02 - Sangue, Suor e Lágrimas;
"Desejo que todos tenham um pescoço e eu tenha minhas mãos nele". Carl Panzram
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O êxtase é simplório. A ânsia que a adrenalina trazia era semelhante a um balde de água fria, sensações alucinantes dominavam os sentidos aguçados do moreno.
Taehyung ofegava, o tronco despido, agora revestido por uma fina camada de suor, que fazia sua pele reluzir, as gotas de suor escorriam por seu pescoço, assim como outras escorriam por seu peito, seguindo em linha reta até o abdômen trincado, alguns fios negros grudaram em sua testa úmida, os lábios entreabertos e o olhar totalmente focado, a calça de moletom preto lhe deixava mais adepto aos movimentos que exercia a quase uma hora e meia, os músculos dos braços tencionavam, as costas largas e delineadas retesava a medida que Taehyung se concentrava para dar início ao treinamento.
Lutar era uma arte no qual Kim dominava com maestria, precisava de algo que o fizesse ter mais autocontrole, que pudesse mantê-lo centrado no que quer que fosse fazer. A raiva era algo ortodoxo, perigoso, que toma cada centímetro de seu corpo e fazê-lo agir por impulso, trazendo muitas das vezes consequências irreversíveis.
A sala não constituía com nada além dos itens necessários, tatames, equipamentos para exercícios, pesos, saco de areia, entretanto, havia outra sala onde o moreno treina sua mira que é tão impecável.
A voz inconfundível de Bernadette Carroll ecoava pela sala imensa, a música Laughing on the Outside trazia uma concentração distinta ao moreno que apreciava músicas antigas e suaves, talvez um pouco macabras.
Kim parou, caminhou descalço até a mesa onde havia garrafa d'água e toalhas limpas, com o passar dos minutos sua respiração tornou-se calma, se não fosse o mover de seu peito o moreno poderia passar uma visão de que não respirava, claramente Taehyung não se sentia humano, quase não sentia a vida, era nada além de um receptáculo, lindo e totalmente vazio, frio e misterioso.
O som foi desligado no início de outra música, o silêncio predominou o local, Taehyung ainda semi nu e suado, saiu da sala com a garrafa em mãos e a toalha no ombro direito, era mais um de seus ambientes que se mantinha trancado, morar em um prédio imenso e sozinho, tinha suas regalias, o próprio subiu os lances de escada até o último andar, cantarolando baixo.
Adentrando seu apartamento, rumou até seu quarto, pensou em ir direto para o banho, mas parou ao ver os papéis imprimidos ali, com todas as informações possíveis sobre seu novo divertimento, um sorriso maldito se formou em seus lábios tão bem desenhados, Taehyung pegou a primeira folha que estava debaixo de todas as outras, sentou-se na cadeira giratória e leu atentamente.
Havia tudo ali, nome completo, idade, tipo sanguíneo, e etc... Jeon Jungkook era ainda mais interessante do que Kim poderia imaginar, inteligente, bonito, não havia nada que aquele garoto não pudesse fazer, e por ter tantos atributos, facilmente foi recrutado pelo FBI.
Outras informações prendeu a atenção do moreno, sorria enquanto lia sobre quase toda a vida do garoto, conseguiu tudo em poucas horas, obtinha informações sobre todo seu histórico escolar, faculdade, e outros um pouco mais íntimos , e graças a internet, e redes sociais, Taehyung vasculhou absolutamente tudo. Não foi só sobre Jeon que Taehyung se atreveu a vasculhar sobre sua respectiva vida, sua ambição e possessão é imensa o suficiente pra ter ido atrás de tudo sobre Park Jimin.
Não podia discordar de que formavam um ótimo casal, mesmo que ambos fossem absolutamente opostos, enquanto Jeon iria ingressar no FBI, Park Jimin era modelo, um dos mais prestigiados, sua beleza e carisma cativava todos ao seu redor, sua aura parecia luz e harmonia onde quer que estivesse, um dos muitos elogios que Taehyung havia lido.
— Um casal perfeito. — Murmurou com nojo, largando os papéis em cima da mesa.
O banho havia sido demorado, muitas informações se embromam em sua mente, o deixavam nervoso demais e por isso precisava espairecer. Taehyung costumava sair apenas para que as vozes em sua mente se aquieta-se, eram como milhares de vozes uma tentando se destacar sobre outras, era irritante, infernal por assim dizer.
Já vestido, arrumou os papéis em ordem perfeita, colocando-os em pastas separadas, e assim, saiu do quarto, o tempo permanecia fechado, a chuva dera uma trégua, mas ameaçava constantemente que a chuva viria quanto menos se espera, a vitrola foi ligada, quebrando o silêncio ensurdecedor, Kitty Kallen com sua voz magnífica e contagiante reverberou pelo imenso ambiente.
Taehyung separava com calma os ingredientes que usaria para cozinhar, mas antes, pegou uma taça e o vinho tinto, adorava cozinhar na companhia de uma ótima bebida e músicas de acordo com tais ocasiões.
Kim cozinhava excepcionalmente bem, cortava os legumes com total concentração, não tardou para que o cheiro delicioso invadisse seus sentidos, separou tudo para sua hóspede, tomou cuidado com os temperos pois sabia que ela tinha alergias e outra que também não podia comer comida tão apimentada por conta do bebê em seu ventre, a bandeja já estava arrumada, os talheres polidos ao lado do prato junto a um copo de suco natural, do jeito que Amber gosta, ou gostava, já que a mulher o odeia com todas as suas forças, porém, Taehyung pouco se importa, visto que seu objetivo era totalmente outro, por isso a mantinha viva.
A porta foi destravada, a loira estava sentada na cama, os lumes focados em um ponto cego, não havia movido um músculo, entretanto sabia que o seu pesadelo estava ali, sentia o corpo arrepiado, os batimentos quase a mil por hora.
— Trouxe seu almoço meu amor, sugiro que coma bem. — Diz Taehyung com um sorriso ladino em seus lábios.
A mulher nada responde, as mãos massageavam a barriga imensa, a pele pálida e mal cuidada, os fios loiros sem vida alguma; a bandeja foi posta na pequena mesa, Kim se aproximou da própria, ficando de frente, não queria lembrar dos motivos que o fizeram pegá-la, pois se o fizesse a machucaria com todo seu ódio.
— Como está nosso bebê? — Pergunta baixo, tocou a barriga da mulher que rapidamente se afastou, o olhando com medo e nojo.
— Seu? Ele é meu. Apenas meu, seu monstro. — Repreende num timbre rude.
— Ele? Não, não, meu amor. É ela, é uma menina. — Retruca neutro.
— Como tem tanta certeza seu filho da puta?
Ainda calmo, Taehyung segurou o rosto da mulher, os dedos longos e pálidos apertavam o maxilar, fazendo-a grunhir de dor.
— Porque se não for. Saiba que não serei piedoso, uma bala irá atravessar no crânio do "seu" bebê, caso não seja o que eu quero. — O tom gutural, quase sobrenatural fez a mulher chorar em silêncio, tremer em suas mãos e gritar novamente por ajuda, por mais que fosse completamente inútil, estava a mercê de Taehyung a muito tempo, tempo demais para que se lembre com exatidão. — Coma tudo, fiz o que você gosta. Precisa ficar forte, amor.
Kim se dirigia à porta quando ouviu um sussurro vindo da mulher .
— Eu já pedi perdão por tudo o que causei a você... Sabe que não tive culpa por aquilo. Por favor. Não precisa fazer isso, não precisa me submeter a tudo isso. Eu entendo sua dor, entendo o quão difícil é superar, perdi alguém também e nem por isso faço tudo o que você faz. — Os soluços vinham conforme as palavras eram proferidas.
Taehyung notou o arrependimento em sua voz, percebeu com clareza que a mulher a sua frente não era alguém ruim. Todavia, a importância com isso era nula, o moreno era o que é, e nem Deus seria capaz de impedi-lo, já que andava lado a lado com o Diabo.
— Suas desculpas não trará minha menininha de volta. A culpa é toda sua. Pagará por isso, deveria me agradecer por não tê-la matado, bom, não, ainda. — Enfatizou com um sorriso macabro. — Bom apetite, amor. — Completa já saindo sem dar chance a Amber de dizer algo.
Enquanto apreciava o almoço, Taehyung investigou mais a fundo a vida de Jeon, as fotos nas quais era marcado, tanto por seu namorado, quanto por seus amigos, uma vida um tanto agitada pensou o homem; rolando a barra mais pra baixo sorriu ao ver que o garoto marcou presença em um evento, um bar chamado DarkPoison que iria inaugurar hoje às oito e meia da noite, não havia tantas informações sobre o local, apenas fotos do interior, Taehyung memorizou o endereço e desligou o celular o deixando de lado para terminar a refeição. E sem perceber, sua mente o levou a uma de muitas lembranças dolorosas e traumáticas.
Ser sozinho nunca foi algo difícil para si, desde jovem não buscou cultivar amizades, era determinado com os estudos e achava que conhecer pessoas o tiraria do foco, portanto, estudou com dedicação, trabalhos em dupla, o mesmo fazia sozinho, era bom em burlar as regras, sua manipulação era excelente então todos praticamente acatava suas vontades.
Sua adolescência foi marcada de modo horrendo, seus pais possuíam status, e dinheiro infinito por assim dizer, infelizmente nem tudo eram flores, Taehyung quando passou a entender como a vida funcionava, temeu, ouvia os gritos, ouvia objetos sendo lançados em uma superfície dura, choros e palavras que escorriam dor e desespero, por muitos anos havia sido assim.
Seu pai não o tratava com carinho, quando se dirigia a si, era com autoridade, com palavras que o deixavam arrepiado e com vontade de chorar, já sua mãe, escondia toda sua dor através de um sorriso falso, os ferimentos que haviam por seu corpo era facilmente coberto pelas roupas.
Pela vida já conturbada, o moreno levou isso para si, e por isso decidiu que o isolamento, a solidão seria seu único amigo, pois assim, não seria ferido, nem emocionalmente, e nem fisicamente.
Quando completou quatorze anos de idade, ouviu um barulho alto demais, os gritos e agressões que antes ouvia mesmo não querendo, cessou, dando lugar a nada além do silêncio, saindo de sua cama, o garoto correu até o quarto dos pais, se deparando com a cena que jamais esqueceria, sua mãe; toda ensanguentada segurando uma arma calibre 38; os cabelo emaranhados e o olhar vazio.
— Omma. — Disse o garoto já em prantos.
— Está tudo bem meu amor. Omma está bem, vá se deitar, fique quietinho e só saia quando acordar tudo bem? — A voz de sua mãe era de pavor, um pavor controlado até demais.
— O Appa está morto? — Questiona o garoto com os olhos arregalados e as mãozinhas trêmulas.
— Conversamos sobre isso outra hora filho.
Taehyung intercalava o olhar assustado entre sua mãe e o corpo de seu pai já envolto em sangue. Seu coraçãozinho batia forte, e por isso, voltou correndo ao seu quarto, trancando a porta e deitando-se na cama que era seu refúgio, com os lumes marejados, fitava as estrelas, a lua que brilhava em seu teto, sempre brilhavam quando o breu se instalava, com o coração doendo, chorou em silêncio encolhido debaixo do edredom azul e suas estrelinhas.
A luz da manhã invadiu seu quarto, Taehyung despertou já ficando de pé rapidamente, saiu de seu quarto para ver seus pais, crendo que o que havia visto não era nada além de um pesadelo.
Ao abrir a porta, o grito de susto que reverberou por sua garganta foi alto, desesperador e doloroso em níveis absurdos, seu pai ainda estava caído do mesmo jeito que viu, o sangue já seco ao seu redor, e sua mãe... Sua mãe estava pendurada pelo pescoço por uma corda, o corpo todo machucado e ferido por dezenas de cacos de vidros, que também cobria o chão do quarto; os olhos abertos sem vida, com uns dos olhos perfurados com a faca da cozinha e um sorriso vitorioso no rosto que dava até calafrios.
Os funcionários vieram correndo vendo a cena horripilante, a babá que fora contratada, pegou Taehyung no colo mesmo que o garoto fosse grande demais, e com dificuldade o tirou dali, o menininho chorava com o rosto afundado no pescoço de sua babá, que o ninava e repetia palavras de conforto, afim de ajudá-lo, por mais que soubesse que aquilo tornaria o garotinho ainda mais fechado do que já era.
Hana, sua babá prometeu cuidar de Kim, por quanto tempo ele quisesse, dizia isso ao ouvido do garotinho que assentia e chorava apertando-a ainda mais.
Para que não chamasse a atenção da mídia, tudo foi acobertado, Taehyung não tinha ninguém e graças aos testamentos, onde um, dizia claramente que tudo era seu, dinheiro, ações, propriedades, o de sua mãe não era um testamento em si, mas sim uma carta junto a documentos onde dizia que sua guarda era de Hana.
Taehyung entendia tudo, mas não dizia nada, teria tudo em suas mãos assim que completasse a maioridade, e sua babá, bom, ela depois explicou que sua mãe havia implorando para que ela cuidasse dele, e sem entender Hana concordou pois amava muito o garotinho que tanto cuidava desde que tinha apenas meses de vida.
Cresceu sob os cuidados de Hana, tudo o que seus pais não lhe deram, sua babá o dava, mesmo que não fosse a mesma coisa, Taehyung sempre quis ser amado por seus pais, ter carinho, infelizmente não o teve, mas Hana buscou compensar o máximo que podia, pois temia o futuro do garoto, temia que ele não melhorasse.
E por anos assim foi, o garotinho crescia, era inteligente e trazia orgulho a sua babá que com o tempo passou a chamá-la de mãe, era raro, pois quando o moreno dizia, ficava envergonhado e pedia perdão.
Sua beleza se acendia a cada aniversário, as notas eram altas, mas Taehyung era sozinho. Hana o incentivava a fazer amigos, mas o garoto negava. Hana tentou convencê-lo a consultas com um profissional, porém, o garoto também negou, dizendo que não precisava pois sabia lidar.
Sendo verdade, ou mentira, sua babá orava por ele, pedia a Deus para que trouxesse alguém para o garoto, que o fizesse sentir amor e viver do jeito certo.
A taça em sua mão foi quebrada, pela força que fizera sem ao menos perceber, o moreno despertou de seu torpor, a comida já havia esfriado, o vinho derramado e pequenos cacos de vidro cravados em sua mão, o sangue misturado ao álcool, a dor era sentida, mas Taehyung como o bom masoquista que era, apertou o restante da taça, sentindo o vidro penetrar em sua pele e fazer o sangue escorrer por entre seus dedos e pingar na mesa de vidro.
(...)
As vestimentas escuras deixavam Taehyung intrigante, elegante e misterioso, claramente não são trajes para um pub, entretanto o moreno não se importava, visto que seu objetivo é apenas observar Jeon de longe.
Próximo do horário em questão, o moreno novamente deixou o jantar para Amber que havia adormecido devido aos remédios que o próprio dissolve sem que ela note, antes de sair, pegou os itens necessários, carteira e chaves do carro, olhou-se novamente no espelho e saiu tomando o máximo de cuidado para não ser visto saindo todo arrumado de um prédio onde todo mundo imagina ser inabitável.
As ruas estavam totalmente movimentadas, lojas de conveniência abertos recebendo clientes, estava frio mas não ao ponto de impedir que pessoas se divirtam. Kim dirigiu tranquilamente até o suposto pub, já perto, observou uma fila imensa, a música alta o suficiente para ser ouvida do lado de fora, o que não agradou o moreno, pois odiava barulho, preferia algo neutro e ambiente e não músicas que impediam uma conversa, enfim, era um sacrifício que faria essa noite.
Estacionou sua Mercedes-Benz Gla 200 quase uma quadra, pois não havia vaga para o seu próximo do bar. Taehyung ajeitou o casaco sobre o corpo e caminhou, olhando tudo ao redor e respirando profundamente, sentindo o ar gélido preencher seus pulmões apaziguando deu interior um tanto caótico.
Detestava filas e por isso tratou de subornar e cortejar a garota que estava na porta com uma prancheta em mãos, além de conseguir entrar, também guardou o número da garota no bolso interno do casaco.
Azee explodia pelas imensas baixas de som, o lugar fazia jus as fotos, espaçoso e nem organizado, havia imensas mesas que poderia ocupar de quatro até seis pessoas, um bar com diferentes bebidas, o moreno pode ver um segundo andar que devido a pequena quantidade de pessoas, tratou de imaginar que era a área VIP, e era lá que estaria pois odiava multidões.
Ocupou uma mesa pequena e pediu whisky de melhor qualidade, os lumes escuros observavam atentamente cada um que entrava, e após algum tempo, viu Jeon Jungkook chegando junto a Park Jimin. A noite estava apenas começando e Taehyung ansiava para que terminasse logo.
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