35 - Contemporaneidade Lúgubre;

"O Senhor sabe de tuas lamentações, conhece teu coração e há de cessar seu luto. A saudade ficará, o sofrimento irá embora e Deus enxugará suas lágrimas." Salmos 56:8

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Os quatro estavam sentados no sofá em lados opostos, o álcool foi substituído por café forte e amargo — A chuva ainda caía forte, as nuvens escuras deixava evidente que seria um tempo fúnebre o dia todo, não haveria luz, não haveria calor; apenas o frio cortante e corações partidos. Jeon Jungkook estava apagado no quarto, o silêncio se estendeu por toda a noite e ainda permanece, a despeito da suposta situação infeliz, não poderia ser diferente.

Hoseok enxugou as lágrimas silenciosas, a palidez do rosto estava marcado pelo rubor das lágrimas e olhos inchados — Yoongi buscava manter o controle, era preciso já que todos estavam naquela bolha impenetrável de dor, perda e lamento.

— Descanse um pouco, Hoseok. — Pediu baixo, o tom rouco assustou os outros, o platinado não deu uma resposta audível, apenas seguiu para outro quarto.

Namjoon mantinha Jin em seus braços, transmitindo calor e afago, um olhar foi trocado entre ele e Yoongi, a confirmação foi instantânea... o delegado segurou o marido com mais firmeza e o levou para o quarto para descansar. Iriam viajar dali a algumas horas, é bom que eles descansassem, quando voltou a sala já havia um copo contendo whisky e gelo.

— Tem algo errado nisso tudo. — O investigador foi o primeiro a se pronunciar.

— Tem. — Confirmou Kim, bebendo o líquido em um só gole. — O que sente?

— Sinto que entramos num jogo, onde temos que procurar o criador dele. Um criador que segue os próprios princípios e ignora as regras. — Explicou, encarando o copo nas mãos.

— Nam. Irei ao apartamento do Jeon, volto o mais rápido possível.

— Tudo bem. Apenas tome cuidado. Os pais de Jimin logo irão avisar para partirmos.

Yoongi assente, deixou o copo ainda contendo a bebida e saiu do quarto de hotel, seguindo para o elevador. Precisava ver por si mesmo e sentir o que Jungkook sentiu.

A falta de sono era costumeiro, portanto, Min não sentia os efeitos da exaustão, dirigindo até o prédio, tomou a liberdade de pedir acesso ao restaurante, onde tudo aconteceu — Teria tempo o suficiente para tentar saber como é este assassino misterioso. O porteiro não fez perguntas ao ver o distintivo, permitiu a entrada e logo lamentou a morte prematura de Park, chorando e sendo amparado pelo moreno.

Jimin era luz em qualquer lugar que pisava, trazia cor e felicidade a todos, este porteiro é apenas um entre tantos que conheceram o loiro, que participaram um pouco de sua vida e rotina. Saindo do elevador, caminhou até o apartamento encontrando a porta entreaberta e um pouco solta; a cena despertou frio no estômago do investigador.

A destruição, a fúria do amigo e seu ódio e desespero estavam por toda parte — Yoongi ficou parado no centro, o ponto exato que teria visão da sala de forma mais panorâmica.

Respirando fundo, fechou os olhos.

Abrir os lumes foi como se vislumbrasse Jungkook, Tudo voltou ao seu devido lugar, Yoongi analisava tudo, cada item quebrado, cada raiva sendo posta para fora... toda a dor do seu melhor amigo. Uma presença não pode ser sentida, no entanto, era familiar.

Seguindo aos cômodos teve a mesma visão, não percebia que chorava, tudo era forte demais e o atingia como um soco no estômago. Pisando entre vidros e madeira quebrada, parou, abaixou pegando uma única foto, e nela, Park sorria largo, as bochechas coradas, Jeon não estava diferente, seu olhar era direcionado ao namorado e a foto capturou todo seu amor pelo modelo fotográfico, ambos na praia, diante a um mar azul e a beleza do pôr do sol — A fotografia foi colocada no bolso da jaqueta. Não havia mais nada a se procurar ali, então saiu rumo ao restaurante.

Fechando a jaqueta para se proteger do vento frígido, Min adentrou o estabelecimento que se mantinha exatamente do mesmo jeito, foi mantido a par pelo dono conforme adentraram o elevador.

— Antes que eu me esqueça. O carro do oficial Jungkook ainda permanece no estacionamento. — Avisou e saiu sem esperar por respostas.

Yoongi encarou o lugar de ponta a ponta, mesas estavam derrubadas, junto a cadeiras, bebidas viradas enquanto outras estavam intocadas — Apenas a comida foi retirada.

Em passos curtos e lentos chegou à mesa que foi reservada para uma noite que seria lembrada pelo resto da vida do policial; infelizmente não seria boas lembranças.

Não tocou em nada, diminuiu a respiração e olhou para a enorme parede de vidro que tomava toda a extensão do ambiente, dando uma visão privilegiada de Nova York. Diante do vidro temperado, olhou a chuva cobrir toda a cidade como um manto — Havia prédios imensos e apenas um chamou sua atenção... um no qual estava a quilômetros de distância mas que também tinha o mesmo tamanho deste. Sua audição zumbiu, podia ouvir os gritos de pavor, os choros compulsivos, os pedidos e súplicas de Jeon... ouvia demais e lhe doía na alma.

Seu celular vibrou duas vezes em curtos intervalos, o aviso de que era para voltar, era uma técnica que Hoseok passou a fazer sempre que notava que estava ocupado, ou que poderia estar fora de órbita tempo demais.

Voltando ao hotel, a chuva diminuía aos poucos — Adentrando o quarto, observou todos parados encarando Jungkook, que estava sentado na poltrona, as mãos agarradas aos braços e o olhar fixo em algo que eles não viam e muito menos ele.

Hoseok foi quem viu o marido chegar, tocou a mão direita dele, sentindo o quão gelado é trêmulo estava. A preocupação era desnecessária, todavia, a feição de Yoongi estava petrificada de modo que suas emoções e pensamentos não poderiam ser lidas.

— Precisamos buscar as coisas dele. Arruma-lo para irmos. — Jin sussurra para o marido que concordou silenciosamente.

A campainha soou, Yoongi que estava próximo, atendeu, abrindo a porta encarando Taehyung.

— Desculpe-me, passei na delegacia e Lorenzo me disse que estavam aqui. Posso entrar?

Min ignorou-o, dando-lhe passagem.

— Trouxe uma mala pequena com o necessário para Jungkook. — Avisou, parando no segundo em que o moreno piscou, direcionando os lumes ao mais velho.

— Obrigado por isso. — Jin quem agradece, pegando a mala para levar ao quarto.

— Posso tentar ajudar?

— Onde esteve quando tudo aconteceu? — Yoongi questiona rude, antes mesmo de qualquer um pensar em permitir algo.

— Estive fora, em uma reunião com alguns acionistas em outro país.

— Quando voltou?

— Há dois dias.

— Foi ao apartamento do meu amigo?

Hoseok tentou chamar sua atenção, para que percebesse que estava passando dos limites.

— Sim. O encontrei destruindo tudo e tentei pará-lo.

Yoongi sorriu de canto, frustrado e com raiva.

— Tem álibi que confirme essa sua reunião?

— Yoongi. Chega. — Hoseok aumenta o tom de voz.

— Tenho senhor Jung. — Ser chamado pelo sobrenome do ex marido o fez parar e ofegar.

— Venha. — O platinado ordena, puxando-o pela mão.

A porta se fechou, Jung trancou e se virou para encarar o moreno que andava de um lado a outro, olhando para o tapete, tentando reorganizar a mente.

— O que pensa que está fazendo Yoongi? — Questionou. — Interrogá-lo dessa forma é antiético. É errado. — Cruzando os braços encostou as costas na porta. — YOONGI!

Parou pelo grito, olhou para ele pouco atordoado — As mãos tremiam e a garganta estava seca.

— Eu precisava.

— Não é hora para isso. Por favor! Mantenha a calma.

— Calma? — Riu anasalado. — Nosso amigo foi assassinado. O namorado dele está praticamente em estado vegetativo. E você me pede calma Hoseok? Uh? CALMA? É ISSO QUE QUER DE MIM HOSEOK?— O punho fechado atingiu a parede, a dor queimou pelos dedos e braço, a pele foi aberta e ali, onde seu punho acertou, estava manchado de sangue e um pouco rachada.

Tal ação assustou Hoseok de imediato.

— Yoongi...

— Me deixe em paz. Me deixe sozinho. — Pediu, a voz abafada saiu baixa. — Vou arrumar nossas coisas e levar para o carro.

Hope engoliu o choro e saiu, deixando-o.

Na sala. Taehyung foi deixado sozinho com Jeon claramente com a permissão dos outros. Diminuindo a luz, fechando as janelas, se aproximou, ajoelhando diante do policial — O

mais velho sentiu frio percorrer sua espinha ao tocar nas mãos geladas.

— Jungkook-ah. — O timbre rouco soou suave, invadindo a audição do mais novo, procurando em seu íntimo o dono da voz.

— Estou aqui! Seus amigos também. Iremos cuidar de você.

— Ele tem medo da chuva. — Sussurrou, sem manter contato visual. O tom sombrio e grave pareceu atingir o interior de Kim de modo brutal e doloroso.

— Precisa tomar um banho, e comer algo antes de irmos. — Desconversou. — Posso te ajudar com isso?

— Banho.

— Certo.

Passando o braço direito atrás dos joelhos do menor, Kim o segurou firmemente antes de levantar com ele nos braços, percebeu a perda de peso precoce — Levou-o para o quarto seguindo até o anexo, o deixando sentado na tampa do vaso para ligar o chuveiro e despi-lo.

— Venha. Vou tirar suas roupas. — Não houve segundas intenções em suas palavras, o que deixou-o totalmente surpreso. Amparo e humanidade não fazem parte do seu feitio.

Jungkook ficou parado, a visão desfocada e a exaustão o sugando — Cada peça de roupa foi tirada, a pele alva estava fosca, assim como os olhos... Jeon perdeu o brilho, perdeu sua vida. Foi arrancado de si.

Nu foi guiado para debaixo do chuveiro, a pressão da água quente e forte tocou a pele,

Taehyung havia arregaçado as mangas da camisa social para ajudar se preciso.

O banho foi rápido, as roupas confortáveis foram separadas por Jung, junto a remédios e café da manhã que foi recusado. Deixando Jungkook no quarto, Kim ajeitou a camisa social, deparando-se com Namjoon e Seokjin conversando baixo, onde uma voz estava embargada e outra mais firme.

— Com licença. Peço perdão por interromper. Jungkook está no quarto e espero que ao menos coma algo.

— Obrigado Taehyung, pela ajuda. — Jin agradece, limpando as lágrimas.

— Não precisam ter pressa. Tomei a liberdade de ceder um jato a vocês, aos pais do Jimin. Para que façam uma viagem mais confortável e só entre vocês.

Tal anúncio surpreendeu o casal, Namjoon o agradeceu breve e Jin fez o mesmo, saindo para avisar os outros — Vestindo o paletó que foi deixado sobre o sofá, Kim suspirou, a agonia espremia seus órgãos, o rasgava de dentro para fora, o deixando totalmente instável.

— Seria bom se fosse também. — Ouviu Namjoon comentar, ainda observando a chuva com pesar. — Foi amigo dele também, suponho que tenha sido mais do que isso e não só para Jimin. Para Jungkook também. — Enfatizou.

Voltar à Coreia do Sul era seu maior pesadelo, o país que ele passou a tratar como o triângulo das bermudas — Prometeu com seu sangue jamais voltar a este lugar.

— Pensarei. — Diz fraco. — O piloto e a comissária estarão esperando por vocês. O jato deixará Jimin em segurança também, para ser levado. Tudo foi preparado.

— Valeu.

Kim se despede e vai embora sem olhar para trás.

[...]

O caixão foi o primeiro a ser colocado no jato absurdamente grande. Preto brilhante com linhas douradas — Hoseok levou Jungkook para o interior da aeronave, Namjoon conversava com os pais do modelo, Yoongi desceu do carro, havia deixado o veículo do amigo no estacionamento do prédio... pegou as chaves do apartamento, consertou a porta para manter trancada.

A chuva fina o cobria e este tampouco se importava, seu coração deu um leve salto ao ouvir um Mercedes - Benz Gla cinza chumbo parar um pouco próximo de onde estava, virando o rosto teve a visão de Kim, trajado em ternos escuros e luxuosos, o colete se destacando na camisa branca... os cabelos negros penteados para trás, deixando a testa a mostra e expressão fechada, em seu rosto lindo e surreal, a beleza se incendiou com os óculos de aros finos e arredondados, estilo vintage.

Yoongi praguejou baixo ao vê-lo vir ao seu encontro, segurando um enorme guarda chuva preto.

— Precisa de algo?

Yoongi o ignorou, seguindo para as escadas até o interior do jato, o calor o recebeu, Taehyung entrou em instantes, cumprimentando gentilmente quem estava em sua visão, avisou a comissária para que passasse a ordem ao piloto, para que possam alçar voo.

Todos já estavam acomodados nas poltronas enormes e confortáveis.

Jeon não se movia, estava de frente para Hoseok, alguns fios escuros estavam caídos em seu rosto lindo, eternizado por luto.

— Será uma viagem. Senhor. Senhora. Há uma área mais reservada para que descansem melhor. — Os mais velhos assentiram, seguindo a comissária.

Seria uma longa viagem de silêncio e morbidade.

Seguiam para a Coreia. Para o único lugar do mundo onde Taehyung não queria estar.

As horas seguiam, Jin dormia enquanto seu marido lia alguma coisa, Hoseok acariciava a mão do mais novo, preocupado por ele estar gelado mesmo com um edredon forrado... Yoongi observava, como uma águia, cada respiração, virar de páginas e suspiro não passavam despercebido. Taehyung apreciava um vinho tinto francês suave — A garrafa vazia na mesa quadrada de madeira, para melhor conforto, alguns botões da camisa estavam abertos, o colete e paletó foram retirados e deixados próximo a garrafa.

Quando a madrugada chegou, Taehyung continuava bebendo, todos exceto ele e Jeon estavam dormindo. Kim despertou dos devaneios ao ver Jeon parado como uma estátua, os olhos fixos nele mas sem enxergá-lo totalmente.

— Precisa de algo? — Perguntou com cautela, baixo para não assustá-lo.

Jeon não falava, sussurrava palavras desconexas que condizem com seu passado com as lembranças com o namorado morto.

— Pegarei um copo d'água para você.

Foi impedido de ficar de pé quando o mais novo sentou em seu colo, deixando as pernas encolhidas, logo o corpo se encolheu, o rosto apoiado na curvatura do pescoço dele, o hálito frio e a pele mais fria ainda.

— Jiminie. Me abraça, estou com frio. — Pediu manso, esfregando o rosto gélido na pele quente e cheirosa do mais velho.

Kim não ousou corrigi-lo, puxou o edredom dobrado ao lado para cobrir o corpo do moreno, o ajeitando para ficar mais confortável em seu colo. Ter Jeon ali, o deixava nervoso, repleto de culpa e à beira de um surto psicótico.

Tudo está fora de seus planejamentos e por isso, traçou um destino para Jeon e para si.

Não seria preciso coagi-lo, pois este iria por contra própria. O aquecendo, Taehyung acariciou os cabelos escuros, não demorou muito para ele adormecer e o mais velho terminou sua bebida e deixou ser tragado pelo sono, mantendo os braços ao redor do policial para que não caísse durante o sono.

Quatorze horas de viagem e finalmente chegaram a Coreia — Taehyung desceu primeiro para conversar com o piloto, ordenando a uns seguranças que mandassem os carros incluindo um apropriado para levar o caixão até o cemitério Seoul National Cemetery para que fosse preparado para ser levado para Busan, onde um memorial já estava preparado para recebê-lo.

— Obrigado por ceder o jato e custear tudo.

— Imagina. Farei o que puder. Ele merece um descanso apropriado e digno dele.

— Concordo.

Jimin foi levado, Jeon parecia não querer que tocassem no caixão, permitiu apenas que Namjoon o ajudasse a tirar e colocar no carro. No celular, Kim reservou quarto de hotel, pedindo para que suas malas fossem levadas diretamente para lá.

— São uma hora de viagem até Busan. — Yoongi começou a falar depois de horas e horas quieto. — Vamos tirar meia hora para tomarmos um banho para aliviar o cansaço e seguiremos para lá.

Todos concordaram. Os pais do modelo haviam ido com o carro funerário, encarando os casais seguirem para os carros, Hoseok parou, voltando e sem aviso abraçou Taehyung.

— Venho agradecer em nome do Kookie.

O cheiro de baunilha atingiu os sentidos de Kim, um aroma doce que combinava com o platinado e que ele não esqueceria tão cedo.

Nunca esqueceria.

— De nada.

Se afastando, correu até Jeon, o segurando pela mão com carinho, o guiando para entrar no carro.

Sozinho na área privada do aeroporto, Taehyung respirou fundo, engoliu as malditas lembranças e abriu a porta do Chevrolet Corvette Roadster 1974 preto com interior revestido em couro bordô legítimo, adentrou elegantemente, seguindo para um hotel qualquer com apenas uma mala, visto que outras já foram levadas para Busan.

O enterro seria às três da tarde, o memorial seria rápido, então poderia dar suporte a Jeon até tê-lo para si por inteiro.

No hotel, num quarto extravagante, Taehyung deixou a mala no quarto e foi servir-se uma bebida no cômodo adjacente, numa enorme sala, o líquido queimou a garganta, adormecendo a temperatura explosiva e fora de controle.

Vinte e cinco minutos depois, já arrumado num terno escuro da Gucci, ouviu a campainha, ajeitava a gravata quando foi surpreendido por Jungkook.

— Jungkook? — O susto passou pelo rosto do mais velho e a surpresa tomou o restante já que o mais novo o empurrou fechando a porta. — O que está fazendo?

— Me ajuda?

— Como? Seus amigos sabem que está aqui?

Jeon não o responde, diminui a distância, segurando o rosto do mesmo que estremeceu pela pele macia e fria — As bocas se encontraram.

Jungkook o beijou.

Mas não via Taehyung.

Via Jimin.

E avançou para mostrar toda sua saudade.

Jimin voltou para mim. Pensou conforme o agarrava e o beijava com desespero e felicidade completamente distorcida e alucinógena.

O desequilíbrio fez Taehyung envolver o moreno pela cintura, tentando contê-lo, procurando afastá-lo — Jeon atado a alucinações, empurrou Kim até o sofá mais próximo, montando nele em seguida, os lábios frios implorando por passagem, os sentimentos a flor da pele, a inconsciente coordenando todas as suas ações.

— Jungkook. Para. — Firmou a voz, pressionando os dedos na cintura pequena, impedindo que este se movesse em seu colo e despertasse um desejo insano. — Olhe para mim. — Segurou seu rosto, as pupilas dilatadas quase engoliam o castanho de sua íris. — Avisarei a seus amigos que está comigo. Irá comigo para Busan.

Tirando-o de seu colo com cuidado, pegou o celular, ligando para Namjoon, em poucas palavras o tranquilizou e garantiu que Jeon seria levado em segurança.

— Vamos? Temos uma viagem de uma hora e três minutos para fazer.

Jeon estava fraco, o pouco de sua força foi usada de modo invasivo — Taehyung o pegou no colo de novo, rumando para o elevador que os levariam diretamente ao estacionamento.

O veículo Bugatti Chiron Super Sport 300+ branco foi destravado, Kim ajeitou Jungkook no banco do passageiro, assumindo rápido a do motorista — Antes de seguir para Busan parou para comprar um chá, entregando ao garoto que bebendo sem vontade, adormeceu ao terminar. Dormiria tempo suficiente para que chegassem ao cemitério.

O carro atingiu quatrocentos quilômetros por hora ao entrar na avenida, cortando carros e caminhões, a importância de multa era irrelevante. Taehyung apertava o volante, o maxilar trincado e o olhar totalmente focado e raivoso por tudo que estava acontecendo. Estava puto consigo mesmo.

Chegariam primeiro que todos os outros.

A despeito de suas pretensões, Taehyung sorria minucioso, sentia o poder.

Se sentia um Deus.

O que era para ser uma hora. Tornou-se menos que a metade disso.

Conforme os mais chegados chegavam ao cemitério, Taehyung desceu do carro para fumar, esperando pacientemente Jungkook despertar, o que faria dali a pouco.

O peso daquele lugar por pouco não causa emoções humanas. Lembrar de tudo, estar onde não queria era maldito.

Era uma tremenda tortura.

Conforme a fumaça sumia rápido devido ao vento um pouco forte — O ar úmido denunciava chuva. Preenchendo os pulmões com nicotina, Kim jogou a guimba no acostamento, ajeitando a postura viu Jungkook se mover no banco e os amigos chegarem em dois veículos luxuosos.

O pastor falava e falava, o caixão escuro foi trocado por um branco e dourado... Jimin usava outras roupas, a beleza eterna sendo exibida pela última vez.

Choros e soluços podiam ser ouvidos perfeitamente, até era possível distinguir.

O cheiro de flores queimavam o olfato de Taehyung que permaneceu distante, aquela cena lhe fazia lembrar da sua maior dor.

— "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto." João 14:1-7. — A voz insuportável do pastor finaliza o memorial para dar início ao enterro.

A situação trouxe mais chuva.

Jeon chorava em tremendo desespero ao despertar apenas para ver o caixão descendo para o túmulo — Namjoon o segurava com mais força, chorando assim como todos os outros.

Apenas Taehyung não chorava, porém em uma área que não obtém acesso, sentia culpa, sentia mágoa e sentia que foi um erro irreparável e irresponsável.

Mais orações e flores eram jogadas no túmulo antes da terra. Taehyung se pôs ao lado de Jeon e o segurou, Namjoon acolheu o marido e Yoongi fez o mesmo com Hoseok.

Foram minutos que pareceu ser horas, o céu escureceu e a chuva tomou força, eram poucos que tinham guarda chuva, os meninos num mar revolto de dor, não sentiam a água praticamente congelante lhes cobrirem. Jeon tremia agarrado às vestes molhadas do mais velho.

O caixão já não pode ser visto, a terra o cobriu por completo até o topo, deixando a cor marrom quase preta por estar molhada.

A lápide de mármore já estava ali. As flores depositadas no túmulo fresco.

Esta foi a despedida final.

Park Jimin se foi para sempre.

— E-eu te a-amo tanto. Ji. Por favor. Não me deixe. Não faz isso. — Caiu de joelhos, cavando a terra com as mãos. — Você me prometeu a eternidade. VOCÊ PROMETEU QUE SERÍAMOS ETERNOS. FICARÍAMOS PARA SEMPRE. NÃO PODE ME DEIXAR ASSIM. NÃO ADMITO. NÃO PODE ME DEIXAR. JIMIN VEM PARA MIM AMOR. FICA COMIGO. — Gritou, exibiu sua voz que a dias quase não era ouvida.

Jin não ousou dopá-lo, tentou tirá-lo mas foi empurrado com força. Hoseok parecia em choque então Yoongi não saiu de perto dele.

Namjoon foi o que segurou o menor com força, segurando-o pelos punhos, os dedos machucados pela força que fazia.

— Senhor Kim. Irei cuidar dele. Deixe comigo.

Quando os gritos eufóricos foram contidos, Taehyung o pegou, avisando que estariam no hotel, dando um cartão ao delegado.

Levou-o do cemitério. Dos amigos.

Agora é só desfrutar do seu prêmio.

Desfrutar de sua obsessão.

:)

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