15 - Romeu e Julieta?;
"A morte, que sugou-lhe o
mel dos lábios, inda não
conquistou sua beleza"
(Romeu e Julieta)
William Shakespeare
🔪
O amor é um sentimento trágico. A quem diga que tal sentimento é puro, genuíno que apenas pessoas de sorte adquirem com a esperança de ser perfeito e sem dor alguma.
Taehyung experimentou todos os lados, sentiu na pele e ossos o quão maldito é amar alguém, o quanto é sujo, sentir em níveis surreais que a paixão o amor faz com o ser humano.
E como o ser humano é capaz de foder literalmente com literalmente tudo, em nome do amor ou de qualquer pretexto escroto que possa encontrar, que justifique suas ações. - Sonhos e pesadelos que coexistem na mesma frequência.
Kim suspirou profundamente ao abrir os olhos e encarar o teto de cor acinzentada, o tronco despido, o abdômen firme e definido trazia um convite erótico e sensual a quem olhar; Jeon passou rápido por sua mente, os lumes escuros, o formado belo dos lábios que na visão de Taehyung, era uma perdição.
Nunca levou em consideração a questão da sexualidade, visto que o moreno apenas aprecia pessoas, sem rótulos, sem nada. Age sempre de acordo com seus desejos sombrios, e Jeon Jungkook era vítima disso.
Imaginar os gemidos roucos do policial o deixou excitado, o membro duro marcando o tecido leve de algodão, deslizando os dedos longos e pálidos, adentrou a calça rumo ao pau já desperto, massageando a carne macia e quente, Taehyung começou a lembrar.
A cada lembrança vivida, o homem gemia rouco enquanto punhetava o cacete grosso, sentindo o pré gozo umedecer seus dedos, o corpo inteiro arrepiava, tremia desejando um corpo quente, ansiando para que alguém o montasse e se fodesse gostoso em seu pau.
- Oh! Porra. - Gemeu, movendo a mão para cima e para baixo, apertando a cabecinha inchada e úmida. - Ah! - Trêmulo, gozou forte em seu abdômen, o líquido viscoso e quente escorria por entre os gominhos da barriga saliente.
Recuperando-se do orgasmo que proporcionou para si mesmo, Taehyung saiu da cama, caminhando descalço pelo piso frio até o banheiro, onde se limpou e se despiu para tomar um banho. - A água escorria gloriosa por seu corpo, a tatuagem se destacava na pele alva e molhada.
Havia assuntos a serem tratados, e Kim começará o mais rápido possível.
Dentro do carro, Taehyung observou Luce saindo de sua casa, caminhando pela calçada e sumindo na esquina, essa foi a deixa para que o moreno descesse do veículo e fosse atrás da loira; as vestes em tons escuros cobertos por um sobretudo o tornavam um homem presente, imponente e intenso.
A jovem entrou numa cafeteria pequena, quase imperceptível, Taehyung adentrou o local minutos depois, se deparando com estantes enormes, repletas de livros, mesas pequenas de madeira e um balcão onde claramente servia café. O cheiro de café era forte, porém bem vindo, o moreno colocou as mãos no bolso e caminhou por entre as estantes até encontrar Luce, vendo-a pegando a xícara de porcelana branca, havia um livro aberto na mesa junto ao óculos quadrados de armação preta. Kim sorriu ladino e se aproximou.
- Este livro ao meu ver foi uma das melhores obras de Shakespeare. - Comentou, a voz tão grave que não tardou a chamar a atenção da garota.
- Concordo.
- Posso me sentar?
- Claro.
A cadeira de madeira foi puxada, ao se sentar, Taehyung fez um gesto, pedindo um café puro sem açúcar como de praxe. Luce o encarava, claramente surpresa e talvez interessada no homem belo e desconhecido.
- Me diga. Já leu este livro quantas vezes? - Perguntou, tamborilando os dedos sob a mesa quadrada de madeira envernizada.
- Muitas. Sou apaixonada. - Respondeu, e era notável o rubor em suas bochechas.
- Incrível. - Elogiou. - Me sinto agraciado com a presença de uma mulher que aprecia tal obra perfeitamente bem.
Luce sorriu, tomando um gole do café, tentando não se sentir envergonhada ou acuada com o elogio, portanto, tratou de se recompor.
- Desculpe, mas você não me parece alguém que tenha lido mais de uma vez. - Supõe.
Taehyung sorriu largo, o formato quadrado de seu sorriso, deixou a garota maravilhada.
- Isto é um desafio, senhorita?
- Talvez? - Os lumes azuis brilharam num desafio para o mais velho.
- Tudo bem. - Ajeitou as vestes e se ajeitou melhor na cadeira. - Qual ato você quer que eu recite?
- Ato V Cena III.
Kim assentiu, e a encarou com intensidade.
- Aqui, fixar quero meu eterno repouso,
e desta carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas.
Olhos, vê-de mais uma vez.
Braços, permiti-vos o último abraço.
E lábios,vós que sois a porta do hálito com um beijo legítimo, selai este contrato com a morte exorbitante.
O timbre arrastado recitou cada palavra com vigor, admirando os efeitos que causavam na garota, a maneira como Luce sentiu o corpo arrepiado, e o rubor mais vivido em suas bochechas, o azul de seus olhos brilharam devido ao quão perfeito aquele estranho era.
- O que achou?
- Achei perfeito. - Elogiou quase gaguejando. - Eu amei, nossa, meus parabéns, sua atuação é incrível.
- Obrigado, fico lisonjeado.
Luce tremeu ao segurar a xícara, o livro foi esquecido, pois desejava ter mais da presença do homem diante de si.
- Presumo que queira ficar a sós com o livro, a deixarei para que continue lendo senhorita. Espero que nos vejamos mais vezes. - Diz ficando de pé, escondendo a satisfação por perceber que Luce ficou um tanto chateada pela despedida alheia.
- Claro. Obrigada por me fazer companhia.
- De nada. - Taehyung segurou gentilmente sua canhota, depositando um selar entre os dedos mornos da jovem. - Que doce som de prata faz a língua dos amantes à noite, tal qual música langorosa que ouvido atendo escuta. - Recitou aos sussurros, um trecho de amor entre Romeu e Julieta, um gesto que foi muito bem aceito pela garota. - Tenha um bom dia Luce.
Taehyung pagou por seu café e saiu para o dia fresco, sorrindo por ter a atenção da garota para si; tinha muitos macetes, e o melhor deles além de sua beleza, era a arte da conquista, a arte de causar paixão e desejo a quem julgar preciso. E Luce sentiu tais efeitos e claramente, voltaria a aquele local na esperança de vê-lo.
Na volta, Taehyung avistou Jimin caminhando na calçada, com um sorriso cafajeste o moreno diminuiu a velocidade e parou perto baixando o vidro.
- Aceita uma carona?
O loiro se assustou, logo vendo quem era, retirou o óculos e sorriu para o moreno.
- Não quero incomodar e já estou perto de casa.
- Ainda sim insisto, entre, eu o levo.
Park sorriu largo e entrou, fechando a porta com cuidado, o veículo parecia caro demais e não queria causar nenhum estrago.
- Obrigado.
- Disponha.
Jimin ainda que nervoso nada disse, observou as ruas, as pessoas e como o dia estava bonito. - Taehyung retirou uma das mãos que estavam sobre o volante e trocou a marcha, as veias saltadas chamou a atenção do loiro por breves segundos, Kim era bonito, elegante e interessante, suas vontades eram erradas, talvez até imprópria, o loiro relembrou da conversa que teve com o namorado, Jeon não questionou o interesse do namorado pelo homem, até porque, também o tinha; sendo assim, Park pensou se iria propor algo ao homem, ou se deixaria para lá. Não era traição se ambas partes estavam na mesma sintonia e de acordo, porém, o loiro resolveu deixar para lá, não precisava saciar seus fetiches dessa forma.
- Jimin? - Ouviu Taehyung o chamando, e pelo timbre, percebeu que não foi a primeira vez que estava tentando chamá-lo.
- Sim?
- Já chegamos. Está tudo bem?
- Esta. Obrigado pela carona. - Agradeceu retirando o cinto de segurança.
- Foi um prazer. - respondeu sorrindo contido.
Park saiu do carro despedindo-se do moreno.
- Isso será interessante. - murmurou fechando o vidro e saindo do acostamento, rumo a sua cobertura.
Taehyung sabia, sabia da conversa que o casal teve durante a madrugada a algumas semanas atrás; não escondeu a satisfação em saber que os dois alimentam desejos por si, seria perfeito e intenso. Jamais sentiu apreço em ser voyeur, na verdade, nunca teve essa vontade gritante em seu íntimo, mas agora tinha e precisava fazer algo que fizessem os dois o convidarem logo, pois só assim teria clareza sobre os gostos de cada um, para saciar cada uma com empenho.
Em sua cobertura, serviu-se de um copo de whisky e se sentou no sofá, confortável, suspirando e abrindo os botões da camisa, deixando o peito exposto e aquecido pela luz solar que adentrava pelas paredes de vidro.
Um soneto começou a tocar, leve e grave ao mesmo tempo, isso acalmou sua mente caótica e os demônios que ali vivem; os familiares de James tem o procurado junto a polícia, e jamais encontrarão, pois Kim Taehyung era perfeito com seus trabalhos, nada e nem ninguém chegará a saber quem ele realmente é.
Entre goles de álcool, o moreno embriagou-se, cansado da rotina, cansado do vazio e o silêncio esmagador que ali há; enquanto a melodia envolvia todo o espaço enorme, Taehyung encostou a cabeça no sofá e gargalhou, apertando o copo já vazio, apertou com tanta força que quebrou, alguns pedaços do vidro penetrou sua pele, o sangue quente umedeceu sua palma, e como um bom sádico, o próprio apertou os cacos de vidro, sentindo a dor, se deliciando dela, pois a dor era o único que o fazia se sentir vivo.
A garrafa de whisky foi esvaziada com o passar das horas, atordoado pelo álcool, Kim se levantou com dificuldade, não sentia a dor em sua mão, apenas estava entorpecido, tentando dar ao menos um passo, o mesmo caiu no chão frio e ali ficou, encarando o teto, delirando num mar tempestuoso e caótico, não tendo controle, começou a chorar.
Chorou de ódio.
Chorou de desespero.
Chorou de saudade.
Chorou de frustração.
Chorou de amor, não eram lágrimas de alguém que se arrepende do que faz, mas sim, lágrimas daquele que mesmo sendo um assassino perfeito, tinha suas falhas, era humano, e Taehyung detestava lembrar o quão fraco poderia ser.
- Appa! Appa!
A voz suave e infantil chegou aos seus ouvidos, tão nítida, tão vivida que trouxe pavor e surpresa ao homem embriagado.
- Sun? - A voz rouca e mole chamou pela filha falecida, as lágrimas ainda escorriam por seu rosto pálido e corado.
- A mamãe vai fazer cupcakes.
- Sun? Yuna. - Murmurou, fazendo força para ficar de pé, sem sucesso algum, pois as tentativas o levavam ao chão gélido. - SUN. YUNA. - Gritou, a voz carregada de dor e desespero.
A única coisa que pode ouvir era de seus batimentos cardíacos altos demais, tão altos que o deixavam ainda mais irritado, levando-o a socar o piso frio repetidas vezes enquanto o choro se intensificava e os soluços tirando sua voz, tirando o ar que respira e deixando apenas dor, o luto e a saudade que mal percebeu estar ali, corroendo sua pele, pulsando em suas veias e queimando seu coração como ferro em brasa. - Nenhuma dor tiraria a saudade de nada e nem ninguém, Taehyung sabia, porém não aceitava, nunca aceitou e jamais o fará.
Derrotado, se encolheu, abraçando seus joelhos e se permitindo chorar até que as lágrimas secassem em seu rosto e o sono o reivindique. Só assim se sentia humano.
Era afogado na bebida que seu eu antigo vinha. Pois sua parte sóbria era doentia, sobrenaturalmente demoníaca.
Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras.
Shakespeare sempre soubera que a vida não era apenas juras de amor e fidelidade; que mesmo que aja amor, haverá dor.
E na dor as pessoas mudam, uns para melhor e outros pior. E Kim Taehyung mudou para pior, nenhuma desgraça que lhe ocorreu foi capaz de impedir que a escuridão tomasse sua alma e demorasse seu coração; ainda que aja alguma luz oculta em seu íntimo, o moreno fará questão de deturpar qualquer chance de mudar. De amar. E ser feliz.
Felicidade não existe.
Amor é só um ideal para os fracos.
Taehyung não era nada disso, assim pensava e assim seria. Frio como uma noite de inverno, mortal como uma arma carregada, e manipulador como um neurótico seguindo seus próprios ideais e conceitos.
Desejo que todos tenham um pescoço, e eu tenha minhas mãos nele.
O silêncio se estendeu, a escuridão veio como uma amiga antiga, o abraçando, o ninando para que durma, que vague por sonhos bons onde o irreal era mais satisfatório do que o real, onde as pessoas não merecem viver e Taehyung deseja matar.
''
Frases mencionadas: "Desejo que todos tenham um pescoço, e eu tenha minhas mãos nele" dita por Carl Panzram, referência do livro The Devil's Trail de DarkPoison_. Frases também mencionadas do livro Romeu e Julieta de William Shakespeare.
:)
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top