O ANJO DE FOGO
Sábado 28 de outubro às 3h30 da manhã Local: Igreja Carvalho de Justiça
-Como é o seu nome? Pergunta Medeiros ao vigia.
-Antônio. Respondendo sem olhar para a investigadora.
-Você viu quem matou os assassinos?
-Não. - O vigia Balança a cabeça e desvia o olhar. Medeiros fica intrigada com a revelação, pois até então a resposta do vigia era que havia visto quem matou os assassinos.
-Antonio, algumas horas atrás você havia dito que tinha visto os assassinos.
Antonio continua calado.
-Como eles eram?- Pergunta Medeiros sentada, agora, frente a frente com vigia que continua olhar para mesma direção e balançando a cabeça negativamente. Estava visivel o medo no seu rosto.
-A senhora... - Parou para puxar a respiração.
- Antônio, precisamos da sua ajuda, e se o senhor está preocupado com o sigilo, podemos dar um jeito. Temos uma excelente programa de proteção às testemunhas e ninguém saberá que o senhor ajudou na investigação!
- A senhora tem certeza? - O pobre homem está ainda mais aterrorizado. Medeiros tenta forçar uma resposta... Antonio, com os olhos vermelhos e amarelados, olha para a investigadora e novamente balança a cabeça negativamente. Ele sabe que vão chamá-lo de louco, no mínimo, e em seu íntimo o vigia passa a ter certeza que não irá falar.
-Não! Ele saberá. - Apontando com indicador para o teto sem olhar para cima.
Medeiros olha para cima e ver a pintura de um anjo de fogo, com uma espada de fogo na mão cravada no peito de um Anjo negro. Eles estão em uma batalha. Ela olha para o vigia e volta a pergunta:
-Antônio...O senhor acha que por ser uma mulher, supostamente sexo frágil, vou acreditar nesse absurdo?
-A senhora acredite no que quiser. - Responde o vigia olhando para o infinito. -A única coisa que eu sei é que a partir de hoje vou pensar duas vezes antes de falar do que eu não entendo! - Medeiros olha novamente para o teto e pensa:
"Ele não vai colaborar, está com muito medo."
Continua por mais alguns minutos falando com o vigia mas, o que escuta não a deixa satisfeita. Levantasse e desce a escada do segundo átrio caminhando em direção ao pastor Lucas que está olhando para os corpos e orando, pedia forças a Deus para passar pelas próximas horas.
Ele ainda não acredita que a sua paróquia fora alvo de algo tão brutal.
"Qual a intenção? Por que? "
Eram esses as perguntas que enchiam a sua mente quando orava.
O pior é está sendo suspeito de assassinato. A cada minuto, observa que mais policiais e investigadores chegam. Ele desejava a igreja cheia, mas, não assim. Medeiros aproxima-se do pastor Lucas e pergunta:
- Você sabe o que aconteceu aqui? - Medeiros senta ao lado do pastor no banco da frente, pega seu gravador de bolso.
-Quem é você? - Pergunta Lucas.
-Agente Medeiros.
-Medeiros? Você é uma mulher? - Pergunta Lucas desconfiado e surpreso.
-Qual problema em eu ser mulher? - Recuando para traz e encostando mais confortavelmente no banco de madeira.
-É que não sabia... É, que... Você é uma mulher. Desculpe-me, foi o nome masculino e achei errado.
-Então porque me chamou? - Pergunta Medeiros desconfiada.
Lucas mexe nos cabelos negros e lisos, olha para baixo, se cala. Quando pensa em responder à detetive um pensamento chega a sua mente:
"Porque ele mandou a chamar ? Por ser filha dele ou pela sua competência?"
-Doutora, por mais estranho que seja, temos amigos em comum. - Pastor Lucas começa a falar.
-Pastor Lucas, - Interrompe Medeiros.
-Pode chamar de Lucas.
-Claro. Obrigada. Lucas, a noite não está sendo nada boa. Todos aqui só falam em códigos, perguntam mais que respondem e estou ficando cansada desse joguinho, então seja direto e me responda, quem seriam esses seus amigos?
- Você não conhece, ainda não - Fala com sacra cautela.
- Bem, se é meu amigo, como não os conheço? - Medeiros aumenta ainda mais sua raiva.
- É difícil explicar detetive. Mas vou tentar.
- Você conhece algum dos que foram assassinados?
-Doutora, o que é conhecer para senhora? - Medeiros fecha os olhos, conta até 10.
-Pode me chamar de você, por favor. - Medeiros começa a perder a paciência com o trocadilho das palavras.
-O Cleiton - Continua Lucas - Estava começando a frequentar os cultos de domingo.
Ele começou vir há um mês e estava totalmente drogado e embriagado. Escutou sermão e chorou bastante. Pensei que fosse o efeito do álcool... Depois ele saiu rápido, bem antes da oração terminar, passado dois dias, ele voltou e dessa vez ficou até o final do culto e contou que queria largar as drogas bebidas e tudo mais...
- O que você acha que seria "tudo mais" pastor Lucas?
-Não sei! Mas, sempre quando perguntava ele se esquivava do assunto... Parecia uma organização, ou melhor, um grupo religioso.
-Por que o faz pensar num grupo religioso? -Pergunta Medeiros.
-Com o tempo no ministério pastoral começamos a identificar as pessoas que estão sofrendo todos os tipos de abusos, sejam eles físicos ou espirituais.
-Como assim? - Pergunta Medeiros.
-As pessoas presas em organizações religiosas opressoras são mais arredias e marcadas.
Culpam-se bastante. Vivem com medo do escuro, das pessoas, estão em constante estado de rebeldia ou um sentimento de culpa que os tragam para trevas interiores, e sem notarem afastam do Pai celestial. Medeiros até onde vai sua fé?
-Porque essa perguntar agora?
-A senhora acredita que existe um poder maléfico operando no mundo?
-Acredito que muitas vezes colocamos a culpa no diabo para justificar nossos atos errados. Culpamos a todos, menos a nós mesmos.
-A senhora não respondeu minha pergunta!
- Não acredito! - Lucas olha surpreso com a resposta de Medeiros.
"Interessante o caminho do Senhor e muito estranho."
O pastor olhar para Medeiros e pergunta:
-Como está seu pai?
-Você conhece meu pai? - Medeiros ajeita-se, projetando seu para frente.
-Sim! Aquela matéria sobre a entrevista com um Anjo foi demais... Embora algumas comunidades cristãs e religiões tenham se arrepiado com os temas abordados... A entrevista o tornou numa celebridade que ninguém quer por perto ou como amigo. Respeito muita coragem dele.
-Pastor Lucas... - Medeiros faz um gesto com a mão para ele continuar a história de Cleiton.
-Quando o perguntei se já havia participado de alguma igreja, ou de alguma religião, ele disse que não, mas o Jesus que ele ouviu falar aqui, era diferente do Jesus escutado no sermão de domingo. Ele chorou bastante. Perguntei como era Jesus pregado neste local e onde ficava essas pessoas que ensinavam sobre outro Salvador e ele continuou falando sem parar e diziam que Jesus estava morto e que as pessoas desse local eram bastante perigosas, vingativas e malucas. - Pastor Lucas, muda o lado que está sentado. - Há uma coisa que estou recordando... Ele me perguntou se realmente Jesus tinha o poder para libertar-lo de tudo, respondi que todo poder está na mão do Salvador... Então, Cleiton interrompeu o assunto para limpar as lágrimas e disse que se reuniam na Zona Norte, na divisa da cidade, no antigo prédio do Mega box.
-Mega box? - Pergunta Medeiros anotando.
-Sim! Isso mesmo.
- O antigo supermercado da região? O estranho é que o prédio está abandonado. Passei por lá esses dias.
- Eu também!
-Porque você passou por lá?- Medeiros pergunta desconfiada.
-Fiquei preocupado com a forma que ele saiu e o terror que se escondia no seu olhar. Ele sempre fugia do assunto e depois voltava com os mesmos temas: perdão, salvação, vida após a morte, culpa e tantos outros que o estavam atormentando.
-Você conversou com mais alguém sobre isso ?
-Com seu pai. - Medeiros da "stop" no gravador.
- Como assim "seu pai"? - Pergunta irritada e estarrecida.
-Medeiros, vejamos como posso te dizer... Se há uma pessoa que entenda de demonologia e anjos, acredite ele é uma delas. Ele entrevistou um celestial! Precisava conversar com alguém que entenda desse univedrso... Detetive, se não tens mais perguntas posso ir embora? -Lucas começa se levantar. - Vai soar estranho, mas, vou sugerir que procure seu pai.
-Como anda a reabilitação pastor? Pergunta Medeiros.
-Então é isso... Sou suspeito por ser um dependente químico em reabilitação? É seria essa pergunta?
-Responda a pergunta! - Insiste Medeiros olhando para o Pr. Lucas.
-Detetive estou limpo há dois anos, 10 meses 28 dias e 12h00 -Responde Lucas -Não sou um assassino por ser um adicto em recuperação.
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