13 - Tempo Perdido;
"O menino nunca mais chorou e nunca se esqueceu do que aprendeu : amar é destruir e ser amado é se eu destruído." Cidade dos ossos.
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O silêncio sepulcral desta vez não era acolhedor, pois este era insuportavelmente barulhento, tão gritante quanto um show de Metalcore. — A escuridão se findou a medida que os segundos, tornou-se segundos e os segundos tornaram-se horas; apenas a luz vinda do abajur trazia uma iluminação deturpada, o copo de bebida jazia em sua canhota, contendo três doses de Whisky Royal Salute 62 Gun, a garrafa se encontrava no mesinha de centro em formato oval, as orbes castanhas fitavam o objeto feito inteiramente de cristal feito à mão com elementos decorativos em ouro vinte e quatro quilates, tão caro quanto o líquido que carrega.
O cigarro queimava no cinzeiro, a fumaça rodopiava no ar, numa dança lenta, trazendo aroma de tabaco dentre outras substâncias; Taehyung se encontrava num estado quase catatônico, inspirava lentamente, sentindo o ar preenchendo seus pulmões, expirava com ardor, o calor era emocional, lhe queimava o peito, trazendo sensações que odiava pelo simples fato de não conseguir controlar.
Seu destino fora condenado desde o ventre de sua mãe, entender o mundo e suas dificuldades era algo cruel, assíduo. — Todo ser humano sofre com o modo que a vida é empurrada com a barriga, devido a isso, é certo que, todos estão fadados a um fim trágico.
Todos sem exceção irão morrer, seja por uma decorrência da velhice, ou por suas próprias mãos, ou na sua pior hipótese: pelas mãos de outro ser humano. — Kim despertou de seu martírio, tomou sua bebida em dois goles longos, capturou o cigarro que já havia queimado a metade e tragou demoradamente, soltando o restante da fumaça, depositou as cinzas no cinzeiro em formato quadrado e se recostou no sofá.
Odiava viver.
Amber foi a mulher que respirou muito mais do que devia, porém, seu coração batia devido às ambições sombrias do moreno, e só por tais motivos, a mulher sobreviveu nas mãos do diabo. — Todavia, Taehyung descobriu muito sobre si mesmo, descobriu que quem realmente é, é nada além de um perigo, de um problema que precisa ser contido ou erradicado. Ambos não eram possíveis, não no seu caso.
Horas antes, a filmagem de quase três horas era vista pelo homem, a loira em sua grande parte, não fez nada, permanecia sentada na cama, as mãos apoiadas no colo e o olhar totalmente vazio. — Avançando mais, Kim assistiu em câmera lenta, todo o processo do suicídio que claramente foi premeditado; e quando por fim, Amber colocou o lençol ao redor do pescoço, amarrou e deixou-se sufocar até a morte, Taehyung sentiu sua pele arrepiar, recordou-se de tudo que fizeram a mulher, desde a tortura, até o esperma que inseria através de um cateter fino no canal cervical colo do útero levando o sêmen no fundo do uterino.
E fazia sempre na esperança de que viesse uma menina, e para a sua infelicidade, nunca viera. Foram tentativas infrutíferas, frustrantes, entretanto, Kim persistia.
E agora, sua cobaia se foi, levando o restante de esperança que tinha.
Ainda que fosse doentio, porque ele tinha total ciência de seus feitos, e não poderia se importar menos com cada um deles.
Faz uma semana que Amber tirou a própria vida. Sete dias que Taehyung não saiu da cobertura, dias em que ficou preso em sua dor, em sua angústia, onde bebeu mais do que poderia contar. — Por volta das dez da noite, Kim tomou a decisão de sair, de espairecer e odiar ainda mais a raça humana.
Vestido em trajes escuros e elegantes, as chaves do carro foram pegas, junto a carteira e a caixinha pequena de cigarros, suspirou novamente e saiu, descendo os lances de escadas empoeirados rumo ao carro que foi quase esquecido no estacionamento.
A rua era abrangente, tantas direções, tantas opções que para alguém sem rumo, era até terapêutico pensar por qual caminho seguir. O veículo seguia numa velocidade razoável, os dedos agarrados ao volante, os mirantes fixos na estrada, quase não piscava; Kim conseguia sentir o acalento que vem de uma estrada vazia, tarde da noite e um pouco coberta pela névoa espessa, o frio não era incômodo, já que o que lhe tirava o sono era sua mente, era a si próprio.
Sem paciência para prosseguir, Taehyung ligou a seta e parou o carro, a ponte se estendia por mais alguns quilômetros, porém, não era para o fim dela que o moreno queria ir, por isso, se recostou no capô, tirou um cigarro da carteira, acendendo-o, travando uma quantidade considerável enquanto observava a escuridão escondendo o quão alto era a ponte, entretanto, convidada os suicidas uma morte cheio de adrenalina e hesitação.
— Patético. — resmungou baixo.
O cigarro queimava devagar, mas ao soar do vento cortante, a brasa consumia mais rápido o filtro e as substâncias contidas ali. — Uma vibração vinda do bolso do casaco chamou-lhe a atenção, enquanto soltava o restante da fumaça, pegou o aparelho, verificando ali, uma mensagem de Jeon Jungkook.
Precisamos conversar [ 23:10 p.m ]
Antes de responder, tragou uma última vez e jogou o cigarro o mais longe possível, numa resposta breve, dei-lhe sua localização, não ouve retorno, portanto afirmou que Jeon viria ao seu encontro. — Meia noite em ponto, Taehyung pode ver ao longe um carro vindo, ajeitou a postura, colocando as mãos nos bolsos do casaco e esperou pacientemente; o veículo negro parou atrás do seu, desligou o farol, Jeon descera do carro, ajeitando a jaqueta de couro e deslizando os dedos pelos cabelos negros.
— Um pouco tarde para uma conversa, não acha? — Kim constata.
— Concordo. O que faz aqui ? — Perguntou pondo-se ao lado do moreno.
Taehyung desviou o olhar, encarando a escuridão, suspirou com pesar.
— Venho aqui para pensar. — Respondeu ríspido.
— Apesar de ser um tanto mórbido. Sabia que esta ponte é a escolha número um de todo suicida? É conhecida como Ponte para o inferno.
— Sei sim. Por isso me sinto em paz aqui.
Jungkook não deixou transparecer no quanto as palavras de Kim foram um tanto intensas e perturbadoras; no quanto quis fazer perguntas muito diferentes das que pretendia desde que mandara a mensagem.
— Bom. Não irei perguntar se está bem, pois é evidente que não. — Suspirou pesadamente. — Gostaria de conversar?
— Melhor me dizer o que o levou a vir aqui.
Jeon ajeitou as vestes num ato de ansiedade, encostou no capô e ao dizer, não fez questão de encarar o homem ao seu lado.
— Não posso lhe dizer de modo explícito, visto que se trata de uma investigação. Vim aqui porque preciso que me dê permissão para adentrar os imóveis que estão em seu nome. — As orbes tão negras quanto a noite, desta vez, encarou Taehyung, em busca de algo ainda que perceptível, pudesse taxá-lo como suspeito.
Não encontrou nada. Kim estava tão sereno quanto um mar calmo. Enquanto vinha até seu encontro, Jeon se culpou por desconfiar do homem tão elegante, a culpa aumentou ainda mais por suas suspeitas terem caído por terra. — Taehyung pegou mais um cigarro, acendendo e tragando lentamente.
— Fique à vontade, Jeon. — Respondeu depois de alguns minutos.
— Não peço como policial, Taehyung. Peço como alguém que precisa de justiça por outra pessoa. Visto que um mandato demoraria muito e estou sendo pressionado para entregar alguma pista. — Explicou, e seu timbre denunciava as noites não dormidas e toda a preocupação que uma investigação daquela magnitude gera.
— Compreendo. Tem minha permissão. Podemos ir mais tarde na mais próxima se quiser.
— Seria ótimo. Obrigado.
Taehyung apenas deu de ombros e continuou fumando, apreciando a brisa noturna balançar seus cabelos escuros em direções opostas. Jeon pigarreou, optando por uma despedida rápida, precisava ir para casa antes que seu namorado sentisse sua falta.
— Nos falamos mais tarde então.
O policial passou por Taehyung, caminhando até seu carro que ainda estava ligado, o farol iluminando ambos. — Falar algo poderia não ser oportuno, por isso, o mais velho deixou Jungkook ir, sem olhá-lo, esperou o veículo sumir para que pudesse ir também, o cigarro já estava em seu fim, Taehyung tragou e soltando o restante de fumaça, sorriu, não um sorriso meigo, e sim um que denunciava de maneira explícita, o quão demoníaco sua alma e corpo era.
Adentrando o carro, o horário no painel digital indicava uma da manhã, teria certas horas antes de encontrar Jeon novamente, portanto, teria tempo o suficiente para moldar uma presença que se encaixasse perfeitamente na ocasião, e que decorrente a isto, levaria Jungkook a confiar em si.
[...]
— Acho que não é preciso apresentações, certo? Visto que deve saber de todas que possuo. — Enfatiza serenamente.
Haviam chego na mansão que ficava nos limites da cidade, Taehyung não dizia nada, apenas ouvia, ao menos até o silêncio terrivelmente maçante se findar durante todo o restante do percurso. — Jeon fez um gesto silencioso para que o maior fizesse as honras, o veículo fora deixado na entrada da garagem; a casa era enorme, muito bem iluminado, sua decoração podia ser vista do lado de fora, Jungkook achou interessante e intrigante, após o pequeno gesto de Kim, ele entrou primeiro, sentindo o cheiro de sândalo, analisando no quanto o local era luxuoso, amplo, iluminado e de decoração um tanto colonial.
Era lindo.
Tudo ali gritava o nome de Taehyung. Era sua personalidade, seu gosto, e era lindo de ser, também passava a impressão de mistério e de um leve desconforto pelo vazio.
— Fique a vontade policial. — A voz rouca e arrastada do moreno, causou um leve susto em Jeon, que assentiu um pouco nervoso e retirou um par de luvas de látex do bolso da jaqueta de couro.
— Obrigado.
Kim deixou o moreno livre para explorar onde e o que quisesse, caminhou até a sala principal, onde serviu-se de uma taça de vinho R-vinho Château Petrus, deixando outra taça vazia, esperando pacientemente pela visita que fazia certos minutos que não viera a seu encontro. — Era incrível a maneira que Taehyung era calmo, a forma que não se preocupava com nada, até porque para se preocupar, precisaria se importar, e é de conhecimento que o homem de uma beleza de tirar o fôlego de qualquer um, não se importava com nada além de seus ideais.
Acomodado no sofá confortável de um tom claro de cinza, Taehyung apoiou a taça na coxa esquerda, fazendo círculos pela borda com o indicador enquanto as orbes castanhas se perdiam numa maré de lembranças insanas. Recordou-se perfeitamente de uma noite fatídica, em que seu adorável bichinho de estimação estava o encarando como se visse o próprio diabo, ou o reflexo dele.
— Quem é você afinal? — Amber tremia da cabeça aos pés, não conseguia encarar o teste de gravidez que dera positivo, muito menos recordar-se de ter feito sexo.
Taehyung sorriu amargamente, deleitando-se com o gosto do whisky que descia como fogo por sua garganta e o aquecia de dentro para fora. Como uma chama pequena buscando aquecer um enorme espaço vazio e congelante.
— Charles Manson. — Começou a dizer sem olhar a mulher presa na cama de solteiro. — Um entrevistador, perguntou quem ele era, numa última sentença. Quem era realmente ele. — O sorriso era curto, maldoso e intrínseco. — Charles fazia caretas, como um lunático, mas depois, encarou o homem que lhe fez tal pergunta e respondeu... — Pausou apenas para servir mais uma dose de whisky, que foi bebida logo após. — " Ninguém. Eu não sou ninguém. Eu sou um mendigo, um bêbado, um vagabundo. Eu sou um vagão e uma jarra de vinho... — Seu olhar para Amber era mais sombrio, à medida que narrava cada palavra dita pelo assassino estadunidense que formou uma seita, onde seus seguidores cometeram uma série de nove assassinatos em quatro locais em julho e agosto de 1969. — ...E uma lâmina afiada, se você chegar muito perto" — Completou batendo o copo com força na mesa de ferro, o impacto causou um leve amassar na estrutura quadrada e frágil. — É isso que sou Amber. Você chegou muito perto e conhecera o quão afiado e demoníaco posso ser. — Ameaçou sorridente enquanto os olhos queimavam como chamas infernais.
— Senhor Kim? — Jeon Jungkook o chamou várias vezes até que o homem pudesse enfim notar sua presença. — Está tudo bem? — Perguntou ao compreender que a devida atenção estava sobre si.
— Claro. Encontrou algo?
— Não. Peço desculpas pela inconveniência, e também pelo desconforto pelo pedido feito na ponte.
— Não há motivos para desculpas policial, compreendo o qual complicado e sufocante deve estar sendo para você. Então, fico satisfeito por contribuir com algo. — Taehyung levantou-se, rumo a pequena adega, pegou a taça que estava esquecida e a preencheu com vinho, entregando ao oficial.
— Foi um tempo perdido. — Jeon murmura frustrado.
— Sinto muito por isso.
— Obrigado por tentar me ajudar.
— De nada. Não deseja ver minhas outras propriedades? — Questiona curioso.
— Não, creio que não há nada para ver, e também, imagino que seja um homem ocupado, não tomarei de seu tempo. — Avisa sem dar espaço para o mais velho responder ou sequer pensar em um comentário sobre.
— Claro. Ao menos aprecie o vinho e tente ficar calmo. A frustração bloqueia boas ideias. — Dita sorrindo para Jeon, num intuito de dissipar a tensão.
Taehyung tomou o restante de sua bebida, analisando minuciosamente o homem a sua frente, encontrando cercas sensações esquisitas. Sensações que devido a uma força emocional, conteve o suficiente.
— Percebi que está sem a aliança. — O timbre de Jeon soou.
— É.
— Posso lhe perguntar o motivo? Ou é pessoal? Desculpe, é que não gosto muito de silêncio, principalmente quando é desconfortável.
Taehyung lia Jungkook como se o homem fosse um livro aberto, e de fato era, era tão visível quanto sua mansão de vidro.
— Preciso me desprender do que me trás dor, então comecei por isso. — Mentiu perfeitamente.
— Entendo. — A taça foi deixada em um pequeno aparador próximo ao sofá. — Obrigado por exercer seu tempo. Prometo não ser inconveniente novamente.
— De nada. E mais uma vez, não se preocupe com isso, o que eu puder fazer por você. Farei.
Taehyung deixou a taça em qualquer lugar e seguiu Jeon em direção ao veículo na qual vieram.
— Precisa de carona?
— Não. Tenho veículos aqui, irei depois. — Responde direto.
— Tá.
Havia coisas a serem ditas por Jungkook, mas o momento não era propício, portanto, despediu-se rápido e entrou no carro, Kim deu leves passos para trás, os sapatos luxuosos se mantiveram unidos, numa postura firme, olhando o carro dar ré e manobrar de volta pela rua de onde vieram.
Taehyung se viu dando mais um passo ao seu objetivo, conseguia visualizar o prêmio.
E era um prêmio delicioso.
:)
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