08 - Convite 'Inesperado';

"Tecnicamente, psicopatas não são legalmente insanos. Eles sabem a diferença entre o certo e o errado. São pessoas racionais, muitas vezes altamente inteligentes. Alguns conseguem ser bastante charmosos. Na verdade, o que mais assusta neles é o fato de parecerem tão normais." Harold Schechter

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Há uma frase no qual nele há diversas interpretações textuais, "O Inferno não é um lugar para quem pecou. E sim, um lugar para quem não se arrependeu". De fato, é possível sentir as possíveis dúvidas emanar, trazendo pensamentos interessantes e ideologias com base em religiões distintas.

Dante Alighieri, um escritor, poeta e político florentino, trouxe à tona uma personificação pessoal a respeito do "Inferno". A Divina Comédia é basicamente a história da conversão de um pecador pelos caminhos de Deus. Os versos sublinham a necessidade de se seguir o caminho do bem e da ética.

O protagonista é o símbolo do ser humano vulgar e representa o cidadão comum, que tem dúvidas, hesita, é tentado pelo mal. Quem nunca imaginou como seria o inferno? Como cada um sofreria penalidades que pudesse ser referente a um pecado em específico? Dante imaginou. E retratou a sua maneira, trazendo críticas religiosas onde muitas delas distorcem a visão do escritor.

Kim Taehyung se encontrava sentado em um sofá de couro, o copo contendo nele uma pequena dose de absinto, jazia quase esquecido no aparador ao lado, o livro A Divina Comédia aperto numa página atual, os dedos longos o seguravam com delicadeza, os lumes entretidos em cada palavra ali escrita.

Os cabelos bem arrumados, as vestes sempre em tons escuros e elegantes, e em seu rosto belo e centrado, os óculos de aro transparente lhe davam uma aparência ainda mais bela e admirável. Na página em questão, Taehyung leu e releu o mesmo trecho, onde sentiu uma onda de familiaridade, como se houvesse sido escrito com base em seus pensamentos e ações.

POR MIM SE VAI À LASTIMOSA CIDADE, POR MIM SE VAI À ETERNA DOR, POR MIM SE VAI À GENTE PERDIDA. JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR.

FORMADO FUI POR DIVINA POSSANÇA, O SABER SUPREMO E AMOR SUMO ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA SE NO SOU ETERNO, ETERNO PERDUDO.

DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS!

Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Eu, assustado, confidenciei ao meu guia: - Mestre, estas palavras são muito duras.

Não tenhas medo - respondeu Virgílio, meu experiente guia - mas tampouco sejas fraco! completou.

A Divina Comédia, Inferno, III

O moreno a terceira estrofe em voz audível, o timbre rouco ressoou como notas graves pressionadas num piano diversas vezes, emitindo sons graves, emitindo atenção e arrepios que se agarrada aos ossos, para que jamais foste esquecido.

De frente para si, amarrado e suspenso alguns centímetros, sua vítima despertava, confuso, assustado, e acima de tudo, completamente furioso.

— Que porra é essa? — Questiona alarmado.

Kim continuou em silêncio, atrás do homem havia uma enorme janela, que quase toma uma parede, a luminosidade do dia invadia a imensa sala vazia de um dos apartamentos do prédio.

O copo foi pego, o moreno sentia o gosto de erva-doce e extrato de unis, para suavizar seu amargor, o líquido geralmente é verde, coloração obtida através de ervas, porém, na Suíça são produzidas algumas variedades mais claras. Hoje em dia existem cerca de cinquenta marcas de absinto original produzidos principalmente na França, Suíça, Espanha e República Tcheca.

— Conhece a história do Absinto? James. — Kim pergunta ignorando a histeria alheia.

— De que merda está falando? Quem é você? — Volta a questionar, grunhindo pelo desconforto das cordas, os braços unidos onde termina com os punhos amarrados, trouxe-lhe dormência, doía não sentir os dedos das mãos, e o mínimo movimento o fazia sentir formigamento que escorria por seus braços rumo ao corpo.

— A erva absinto (artemisia absinthium) já era usada no século XV na Grécia Antiga como medicamento. É bem provável que a palavra venha do grego "apsinthion" que significa intragável. — Explicou sereno. — Naquela época grandes médicos, filósofos e matemáticos recomendavam a erva embebida em vinho, mas cada um utilizava a bebida para um tratamento diferente. Talvez esse seja o motivo para a bebida ficar conhecida alguns séculos depois como "o remédio para todas as doenças". Existia também, no auge do Império Romano, uma tradição antes das corridas de bigas, que era beber uma dose de absinto antes das corridas para lembrar os competidores que a vitória também tinha o seu lado amargo. — Continuou num tom brando, histórico. O som da voz do moreno alternada entre o sutil e o ríspido, fora que seu modo era elegante, casual, e chamativo até para aqueles que não sentem tanto apreço por algo tão antigo e encantador.

Taehyung recolocou o copo já vazio em seu devido lugar, o livro que antes lia com admiração foi deixado no sofá, o mesmo ficou de pé, os lumes negros e intensos fixos no homem nojento a sua frente. — Se Alighieri estivesse vivo nos tempos de hoje, certamente adoraria conversar com Kim Taehyung, estudá-lo, conhecer sua mente e criar uma nova obra com base no moreno.

— Faz certo tempo desde que matei um homem. Sinto-me nostálgico e eufórico. — comenta com um largo sorriso, quadrado e polido.

Kim Taehyung é a personificação da frase, "Há certo brilho no que é trágico". Incrível como a vida pode imitar a arte, não é?

Devido a luz da manhã, o homem amarrado só conseguia visualizar a estatura de Taehyung, o rosto era engolido por uma sombra, mesmo que pressionasse os olhos, não conseguiria ver com nitidez, a menos que Kim se aproximasse um pouco mais.

— Você é um homem importante no ramo da moda correto? Um crítico, digamos assim. Pelo que andei estudando, você possui um histórico um tanto, como posso dizer... — Pausou arqueando a sobrancelha. — Nojento? Desumano? Pútrido? Talvez a junção dessas três insinuações, com mais muitas outras, e ainda sim, defini-lo por completo seria um tanto impossível. — Consta.

— De que merda está falando? Sabe com quem está lidando? Hein? Eu vou te colocar na cadeia seu desgraçado! — Carter ameaçou movendo-se com raiva, buscando se libertar das cordas que tanto lhe esmagam o punho.

Kim Taehyung gargalhou, James se assustou com tal ação, sentiu o corpo congelar, o maxilar trincado e mais um pouco o coração para de bater pelo simples fato de que o gargalhar alheio, era assustador, psicótico e debochado. — Um passo adiante a luz, e mais outro e finalmente James pode ver quem era.

— Você? Filho de uma puta. — praguejou.

Taehyung pouco se sente ofendido com tal ofensa, pelo contrário, o pavor e a agressividade do homem, lhe causa euforia pura e simples.

— Menciono a quantidade de denuncias feitas por abuso sexual em agências diferentes onde você trabalhou, James. — Taehyung diz ainda com o sorriso marcando o rosto angelical. — Estou dizendo, que li todas as denúncias, o dinheiro absurdo que pagou para que isso não caísse na mídia. E principalmente. — Pausou, umedecendo os lábios com a ponta da língua. — Sobre sua inveja e obsessão por um certo, modelo fotográfico asiático. — Enfatiza com um sorriso ladino.

— Inveja? Obsessão? Olha eu não sei de onde você tirou tamanho absurdo cara. — Retruca.

Taehyung retirou um pequeno canivete do bolso da calça social impecável, Carter pode sentir o cheiro de absinto junto ao cedro emanar do moreno, e no quanto o olhar lhe fazia querer implorar pela vida e correr sem olhar para trás.

A lâmina brilhou em contato com a luz, os lumes verdes se arregalaram de imediato, James engoliu em seco e parou de se mover. No lugar mais profundo de sua mente, no ápice da consciência humana, Carter sabia que não sairia dali com vida, ainda sim, não quis acreditar, era mais fácil criar apreço pela ilusão do que pelo óbvio.

— Vai negar que Park Jimin não o incomoda? Que desde sua transferência, você vem tentando sabotá-lo ? — Taehyung sabia de todas as verdades, e sabia também que Carter não as admitiria. — Ah, é difícil admitir que o que tanto lutou para ter, estava sendo facilmente descartado pela juventude atual. Super lhe entendo, James. — Ironiza contendo o riso.

— Não sei quem você é. Ou o motivo disso tudo. Mas posso pagar a quantia que quiser, juro. Só não me mata. — A voz tremeu, Carter não tomou ciência de que implorava até então.

— Não preciso do seu dinheiro. Tenho o triplo do que você tem, James. Bom, se isso lhe conforta, cada centavo da sua grana suja, foi transferida para uma conta fantasma. Que no caso, é minha. — Diz orgulhoso.

— DESGRAÇADO. — Carter grita. O pavor tomou comando, fazendo-o gritar, proferir palavras de baixo calão e chorar no processo.

A raça humana é surpreendentemente lamentável, Taehyung pensou ao cortar a primeira camada de pele do braço alheio, o sangue escarlate escorria como uma pequena cachoeira, numa fonte de pedra.

James gritou de dor e desespero, se movendo dolorosamente a fim de encontrar uma saída que a julgar pela situação, a única saída que havia era a morte; que James não consegue obter coragem o suficiente para aceitar. Em instantes o líquido viçoso pingava no chão empoeirado.

James gemia de dor e chorava mesmo não querendo, parece um gatilho humano, sentidos que são facilmente acionados através da dor e do espanto, ao se ver diante da morte iminente.

Kim passou o indicador pela lâmina suja de sangue, levando até o lábio avermelhado, sentindo o gosto metálico na língua junto a um frenesi que o levava a um delírio simplório.

O gosto do sangue sempre será tão apetitoso quanto a visão dele escorrendo.

A pequena lâmina voltou a fazer seu trabalho, Taehyung rasgou a camisa alheia, deixando o peito e abdômen exposto, para idade que James tinha, Kim achou interessante a fisionomia bem cuidada.

— Além de doente você é narcisista. — Debocha. — Belo corpo, uma ótima tela. — Elogia.

Os minutos seguintes, enquanto o sangue escorria, a lâmina fazia seu trabalho, e a cada corte, um mais profundo que outro, James gritava até a exaustão, enquanto Kim criava sua obra de arte com atenção e deleite.

Uma bela obra de arte.

Cerca de quase uma hora e meia, Carter havia apagado, o moreno se afastou, pegando um lenço de seda e limpando o canivete, sentiu-se saciado por hora, havia sim, pensado em matar Carter rapidamente, entretanto, os gritos eram bons de ouvir, devido a isso, irá prolongar um pouco.

Taehyung trancou a porta do apartamento, rumo ao seu apartamento no último andar, subiu tranquilamente a cada degrau, memorizando o que havia feito, gravando como ferro em brasa em sua mente, pois não gostaria de esquecer um trabalho tão bonito.

A porta negra foi destrava através da senha eletrônica, Kim respirou profundamente, deixando o livro no aparador de vidro e seguindo até o pequeno bar que mantinha na sala principal, escolhendo gin desta vez, o horário passava das duas da tarde, a luz do sol por fim adentrou a sala, iluminando seu espaço em quase setenta por cento, visto que o local era imenso.

O som fora ligado, a voz amistosa de Elvis Presley afastou o silêncio mórbido, Taehyung se pôs diante as janelas, bebericando o líquido que para um bom apreciador, distinguia corretamente as composições postas na bebida.

Kim se manteve a cada gosto, que escorria por sua língua. O sabor clássico do gin é seco e com sabor predominante do zimbro. Apresenta toques cítricos e picantes; seu sabor tem notas de laranja, tangerina, limão ou grapefruit. O aroma distinto à presença das especiarias é bem forte.

— You look like an angel. Walk like an angel. Talk like an angel. But I got wise. You're the devil in disguise. Oh yes you are. The devil in disguise. — Começou a cantar no ritmo da música.

Sua voz se tornou a combinação perfeita com a de Elvis, Taehyung é composto por talentos infinitos. Mesmo não querendo, sua mente voltou no tempo, conseguia enxergar sua ex esposa dançando na pequena sala da antiga casa, enquanto Taehyung cantava sua música favorita e a puxava para dançar.

Ambos dançavam até a exaustão, o moreno continuava cantando, enquanto sua esposa ria e animada com a noite de sexta feira; pois em todos esses dias, Taehyung cozinhava enquanto ela ouvia música com uma taça de vinho em mãos e admirava o amor de sua vida cozinhar como um verdadeiro chef de culinária. O amor os envolvia, a música tornava seus dias coloridos e cheios de vida.

Um amor puro e genuíno que foi levado de modo trágico e doloroso, deixando nada além de luto e nojo pelas inconstâncias do destino.

De repente, a voz talentosa de Elvis não lhe era mais convidativo, o sol não o aquecia, a bebida não possuía seu gosto. Taehyung novamente mergulhou nas sensações que sempre buscou afastar de qualquer jeito.

Sem embargo, Taehyung desligou o som, o peso do silêncio era quase claustrofóbico, o copo ainda contendo bebida foi deixado na aparador, movido no automático, as chaves do carro foi pego com certa raiva e em instantes, o moreno saiu do apartamento, descendo rápido as escadas e saindo para por fim sentir o ar fresco e úmido preencher seus pulmões, como se há muito não houvesse respirado antes.

O veículo luxuoso estava no estacionamento escuro, Kim caminhou rápido, destravando as portas e adentrando o carro com desespero, precisava sair, precisava esquecer. Só precisava deixar de existir. Odiava o peso da vida, odiava seus traumas e a saudade que vinha como acompanhante. Se pudesse se matar, teria feito, só não o faz, pelo simples fato de no momento exato, acabar recuando.

O veículo seguia pelas ruas movimentadas, o moreno observou sem muito apreço o céu azul, a luz do sol afastando qualquer obscuridade que um dia chuvoso trás, as folhas das árvores se movimentando com o afagar leve do vento.

Odiava dias ensolarados, detestava tudo que pudesse vir junto com isso; o sinal ficou verde e o mesmo avançou, mantendo a velocidade um tanto moderada, não tinha um rumo para ir, portanto, dirigiu pelas ruas, entrando em outras e seguindo assim, até que o nervosismo diminuiu de intensidade e a razão voltou a si; Taehyung estacionou o carro no meio fio e desceu, preferindo andar um pouco, há umas duas quadras de distância, parou ao ouvir um carro parar perto, não fez questão de se virar para verificar, portanto, só o fez quando a voz o despertou.

— Taehyung? — Jungkook o chama.

O moreno respirou e se virou, vendo Jeon sorrir para si e se aproximar, o terno o deixando ainda mais belo, Taehyung sorriu de canto.

— Sim?

— Que bom que o vi. Soube que defendeu Jimin a uns dias atrás.

— Sim. — Respondeu direto.

— Bom, queria lhe agradecer pessoalmente por isso, não é a primeira vez que aconteceu e mesmo preocupado, não pude prever que James tentaria algo contra ele. — Explicou um pouco envergonhado.

Taehyung pouco prestou atenção no que o moreno dizia, estava tomando nota do quão lindo, Jungkook estava, no modo como a luz solar fazia sua pele brilhar, os lumes escuros clarearem com o toque sutil, no movimento dos lábios pequenos e avermelhados.

Admirava a beleza alheia, admirava ainda mais o quão possessivo havia se tornado, no quanto o desejo para tê-lo era quase uma dor física. Precisaria de tempo, e tempo era algo que o deixava agoniado. Essa era a pior parte, constou mentalmente.

— Ei. Está me ouvindo? — Jungkook chamou estalando os dedos próximos ao rosto de Taehyung.

— Sim. Ouvi perfeitamente, não precisa me agradecer Jeon, imagino que qualquer um o defenderia.

— De qualquer forma, Jimin pediu para lhe convidar para um jantar, em um agradecimento mais distinto... Como não temos seu número, torcemos para lhe encontrar para fazer o convite. — Jeon dizia com tanto nervoso que precisou cruzar os braços para não denunciar o tremor. Taehyung o intimidava, o deixava deslocado e não gostava das devidas sensações.

— Claro. Adoraria. — Respondeu sincero, foi até surpreendente no quão sincero havia sido

— Isso é ótimo. Este é meu número. — Jeon entregou um pequeno cartão branco. — Me ligue ou mande mensagem para que eu salve o seu, aí podemos combinar o jantar.

— Ligarei.

— Ta. Preciso ir, estou atrasado.

Taehyung fitou Jeon, o observando adentrar a viatura da polícia e seguir com seu compromisso; ali, parado, Kim olhou para o cartão, o número ali marcado e o sorriso sádico tomou seu rosto antes fechado.

É um belo convite inesperado pensou. Entretanto, era mais uma oportunidade de conhecer o casal.

A vida pode ter um curso correto a seguir. Mas o destino parece ter um humor mórbido ao ponto de criar coincidências indesejadas; mesmo indesejado, Taehyung sabia e apreciava o modo como o destino sempre se mostrava à sua disposição.

O cartão foi posto no bolso, o moreno pensou em prosseguir com sua caminhada, mas desistiu, voltando ao seu veículo e indo para casa.

Mal podia esperar pelo jantar e no que poderia resultar até o fim dele.

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Tradução da música: Elvis Presley - You're The Devil In Disguise

Você se parece com um anjo

Anda como um anjo

Fala como um anjo

Mas eu fiquei esperto

Você é o demônio disfarçado

Oh, sim você é

O demônio disfarçado

Frases de livros mencionados:

01 - The Devil's Trail (DarkPoison_)

02 - Nas Mãos do Diabo 2 (atimewritting))

:)

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