10 - Memórias;
Talvez eu saiba, em algum lugar
Bem lá no fundo da minha alma, que o amor nunca dura
E temos que achar outras maneiras
De permanecermos sozinhos ou fingir estar feliz
E eu sempre vivi assim
Mantendo uma distância confortável
E até agora eu tinha jurado a mim mesma
Que eu estava satisfeita com a solidão
Porque nada disso algum dia valeu o risco
Paramore - The Only Exception
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Para Aristóteles, a memória não consiste somente em conservar os traços do passado e tomá-los novamente por objetos. O tratado da memória e da reminiscência examina mais geralmente o papel das imagens no exercício do pensamento. Em seus relatos, frisa que "A memória é a escrita da alma" de inteligência.
Daí serem os homens os mais dotados em inteligência, uma vez que é "a partir da memória que os seres humanos adquirem experiência, porque as numerosas lembranças de uma mesma coisa acabam por produzir o efeito de uma única experiência" De fato memórias são na maioria das vezes nossa válvula de escape, em outras, são nosso maior martírio.
Taehyung no decorrer dos anos fez o possível para não pensar tanto, em não se perder em sua própria desgraça.
Em grande parte procurou sozinho se livrar dos pesadelos, do som do tiro que era tão vívido nas lembranças, na imagem de sua mãe pendurada pelo pescoço através de uma corda, alguns dias eram mais fáceis do que outros.
Fora criado por sua babá, mesmo sem dizer com palavras, era grato pelo que a mulher se disponibilizou a fazer; cuidar de uma criança frágil e traumatizada não era fácil, era completamente difícil e preocupante.
Conforme crescia, Taehyung via o mundo com novos olhares, e foi em um desses olhar que encontrou o amor de sua vida. Yuna. Uma garota doce, feliz, de um sorriso luminoso que parecia concentrar toda luz e calor do Sol.
Kim admirava a jovem de longe, ser sozinho era o que gostava, ou procurava se convencer de que era o melhor, porém, em seu coração quebrantado, floresça um sentimento puro, novo, como chamas aquecendo um suposto cômodo numa noite frígida de inverno.
No auge de seus vinte anos, Taehyung sentia-se ansioso para trocar a primeira palavra com a moça, não sabia com veemência como abordá-la, a insegurança fazia-o suar frio e correr para o quarto onde sentia-se mais protegido.
Por meses seu sobrenome esteve estampado em inúmeras manchetes, onde dizia claramente sobre o assassinato do pai e o suicídio da mãe, devido a isso, sair de casa era insustentável, o moreno detestava os olhares de pena, e outros de repulsa, murmúrios sobre si não era novidade.
Na escola, ninguém conversava consigo, só o olhavam de esguelha e sussurravam sobre o quanto sentiam pena, murmuravam sobre seu estado psicológico; fora que a ganância queimava ao seu redor, pois todos sabiam que ele herdaria tudo o que era de seus pais.
Na véspera de seu aniversário, o sol brilhava lindamente no céu azul, o vento fresco balançava as cortinas brancas e finas de seu quarto.
Os cabelos negros estavam enormes, a franja por pouco não cobria seus olhos, as roupas estavam folgadas em seu corpo, e diante de si, o próprio desenhava, o lápis era manuseado com delicadeza, pois o garoto adorava arte e uma boa sonata, o deixava relaxado, acalentava seu interior caótico na medida possível.
Seu quarto não era igual ao anterior. Era menor e bem arrumado, as paredes em seu tom pesado de cinza, sem quadros ou pôsteres de bandas, era apenas frio e vazio assim como o dono.
Ao seu lado, na escrivaninha, havia uma pilha de livros, de diferentes poetas, filósofos, dentre títulos diversos, pois Kim era fascinado pelo romance antigo e a essência do tempo que lá habita. Por isso, quando podia, ia até a biblioteca principal e passava a tarde toda lendo, escolhendo livros e estudando.
Leves batidas soaram na porta, trazendo-o de volta à realidade, o próprio passou os dedos longos e pálidos pelos cabelos e se virou para ver sua "mãe" abrir a porta com cuidado e sorrir ao vê-lo.
— Oi meu anjo. — Saudou empurrando mais a porta, segurando uma bandeja de café da manhã, com frutas, waffles com chantilly e morangos, suco de laranja natural e um cupcake com m&ms coloridos junto a uma vela acesa. — Feliz aniversário meu príncipe.
— Detesto meu aniversário Hanna. — A voz soou carregada e melancólica.
— E por isso eu faço questão de todos os anos tentar fazê-lo mudar de ideia. — A bandeja foi depositada sobre a cama já arrumada. — Fiz tudo o que você gosta meu anjo. De um sorriso para mim. Por favor. Sim?
Taehyung buscou segurar mas o sorriso já se formou em seus lábios, um belo sorriso quadrado que tanto sua babá amava, o ver assim lhe dava esperanças de que melhoraria algum dia, que seria feliz sem receio, sem medo do passado perturbador.
A infância foi velada a sombras e solidão; a adolescência não era diferente, porém, a única diferença era que Taehyung fingia melhor e conversava quando lhe fosse conveniente.
— Meu menino. Eu oro pelo dia em que este sorriso será sincero. — A voz da mulher já estava embargada. — O quero feliz meu príncipe. — A palma já um tanto envelhecida pelo tempo, deslizou sobre o rosto jovem.
Kim gostava do toque da mulher, do cheiro de biscoitos de leite junto a laranjas que exalava da mais velha; Taehyung não costumava chamá-lo de mãe, porém, em seu âmago, a tratava como uma, como queria tratar sua falecida mãe.
— Eu serei, eu acho. — Respondeu incerto.
— Venha tomar seu café da manhã garotinho. E depois, vá à biblioteca ou ao parque onde gosta. Só não fique preso aqui. Tudo bem?
— Sim senhora. Farei isso. — Concordou.
— Eu amo você querido.
— Sei disso.
A mulher sorriu o deixando só em seguida, não era de insistir ou invadir o espaço pessoal do garoto. Achava que o deixando sozinho, era como deixá-lo confortável. Ainda sim, sua preocupação aumentava e as lágrimas em noites vazias lhe enchiam o coração já não tão saudável.
Sua saúde era escassa, se cuidava como podia, afinal, toda sua dedicação era voltada para o garotinho que já era um homem a essa altura.
Taehyung comeu pouco, tomou um banho e se vestiu antes de sair, não sentia vontade alguma, dias ensolarados o deixava deprimente, só iria para fazer Hanna feliz, ou menos culpada pensando que o criara de modo errado.
Não era culpa dela, pensou o garoto enquanto olhava seu reflexo pelo espelho médio de formato quadrado que mantinha preso próximo da porta de madeira branca. A boina preta foi colocada sob os fios negros e sedosos, e por fim, o garoto pegou sua bolsa e saiu do quarto levanto a bandeja consigo para deixar na cozinha.
— Está tão lindo.
— Obrigado. — Dessa vez não sorriu, apenas manteve o semblante fechado e inexpressivo.
— Antes de ir. Quero lhe dar um presente.
— Hanna, eu disse que não queria nada. — Relembrou.
A própria sorriu ladino e deixou uma chave na palma esquerda do garoto, os lumes castanhos fitava o objeto um pouco assustado e surpreso. Era um carro.
— Não preciso disso.
— Claro que precisa, querido. Sei que gosta de pegar ônibus porque o ajuda a clarear a mente. Mas só achei que gostaria de um carro apenas para usar, indo ao trabalho, a escola.
— A senhora sentiu certa vergonha, era um belo gesto, aos seus olhos era.
— Tenho motorista Hanna.
— Sim. Eu sei. Me desculpe príncipe, só queria facilitar mais para você. — Uma lágrima solitária escorreu pela feição que um dia havia sido belo. Não que não seja, mas os anos eram explícitos ali, no rosto miúdo.
— Amei o presente, não fique assim. Sei que o fez e pensando em mim. Sou grato por isso Hanna. — agradeceu, e pela primeira vez em quase oito meses, Taehyung a puxou para um abraço.
— Terminando os estudos irá assumir tudo o que é seu por direito meu anjo. Por isso busco fazer o que posso neste meio tempo... Esta vida não é para você. Essa casa não é para você e eu entendo. E sinto muito meu pequeno.
A dor escorria por suas palavras, o amargor dos tempos difíceis lhe pesavam os ombros e mesmo assim, a saudade batia em sua porta, a sensação de que viveria sozinha logo logo, a deixavam triste e sem rumo algum.
Hanna depois que assumiu a guarda de Taehyung, prometeu sua dedicação extrema, por isso, jamais se casou, e não teve filhos. Kim era seu filho de coração, e foi feliz e o fez feliz da maneira que a coube.
Deus sabe o quanto lutou para ajudá-lo a se abrir mais, a conversar mais, a ser uma criança e um adolescente que conheceu ao menos um pouco do que era ser feliz e brincar como qualquer outro de sua idade.
— Me sinto feliz aqui. — Murmurou baixo, quase inaudível. — Omma. Tudo o que fez por mim, eu reconheço. Infelizmente não sei como expressar isso, porém, saiba que sou eternamente grato por seu amor e carinho, mesmo que eu jamais tenha retribuído. Perdoe-me por isso. — As orbes se mantiveram fixos em um ponto cego, enquanto inalava o cheiro acolhedor da mais velha e a apertava mais contra si.
— Sei disso. Minha lua. Agora vá se divertir um pouco, quando voltar, servirei seu almoço favorito também. Hoje é seu dia. Merece o melhor.
Hanna se afastou limpando as lágrimas, já se ocupou na cozinha sem dar chance ao moreno de sequer falar algo. — Taehyung apertou as chaves nas mãos e saiu para enfrentar o mundo por algumas horas.
A bolsa foi deixada no banco do passageiro, Taehyung dirigia serenamente, a canhota agarrada ao volante, os vidros abertos deixando o ar quente e fresco entrar, seu coração doía no peito; mais um ano inútil de vida, pensou o moreno.
Mais um ano em que lutava por um futuro que se quer queria, mesmo não querendo, se lembrou da primeira tentativa de suicídio aos dezoito anos, lembrou nitidamente do choro desesperado de Hanna, dos gritos ao telefone implorando para que a ambulância viesse o mais rápido possível, os solução e os braços miúdos o envolvendo como um bebê, e quando acordou no dia seguinte no hospital, se odiou ainda mais por estar respirando, se odiou por trazer sofrimento a sua babá.
Por conta disso, nunca fez questão de fazer amizades, ou qualquer outra coisa que pudesse manter alguém em sua vida. Reconhecia o quão instável era, não queria trazer dor a mais alguém caso voltasse a tentar tirar a própria vida. Não suportaria.
A cicatriz se encontrava no pulso direito, a marca quase não se notava na pele translúcida, só era notório quando olhava com atenção, dava para sentir o relevo e a dor que carregava.
O sinal de que viver era sua maior dor estara marcado pra sempre.
O veículo foi deixado no estacionamento na enorme biblioteca, Taehyung saiu sem pressa, pegou sua bolsa, verificou se o carro estava travado e caminhou até às imensas portas do local. — Ali, respirou profundamente, sentindo o cheiro de produtos de limpeza junto ao aroma inconfundível dos livros.
Após devolver os que já havia lido, Taehyung passeava entre um corredor e outro, a aura do local lhe enchia de inspirações, de sensações diversas e de sonhos que duravam muito pouco. — Parou para procurar alguma obra de Oscar Wilde, e foi ali que viu a garota por quem nutria sentimentos há um bom tempo.
Yuna usava um lindo vestido amarelo, os cabelos longos e negros pareciam brilhar ao serem tocados por um filete de luz solar, parecia entretida em um livro que o moreno não conseguia ver o título, pareceu em transe e só notou que encarava quando a garota o encarou de volta, com um sorriso meigo nos lábios avermelhados de modo natural.
Taehyung se atrapalhou um pouco, as mãos suavam e tremiam, pensou em sair dali, pegou um livro qualquer para sair, felizmente ou infelizmente era tarde demais, Yuna já vinha ao seu encontro.
— Oi. — Pela primeira vez a voz suave com as notas tocadas num piano se dirigiu a si.
Kim muitas vezes sonhou com tal momento, entretanto, jurou que jamais aconteceria. A respeito de seu passado, criou uma irrealidade e se firmou nela; jamais se sentiu atraente ou digno do olhar carinhoso da garota. E mais uma vez, a vida lhe mostrava que não obtinha controle sobre nada, que tudo aconteceria do seu modo, e não do modo do moreno.
— Oi. — Respondeu um tanto rude.
— Este livro é muito bom. Já o li inúmeras vezes. — Comentou.
Mal ele sabia, que Yuna também estava nervosa por estar diante de si. Kim fitou o título do livro, "O morro dos ventos uivantes " de Emilly Brontë .
— Ah. Bom. Então o levarei comigo. — A voz outrora rígida se desfez para algo sereno.
Incrível como uma simples palavra da jovem pode lhe trazer calmaria.
— Você foi o aluno que recitou o poema "O diário cinza" não é? — Yuna perguntou mesmo já sabendo a resposta.
— Sim.
— Achei lindo e muito profundo. Não sabia como te parabenizar no dia, então estou fazendo agora. Parabéns. — O sorriso alheio aqueceu o coração frio e sem vida do moreno.
E pela primeira vez em muitos anos.
Taehyung sorriu verdadeiramente.
[...]
A paixão era algo interessante, que se instala sorrateiramente, tomando conta de seu corpo e alma.
Taehyung descobriu que o sentimento que nutria, a cada dia que se passava aumentava, evoluía. Depois do dia em que se encontraram na biblioteca, passaram a se conhecer melhor; Yuna era divertida, fazia-o sorrir de maneira espontânea, o levava para passear em lugares que o morena jamais foi e nunca pensou em sentir vontade para tal. — Aos poucos a jovem percebia que o jeito frio de Taehyung era para se proteger, e também para proteger todos ao redor, incluindo ela mesma.
Houve momentos tempestuosos em que Kim não queria ver ou falar com Yuna, e era nesses momentos que ela se mantinha mais presente do que nunca, lendo para ele ou tocando alguma música que sabia que ele iria gostar.
Da paixão, surgiu o amor. Kim Taehyung se declarou a Yuna depois de se formar, abriu seu coração na noite em que a levou para jantar em um restaurante fino, onde começou as melhores especiarias e apreciou do mais delicioso vinho.
Na mesma noite, se beijaram apaixonadamente pela primeira vez. Yuna se entregou a ele. E ele se entregou ainda mais a ela. — Juntos fizeram amor, foram amor no sentido mais genuíno da palavra.
Anos depois estavam noivos. O pedido claramente partiu do moreno, estava nervoso para tal pedido, pediu conselhos a sua "mãe" no qual fez questão de lhe aconselhar, feliz e alegre por finalmente ver seu príncipe feliz.
Todavia, Taehyung ainda possuía inseguranças, vez ou outra era derrubado pelo sentimento infernal, não chorava, apenas se isolava no antigo quarto e ali ficava horas ou dias, até melhorar e voltar para a realidade e para o amor da sua vida, que sempre o compreendia e o deixava em paz, mesmo que quisesse desesperadamente abraçá-lo, acariciar seus cabelos e o mostrar o quanto o amava. E que o teria para sempre.
O casamento aconteceu no aniversário de vinte e seis anos de Yuna. Foi uma linda comemoração privada, havia apenas os pais da mulher e a mãe de Taehyung; finalmente selaram o amor que a partir dali. Seria eterno.
Tudo foi tão rápido, o casal não sentia pressa, apenas fazia conforme suas vontades, namoraram por pouco tempo, noivaram e casaram o mais rápido possível, sentiam que deveriam eternizar o sentimento diante a Deus, para que tudo se completasse.
Taehyung assumiu os negócios de seu falecido pai, era um chefe incrível, ainda que fechado e inexpressivo. Lucrava como ninguém e ministrava com perfeição. Nasceu para aquilo, então a destreza era excelente.
Sempre que havia tempo, Taehyung cozinhava enquanto sua esposa bebia vinho e o olhava apaixonadamente. Depois dançavam pela sala e riam, no mundo particular de ambos, tudo era possível. Era sincero e inocente.
Dois anos depois, o fruto do amor de ambos crescia no ventre da mulher, Kim chorou acariciando a barriga da esposa e dizendo em todos os sentidos o quão feliz e apaixonado era por ela. Que sua melhor decisão foi ter ficado na biblioteca e se forçado a conversar com ela.
A tristeza não tinha espaço em sua vida, a dor era quase nula, e Kim Taehyung era grato por isso. Através de Yuna, respirou pela primeira vez, sentiu o ar adentrar seus pulmões, o coração batendo e a vida o envolvendo do jeito que deveria ter sido muitos anos antes.
Em uma noite fria de inverno. Kim arrumou a mesa para ele e sua esposa, Yuna havia saído com sua mãe para exame de rotina, por estar cheio de trabalho, o moreno a deixou ir sem ele, já que era apenas para verificar se o bebê estava bem.
O cheiro delicioso de carne regado ao azeite de oliva junto a legumes preenchia o espaço grandioso da cozinha. A taça de vinho jazia próximo de si, a música clássica o espaço e lhe fazia sorrir bobo enquanto tomava cuidado para tudo sair perfeito.
— Oi amor. Que cheiro bom. — Yuna elogia ao adentrar a cozinha.
A barriga estava visível e bem marcada, Taehyung sorriu largo, limpando as mãos e indo até a esposa, selando seus lábios nos da mulher.
— Está tudo bem com nosso bebê ?
— Sim. — Respondeu um tanto nervosa.
— Comprei mais sorvete para você. Não sei como consegue comer tantos em uma só noite. — Comentou enquanto pegava o pequeno pote e uma colher.
— Nossa menina gosta de sorvete Tae.
— Menina? Acha que é uma menina amor?
— Eu sinto que sim, ontem à noite sonhei com uma linda menininha. Tinha seu sorriso, o mesmo tom dos cabelos. — Fitou enquanto massageava a barriga. — Torço para ser mesmo, os sentidos de mãe não falham.
— Com certeza. Será nossa princesa ou nosso príncipe... Vindo com saúde está ótimo não é?
— Uhum. — Concordou, abrindo o pote e enchendo a colher de sorvete de flocos. — A propósito, estou enjoada. Acho que não consigo jantar amor, me perdoa.
— Sem problema meu sol. Ao menos coma os legumes, só o sorvete não sustenta.
— Sim, chefe. — brincou.
Depois do jantar, Yuna passou mal segundos depois de provar um pedaço pequeno de batata grelhada... O casal dançava lentamente, enquanto a neve caia do lado de fora. A voz de Richie Valens preenchia a sala junto a música We Belong Together. Kim tomava cuidado para não trazer desconforto a mulher, apertava a cintura alheia com carinho e firmeza, sustentando o peso da esposa.
— You're mine and we belong together.
Yes, we belong together,for eternity. — A voz bela do moreno se juntou a música.
Yuna amava ouvi-lo cantar. E por sorriso sorriu ainda mais, acariciando os cabelos do marido e se aconchegando mais ao corpo alto, inalando o cheiro amadeirado, sentindo o calor mesmo através das roupas.
— Você é minha, garota e estaremos sempre juntos
Eu juro por qualquer coisa, por nós
Você será sempre, sempre minha — Dessa vez, Taehyung cantou o trecho olhando para sua esposa, as orbes brilhando intensamente.
O Sol conquistou a lua, a iluminando e afastando quaisquer obscuridade. O amando incondicionalmente e irrevogavelmente.
— Eu o amo muito minha lua. Prometa que mesmo que um dia eu vá, você se manterá iluminado e feliz. Cuidando de nossa filha. — O timbre era triste e carregado. Yuna se continha ao máximo para não chorar.
— Eu também te amo meu sol. Não diga isso, viverá comigo, junto a nossa filha. Seremos uma família como sempre sonhou meu amor.
Yuna entrelaçou os braços sobre o pescoço do marido, era bem menor então Taehyung a segurou para que os pés miúdos ficassem sobre os seus.
— Sabia que sempre fui apaixonada por você? O via pelo corredor da escola, e sonhava com o dia em que falaria com você. Nem que fosse para perguntar as horas ou pedir o lápis emprestado. — Admitiu nostálgica.
— Jura? E eu pensando que era esquisito ao ponto de não causar nada além de estranheza em terceiros. — Sorriu abafado.
— Ah Tae. Você era admirado e não fazia ideia disso. As garotas suspeitavam por você, os professores lhe admiravam também.
— Bom, não era um tempo onde eu levava isso em consideração. Claro que, havia uma garota meiga que fazia meu coração pular dentro do peito, sabe? — Brincou a girando com cuidado.
— Ainda não acredito que nós dois nos gostávamos e nem tínhamos consciência disso. — Gargalhou, selando levemente o pescoço alheio. — Quem diria que um romance inglês de 1847 nos uniria não?
— Agradeço a Emilly Brontë por isso. Fora que peguei o livro num ato de desespero para correr o mais longe possível de você. Estava nervoso, amor. — A sinceridade o fazia querer sorrir e sentir o rosto queimar de vergonha.
— Eu percebi. E por isso fiz questão de tomar coragem e encontrar um jeito de te fazer ficar mais um pouco. Não me arrependo de nada.
— Também não. Eu a amo tanto que sou incapaz de me expressar com eficiência.
Outra música começou, Kim a beijou plenamente, iniciando um ósculo calmo, apaixonado, movendo seus lábios lentamente com os de sua esposa, apreciando cada momento e sensação que sentia.
Num momento quase intenso, Yuna pareceu exausta, portanto, Taehyung a pegou nos braços, prometendo um banho quente e uma massagem que logo a faria dormir.
Através de bons sentimentos, que infelizmente perdemos a realidade, que acreditamos que a felicidade duraria para sempre. Que o amor brilharia como a luz.
É triste pensar que tudo há um fim.
Que a dor por mais que não sentida, estaria ali quando o momento viesse. Quando a realidade surgisse da pior maneira possível, massacrando as lembranças boas, para dar lugar a escuridão de onde jamais deveria ter saído.
Todos são vilões numa história mal contada, e tal frase nunca fez tanto sentido.
Kim Taehyung conheceu a dor, o trauma e o medo ainda jovem.
Também conheceu e desfrutou do sentimento mais puro e raro que o mundo e Yuna pode lhe oferecer.
E voltou a sua origem contra sua vontade.
Clamando por uma ajuda que jamais viria.
Visto que o suicídio era inútil. Buscou outros meios de lidar com a perda dolorosa e massacrante.
E o meio encontrado mudava-o a cada dia, cada segundo e minuto.
Fazendo o dia se tornar noite não importando a hora.
Fazendo o calor se tornar frio a menina que o tempo passava.
Trazendo obscuridade e nojo por aqueles que desconheciam de seu passado e tampouco tinham culpa sobre.
A música bela agora era um meio de aplacar o desejo gritante por sangue.
As danças não existiam mais.
O sabor do sorvete de flocos era amargo e vencido.
Enfim a cor de transformou em cinza.
E com isso.
A vingança renasceu junto ao gosto amargo e salgado do sangue e dor.
Quando Kim Taehyung clamou por ajuda a Deus.
Compreendeu do pior modo, que quem respondeu foi o Diabo. Moldando-o para que fosse a sua imagem.
Assim como Deus criou o homem a sua. O Diabo criou Taehyung da mesma maneira.
A alma grita e arde, incêndio que queima por dentro
a cabeça em chamas e até explode, tudo voa ao redor, poucos ligam
O homem já está em pedaços, pegou fogo ao nascer, neste dia
foi o condenado, nasça com uma doença e claro, pegue seus pedaços
Já rasgados e adoecidos, cortados na mais afiada faca
faca, facada, facada, ele pede e só quer em um ato e bem enfiada
O Diário Cinza
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Tradução: Você é minha e nós pertencemos um ao outro. Sim, pertencemos um ao outro, para a eternidade. (You're mine and we belong together. Yes, we belong together,for eternity.)
:)
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