Capítulo 122 - Não era pra ter sido assim!

A pedido muito insistente de Lívia, seus avós e seu pai ainda permaneceram na casa muito além do término do almoço.

Sobre o almoço ocorrido há horas, ele foi um pouco indigesto pra Sara por conta da presença de Dylan ali. O pai de sua filha só lhe dirigira a palavra em uma única oportunidade que foi logo que chegou a casa da ex-mulher. Fora essa ocasião, ele não dirigiu mais nenhuma palavra sequer a ela, mas em compensação, não tirava os olhos de Sara. Vire-mexe a morena o flagrava lhe encarando e isso começou a lhe incomodar. Foi assim durante o almoço todo e também nos poucos instantes em que ele passou na sala junto a ela e os demais.

A morena estava quase pra chamá-lo em um canto e pedir que parasse de ficar lhe olhando com aquela insistência toda, porque incomodava. Mas antes que fizesse isso sua filha arrastou o pai para o quarto pra que ele brincasse com ela de casinha. Após a ida dele com a filha, Sara enfim respirou mais aliviada, pois pode deixar de ser alvo do insistente e incomodante olhar do ex, e conversar mais a vontade com os ex-sogros. Na verdade, ela conversava mais com Oswald já que Elizabeth se mantinha mais calada e distante da ex-nora por desaprovar suas atitudes com Dylan. Pra mãe de Dylan, seu filho não era culpado e nem capaz de armar àquela situação toda que separou Sara do atual companheiro dela.

A conversa entre Oswald e Sara se estendeu por horas e os assuntos foram os mais variados. Apenas observando e ocasionalmente fazendo um comentário aqui e outro ali, estava Elizabeth que falava mais com Any.

Quando a babá saiu da sala um instante pra preparar o lanche da tarde, ficaram somente Sara e os pais de Dylan.

_E sua carreira de golfista amador, como anda Oswald?

A morena viu o homem olhar rapidamente pra esposa e ao voltar a olhar pra Sara, ele tinha um enorme sorriso estampado no rosto.

Oswald sempre fora um amante de golfe. Quando jovem costumava jogar pouco já que trabalhava demais. Depois que se aposentou há uns anos, ele passou a jogar mais, pois agora tinha tempo de sobra pra isso. Três vezes na semana ele freqüentava o Clube de Golfe de Chicago. Dois anos depois de freqüentar o lugar, Oswald por insistência de Jason seu outro filho, resolveu se inscrever pra participar de um campeonato regional amador. Acabou em quarto lugar e desde essa primeira experiência há quatro anos, ele não parou mais e passou a participar de vários torneios amadores, chegando a ganhar até alguns prêmios e medalhas.

_Ah, não podia estar melhor. Esse ano, participei pela primeira vez do campeonato nacional e você nem imagina... Fique em segundo lugar, não foi querida? - Ele olhou todo orgulhoso para a esposa que apenas assentiu em resposta.

_Mas que espetacular, Oswald. Meus parabéns!

Em um campeonato com mais de oitenta participantes, que reunia somente os melhores, ser o segundo colocado na primeira participação naquela competição amadora era mesmo espetacular.

_Obrigado. Por muito pouco que não ganhei, Sara. Meu adversário era muito bom.

_Muito mais que você?

_Infelizmente! - Ele fez uma careta ao responder e isso causou risos em sua mulher e em Sara.

A campainha soou. Sara ainda rindo, pediu licença aos dois e foi atender a porta. O sorriso que a morena ainda estampava, logo se desfez ao dar de cara com Grissom. Havia esquecido completamente que ele viria naquela tarde.

_Oi!... Vim ver a Liv e trazer o Hank pra ficar com ela.

Ela olhou para o cachorro que ao vê-la pôs-se de pé, apoiando as patas dianteiras nas coxas da morena, enquanto abanava o rabo demonstrando felicidade por vê-la.

_Ei, amigão! Que saudades de você. - Ela acariciou sua cabeça e logo depois se agachando o abraçou, ganhando dele algumas lambidas no rosto que lhe arrancaram um sorriso.

De pé Grissom apenas observava aquela cena que por várias vezes aconteceu no seu apartamento quando Sara ia junto com ele pra lá, na época em que ainda namoravam escondido. Hank sempre a recebia com aquela alegria e na maioria das vezes, até esquecia-se da presença do dono e só queria saber de Sara.

_Acho que também sentiu saudades minhas, não é?

O cão latiu em resposta, fazendo-a sorrir mais ainda.

_Vou considerar isso como um sim!

Ela pôs-se de pé ainda sorrindo e ao olhar novamente pra Grissom pode notar um discreto sorriso nos lábios dele. Ele havia se encantado com aquela interação toda dela com Hank e sabia que seu amigo sentia falta dela também.

_Entra. Vou chamar a Liv.

A forma fria com a qual ela se dirigiu a ele fez a expressão do supervisor endurecer e seu sorriso imediatamente desaparecer.

Ao entrar na casa, Grissom viu dois desconhecidos sentados no sofá da sala. Logo descobria que os desconhecidos se tratavam dos pais de Dylan. Sara por pura educação tinha o apresentado para os ex-sogros.

Os pais de Dylan ficaram um pouco surpresos quando Sara lhes apresentou aquele homem como sendo seu ex-marido.

Ambos em silêncio compartilharam do mesmo pensamento de quê aquele homem parecia ser tão mais velho pra ela!

Educadamente eles se cumprimentaram com um aperto de mão.

_Então o senhor é o tão famoso Gil que minha neta tanto fala! - Oswald não resistiu em comentar logo após se cumprimentarem.

_Famoso??

_Sim! Ela já me falou tanto de você que tenho a ligeira impressão de que já te conheço.

O supervisor esboçou um pequeno sorriso sem jeito.

Any apareceu na sala pra pedir a ajuda de Sara pra trazer o lanche para a sala e teve a agradável surpresa de encontrar Grissom ali.

_Oi, Grissom! Nossa que bom te ver por aqui.

_Olá, Any. Como está? - Ele estendeu a mão pra ela.

_Bem!

_Any, o Grissom veio ver a Liv, você...

_Ah, papai não vale você correu muito rá... Gil... Hank!!

Da escada Liv que vinha de seu quarto com o pai, enxergou o supervisor. No mesmo instante, ela largou a mão do pai e desceu as escadas correndo.

_Puxa você trouxe o Hank mesmo!

A menina era pura alegria ao abraçar primeiro o cachorro e logo depois, foi à vez de Grissom ganhar um longo abraço dela.

_Eu prometi que traria o Hank pra você, não prometi? - Ele disse pegando-a no colo e sorrindo na tentativa de não deixar transparecer seu desconforto ao ver que o pai dela estava ali. Se soubesse teria vindo outro dia!

_Prometeu!

_Então só eu estou cumprindo minha promessa.

_Obrigada! - Ela agarrou seu pescoço, lhe dando outro abraço, seguido de um beijo estalado no rosto.

Descendo as escadas, Dylan olhava aquela cena com enorme raiva e ciúmes por sua filha aparentar tanto carinho pelo supervisor.

Abraçado a Liv, o supervisor deu uma rápida encarada em Dylan. Depois desviou o olhar dele quando a menina largando seu pescoço pra falar com os avós.

_Olha, vovô, vovó, esse é o Gil, o meu amigo. E este é o Hank, o cachorro do Gil.

_Nós já sabemos, querida. Sua mãe nos apresentou seu amigo.

_Papai, olha esse é o Hank que eu falei.

A menina inocentemente nem fazia idéia do quão desagradável estava sendo para os dois homens ali, estarem um diante do outro.

_Ele me parece um cão bravo. Será que não vai morder nossa filha, Sara? - Ele fez questão de frisar bem a palavras nossa filha somente pra afrontar Grissom.

_Hank é um cão dócil. Não vai morder a Lívia e nem eu permitiria isso. - O supervisor se adiantou em responder sentindo a afronta de Dylan.

_Assim espero, doutor Grissom. Aliás, como tem passado? Faz tempo que não nos víamos! A última vez que isso aconteceu não foi muito agradável para o senhor.

_Dylan chega! - Sara pediu séria e tentando não perder a paciência com o ex já que a filha deles estava ali.

_Mas eu só estou...

_Já basta Dylan! - Foi à vez de Oswald falar na falsa calma por conta da presença da neta.

Grissom teve que segurar e dissimular muito bem pra não fazer uma besteira, porque Lívia estava ali.

Aquele sujeito era um cara de pau mesmo e totalmente desagradável. Como se atrevia a falar com ele com a maior naturalidade depois de tudo o que houve e ainda por cima, lhe lembrar daquele último e lamentável encontro que tiveram?

Grissom quis arrebentar a cara daquele sujeitinho ultrajante, mas pela menina em seu colo, o supervisor se segurou e entrou no jogo cínico de Dylan.

_Estou bem, Dylan. E você? - Ele colocou Liv no chão.

_Ótimo!

_Posso imaginar por quê.

_Gil, vem comigo até o quintal pra levar o Hank até o Sam?

_Claro, vamos lá, princesa!... Com licença. - Ele disse aos demais. Iria a qualquer lugar que ela pedisse somente pra sair dali e se livrar da desagradável presença do pai da menina.

Assim que Liv sumiu com Grissom e Any que resolveu segui-los para o quintal, Sara despejou sua insatisfação pelo que Dylan tinha feito.

_Você não tinha nada que falar aquilo. De afrontá-lo na frente da Liv!

_Eu fiz somente um comentário.

_Está se comportando como um moleque, Dylan e não como um homem.

_Ah, papai, pelo amor de Deus!

_Quando Liv voltar você vai inventar uma desculpa qualquer e vai embora, Dylan.

_Está expulsando a mim e meus pais da sua casa?

_Não! Na verdade estou expulsando você. Seus pais podem perfeitamente ficar. Você não. Foi extremamente desagradável o que fez!

_Eu não fiz nada. Apenas um comentário.

_Eu quero você fora daqui. Desculpem-me, Elizabeth e Oswald, mas o filho de vocês não vai permanecer na minha casa depois dessa palhaçada que fez.

Tinha sido de extremo mal gosto o que ele havia dito!

_Se meu filho for, eu também vou com ele.

_Sinta-se a vontade pra isso Elizabeth, mas que fique claro que você pode perfeitamente ficar. Não a estou expulsando, somente seu desagradável filho.

_Você não vai, Elizabeth. Dylan vai sozinho. Nós dois vamos ficar aqui e aproveitar a companhia de nossa neta mais um pouco.

_Mas Oswald...

_Por favor, você vai ficar aqui comigo. E você Dylan, já sabe o que tem que fazer quando Liv retornar.

_Eu não vou fazer isso. Vou ficar! Amanhã irei embora e quero ficar o máximo de tempo com a minha filha.

Sara ia rebater as palavras do ex, mas foi impedida pelo retorno de Liv e Grissom. Ela esperou que Dylan se despedisse da filha como havia lhe mandado só que ele não fez isso contrariando a morena e Oswald.

Sentindo-se totalmente desconfortável com a presença de Dylan ali, Grissom resolver ir embora. Pretendia ficar mais tempo na companhia de Liv só que com o pai dela na casa, o supervisor desistiu disso pra evitar problemas futuros caso aquele sujeito torna-se a afrontá-lo novamente. E se ele fizesse isso, Grissom talvez não conseguisse se segurar novamente.

_Princesa, eu já vou ter que ir.

_Você chegou agorinha. Fica só um pouquinho assim. - Ela fez com os dedinhos o "um pouquinho assim" pra ele. _Por favor!

Aqueles olhinhos pedintes desarmaram Grissom e ele se viu sem coragem de negar aquele pedido a ela. Resolveu ficar mesmo não sendo sua vontade, mas avisou que seria só um pouquinho porque tinha que ir cedo para o trabalho. Coisa que ele inventou naquele momento só pra não ter que ficar muito tempo ali.

A menina contente concordou com isso. Quem não se agradou em nada foi o pai dela.

Um clima totalmente desconfortável entre os adultos era o que o se via na sala enquanto todos desfrutavam do lanche preparado por Any. Pra tentar amenizar aquela situação toda, Oswald começou a puxar conversa com Grissom pra saber mais daquele homem que até bem pouco tempo atrás era casado com Sara.

Educadamente Grissom respondia algumas perguntas que o pai de Dylan lhe fazia acerca do trabalho dele.

_Quer dizer que você e Sara trabalham juntos?

_Sim!

_É um trabalho um tanto desgastante esse, não?

_Com certeza. Mas amo o meu trabalho e não o trocaria por outro!

Oswald sorriu balançando a cabeça.

_Acho que já ouvi essa mesma resposta antes.

O homem lançou um olhar pra Sara. Certa vez, ele havia lhe feito essa mesma pergunta e curiosamente, ouviu dela a mesma resposta que o homem a sua frente tinha acabado de lhe dar.

A conversa ainda seguiu por quase uma hora até que Grissom anunciou que precisava ir. Ele já não agüentava mais ter que ficar no mesmo ambiente que Dylan, que felizmente não ousou dizer nada direcionado ao supervisor, mas em compensação lhe encarava acintosamente.

Grissom necessitava ir embora dali o quanto antes, sentia-se sufocado com a presença do pai de sua enteada.

Despediu-se de todos inclusive de Dylan, coisa que não queria, mas teve que fazer porque o sujeito cinicamente tomou a iniciativa disso ao lhe estender a mão numa segunda afronta ao supervisor.

Já na porta Grissom avisou a Sara que tinha lhe acompanhado até ali, que depois de amanhã viria pra buscar Hank. A morena apenas assentiu. Durante o tempo em que ele permaneceu em sua casa, eles não trocaram uma palavra sequer a não ser na chegada dele e agora que estava indo embora.

Entre eles havia o ressentimento pelas coisas ditas ontem e por tudo de desagradável que havia acontecido entre eles. Se antes não havia quase chance de volta, depois de ontem essa chance se tornara zero!

*****

Sara abriu a porta do seu quarto e deu de cara com Dylan que tinha uma mão erguida pronto pra bater em sua porta.

_O que faz aqui?

Ele tinha aproveitado a distração dos demais a sala pra procurar a morena que tinha subido há alguns minutos pra se arrumar para ir trabalhar.

_Quero falar com você.

_Mas eu não! Dá licença.

Ela ia passar, mas ele a impediu.

_Volta comigo pra Chicago, Sara. Você não tem mais nada que fazer nessa cidade.

_Quantas vezes vou ter que te dizer que não quero mais nada com você? Será possível que nunca vai entender?

_Sara, eu te amo!

_Mas eu não te amo! Eu te odeio pelo que armou.

Ela o empurrou e passou por ele sem se dar o trabalho de dizer mais nada. O que tinha pra ser dito ela disse agora e já havia dito em outras oportunidades. Problema dele se não ouvia ou fingia não ouvir ou entender.

Não via a hora dele ir embora amanhã pra se ver livre completamente da presença dele.

As palavras de Sara deixaram Dylan estático, em estado de choque. Ela já havia lhe dito aquilo antes, mas na ocasião não lhe afetou tanto quanto agora. Pode ver o desprezo e a mágoa em seu olhar enquanto lhe dirigira aquelas dolorosas palavras.

Ali, naquele momento, ele se deu conta de que tinha feito tudo errado. Seu plano que tinha o propósito de se aproximar dela, teve o resultado contrário. Ela o odiava agora e isso era o pior que poderia ter acontecido pra ele.

_Eu acabei estragando tudo!

Na sala Sara se despedia dos ex-sogros já que amanha não teria a oportunidade de fazer isso, porque eles viajariam cedo. De Oswald ganhou um longo e demorado abraço. Tinham criado uma afinidade muito grande ao longo dos anos em que Sara fora casada com Dylan. Oswald a considerava como a filha que não teve. E Sara o considerava como seu segundo pai!

A despedida com Elizabeth foi também com um abraço, porem não tão demorado quanto foi com Oswald. Com a ex-sogra foi algo rápido e sem muitas palavras. A relação delas que era boa ficou estremecida depois das medidas que Sara tomou contra o Dylan. Elizabeth não concordava com nada daquelas coisas e já havia deixado claro a Sara isso.

_Agora quem tem que ir nos visitar em Chicago, são vocês, Sara.

_Pode deixar que assim que eu estiver de férias, nós vamos visitar vocês.

_É o que espero! E sempre ligue pra sabermos de vocês. Não quero passar novamente um ano sem saber de vocês.

_Ok!

Dylan apareceu de volta à sala e apenas olhou pra Sara. O que ela havia lhe dito instantes atrás, ecoava em sua cabeça causando-lhe imensa tristeza.

Não era assim que ele imaginava que as coisas terminariam. Era pra ele e Sara terem se acertado, e ela voltar com ele pra Chicago de onde ela nunca devia ter saído.

Mas não estava sendo assim!

Ele viu-a somente lhe dizer adeus e nada mais. Era a despedida dela totalmente fria com ele.

Ele quis ir até ela e lhe dá um abraço, mas pela primeira vez não agiu impulsivamente e se conteve. Ela não queria aquilo e ele não imporia a ela isso, não dessa vez!

_Acho melhor nós irmos também. Ainda temos que ajeitar as malas. Viajamos amanhã cedo. - Oswald anunciou olhando para Dylan que olhava pra Sara.

O homem mais velho se despediu da neta que aquela altura já não estava mais tão alegre assim, por conta da partida de seus avós e de seu pai.

Depois de Oswald foi à vez de Elizabeth se despedir da menina e por último foi Dylan.

_Se comporte e obedeça sempre à mamãe, está bem? - Ela apenas assentiu abraçada ao pai. _Vou sentir muitas saudades de você, minha borboleta linda.

_Eu também vou sentir saudades de você, papai!

Já fora de casa, Dylan tentou falar com Sara ao menos pela última vez, mas ela o evitou. E de dentro de seu carro acompanhado dos pais, ele a viu partir no carro dela.

Não era pra ter sido assim!

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