41 - Inquirição;

"Esconda todas as chaves e sele nossas janelas. Porque eu estou indo para a guerra. Não prenda a respiração esperando por mim. Porque eu posso nunca mais voltar para casa." 99 - Elliot Moss.

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COREIA DO SUL - SEUL

04:30 a.m

Hoseok despertou cinco minutos antes do despertador soar, conseguiu dormir por apenas duas horas e meia antes de enfrentar mais um dia de trabalho. — O luto permanecia presente, as olheiras eram evidentes, o tom de sua pele não era radiante como antes, tornou-se fosca, quase um tom ósseo, havia emagrecido, qualquer um podia ver o quão mal estava.

Sentou-se na cama, passando as mãos pelo rosto a fim de afastar um pouco da sonolência, usava apenas uma samba canção azul marinho, ficou de pé sentindo o piso frígido arrepiar o corpo todo, era difícil acordar sozinho, tantos anos compartilhando a cama, sua vida, ver-se completamente sozinho lhe trazia angústia e insuficiência.

Após fazer a higiene matinal e banhar-se, vestiu-se com calma, encarava o semblante através do espelho à medida que abotoava a camisa social preta, ajeitava o cinto na calça de alfaiataria de mesma cor. — Calçando um par de vans preto, saiu do quarto, desceu o pequeno lance de escadas em direção a cozinha. O tempo se mostrava antes do amanhecer, um dia totalmente nublado, prometendo uma chuva rasa e ar úmido.

O chá de pêssego fumegava na xícara um pouco oval de porcelana, adicionando leite, Jung se sentou na cadeira, encarando um ponto cego, perguntando-se onde havia errado, o que deixou de fazer para que o amor que tanto brilhava, apagou-se de modo brusco e repentino.

Odiava a situação, não havia como mudar, ao menos não em sua cabeça que fixava constantemente a traição, a perda do melhor amigo e o ódio que crescia dentro de si como chamas incandescentes e degradantes.

A porta da frente foi destravada e aberta, o mesmo nem se moveu, pois sabia que era seu ex-marido. — Yoongi adentrou a cozinha, deixando as sacolas sobre o balcão adjacente. Nenhum dos dois disse uma palavra, pelas vestes alheias, Jung concluiu que ele estava chegando agora do plantão, a camisa estava um pouco amassada, o cansaço explícito na face que ele tanto amava.

— Vou arrumar apenas o necessário. — Comunicou, o tom ralo da voz denunciava a angústia, o amargor na rouquidão lhe feria os ouvidos, já que seu coração sangrava a muito tempo.

— Para onde vai? — A voz alheia veio grave, autoritária.

— Voltar aos Estados Unidos. — Informou, seguindo para o quarto, tendo ciência de que o ex-marido estava logo atrás.

Observando-o pegar uma mala média, a xícara descansava na mão esquerda, o olhar atento a cada movimento alheio — Yoongi abria as gavetas, retirando algumas camisas e as deixando na cama que ainda continha o cheiro gostoso do platinado.

— Porque?

Jung-Min parou o que fazia, o corpo doía pelas horas em claro, toda a situação fazia sua mente trabalhar sem descanso enquanto os sintomas pela falta de sono o atingia com força. — virando o corpo encarou-o, Hoseok estava encostado no batente da porta de madeira branca, a visão era divina, ainda que os vestígios do luto estivessem por ele inteiro.

— Preciso de respostas. Preciso encontrar qualquer coisa que nos ajude a saber quem matou Jimin. — Engoliu em seco. — Não vou parar até encontrar o filho da puta.

Hoseok deixou a xícara de porcelana na cômoda antes de se pôr diante do moreno, era difícil lidar com a pressão, com a angústia e frustração pela falta de respostas.

— Deixe a polícia americana cuidar disso. Precisa descansar. — Ralhou e o riso rouco se fez ouvir.

— Descanso? — Debochou. — De repente você passou a se importar com meu estado. — Sorriu de novo. — Está atrasado para o trabalho, logo retorno e ficarei no meu antigo apartamento até encontrar outro.

— Yoongi. — A paciência não existia e qualquer palavra soada errada era o gatilho para uma discussão sem fundamento. — Sempre me preocupo.

— Não é mais necessário. — Abriu a bolsa onde tirou o envelope pardo, entregando ao platinado que ao abrir, arregalou os olhos. — Já está assinado. Ao assinar, estamos oficialmente divorciados. Prometi a você. E cumpri, como sempre fiz.

Trêmulo, Jung engoliu em seco junto ao choro que ameaçava vir, a fragilidade na qual se encontra doía no moreno, a dor estava por todos os lados tirando o ar, tirando a vontade de viver. Era um martírio sem fim.

— Yoongi. Pensei que...

— Pensou o que? — Cortou. — Hoseok tentamos por meses, tentei de tudo para que seguíssemos, ainda que o meu erro te assombre. Assinamos união estável porque você pediu. — A primeira lágrima escorreu pela face pálida e cansada. — Sabemos que você jamais irá esquecer, e eu muito menos.

— Não consigo esquecer. Não consigo.

— E por isso que tomei a liberdade de fazer o que você também não iria conseguir, Hoseok. — Lamentou. — Não aguento te ver dessa forma, dividir a cama sabendo do que fiz e do quanto está machucado por isto. Sabe que sempre fiz e respeitei suas vontades e foi o que me fez aceitar a união estável, por isso eu tentei cada maldito segundo te fazer feliz, trazer a luz que eu mesmo tirei. — O timbre subiu uma oitava, a voz aguda fez o platinado recuar e chorar em silêncio. — Me perdoe por destruir seus sonhos. Me perdoe por findar aqui o nosso casamento. Eu lamento que nada foi conforme tanto planejou quando éramos adolescentes. — As lágrimas lhe aqueciam o rosto, as mãos tremiam e por pouco não caiu de joelhos diante do seu deus de novo. — Hoseok a cada segundo me culpo. Me recuso a ficar tanto tempo aqui porque sei o que minha presença desperta em ti. Te ouvir chorando, ouvir a sua dor sendo exposta para Seokjin em busca de uma palavra de conforto, me destruía. — Revelou.

— Como soube disso? — Soluçou, apertando os papéis.

— Não importa. Apenas quero que seja feliz, que livre-se de qualquer resquício de uma culpa que não tem que carregar. Quero o melhor para você e eu não sou isso.

Dando alguns passos para trás, suspirou antes de se pôr de joelhos de novo, de curvar o corpo até sentir o piso frio tocar sua testa.

Mais uma vez, Yoongi estava curvado diante do homem que denominou como deus, que criou todo um templo apenas para adorá-lo.

Estoy frente a ti Para ponerme como el único que merece ser castigado. Sello aquí, el comienzo de mi penitencia. Estou diante de ti. Para me colocar como o único que merece ser punido. Selo aqui, o início de minha penitência. — Sussurrou contra o chão.

De pé, Hoseok desmoronava. O silêncio absurdo voltou a reinar, Min separava suas coisas e junto aos pertences, guardou uma das fotos que estavam sobre a cômoda, uma dos dois juntos em uma viagem inesquecível. Precisava levar algo consigo, então colocou o porta retrato em cima das roupas bem dobradas e fechou a mala. A bolsa de couro foi colocada em cima da mala que foi deixada ao lado da porta de entrada da residência.

Hoseok estava encarando um ponto fixo, perdido em seus pensamentos, a postura imóvel e impecável — Yoongi encarava aquilo com pesar, aproximando-se, viu a assinatura elegante nos papéis ao lado da sua.

Estavam divorciados perante a justiça.

A camisa social estava aberta, a expressão impassível e úmida pelas lágrimas, Min engoliu o nó que se formava na garganta, estava pronto para ir quando ouviu a voz triste soar.

— Me beija?

— Hoseok!

— Por favor. — O sotaque latino se fez presente. — Por favor. — O choro novamente irrompeu.

— Não posso. Me desculpe.

Hoseok ficou de pé num movimento rápido, se pôs diante dele, colando ambos corpos, sofrendo mais do que podia contar — Levou a destra até a nuca alheia, sentindo nos dedos frios a maciez dos cabelos escuros.

— Yoongi. Por favor. — Implorou de novo. Os lábios a centímetros dos dele.

O selar singelo foi no pescoço, o mais velho tremeu, o corpo seguindo o comando, as mãos puxando-o para mais perto. Lá fora chovia e ali, na sala pequena, a tempestade de sentimentos e emoções afogavam os dois.

— Me tome para você. Me deixe sentir que ainda me ama. — Sussurrou contra a pele sensível. — Dessa vez estou lhe dando permissão. — Murmurou, arrepiando-o por inteiro. — Yoongi-hyung. Me tome para você. Isto é uma ordem do seu único deus. — O tom foi brando, carregado de coragem e autoridade. — Obedeça.

Min gemeu, pegando-o no colo, tomando os lábios nos seus, a língua molhada contra sua, a familiaridade, a saudade inundando tudo aquilo que foi o estopim para o fim. Sentando no sofá com o mais novo em seu colo, tratou de tirar as vestes alheias em tremendo desespero, com medo de que fosse impedido se demorasse mais.

Distribuindo beijos pelo ombro, seguindo até a clavícula, ronronou pelos gemidos do platinado, por sentir seus cabelos serem agarrados e os corpos se juntarem como um só. Nus, Hoseok rebolava contra o membro duro, o beijo estando mais calmo porém dominante, Yoongi levou os dedos até a entrada sensível, os lumes felinos atentos a cara expressão de prazer que tomava a face do seu senhor, do seu sol. Do seu homem.

— Seus dedos não. Quero seu pau. Bem fundo em mim. — Ordenou ofegante, mordendo o ombro, tirando um rosnado de dor, o calor explodiu por seu corpo.

— O que quiser. — Devolveu, mordendo e sugando o lábio inferior, recolhendo aquele gemido que tanto sentiu falta, aquela entrega não só de corpo mas também de alma. Posicionando o cacete duro na entrada, forçou-se para dentro.

Hoseok gemeu alto, as lágrimas voltando à tona enquanto escondia o rosto no pescoço alheio — O quadril se movia para cima e para baixo, fodendo e fazendo amor ao menos tempo. Um amor forte que pelas ironias da vida tornou-se frágil.

Ambos gemiam enquanto as almas perecem no sofrimento — A cada estocada Jung chorava e Yoongi grunhiu em lamento perpétuo, deixando seu coração sangrar enquanto sua mente o condenava.

Aquele prazer não era merecido.

Ele não merecia ter o prazer escorrendo dentro do homem que amava, não era digno daquele suor, de sentir o cheiro doce se misturar ao seu que era como o inverno.

A culpa doeu enquanto Hoseok gozava entre as lágrimas enquanto ele segurava desesperadamente o seu.

— Yoon. Me encha de você. Goza dentro de mim. — Implorou, apertando o cacete enquanto se movimentava, instigando-o.

— Hose...porra. — Pressionou os dígitos com força na carne da cintura pequena. — Para.

— Não vou. Você não quer que eu pare. — Rebolou, engolindo todo o cacete até sentir a virilha contra sua bunda. — Goza. Não tá gostoso ? Hum?

— S-sim. deus. — Fechou os olhos, segurando a respiração.

— Isso, me chame enquanto goza dentro de mim. Quero sentir você. Quero me lembrar de você. Eu te amo tanto. — Gemeu, chupando a pele úmida de suor.

Yoongi num gemido mudo estocou com força antes de gozar, os olhos marejados junto a respiração quase nula. O contato visual foi o encerramento de tudo.

Havia acabado.

Agora só restavam lembranças.

Dando-lhe um selar rápido, tirou Hoseok de seu colo, não esperando para ajudá-lo ou lhe dar carinho como sempre fazia. — Recolheu as vestes e rumou até o banheiro que havia no andar superior. Encarando as próprias roupas, o cheiro do sexo, Jung voltou a chorar.

O fio vermelho que os conecta afrouxou o laço, seria questão de tempo para que se rompa. Cada um seguiria seu próprio caminho, tendo as sombras como companhia quando a saudade queimar ambos, enquanto os corpos padeciam na esperança de se conectarem novamente.

[...]

DOIS DIAS DEPOIS

Yoongi já estava pronto para começar a investigação, procurar nas entrelinhas o que muitos não viam. — Jimin tinha de ser vingado e por isso lutaria do jeito que fosse preciso. Custe o que custar.

O moreno vestia roupas escuras, o tempo estava ameno, entretanto sentia frio, estar longe do seu sol lhe fez refém do gelo e das sombras. Merecia aquilo, então tratou de não pensar sobre, não lembrar que permaneceu com o celular em mãos durante toda a tarde, sentindo o aparelho vibrar e o coração clamar pelo ex-marido. Por aquele que mandava mensagem a cada quinze minutos. Reunindo apenas o necessário saiu do quarto de hotel, ajeitando o boné para cobrir um pouco os olhos, enquanto esperava o elevador colocou a máscara de mesma tonalidade das vestes.

O ar noturno o recebeu no instante em que saiu do enorme prédio, o carro alugado estava no acostamento, havia marcado uma reunião com o delegado do departamento. — Precisava de respostas, o fato do amigo não ter dado notícias desde o funeral era estranho.

Havia algo errado.

Dirigindo pelas ruas de Nova York, olhava tudo com extrema atenção, o celular foi deixado no silencioso, não queria ser incomodado. — Em menos de vinte minutos estacionou, ao descer sentiu ser observado, olhou para ambos lados não encontrando ninguém suspeito, mas sabia que havia, era inteligente o suficiente para saber que quem o seguia estava oculto pela escuridão.

— Boa noite. Sou investigador e vim conversar com o delegado. — Anunciou, entregando o documento.

— Só um minuto.

A espera foi curta, logo Lorenzo apareceu, o porte físico era atlético, ainda que estivesse com quase quarenta e cinco anos. — O cumprimentou de forma rápida, rumando para o escritório, ignorando olhares e alguns murmúrios alheios.

— Fique à vontade.

Yoongi se sentou, tirou o boné ajeitando os fios escuros, encarou o mais velho antes de prosseguir.

— Preciso que me dê liberdade para investigar. Jimin era meu melhor amigo e preciso me manter a par. O ajudarei no que for preciso.

— Senhor Jung...

— Min. — Corrigiu, engolindo em seco.

— Perdão. — Pigarreou. — Senhor Min, só o que posso dizer é que caso encontre, entregue a mim. Vivo. — Conclui.

— Como sabe o que pretendo?

— Li a ficha. Jungkook me falou um pouco sobre os amigos e tive uma conversa com Kim Namjoon. — Informou. — Sei sobre o seu histórico. Então este é meu pedido. Então tem minha permissão.

Yoongi manteve o sorriso ladino e ficou de pé no mesmo segundo.

— Deixe comigo. O entrego vivo porém não prometo deixá-lo inteiro.

Lorenzo assentiu.

— Sabe do Jeon? — O ouviu perguntar.

— Ainda não. Mas vou tentar contatá-lo. Foi uma perda complicada. Para todos nós, mas o impacto foi pior para ele.

— Eu sei. Se o achar, diga que a delegacia está o esperando. O posto dele continua. Só quero o melhor para ele.

— Okay. O mantenho a par caso encontre algo.

— Ok. Boa sorte.

Seguindo para saída, Yoongi massageou o peito, a angústia doía, quase lhe tirando o ar, verificando as horas no celular notou algumas mensagens e ligações perdidas de Hoseok. — Responderia depois, era um maldito masoquista emocional, era uma droga, todavia, a dependência emocional o atingia como socos no estomago.

Realmente estava vivendo seu próprio inferno.

Perto do Camaro preto, Min parou, sacando a arma e apontando para quem estava atrás de si, sua ação trouxe reação, a garota fez o mesmo, tirando o capuz para deixar o rosto à mostra.

— Você é Min Yoongi? Policial investigativo do departamento da Coreia do Sul?

— Se está apontando a arma para mim é porque sabe a resposta. — Retrucou, a voz rouca e pesada quase fez a garota tremer.

— Precisamos conversar. É importante.

— Dispenso. — Baixou a arma.

— Preciso que me ajude. Se me ajudar, ajudarei você.

— Não estou interessado. — Destravou as portas do carro.

— Meu nome é Kalliope. Sou estudante de perícia criminal no Canadá. Estou aqui pelo mesmo motivo que você. A diferença é que estou viva e seu amigo não.

Os luzeiros felinos encaravam a garota dos pés à cabeça, se tivesse dezenove anos era muito — Mordendo o lábio inferior fez um gesto para que entrasse no carro.

— Saiba que se estiver mentindo. Irá morrer antes de sentir o impacto. Entendeu?

— Sim. Digo o mesmo a você. Agora vamos. Aqui não é seguro.

Os dois entraram no veículo, Yoongi deu partida, ignorando totalmente a presença da loira — Por quase cinco quadras nada aconteceu. Ao parar no farol, notou três SUV cercando-o, bem distante pode ver motos vindo em alta velocidade.

Trocou olhares com a desconhecida que de pronto compreendeu o que ele faria.

— Se segure.

O sinal ainda estava vermelho, Yoongi pisou fundo no acelerador, os outros fizeram o mesmo.

A perseguição havia começado.

:)

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