdade sobre a armação, que Any não parava de lhe atormentar com essa história de ‘’segunda chance’’. Ela não era obrigada a dar segunda chance alguma, ainda mais, para alguém que lhe magoou tão profundamente assim.
E tentando fugir dessa conversa com a babá, a perita disse a Any que subiria pra tomar um banho e dormir. Porem, antes que ela seguisse com isso, a babá lhe impediu ao dar o recado que a professora de Lívia mandou mais cedo, quando foi deixá-la na escola. Ela queria falar com a mãe de sua aluna o mais tardar possível, mas não quis adiantar qual era o assunto.
_Que estranho! Será que a Liv aprontou alguma coisa?
_Acho pouco provável. Ela não é de aprontar, Sara.
A perita agora havia ficado intrigada com esse recado. Nunca tinha sido chamada por uma professora antes. Apesar do temperamento que Liv herdara em grande parte da mãe, a menina nunca havia dado qualquer trabalho na escola ou criado algum problema, sempre se comportava muito bem. Vivia sendo motivo de elogios das professoras tanto por seu comportamento quanto por sua facilidade em aprender.
_Eu disse pra ela que ia te perguntar quando dava pra você ir lá.
_Bom, se ela quer me ver o mais tardar possível... Eu vou hoje mesmo então. Só preciso descansar um pouco e quando estiver na hora de buscar a Liv, você me chama caso eu durma demais?
_Chamo, pode deixar.
Sara então subiu e depois de um rápido banho, ela caiu na cama e imediatamente pegou no sono de tão cansada que se encontrava.
***
Parada em frente ao portão da escola assim como vários outros pais que se encontravam ali, Sara aguardava a vinda da professora de Liv a qual o porteiro tinha ido chamar poucos segundos atrás. Quando o homem retornou dizendo que a professora queria falar com ela lá na sala de aula, a perita começou a achar que algo de sério tinha acontecido e seguiu preocupada até onde a professora estava a sua espera.
_Olá, Dayse!
_Senhora Sidle!
A professora deixou sobre a mesa os exercícios que corrigia e veio até a mãe de sua aluna que havia parado na porta da sala.
_Sara... Apenas Sara, por favor!
_Como vai?
_Preocupada. A babá da minha filha disse que queria falar comigo. Algum problema com a Liv?
_Antes de tudo, fique despreocupada porque não é nada sério. E pra falar a verdade não se trata de um problema, mas sim de uma situação que resolvi lhe contar porque achei que devia saber. Talvez ainda nem tenha percebido isso que vem acontecendo.
_O que vem acontecendo?
A professora começou a relatar que ontem sua assistente Célia lhe contou após todos os alunos já terem ido, que em determinado momento do recreio viu Liv sozinha perto da roseira e a menina parecia estar falando com alguém. Entretanto, não havia ninguém perto dela, algo no mínimo estranho pra jovem assistente, mas nem tanto pra Dayse que logo suspeitou qual fosse à razão disso.
Quando foi hoje, a professora disse que resolveu observar Liv pra saber se estava certa em sua suspeita, e viu a mesma coisa que sua assistente lhe relatara ontem. Lívia se encontrava parada novamente perto da roseira e parecia mesmo conversar com alguém chegando a determinados momentos sorrir. Dayse ficou observando a menina por poucos minutos pra então ir até ela a fim de saber com quem ela falava. Ao lhe indagar a esse respeito, ouviu dela que se tratava da sua amiga a ‘’moça bonita’’ e até apontou a pessoa que estaria ao seu lado, porem a professora não via ninguém. E com isso, a professora não teve mais dúvida sobre o que estava acontecendo. Sua aluna provavelmente tinha amiga imaginária e certamente, era com ela que Liv estaria conversando.
_Espera aí, você tá querendo dizer que a minha filha tem uma ‘’amiga imaginária’’?
Pela janela da sala, Sara olhou para a filha que brincava com as coleguinhas na área de lazer sob a supervisão da professora assistente.
_Imagino que lhe soe estranho isso, mas é algo que acontece com algumas crianças. Eu mesma vivenciei isso até bem pouco com o meu filho. Ele dizia ter um amigo imaginário chamado Ian.
Por essa a perita não esperava!
Voltando sua atenção a professora, Sara indagou Dayse sobre o que ela lhe sugeria fazer ou que atitude tomar numa situação dessas.
Primeiro de tudo, Dayse tratou de tranquilizá-la e depois lhe disse exatamente o que sua cunhada Cláudia, uma psicóloga infantil lhe falou quando a procurou pra falar de seu filho. Segundo Cláudia, o ideal a se fazer em casos como esses, é não dá muita atenção. Porém, por outro lado, não é bom negar à existência dessa amiga imaginária a criança, como também não é muito correto ficar fingindo enxergar ou conversar com essa pessoa imaginária, porque isso poderia acabar alimentando demais essa história na cabeça da criança e ocasionar dessa amiga invisível passar a ‘’existir’’ por bem mais tempo.
Por fim, a professora ainda completou dizendo que essa era somente uma fase que logo passaria. Um comportamento comum na infância que vai embora sozinho com o tempo.
Sara só esperava sinceramente que fosse assim mesmo como à professora de Liv tinha dito!
***
Enquanto voltavam pra casa, Lívia contava toda animada à mãe o que tinha feito na escola. Sara até tentava focar sua atenção no que ouvia, mas a verdade é que sua cabeça ainda remoía a conversa de ainda pouco com a professora de Liv. Apesar de Dayse ter lhe dito pra não se preocupar tanto com essa história de amiga imaginária, a perita ainda assim estava preocupada. Em contrapartida, ela também se encontrava mais aliviada pelo fato de não ser alguém real com quem Liv andava de conversa. O pensamento de que alguém poderia estar rondando a menina a fim de lhe fazer algum mal, vinha tirando a tranquilidade de Sara desde que sua filha lhe relatara a respeito dessa desconhecida ‘’moça bonita’’, mas enfim isso parecia estar resolvido. Todavia era inevitável não sentir certa curiosidade de saber mais a respeito dessa amiga a qual Lívia vinha mantendo contato.
Será que faria algum mal tirar alguma informação da menina sobre essa... Amiga? Alimentaria demais na cabeça dela essa história toda? Sinceramente, Sara esperava que não, porque ela precisava saber mais até pra sua própria tranquilidade, se é que ela conseguiria manter-se tranquila diante de tal situação. Sua filha falando com alguém que somente ela via, parecia até brincadeira!
_Filha... E aquela tal moça bonita que me contou, você tem visto ela?
Obviamente, já imaginava a resposta em decorrência do que a professora lhe contou, mas esse pareceu o melhor jeito de começar aquele assunto.
_Hãham. Ontem e hoje!
A menina contou como se fosse à coisa mais normal do mundo de acontecer, mas é que pra ela realmente era isso quando se tratava da moça bonita. Ela via e falava com sua amiga como se fosse com qualquer outra pessoa, porque pra ela era alguém normal a sua frente. A menina não tinha noção de que somente ela via aquela pessoa.
_Só que hoje ela me disse que ia ser a última vez que nos veríamos.
Sara notou que sua filha mudou drasticamente seu estado alegre e animado, para um mais triste após ter contado isso.
Apesar de sua amiga ter lhe dito pra não ficar triste quando se despediu dela, Lívia não podia evitar ficar assim, pois já havia aprendido a gostar da ‘’moça bonita’’ que conversava com ela sobre um monte de coisas.
_Por que, ela disse isso? – Sara não escondeu a curiosidade.
_Ah, ela falou que precisava viajar pra longe, mamãe. Pediu pra eu não ficar triste pela gente não se vê mais, só que eu fiquei um pouco triste.
Novamente aquela mistura de alívio com preocupação assolou Sara. Sua filha pelo visto já havia criado apego rapidamente com essa amiga que somente ela via. Será que essa separação imposta por essa amiga poderia causar algum mal emocional na menina? Sara esperava sinceramente que não. Que tão logo quanto à menina se apegou a essa figura imaginária, ela também a esqueça sem demora!
O restante trajeto pra casa foi feito em total silêncio por mãe e filha. Não demorou pra ela estarem adentrando em casa e encontrarem Any passando o aspirador de pó na sala.
De cara a babá percebeu pelas expressões das duas que algo estava errado. Mentalmente, deduziu que talvez isso tivesse haver com o chamado da professora. Resolveu esperar pra indagar Sara a esse respeito quando Liv não estivesse presente. E após a menina ter lhe dado um abraço assim que entrou em casa e dito que ia ver Sam, a babá viu a oportunidade perfeita pra saber de Sara o que tinha acontecido.
_O que houve? O que a professora disse?
Após largar a mochila de Lívia num sofá e sentar-se em outro, Sara começou a contar resumidamente a Any à conversa que teve com a professora de Liv. E posteriormente, lhe relatou sobre o que a menina disse no caminho pra casa.
_Nossa!! Não sei nem o que dizer diante de tudo isso. – A babá estava sem palavras com o que ouviu. _O lado bom é que essa história de ‘’moça bonita’’ acabou tão prontamente quanto começou, não é?
_Sim! Mas será que a Liv vai lidar bem com isso de não ver mais essa amiga? Ela ficou visivelmente triste com isso.
_É claro que vai. Daqui a uns dias ela já vai ter até esquecido isso, vai ver só.
_Espero!
No decorrer do dia, Sara ficou de olho na filha pra vê seu comportamento e com alívio, notou que a menina parecia ter deixado a tristeza de lado e voltado a sua alegria habitual, algo muito melhor de se ver.
Quem sabe Any não estivesse certa mesma e daqui a uns dias Liv já tenha esquecido essa ‘’amiga imaginária’’.
Um tanto melhor se for assim mesmo!
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