Capítulo 6: "Prometo."
— Oi? — Pedro atendeu a quinta chamada. — Já estou a caminho. — fez outra pausa para escutar e respondeu depressa. — Não aconteceu nada, tô chegando!
Desligou e recostou a cabeça no vidro, a imagem da prima o observando se formava em sua cabeça aturdida. Pensar nela parecia amenizar o turbilhão de sensações que passavam pelo seu peito. Precisava se controlar.
Assim que chegou ao cinema, tentou fingir que tudo estava bem. Comprou as entradas, pipoca, refrigerante e adentraram à sala. Enquanto os trailers eram exibidos, Tainá o beijava com fervor, o garoto estava no piloto automático. Afinal, ela não tinha culpa do que havia acontecido, e ele jamais revelaria algo tão íntimo. Principalmente porque não pretendia pensar no assunto, mas sim se distrair.
Após o fim da sessão, Tainá o convidou para ir até a sua casa, porque ficaria sozinha por um longo espaço de tempo. Na sua concepção, seria o momento mais apropriado para perder a virgindade, uma vez que, já namoravam há três meses e nunca se vira preparada antes. Talvez a traição do namorado, se devesse a isso: por não praticarem sexo, ajuizava ela.
Para Pedro, quanto mais tempo longe de casa, melhor. Não queria continuar a conversa com o pai. Além disso, desconfiou da intenção por trás do convite, haja visto as carícias ao longo do filme. Enfim chegara a hora, pelo menos iria se distrair, apesar de querer ficar sozinho.
Chegaram à residência e foram direto para o quarto dela, onde se beijaram efusivamente, ele à sua maneira, transitando entre o suave e o violento. Já Tainá, apesar do receio que a deixava trêmula, concentrava-se nos movimentos dele.
As mãos se entrelaçaram e o desejo reprimido rompeu a barreira do medo. Ela firmou os dedos na nuca do garoto e gemeu ao seu ouvido.
— Você está realmente preparada? — sussurrou, lambendo-a no pescoço.
A resposta veio através das ações e, em poucos segundos, os seios delicados estavam à mostra. Pedro debruçou-se acariciando os mamilos e os sugou efusivamente. Retirou a camisa e a calça, ficando apenas com a cueca branca, revelando o seu membro ereto, o que a deixou ainda mais excitada.
Tainá o puxou querendo sentir o peso dele sob seu corpo, então abriu as pernas só de calcinha, para sentir roçar o pênis entre as pernas, que a deixava mais estimulada. Bem como quando ele a olhava por detrás das lentes de maneira terna.
Será que seus olhos o enganavam?
O corpo moreno de Tainá embranqueceu. As curvas se moldavam em um compasso hipnótico, transformando-a em sua prima Amanda. Surtara?
O sorriso dela o prendia de tal forma que o ritmo avassalador de repente mudou. Parte do seu cérebro tinha consciência de que aquilo era apenas um devaneio. Porém, o desejo que reprimia o condenava a beirar a loucura. Sua sentença por àquele crime fora ditada após ouvir a frase:
— Eu te amo, Pedro. — Tainá confessou quase soluçante.
Inclinou- se, sentindo o cheiro de chocolate que emanava da garota. Beijou-a olhando nos olhos e tocando no cabelo dela.
— Eu sempre te amei... Amanda. — acresceu docemente.
Fora repelido de forma imediata.
— Do que você me chamou? — protestou.
O encanto se desfez, Tainá regressou ao seu corpo e Pedro caiu em si.
— Tainá! — Ergueu-se avidamente.
— Você me chamou de Amanda? — Desfechou indignada.
— Não... Você entendeu mal, amor. — A língua pesou.
A garota levantou-se e foi até o armário apanhar uma camisola.
— Como pôde estragar tudo? — gritou.
— Não... Eu... — gaguejou ficando de pé.
— Sabia que amizade entre primos não existe! — reiterou dominada pelo ódio. — Pra você trocar os nomes, é porque devem transar direto!
— Você tá falando besteira, Tainá! Respeito muito a Amanda! — seu semblante mudou.
— Imagino o tipo de respeito! Como pude ser enganada por uma sonsa?! — lamentou enraivecida. — Por uma ridícula que paga de santa!
— Para de falar merda!
— Mas como você dizia que tinha um instinto protetor e que a via como quase irmã... confiei, porque sou uma imbecil! — jogou todos os objetos de sua mesa de estudo. — Como pude ser enganada pelo antigo golpe da prima puta?! — ela estava fora de si.
— Não admito que você fale assim dela! — explodiu enraivecido.
Tainá sentiu o corpo enrijecer e atirou alguns objetos contra ele.
— E você ainda defende?!
— Claro! O erro foi meu, não dela! — respondeu, desviando-se.
— Então você acaba de admitir que trocou os nomes? — perguntou de maneira debochada.
— Olha, Tainá... Tô passando por alguns problemas pesados com a minha família, e infelizmente envolve a Amanda... Talvez seja por isso que saiu o nome dela, mas só por isso! Não tenho nada com ela!
A garota riu ironicamente.
— Problemas com a família?
— Sim... Problemas sérios! — respondeu fechando os dedos.
— O que houve? Descobriram que vocês transam nas datas comemorativas ou no velório de alguém?
Pedro apanhou suas roupas e as vestiu ligeiramente. A raiva o dominou.
— Não vou ficar aqui ouvindo merda! — saiu apressadamente.
— Você ainda quer sair se fazendo de vítima? — avançou segurando-o pelo braço. — A vítima aqui sou eu!
— Odeio quem se faz de vítima! — puxou o braço com força e avançou pelo corredor.
Tainá voltou a gritar:
— Você vai me deixar falando sozinha?
— Talvez só você consiga se ouvir! — retorquiu, tentando abrir a porta da sala.
— Não vai embora, Pedro! Vamos conversar! — sugeriu hesitante.
— Abre essa porta! — ele não a olhava.
Tainá mantinha-se ofegante. Tentava controlar a respiração, em vão. Chorou.
— Vamos concluir essa conversa! Você fugindo desse jeito assume que tem um caso com ela. — falou insegura.
— Não sou de fugir, Tainá! — a encarou com a visão periférica.
Neste instante o celular do garoto tocou, a foto do contato que ligava surgiu na tela do Iphone.
— Ela está ligando pra você! — pegou o telefone e tentou atender, mas fora impedida com um empurrão.
Tainá caiu sob o sofá, chocada com a reação dele.
— Ninguém atende meu celular, Tainá! — recusou a chamada. — E abre o caralho dessa porta agora!
A garota ficou paralisada, observando-o com lágrimas nos olhos.
— Pensei que você me amava... — as palavras saíam com dificuldade.
Pedro olhou para cima e colocou as mãos na nuca.
— Também pensava! Agora se você não abrir a porta, juro que vou arrebentar!
A garota foi até a estante e pegou a chave com os dedos trêmulos. Foi consumida pela raiva e pelo medo de perdê-lo.
A porta abriu e o garoto saiu, sem olhar para trás.
— Não faz isso comigo! — gritou pelo corredor.
— Vai à merda!
Tainá continuou parada à porta, sentia a perda a cobrindo por inteiro. Queria correr atrás dele, mas o choque pela troca de nomes a impedia. Sentia-se aflita, tanto que despencou com as mãos cobrindo os olhos. As lágrimas doíam, pareciam ter fogo.
Assim que Pedro chegou à portaria, ligou em retorno para a sua prima, que não atendeu.
Entrou no primeiro táxi e rumou para a casa de Amanda. Ela nunca ligava para ele, presumiu que algo acontecera. Precisava vê-la. Fernanda deveria ter feito alguma coisa, era o que deduzia.
Chegou ao endereço, era em um sobrado cercado por grades altas, ele abaixou o vidro do carro e olhou angustiado, para as janelas.
— Vai descer? — perguntou o motorista.
— Não sei... Deixa o taxímetro ligado.
Retornou a ligação pela sexta vez, até que ela atendeu com a voz embargada.
— Oi, Amanda! Tudo bem? — sua garganta sempre travava.
— Oi, Pedro... — respondeu com a voz baixa.
— Aconteceu algo? — um nervosismo vertiginoso o deixou aflito.
— Sim... Não... — falava devagar. Na verdade, havia se arrependido de ter ligado.
— Você está me deixando nervoso! — sua respiração oscilava.
— Você e a minha mãe brigaram? — perguntou preocupada.
Pedro levou a mão livre na testa.
— Olha... É um assunto complicado... Você está sozinha aí? — não conseguia completar as frases com precisão.
— Sim... Por quê? — ela engolia as lágrimas.
— Tô aqui na frente!
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. Ele acompanhou o som da respiração.
— Acho melhor não... Ela pode chegar a qualquer momento. — lamentou e aproximou-se da janela buscando por ele. — Aonde está?
— Num táxi, aqui na frente. — disse ávido.
Amanda moveu a cortina e o avistou, respondendo com outro aceno discreto. Olhar para ele a fazia sorrir e esquecer a marca no rosto, deixada por uma bofetada violenta.
— Me diz o que aconteceu? — pediu atribulado.
— Nada... Eu só precisava saber o porquê...
— É delicado falar por telefone. — Ouviu-a chorar. — Você está chorando?
Amanda não conseguiu se conter e revelou:
— Ela acabou descontando em mim... — Lágrimas serpenteavam o belo rosto. — Não sei como vai ser, Pedro. Ela quer até me tirar do Salvatore. — informou ofegante.
— Que ridículo isso! Ela não pode fazer isso! — disse indignado.
— Não sei o que fazer... — estava perdida. A escola era seu escape.
— Já estamos no segundo semestre!
— Foi o que eu disse... Acho que nem vou à aula amanhã... — lamentou fechando os olhos, enquanto as lágrimas rolavam.
— Ela surtou? Não pode te privar do Colégio só porque estou lá! — desesperou-se. Era o único momento que a via. As férias eram infindas na ausência dela. — Vou falar com ela! — desceu do carro e foi até o portão da garagem.
— Não faça isso, Pedro. Sério! — pediu alarmada.
Foram poucas as vezes que a ouviu chamando pelo seu nome. Parou e permaneceu em silêncio. Não queria perdê-la. Encostou o rosto nas grades. Aquela distância o aniquilava.
— A situação pode piorar. Não sei qual foi o contexto, deve ter sido muito sério. Vou esperar ela me falar, é melhor. Preciso entender. — tentava controlar as lágrimas.
— Já que ela pode chegar a qualquer momento, quer dar uma volta? — sugeriu engolindo uma saliva em brasas.
Ela não respondeu, apenas o observava.
— Amanda, por favor, me responde alguma coisa.
— Não... Tá quase no horário dela chegar... Se eu sair pode piorar tudo, e se ela o ver, nem sei o que ela seria capaz de fazer.
Pedro a observava, petrificado.
— Deixa eu te ajudar! — soltou a respiração presa.
— Não há nada que você possa fazer agora. A não ser...
— A não ser? — olhava-a angustiado.
— Ir embora! — respondeu, querendo correr até ele.
O garoto mirou o chão. Realmente não poderia fazer nada a não ser esperar.
— Tudo bem, vou embora, mas só se você me prometer que vai ficar bem.
Continuava calada.
— Amanda!
Não haviam respostas, apenas suspiros.
— Caso as coisas piorem, vai me ligar, independente do horário?
Ela o observava, com uma vontade incessante de desaparecer.
— Hein, Amanda? Promete. Ou não estou nem aí! Vou ficar aqui na frente esperando ela chegar! — ameaçou.
— Prometo! — riu nervosa. — Você é doido, primo!
Pedro também riu e disse:
— Ainda não viu nada!
Mais uma vez, somente o observava com as palavras presas na garganta.
— Tente ir à aula amanhã... Precisamos conversar. — pediu ele, triste.
— Tentarei.
— E, por favor, me deixa informado de tudo...
— Tá ok.
Permaneceram se olhando à distância. Uma energia silenciosa os prendia, mantendo as bocas amordaçadas e o corpo lutando contra a obrigação de partir. Por que ela não saía da janela, para que ele conseguisse se mexer?
— Preciso desligar. Até... — demorou em se despedir.
Continuou a observá-la com um gosto amargo corroendo a boca.
Amanda afastou-se da janela, mas ainda o fitava. Então, ele olhou de um lado para o outro e entrou no carro. O táxi seguiu pela rua quieta daquele bairro pacato, e a garota surgiu novamente na janela. Ela continuou a olhar, agora para o nada... E ali ficou, por muitos minutos.
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