Se arrependimento matasse, ele tinha certeza absoluta de que há horas estaria morto. Quão cego foi porque não percebeu a armação por trás daquele flagrante que deu em Sara. Agora, tudo parecia tão mais claro pra ele e aquela velha ‘’teoria’’ que: ‘’as evidências não mentem’’, acabou caindo por terra. Pela primeira isso falhou! As evidências não só mentiram pra ele como foram forjadas e ele não conseguia acreditar que caíra direitinho nela.

Foi tudo tão bem armado que nem por um momento ele desconfiou que tratava-se de uma mentira. Foi um tolo, estúpido, agora tinha consciência total disso! Acabou ferindo e magoando a pessoa que mais amava no mundo.

E enquanto encara o teto de seu quarto, tudo o que ele conseguia sentir agora era: culpa, ao recordar das coisas horríveis que foi capaz de dizer a Sara no momento em que se encontrava tomado pela raiva. Aquelas palavras vinham agora lhe atormentar e mostrar o quão cruel ele foi. Nem mesmo, conseguia se perdoar agora por aquele dia infeliz e duvidava que Sara também conseguisse perdoá-lo pelo que lhe disse. Havia passado da conta com ela e isso o atormentava. Foi injusto com quem não merecia! Ela tinha sido tão vítima das circunstâncias quanto ele. Na verdade, os dois acabaram vítimas daquela armação toda!

Ele sentiu vontade de chorar por sua estupidez e acabou não se contendo e chorando por isso. Se ao menos fosse possível voltar no tempo e enxergar a farsa que foi aquele dia. Contudo, infelizmente isso não era possível. Agora só lhe resta lamentar amargamente por cada coisa que disse no calor da raiva e pedir perdão a quem devia. Só que temia profundamente não ser perdoado, algo completamente aceitável dada à gravidade de seus insultos.

Fechando os olhos enquanto lágrimas escapavam pelo canto deles, Grissom teve sua mente tomada pela imagem de Sara saindo magoada do seu apartamento após as ofensas que lhe dirigiu. Essa era uma das piores lembranças e também, uma das que mais doía lembrar nesse momento.

Sara teria toda razão e direito se não lhe perdoasse, só que ele lutaria pra conseguir seu perdão com a esperança de quem sabe, ela lhe aceitar de volta na vida dela. Só desejava não ser tarde demais pra consertar as coisas e ter sua família de volta.

****

Observando do sofá Liv que junto com Any montava um quebra-cabeça na mesinha de centro, Sara decidiu contar a filha sobre o irmãozinho que ela ganharia, pois não havia mais necessidade alguma de ocultar isso dela. Grissom já tinha mesmo o conhecimento do bebê então Liv já podia saber também.

_Filha deixa a Any continuar montando o quebra-cabeça e vem aqui só um instante pra mamãe contar uma coisa pra você.

A menina acatou o pedido da mãe e levantando-se do chão foi se acomodar junto a ela no sofá.

Sara tinha certeza que sua filha ia adorar a novidade posto que sua pequena sempre desejou isso, entretanto, a morena desconhecia até o momento o fato de que sua adorável filha já sabia dessa novidade há tempos!

_O que quer me contar mamãe?

_Então... É que... Daqui a uns meses... Você vai ganhar... Um irmãozinho como sem...

_É uma irmãzinha, mamãe. E o nome dela vai ser Alice! – Liv contou interrompendo Sara, mas logo em seguida a garotinha levou às duas mãos a boca ao se dar conta que tinha falado demais.

Pega de surpresa com essas palavras da filha, Sara olhou pra Any que estava tão surpreendida com isso quanto a morena.

_É impressão minha ou você já sabia disso, tanto que até escolheu o nome da sua irmãzinha?

_Vai brigar comigo não é?

A menina tinha uma cara de choro ao perguntar.

_Não, meu amor. Vem cá! - Ela chamou a menina pra se acomodar em seu colo. _Como soube do bebê?

_Eu ouvi sem querer a senhora e a Any conversando sobre isso. – Revelou a menina.

Com essa reposta, Sara imediatamente pensou que ali estava a justificativa pra explicar o fato de Grissom já saber sobre o bebê quando foi lhe dar essa notícia. Só que ela precisava ter certeza se estava certa disso, então indagou sua filha:

_Liv por acaso você chegou a contar sobre o bebê ao Gil?

_Eu tive que contar por causa do desenho que fiz pra ele.

_Desenho? Que desenho foi esse?

Ela explicou que havia feito na escola um desenho do supervisor junto com Hank, Sam, ela e a irmãzinha. E ao ver a figura da outra menina desenhada, Grissom lhe perguntou quem era e ela contou que era a irmãzinha que ia ganhar, mas lhe pediu pra guardar segredo sobre isso.

Sara sorriu da inocência de sua filha ao falar do pedido que fez a Grissom. Era de se imaginar que fosse através dela que ele soubera daquilo. Deduziu que por isso que Grissom não quis contar quem havia lhe dito sobre o bebê, porque tinha sido Liv!

_“Tá’’ brava comigo?

_Não, filha. - Ela abraçou sua garotinha e lhe beijou a cabeça. Aquela coisa não seria motivo pra tanto. _Me diz, você gostou de saber que vai ganhar um irmãozinho?

_É irmãzinha, mamãe, já disse!

_Como sabe que vai ser uma irmãzinha, Liv? Pode ser um irmãozinho. – Any estava intrigada com aquela certeza toda da menina em afirmar que era uma irmãzinha que viria.

_Mas não vai ser irmãozinho, Any, porque a ‘’moça bonita’’ me disse lá no parque que eu vou ganhar uma irmãzinha.

Sara e Any se olharam confusas.

_Quem é essa ‘’moça bonita’’, filha?

_Eu não sei, mãe. Ela veio falar comigo quando eu tava brincando no balanço lá no parque.

_E quando foi isso?

_A primeira vez foi naquele dia que você encontrou uma amiga na praça, Any, lembra?

A babá assentiu recordando-se do encontro com a amiga dos tempos do colegial.

_Sara isso foi há quase duas semanas. – Contou a babá.

_E a segunda vez foi ontem. Eu tava de novo no balanço quando ela veio falar comigo.

_Filha, a mamãe já falou pra você não conversar com estranhos. É perigoso isso.

_Mas ela disse que queria ser minha amiga e me contou da minha irmãzinha. E também disse que eu podia dar o nome de Alice pra minha irmã.

Sara começou a se preocupar com essa história toda. Alguém podia estar se aproximado de sua filha com más intenções e pra isso inventava essa conversa de ‘’’irmãzinha’’ pra conquistar a confiança da menina. Temerosa com essa situação, a perita resolveu saber mais a respeito dessa tal ‘’moça bonita’’.

_Como é essa moça, Liv?

_Ela tem um cabelo comprido e da mesma cor do da tia Cath; é do tamanho da Any e é muito legal comigo.

_Ela disse como se chama?

_Não! Ontem, eu perguntei o nome dela, só que ela não respondeu, disse que já precisava ir embora e foi.

Aquilo estava muito esquisito pra Sara. Quem seria essa estranha que estava rondando sua filha com essa história toda?

_Filha, você vai me prometer que quando essa moça vier falar com você irá chamar a Any, tá bom?

_Tá, eu prometo, mamãe. Agora, posso ver se o Sam já acordou pra gente ir ao parque depois?

_Pode!

A menina se levantou do sofá e correu em direção as escadas, mas no meio do caminho ela parou e chamou pela mãe pra tirar uma dúvida.

_O nome da minha irmãzinha pode ser mesmo Alice, mãe? É que eu gostei muito, muito desse nome.

Pra não boicotar a visível alegria da filha, Sara concordou com isso e viu Liv ficar mais alegre ainda com sua resposta.

_Vou contar ao Sam que o nome da minha irmãzinha vai ser mesmo Alice!

A menina subiu as escadas toda contente e saltitante rumo ao seu quarto. Assim que ela sumiu de vista, Sara encarou Any.

_Isso está muito estranho, Any. Por acaso, você não viu ninguém estranho se aproximar da Liv nesses dias em que ela contou ter conversado com essa tal ‘’ moça bonita’’?

_No dia em que encontrei minha amiga, eu confesso que me distrai poucos minutos conversando com ela e realmente não notei se alguém se aproximou da Liv. Mas ontem? ... Sara, ontem não desgrudei os olhos dela.

_Tem certeza de que em nenhum momento se distraiu?

_Absoluta!

_Então como ela falou com essa mulher, Any?

_Não faço idéia.

A perita estava agora realmente preocupada com essa situação. Imaginar alguém estranho se aproximando da sua filha pra lhe fazer algum mal, deixou-a bem aflita.

Se alguém tivesse rondando Liv pra fazer algum mal, ela ia descobrir quem era essa pessoa e tomaria sérias providências contra essa estranha!

_Daqui a pouco quando forem ao parque, eu vou junto. Preciso saber quem é essa pessoa que anda falando com a Liv. Não vou ficar tranquila enquanto não descobrir isso!

Pouco tempo depois, as três estavam saindo de casa pra irem ao parque, quando o carro de Grissom estacionou perto delas. O supervisor tinha vindo com o propósito de conversar com Sara e lhe pedir perdão por ter sido tão injusto com ela. Não podia esperar mais tempo pra reparar o erro que cometeu com a ex. E desejava ter seu perdão, só que sabia que não seria nada fácil conseguir isso.

Ao ver o carro do supervisor, Sara de imediato imaginou que Grissom tinha vindo pra terminar a conversa deles de mais cedo. A morena nem desconfiava que o real motivo do supervisor estar ali fosse o outro.

_Gil! – Liv abriu um enorme sorriso quando o viu descer do carro e vir até elas.

_Olá! – Ele cumprimentou Any e Sara enquanto abraçava Liv. Apenas a babá retribuiu o cumprimentou enquanto que Sara apenas se limitou a fitar o supervisor. _Como está a minha princesa? – Ele se agachou pra ficar na altura da menina.

_Já tô melhor. Minha testa só dói um pouquinho.

_Isso é bom. Logo nem sentirá mais doer.

_Foi o que a mamãe disse também.

_Foi?

_Sim!

_Grissom o que você veio fazer aqui? É que nós estamos de saída. – Sara resolveu interromper a conversa da filha com o supervisor.

_A gente vai ao parque. Vem com a gente, Gil!

_Eu adoraria ir, princesa. Mas fica pra uma próxima vez, tá bom? É que eu vim pra conversar com a sua mãe sobre um assunto importante. – Após falar, ele pôs-se de pé e se dirigindo a Sara, lhe perguntou: _Será que podemos conversar?

Ela não tinha a menor vontade de conversar com ele agora, porque estava mais preocupada em acompanhar a filha e descobrir quem era a pessoa que estava rondando Liv.

_Grissom, eu sinto muito, mas agora não dá.

_Por favor, é muito importante, Sara.

Ela suspirou. Podia imaginar o quão importante era a conversar que ele queria ter com ela depois do que lhe contou na sala dele.

Any resolveu intervir em prol do supervisor e disse a Sara pra ela conversar com Grissom enquanto Liv e ela iriam ao parque.

_Mas...

_Olha, eu prometo ficar de olho na sua filha. Agora a gente já vai indo pra vocês conversarem. Vem Liv. Tchauzinho pra quem fica!

Mais que depressa a babá ‘’escapuliu’’ dali levando Liv junto consigo e deixando Sara e Grissom sozinhos.

Sem outra opção, a morena se viu obrigada a dizer ao supervisor pra entrar e terem a conversar que ele queria.