259 Ama De Leite
Dancei, ah como dancei,
Como se houvesse apenas o céu estrelado,
Dancei e vi a crepitação da fogueira,
Imitando meu jeito de dançar;
Havia música e todos os companheiros,
Dançávamos não por plena felicidade,
Mas por um vislumbre de liberdade,
Que nosso coração tanto sonhava;
Quando for a hora de ir deitar,
A senzala vai ser um quarto frio,
Como o navio onde meu avô veio,
Ao som das correntes e de aflição;
O dia amanhece tão depressa,
Parece que o tempo é nosso inimigo,
Passamos tanto tempo trabalhando,
Colhendo, cozinhando, apanhando...
Tenho medo de dormir as vezes,
Fico de olhos abertos a esperar,
O sinal do senhor entrar e vir buscar,
O grito já fica na garganta trémula;
Sou ama de leite, sou mãe dos brancos,
Os meus filhos nem sei por onde estão,
Devem estar separados pelo mundo,
Meu coração sofre menos ao não vê-los sofrer;
Os meninos chamam pela mãe negra,
Assim como minha alma clama pelo dia,
Em que retornará de navio para o céu da África,
Ao lado dos meus filhos negros e brancos;
Esse poema é em homenagem ao dia da Consciência Negra.
(Data: 20 de Julho de 2017)
Nota sobre a capa: Existe uma poesia tão bonita nessa foto da minha amiga com seu pequeno Otávio. Conexão materno de amor, cheiro e toque, algo que jamais deveria ser separado. Me fez pensar muito nesse poema que tinha feito há alguns meses atrás.
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