Segunda 30/10 - Hospital da Cidade - 18H na UTI

Medeiros está aguardando ansiosa pelo resultado da cirurgia no quarto. Pensa na conversa do dia anterior e faz uma ligação.

-Marcos é Medeiros. Preciso que você mande para o meu e-mail uma planta da cidade, os empreendimentos maiores que quatrocentos metros quadrados e quem são os donos.

-Ok chefe pode deixar, Dr Aloísio até pediu isso também...em pouco tempo estará na sua caixa eletrônica. – Responde Marcos.

-Obrigado.

Caminha até a janela e faz uma oração. Thell está ao seu lado. Ela ainda não pode vê-lo e nem senti-lo.

-Posso entrar? –Lucas abre e bate na porta.

-Lucas. Obrigada por ter vindo. – Responde Medeiros.-Medeiros aperta a mão do Pastor e pede para sentar.

-Como ele está? Prossegue Lucas

-Está indo tudo bem. O velho é durão.

-Graças a Deus. Alguma novidade?- Lucas está com uma camisa azul clara de botão e com uma calça de brim preta. Não está parecendo um pastor.

-Negativo. Ainda não identificaram os homens que atiraram em meu pai. Eles não estão no nosso banco de dados, mas obrigado, e Como está a congregação?-Mudando o assunto.

-Crescendo. Não esperava que o episódio funesto fosse trazer as pessoas à igreja. Crescemos mais essa semana que o mês todo!

-Pastor, você se lembrou de mais alguma coisa?

-Não. Ainda não -Responde Lucas.

Uma batida na porta do quarto.

-Posso entrar?- Pergunta o médico.

Medeiros se dirige ao doutor e aperta sua mão cumprimentando-o. Lucas levanta-se e cumprimenta o doutor.

-Como ele está?-Pergunta Medeiros.

-Bem. Muito bem. Está na UTI para se reabilitar, mas, acredito que na quinta feira estará no quarto.

-Graças a Deus. – Exclama Lucas.

-Só na quinta feira? Minha mãe vai me matar por ter envolvido o papai nisso.

Lucas tem vontade ri. A moça não demonstrava ter medo de nada, mas, da mãe...

-Medeiros tenho que ir. – Fala Lucas.

-Boa noite! – Chega Aloísio de repente.

-Aloísio. -Medeiros abraça o velho amigo.

-Menina, que susto. E o velho como está? – Se virando para os demais dar boa noite.

-Esses são o Doutor...

-Alencar. –Apertando a mão de Aluisio.

-Lucas. – Novamente se apresentando ao delegado.

-Pr. Lucas quase não o reconheci. Está com o aspecto melhor. Também, aquela noite não foi para menos...

-É verdade. – responde Lucas.

-Você é o Pastor da igreja onde ocorreram os assassinatos?-Pergunta Dr. Alencar.

-Sou eu sim. – Responde sem jeito.

-Minha mulher está indo lá. Ela fala muito bem do senhor. – Lucas ri desconcertado- É verdade que vocês nunca pedem dízimo ou oferta?

Medeiros e Aloísio se olham espantados com o recente "status" de celebridade do Pr. Lucas, que fica sem jeito com a situação, chegando a ficar até cômica. Aloísio e Medeiros ficam sozinhos enquanto Lucas e Dr. Alencar vão saindo do quarto e conversando sobre as ofertas e dízimos, e o porquê de não pedir.

-Esse Lucas está de olho em você. – Brinca Aloísio.

-Chefe, não curto homens casados ou separados e você sabe muito disso.

-Quase esqueci do braço quebrado do Sargento Guedes. – Aloísio ri ainda mais.

-Podemos nos concentrar no caso, mas antes queria ligar para minha mãe.

-Fique a vontade. Afasta-se Aloísio até a porta. – Quer um café? -Medeiros acena positivamente com a mão direita enquanto está discando para a mãe. São 18h30. A porta do quarto se abre.

-Aloísio...– Medeiros vira-se e não é Aluisio que está abrindo a porta...

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Denise chega à cidade de Lagoinha por volta das dez horas. Vai até a Delegacia se apresentar. Está com uma blusa de botões na cor caqui e uma calça preta e uma sandália confortável. O delegado Narciso é inimigo político do Deputado Castro, desde a época que eles eram estudantes na Faculdade de Direito. O policial a recebe e a leva até à sala do delegado. Abre a porta e pede para ela aguardar. Ela fica olhando para sala simples, mas, cheia de quadros, troféus, fotos da família e dos diplomas.

-Sra. Denise, que honra a senhora por aqui- O delegado entra sala adentro e cumprimenta-a.

-Delegado... –Levanta-se Denise e vai estendendo a mão direita e apertando a mão do delegado.

-Não estou satisfeito por você está aqui. –Começa o delegado da polícia da cidade.

-O senhor sempre é assim direto?

-Sempre. – sentando na cadeira.

-Se quiser posso ir embora. –Responde Denise.

-Deixe de ser sarcástica, você sabe que o Deputado Castro pediu para lhe receber e ajudar na investiga-ção. Até parece que não somos capazes.

-Delegado, as queixas procure o Deputado. Podemos ir para o local do crime agora?

-A minha equipe vai acompanhá-la.

-Desculpe-me, mas, o deputado deve ter informado que só trabalho com minha equipe. Essa é a única exigência que faço.

O delegado olha para Denise como se fosse fulminá-la viva. Ele abaixa a cabeça e recua o corpo na cadeira, olha-a demoradamente e você sabe se minha equipe não for, você não terá policiais em sua volta?

-O senhor quer ligar para o Deputado?-Denise estende o telefone para Narciso, já perdendo a paciência.

-A senhora...

-Delegado, antes que você me mande para onde eu não vou...a minha equipe chegará ao próximo vôo. Peço que assim que eles pisarem aqui me informar ou então eu mesmo ligo para o Deputado.

-A senhora deseja mais alguma coisa?-Pergunta o delegado ironicamente.

-Ir ao local do crime. – Fala Denise se levantando.

O delegado Narciso liga na recepção e pede para um agente vir até sua sala.

-Senhor. – Fala o agente saudando o oficial.

-Leve essa senhora aonde ela quiser. – Fala Narciso.

-Muito obrigada Capitão Narciso.

O escrivão Beltrão vai acompanhando Denise. O Beltrão é daquelas pessoas boa praça. Prestativo e muito educado. Ele tem o rosto cheio de espinha, branco quase albino e magro. Tão magro que colocaram o apelido dele "derruba morcego", que é uma brincadeira de criança no interior do estado, onde a criançada balança o bambo para derrubar morcego.

-Doutora aonde vai? – Pergunta o escrivão gentilmente.

-Leve-me aonde foi encontrado o corpo da sobrinha do Deputado.

-Sim senhora.

XXX

A equipe já estava voando em direção da cidade de Lagoinha. São três. Dois homens e uma mulher. São sobrinhos de Denise. Ela sempre fala que "se tem na família, por que contratar fora?". As habilidades dos meninos são incomuns. Thaís é a mais velha e fala fluente seis idiomas, gosta de música clássica, toca piano e é química. Gabriel é um hacker embora diga que é analista de sistema. É perito em quebra cabeça e o responsável pelas ferramentas e equipamentos de análise químicos. Guilherme é o mais sério. Tem quase dois metros de altura, esguio e rápido. Atira bem com as duas mãos e mestre em armas brancas. Duvida de tudo. Extremamente frio e o mais letal dos três.

-Gabriel que horas são? – Pergunta Thaís.

-Cadê teu relógio?– olhando para o monitor quando recebe uma tapa na cabeça.

-Olha como fala. – Reponde Thaís.

-Vocês vão ficar nessa cachorrada? Parecem que não cresceram?- Repreende Guilherme.

-Ô Mr. Gelo fica na tua. – Fala Gabriel que recebe de volta um olhar nada amistoso e gelado.

-Gabriel agora é serio. –Começa Thais - Se chegar a Lagoinha sem um programa novo de análise químico, Denise vai nos esfolar.

-Qual foi à parte da missa que você não entendeu?-Pergunta Gabriel.

-Falem mais baixo que quero dormir. - Reclama Guilherme.

Gabriel e Thaís olham para Guilherme que está com o boné tampando o rosto e esticado com as pernas para o corredor do avião.

-Thaís já está no seu computador. Procure na pasta "Denise vai me matar".

-Engraçadinho. Por que não falou logo? Êpa, um momento, quando você pegou meu computador sem minha autorização?

-Não preciso tocar nessa porcaria. – Fala Gabriel sem tirar o olho do computador – Agora vê se me esquece!

-Você chora se te esquecer! –Puxando a orelha de Gabriel.

-De alegria.Com certeza. – coloca o fone de ouvido e continua a pesquisa na internet.

A aeromoça que já estava há alguns minutos em pé no final do corredor olhava aquela bagunça organizada. Guilherme agora roncava. As onze e minutos o avião pousa. Guilherme ao passar pela aeromoça e sorri para ela, Ela sorri sem graça, mas, gostara da encarada. No desembarque o Beltrão está os aguardando.

-Senhores, por aqui.
Eles caminham até o carro, viajaram em jatinho particular do Deputado. Beltrão já havia deixado Denise no local e partira para pega-los. Os três vai conversando e Thais notando que o agente não tira os olhos dela.

-Obrigado. – Fala Thaís educadamente ao escrivão, quando ele abre a porta para ela entrar...Ele não consegue tirar os olhos dela.

-Denise, chegamos. Estás aonde?

-Gabriel, é Denise! – Repete Guilherme irritado.

-Beltrão ela está pedindo que nos leve até ela. – Fala Gabriel - Gui, você anda muito incomodado comigo.

-Meninos. Olha os hormônios de macho. – Brinca Thaís.

"São eles que vão nos ajudar?"Pensa Beltrão, incrédulo e ajudando-os com a bagagem.

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O Lago da Luz está localizado no meio de um Parque florestal. É o principal centro de lazer da cidade. Há também duas praças e um cinema, mas, o Lago tem sido durante muito tempo, antes até da existência da cidade, o local onde presenciou muitas famílias começaram ou nem chegaram a começar. Os moradores comentam que um dos casos mais interessantes de relacionamentos que começara e terminara no Lago foi o de Jonas. O namoro começou e terminou no mesmo dia. A felicidade e a tristeza. Às duas horas da tarde Jonas começa o namoro com Heloísa e as duas e trinta, da mesma tarde, ele a vê beijando o Pedro, perto da árvore que ele riscara "JH" dentro de um coração, quando voltava da barraca de algodão doce. O rapaz ficara tão arrasado que voltou á barraca de algodão doce e começou a comer algodão só saiu de lá quando comeu tudo.
Foi nesse ambiente tão familiar e cheio de surpresas amorosas, com pessoas passeando, que Denise não imaginava o porquê de uma pessoa se arriscar tanto para matar uma pessoa e deixar o corpo no local.
Ela caminhava de um lado para o outro. Tirava fotos do local. A grande pergunta era como o assassino escolhera essa vítima? Seria a idade? A cor? O que o motivara a matá-la? Era Alguém próximo? Todas essas perguntas enchiam sua mente.

-E aí Denise? Alguma coisa?

-Guilherme... É difícil falar algo. – Fala Denise olhando para os meninos que acabavam de chegar. – Gabriel, você trouxe o que pedi?

-Lógico. – Fala Gabriel piscando o olho para Guilherme.

"Moleque"- Pensa Guilherme.

Gabriel abre a mochila preta Adidas e tira dez esferas metálicas e joga na margem lago.

-O que é isso?- Pergunta Thais a Gabriel.

-São meus novos brinquedos. As esferas vão tirar fotos do local e depois jogaremos no mainframe da máquina que puxará dados recentes de fotos tiradas do satélite e cruzaremos com o campo atual. Depois que as esferas mapearem o local, poderemos fotocopiar o local e no dia do assassinato teremos pela posição da lua o peso e altura do assassino.

-Parabéns. Vamos ver se funciona na prática. –Fala Guilherme.

-Vocês vão ver. Preciso ligar meu computador. – Pega outra mochila preta, agora Nike e liga a máquina.

-Meninos, Medeiros ligou hoje para vocês?-Pergunta Denise.

-Faz um mês que não falo com ela. – Lembra Thaís.

-Não...hoje ainda não falei com ela. – Fala Guilherme.

-Podem ficar em silêncio enquanto opero os "olhos de peixes"?

-Vou ligar para o Tio de vocês. –Denise se afasta pegando o telefone e começa a discar.

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