45 - A Arte da Guerra;
"Aqueles que escapam do inferno nunca falam sobre isso e nada mais incomoda eles." — Charles Bukowski.
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Demorou cerca de duas horas para conseguirem despistar os malditos lacaios que tentavam a todo custo matá-los. Yoongi pilotava atento enquanto a mulher se equilibrava na janela, disparando tiros precisos que atingiam em cheio os vidros e rodas, fazendo daqueles veículos sucata em minutos, capotando na pista, outros explodindo devido a colisão, quando enfim a situação estava sob controle.
Kalliope se sentou no banco do passageiro, jogando as armas no banco de trás, suspirando devido a adrenalina — já Min Yoongi diminuiu a velocidade, fazendo retorno de volta para a cidade, não proferiu uma só palavra, sua mente dava voltas intermináveis, buscando montar uma operação eficaz, que o levaria cada vez mais perto do assassino de seu melhor amigo.
— Sei um lugar onde podemos nos esconder. — a garota brada, encarando as luzes fortes dos postes por onde passavam em alta velocidade.
— Informa o caminho. — crispa, a rouquidão grave e inexpressiva arrepiou a desconhecida dos pés a cabeça. Pela maneira com que firmou a destra no volante e endireitou a postura, a menina concluiu que aquele homem estava furioso e buscava meios silenciosos de manter a calma.
Pararam ao lado de um armazém, desceram olhando os arredores, Kalliope abriu rapidamente o cadeado, removendo as correntes enferrujadas para por fim entrarem no amplo espaço degradante, fedendo a madeira gasta e poeira, Min franziu o cenho, odiando estar em meio à imundície, todavia, era o que tinham, ao menos por aquela noite.
— Comece a falar. — ordenou.
Acendendo algumas velas para trazer melhor visibilidade, a menina sentou na cama improvisada; havia uma mesa, embalagens de alimentos que foram consumidos, aparelhos eletrônicos e livros. É fato consumado que a jovem estava ali a alguns dias, senão semanas, vivendo naquele lugar sujo e insalubre, mantendo-se escondida e investigando do seu próprio modo.
Havia interesses em comum entre eles, o mesmo propósito.
Vingança.
Tomando fôlego, incerta se deveria confiar no asiático ou não, ela começou a falar. Contou a forma como lembra sobre a desgraça que recaiu sobre si e sua falecida amiga...e em como isso a levou a permanecer ali, em busca de respostas.
Yoongi ouviu sem interromper, tomando nota mental, traçando rotas, qualquer detalhe que pareceu ter deixado de lado e que agora requer atenção imediata — havia padrões até a morte de Jimin, um assassino quebrar um segmento que vê como algo inquebrável é curioso, mas também é incomum e preocupante.
— Palavras me são inúteis, quero provas. — Inquire não poupando palavras.
— Sem problemas. — Insatisfeita abriu a bolsa, pegando uma pasta e o entregando, abrindo o notebook fizera o mesmo.
Havia tudo ali. Tudo o que ele precisava, até mesmo o que nem cogitou a hipótese, o olhar felino se a tentava a todas as informações, gravando mentalmente cada palavra, cada frase, cada imagem. Nada lhe escaparia.
— Entendeu agora? — a garota se sentou em uma das caixas de madeira, abrindo uma cerveja. — Ele é o Diabo. Ou como acredito que seja um.
— Ele não é nada disso. É apenas um homem, com falhas como todos nós. — responde sem tirar os olhos da tela. — Como sabe ser um homem?
— Flashes mentais, nada coerente. Mas sinto que é.
— Certo. — desligou o computador. — Ele ou ela vai tentar de novo, essa foi apenas uma tentativa para me testar. O próximo será um pouco mais agressivo, presumo.
— O que iremos fazer? — arqueia a sobrancelha, não ousando corrigi-lo.
— Não a nós, a apenas eu. — olhou-a com desdém. — Ótimas informações, agora assumo daqui.
— Essa vingança é minha também. — aumenta o tom de voz, totalmente irritadiça.
— É apenas uma criança. Não tem aptidão para lidar com o que virá. — levantou o indicador, silenciando-a antes dela pronunciar alguma palavra. — É boa atiradora, mas isso não irá ajudar. Numa luta corpo a corpo seria esmagada. Não estou diminuindo sua sede de vingança garota, estou apenas dando-lhe a oportunidade de fugir enquanto tem tempo, pois se meus cálculos estiverem corretos, esse armazém será invadido daqui a poucas horas.
Kalliope ponderou tais palavras amargas e cruéis, ele tinha razão, lembrou-se de sua melhor amiga, do quanto se odiou quando acordou em um leito de hospital quilômetros de distância de onde estivesse, do tanto que a procurou e jamais encontrou. Nem um sussurro, nem mesmo um objeto foi deixado para trás. Tudo foi limpo para impedir as autoridades e qualquer outra pessoa.
— Me pergunto do porque fui poupada. — murmurou, sentando na caixa de novo, olhar perdido e marejado.
— Não foi. — a face inexpressiva relaxou um pouco. — Simplesmente foi drogada o suficiente para não lembrar, acredite, ele ou ela certificou-se disso, talvez pode não lembrar, mas a uma possibilidade de ter falado com essa pessoa sem ao menos notar.
Kalliope arregalou os olhos, tremeu assustada por ele ter razão. Tudo era possível, enquanto o verdadeiro autor não tivesse o rosto finalmente revelado, as tentativas de eliminação continuariam — Yoongi sentiu o celular vibrar, sabia que era seu ex marido, por isto não ousou confirmar, apenas ignorou.
— Vá embora antes deles virem. Não ouse voltar, viva por sua amiga. E viva para impedir que outras tenham o mesmo destino. — seguiu para saída. — Tem vinte minutos para juntar todos os seus pertences, poderá levar o carro.
A estudante quis tentar persuadi-lo, conquanto sentia que ele tinha razão, e soube ali que sentia medo, quando a adrenalina reduziu a nada sentiu medo, sentiu saudades de sua família — ali — ela viu a chance de recomeçar, confiando em um polícia que só descobriu o que era preciso para achá-lo.
Do lado de fora, observando a luz do poste piscar e perder a intensidade da luz aos poucos, Min encostou-se na parede, tirando um cigarro do bolso do casaco junto ao isqueiro, colocando o filtro entre os lábios pequenos, acendendo a ponta, tragando e relaxando ao soltar a fumaça para a madrugada pouco fria.
No chão úmido estava o que precisaria para enfrentar quantos forem necessários — mantendo o cigarro entre os dedos longos, o celular vibrou de novo, indo contra a sua vontade pegou o aparelho, o nome de Hoseok brilhava na tela, sem ânimo algum atendeu quase no quinto vibrar.
— O que foi?
"Yoonie? Está tudo bem?"
— Sim.
"Perdão por insistir na ligação, meu coração apertou e tive uma péssima sensação, precisava te ligar."
Em silêncio, apenas ouvindo a respiração do deus do sol, o oficial sentiu calor, oscilou a mínima voz do homem que destruiu — jogando o cigarro no chão e pisando para apagar a brasa encerrou a ligação, não ousando fazer perguntas ou qualquer outro dizer que pudesse preocupar ainda mais.
Olhando para a esquerda viu a garota com uma mochila grande nas costas e uma mala, o moletom grande com capuz ocultava seu rosto.
— Pegue. — entregou a chave.
— Tem certeza disso?
— Fez o bastante.
— Te desejo sorte. Esse é meu número. — entregou-lhe um papel pequeno e dobrado ao meio. — Me ligue quando conseguir pegar o filho da puta.
— Ligarei. Agora vá.
Enfiando as mãos nos bolsos frontais do casaco observou-a colocar os pertences no porta malas, assumindo o banco de motorista e sumindo em minutos, ele viu no olhar alheio o quanto queria ficar e lutar, porém viu determinação, a vontade imensurável de viver.
Qualquer que seja o motivo que a levou a ir contra a sede de sangue e vingança, o asiático agradece, pois não gostaria de carregar mais uma morte inocente adicionada em uma lista já imensa.
Voltando ao interior aos pedaços do estabelecimento, jogou a bolsa em cima da mesa bamba, abrindo-a, tirando dali duas katanas idênticas, as lâminas cobertas pela bainha revestida em couro — facas de diversos tamanhos foram deixadas uma ao lado da outra, respirando fundo se preparou. Livrou-se do sobretudo, ficando apenas com a camisa de algodão manga longa, as íris castanho escuros atentos assim como sua audição, prendendo os coldres nas coxas e uma presa ao peito onde deixou duas pistolas semiautomáticas já destravadas.
Quando o céu começou a dar indícios do amanhecer, Min estava sentado em uma cadeira, a cabeça baixa, a mente a mil por hora conforme gotículas de suor escorriam por seu rosto, umedecendo a franja caída por sua testa — faltava poucos minutos. Eles viriam para matá-lo, pelo fato do autor ter descoberto o quanto era uma ameaça em potencial.
Permitindo relembrar uns dos milhares de bons momentos, Yoongi acendeu outro cigarro.
[...]
SEUL — COREIA DO SUL.
15 ANOS ANTES.
MEADOS DE JUNHO.
— Já decidiu onde e como fará o pedido de namoro? — Namjoon perguntou, girando a cadeira onde estava sentado, os óculos de grau aperfeiçoando a beleza madura.
— Sim.
— Não vai contar?
— Já decidiu também? — retrucou.
— Acha mesmo que poderia esquecer? Jin arrancaria meu coro se eu esquecesse de planejar algo em pleno dia dos namorados. — sorriu, as covinhas surgindo nas bochechas.
— Reservei o restaurante árabe, o favorito dele, já que diz ser onde fazem as comidas de forma correta e de acordo com sua cultura por parte de mãe. Comprei flores, foi um inferno achar as malditas rosas azuis.
Min sorriu pela expressão cansada, imaginava a frustração do melhor amigo para encontrar tudo a tempo suficiente para nada sair errado. De certa forma fizera o mesmo.
— Hoseok é fácil de agradar. Ontem ficou chateado por eu ter ignorado mais uma vez as insinuações dele para um relacionamento sério. — parou de mexer na câmera fotográfica.
— Sou péssimo com tudo isso.
— Estão ficando a quase seis meses, se ele não desistiu então significa que gosta de você. Que está apaixonado e quer oficializar tudo. — Kim comenta. — Não precisa ser perfeito para todo mundo, apenas seja para quem ama. Apenas isso.
Quieto, Min abriu a gaveta de sua mesa de estudos, tirando uma caixinha de veludo dourada e deixou que Namjoon visse.
— Uau. Porra isso é um topázio imperial?
— Sim. Ordenei que criassem um anel com ele, e de um jeito exclusivo. Diferente de todas as alianças da cidade. — explicou. — Ele é o próprio Apolo para mim. Acredito que para todos, porém comigo é algo mais intenso.
— Por que ambos se amam. — completou. — Maior ato de amor não há. Parabéns, essa aliança é linda, diferente e com significados sublimes.
— Obrigado. — Sorriu envergonhado. — Fechei o restaurante flutuante para ter apenas nós. Ele é muito adepto a arte, então haverá sonetos, girassóis. Tudo que emite luz especialmente para ele.
— Muito lindo de sua parte, Yoon. Fico orgulhoso de vê-lo feliz e convicto em continuar sendo. É meu irmão de coração, então sempre vou torcer por sua felicidade. — levantou para puxá-lo para um abraço. — Ambos são tão diferentes, luz e escuridão coexistindo em harmonia. É lindo.
Yoongi corou, olhando as alianças, onde a dele era em puro ouro branco com o desenho de um sol, enquanto o de Hoseok era em puro ouro junto ao topázio imperial.
Ele estava feliz.
Pois sempre amou Jung Hoseok.
[...]
Passos apressados se aproximaram, as portas duplas foram derrubadas e cerca de cinquenta homens fortemente armados entraram, Mim ergueu o rosto e encarou cada um deles, um olhar que prometia banho de sangue, pois não os conhecia, nem mesmo por aquele que esperava notícias de seu coração parando — de pé, em uma graciosidade mortal e felina, Yoongi desembainhou ambas espadas, a lâmina longa e polida brilhou nos feixes de luz do sol que entrava pelos buracos no teto metros acima, afiadas o suficiente para decapitar com apenas um golpe.
Este respirou fundo, ao soltar o ar tombou a mesa e correu para se proteger dos tiros, aguardando o momento crucial para fazer dali uma imensa poça de carmesim.
Tiros levantavam poeira por onde a bala atingia, de modo minucioso, Yoongi esperou trégua para pôr fim atacar — a lâmina reluziu ao ser erguida, o movimento fora rápido e ágil, desceu sob o pescoço do mais próximo, jorrando sangue, espirrando nos comparsar, e assim, a dança da morte havia enfim começado.
Cerca de quinze caíram na sujeira ensanguentada, Min não parava, desviava dos tiros, usava seu corpo para retardar movimentos dos que vinham com gana e raiva para cima de si, soltando uma das espadas sacou uma adaga de lâmina dupla, cravando no pescoço de um, removendo e acertando outra ponta no olho direito do que estava atrás — suor misturou-se a poeira e sangue, cansado não parou, ainda que seu corpo queimasse, seus pulmões ansiasse por ar, ele continuava com tanta vontade de viver quanto os outros tinham para matá-lo.
Mais quinze morreram, seu grito rouco ecoou pelo amplo espaço caótico, havia recebido um tiro de raspão no rosto, outros dois acertaram o colete que havia posto. Escondido atrás de pilhas de sucata, ofegou, pegou uma das armas que esqueceu estar portando, contou até três e disparou o restante, em nove o tiro acertou na cabeça, no último atirou duas vezes, ambas balas cortaram o ar, cravando em ambas pernas do homem, levando-o ao chão.
Cansado caminhou até ele, lambendo os lábios ressecados, mantendo a arma em punho Pressionou o cano contra a testa deste que o olhava com raiva, gemendo de dor.
— Quem enviou vocês? — Sua garganta queimou, seca, fazendo de sua voz um mero murmúrio.
— Não direi nada a você. — grunhiu.
Yoongi sorriu largo, sangue ainda escorria por sua face, aquecendo o que havia secado a minutos, deslizando a arma até o ferimento, este pressionou o objeto na região, fazendo-o gritar em agonia e o sangue fluir ainda mais rápido.
— Diga quem os mandou! AGORA. — gritou impaciente.
— Não! — rosnou.
Ficando em silêncio, seu olhar afiado passeou pelo peito do homem, vendo ali, quase imperceptível devido as roupas escuras, uma câmera, sorriu vitorioso, contando o restante da bala.
— Ótimo. Ele estava vendo o tempo inteiro, certo? Por isso não quis me dizer. Então que tudo isso aqui sirva de recado. Porque irei atrás de você, seja quem for. — prometeu. — A morte será algo que irá ter quando me cansar de brincar com você.
Com tal sentença descarregou o restante da bala, inclusive na câmera que o agora cadáver portava.
Antes de sair, espalhou gasolina que havia encontrado, este certamente pego pela garota, umedeceu tudo que fosse inflamável, guardou as espadas ensanguentadas, vestiu o casaco e deixou o local, não sem antes fazer o fogo lamber tudo em segundos e incinerar todos os corpos.
Se o assassino se autoproclama o diabo.
Então é justo que conheça o Anjo da morte.
:)
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