capítulo 7
Capítulo 7
"Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."
Cora Coralina
Pequei da mão dela e abri nervosa.
Mais uma página arrancada de algum caderno.
Querida filha muito amada,
Espero te ver logo, mas se isso não acontecer eu quero que saiba: eu te amo muito. Saber que você está realizada é algo gratificante para mim. Triste por ter sido tão longe.
Espero ainda que você volte e sinta feliz morando aqui na sua terra. Cuidando do que é seu, ou pagando alguém para cuidar com seus olhos atento. Fiquei muito feliz de você confiar seu segredo a mim. E saber que você pensa no seu futuro por aqui ainda.
A última vez que eu tive com o Maurício, eu pedi perdão para ele e falei que se um dia vocês tivessem outra oportunidade eu sentiria que poderia morrer em paz. Mas saber que ele me perdoou já foi um grande alivio.
Então mais uma vez eu peço o seu perdão por amar demais.
Fique com Deus... Eu te amo.
Marta.
Olhei para Melissa que esperava eu acabar de ler impaciente.
- Tudo bem? – perguntou ela.
- Não sei. Às vezes parece que mamãe está se despedindo de mim. Eu tenho medo disto. – passei a carta para ela.
Levantei e busquei a outra e mostrei também. Depois de um tempo ela falou.
- Você notou algo estranho entre essas duas cartas?
- O que?
- Veja essa letra, - olhei - agora essa. O que achou?
- Estão um pouco diferentes, mas é a letra dela.
- Sim, não tenho dúvida. Mas essa aqui a primeira está com letras trêmulas, essa aqui está mais firme. Sua mãe não tem Parkinson?
- Não! Até onde eu sei não! – fiquei pensativa - Será? Será que é isso que estão me escondendo?
- Não sei, mas tem algo estranho mesmo. Ela está muito triste...
- Sabe Melissa, mamãe sempre foi um pouco depressiva mesmo. Às vezes, ela oscila muito seu comportamento. Depois que conheceu um SPA perto de Vila Velha, acho que a cada dois ou três meses precisa descansar por lá. E esse isolamento está fazendo-a pensar muito na vida. E eu acho que esse tempo um pouco maior lhe bateu muito arrependimento. Espero que isso não a confunda de vez ao invés de ajudar.
- Tomara que não mesmo. – respirou fundo – e nós o que vamos fazer? Estou de folga para ficar com você hoje. Claro! Se o Senhor Dominador não for fazer isso.
- Ele vai me buscar somente no fim da tarde. Preciso ir à galeria e fechar mais algumas coisas, topa passar o dia comigo?
- Estou aqui para isso!
Fomos para galeria.
Há alguns meses eu havia convidado Melissa a trabalhar comigo. Ela ficou balançada, mas ainda não resolveu se iria gostar de trabalhar com artes. Na verdade ela se formara em educação física, veio fazer uma especialização e acabou trabalhando numa escola de dança. Agora estava fazendo o curso de administração comigo. Ela brincava que teria algumas opções para considerar. Casar, estudar e trabalhar. O seu visto somente seria renovado se comprovasse estar estudando.
Acabamos de organizar meu ateliê e com a ajuda dela selecionamos os desenhos e fotos que ficariam em exposição no dia do evento e as outras já poderiam ir para a galeria.
Almoçamos nós quatro, Grace, Amber, Melissa e eu, em um restaurante perto da galeria, um lugar diferente de tudo que eu já havia visto. Eles serviam o dia todo de tudo. O café da manhã era sempre meu almoço. Pois o tradicional deles era, ovos, bacon (eu sempre dispensava) pão, tomates grelhados (eu pedia fresco) cogumelos fritos ou grelhados, salsicha, e feijão. Ah... O feijão na caneca era o que eu mais gostava. Mas neste lugar o cardápio de almoço, jantar ou café poderia ser servido a qualquer horário do dia e inclusive fazer as mudanças. Isso porque em muitos restaurantes nunca seria permitido.
Foi um almoço descontraído e gostoso. Quando voltamos ao ateliê eu acabei de explicar o funcionamento de mais algumas coisas para Melissa, pois ela iria me ajudar nestes dias que eu estivesse fora.
Fomos para casa e o meu coração começou a apertar de novo. O Dominic passou e ligou durante o dia. Mas combinamos nos encontrar no meu apartamento mesmo. Eu precisava terminar de fechar as malas e tomar um banho.
Eram seis horas da tarde estávamos entrando no aeroporto eu, Melissa e Dominic.
Depois que fiz check in e despachei as bagagens fomos tomar um café nós três. Dominic estava um pouco diferente, ele nunca foi de fazer demonstrações de carinho em público, e naquele dia em especial ele não me soltou um minuto.
Estava sempre segurando minha mão, dando beijos nela e fazendo carinho com o seu polegar. Na hora da despedida eu dei um abraço demorado na Melissa e falei:
- Posso contar com você? – ela fez sinal de continência e falou como um soldado.
- Sim Senhora! – dei risada.
Olhei para ele que esperava para me abraçar com os olhos tristes. Apertou-me em seus braços por um longo período e assim que foi me soltando falou:
- [Assim que chegar me liga ou passe uma mensagem]. – me abraçou de novo – [e se precisar eu vou ao seu encontro].
Olhei para ele e consenti com um movimento de cabeça. Ele segurou minha nuca e me beijou. Eu o abracei por baixo do seu casaco, alisando sua costa. Era a primeira vez que ele agia assim em um lugar público. Escutei chamar meu voo de novo. Dei mais um beijo nele e fui me afastando sem dizer mais nada. Na fila eu os olhei e disse a ele:
- [Cuide da Melissa por mim]. – olhei para ela – [cuide dele por mim].
Eles sorriram.
Dei-me de presente uma viagem de primeira classe, não estava a fim de ter que viajar mal acomodado e ter de aguentar alguém caindo por cima de mim durante o voo. O tratamento era todo diferencial desde o check in; uma 'mais' que sala vip de espera e várias outras regalias que eu não experimentei por ter ficado com meus amigos até quase na hora do embarque.
Assim que entrei caminhei por um corredor de embarque e já entrei direto na aeronave. Fui indicada pela aeromoça a cabine, guardei minha bagagem de mão, sentei e me acomodei tranquilamente, era uma maravilha, totalmente espaçosa, com uma poltrona reclinável, mesa para alimentação e uma cama. Em cima da cama havia um pijama e uma manta, em frente uma TV com uma grade de programação vasta sendo mostrada e fones de ouvidos. A iluminação era regulável por um controle remoto. Puro luxo.
Pouco tempo depois escutei os avisos, outra aeromoça veio verificar se estava tudo em ordem e em seguida começou a decolagem.
Fiz uma oração. Não que eu tivesse medo de voar, mas é sempre um frio na barriga.
Fechei os olhos e esperei pelo aviso que poderia tirar o cinto. Estava cansada e iria tomar um remédio mais tarde para relaxar e dormir bem.
- O que me espera por esses dias... – pensei alto.
Havia passado um e-mail para o escritório de advocacia avisando minha chegada no dia seguinte e que marcasse um horário o quanto antes, Não teria muito tempo na cidade, já avisei.
Pedi ao papai para mandar o endereço onde a mamãe estava, pois queria ir direto do aeroporto encontrar com ela. No entanto, ele pediu para eu ir direto para casa, descansar e depois ele iria comigo. Avisei que eu não gostaria de fazer isso, se ele quisesse encontrasse comigo quando eu chegasse. E que estava esperando o endereço.
Mas até a hora que desliguei o celular ele não havia mandado.
Depois que o jantar foi servido eu relaxei para apreciá-lo acompanhado de um vinho. Estava bom... Eu tomei meu remédio, troquei de roupa e deitei assistindo um filme engraçado. Nem percebi quando adormeci.
Acordei sem saber ao certo onde eu estava... Olhei ao meu arredor e não reconhecia o lugar... Onde eu estava? Que lugar era aquele? Pequeno, apertado e barulho... Que som era esse?
Passei a mão no rosto, alisei meus cabelos... Sentei e olhei meu pijama... Que pijama era aquele?
Um sinal luminoso chamou minha atenção. Uma pequena luz e mais a baixo um mapa com de posição de voo.
- Nossa!!! O que está acontecendo comigo? - falei deitando de novo.
Fechei os olhos e lembrei que estava no avião viajando para casa.
Aquele remédio eo vinho... – pensei.
Que loucura... Eu estava em Londres há poucas horas e agora estou eu aqui a caminho do Brasil...
Neste exato momento era o único lugar que eu não gostaria de estar.
Não estava ainda preparada para bater de encontro com um destino que um dia eu quis por tudo evitar.
O que fazer?
Encarar! Não teria como evitar.
Nunca fui de fugir de nada. Sempre bati de frente com tudo, e não vai ser agora que vou me esconder.
Levantei. Quando voltei do banheiro a aeromoça já estava colocando suco e frutas na minha mesa. Perguntou se eu precisava de mais alguma coisa, eu pedi um café forte e ela saiu. Sentei, peguei o suco, coloquei o canudo e fiquei pensando na minha vida.
Agora que estava chegando eu estava ficando apreensiva e com medo...
A aeromoça trouxe meu café e uma cestinha com pão de queijo.
Levantei, troquei de roupa assim que o comandante disse bom dia e anunciou que em uma hora estaríamos em São Paulo. Tomei um café reforçado.
Assim que desembarquei, precisei pegar minha bagagem na esteira, por um momento eu pensei que eles trocariam para o outro voo. Mas por questão de segurança, foi-me informado para fazer esse procedimento.
Então coloquei em um carrinho minhas malas e caminhei para fora da área de desembarque internacional. Achei muito estranho encontrar um belo homem segurando uma placa com o meu nome,
'Quem era aquele sujeito'? – foi meu primeiro pensamento. O segundo foi: 'que homem é esse, lindo desse jeito'?
Pensei em passar reto e não me dirigir a ele. Mas na hora que fui aproximando e iria passar, ele abriu um sorriso encantador e veio ao meu encontro. Então meu terceiro pensamento foi... 'ele me conhece, a placa é somente charme'.
- Bom dia Senhorita Joana Drumont, fez boa viagem? – falou sorridente.
- Bom dia. Quem é você? – perguntei.
- Prazer eu sou Alexandre, não se lembra de mim? – olhei bem seu rosto, mas nada me foi familiar.
- Deveria conhecê-lo?
- Sou de Viana também e estudamos na mesma escola. Mas estou aqui hoje para te acompanhar até Vitória. Posso pegar suas bagagens? – ele já veio pegando o meu carrinho.
Estava estranho aquilo. Será que meu pai enviara alguém para me buscar?
- A mando de quem você veio? Meu pai? – ele sorriu mostrando seus lindos dentes, muito brancos e certinhos. Perfeito para uma comercial de pasta de dente.
- Sim e não! – olhei-o estranhando a resposta – deixe-me explicar. Sou advogado do escritório de advocacia Brenner, onde seu pai é nosso cliente...
- Então está explicado, o Marquinho está com medo que eu não apareça e te mandou me buscar. Ele é muito insistente, na verdade sempre foi...
- Não é bem isso... – ele me cortou - eu estava a trabalho aqui em São Paulo... Somente atrasei meu voo para te acompanhar. Aceita um café?
- Tomei um café reforçado agora a pouco...
- Você me acompanha então?
Olhei no relógio e percebi que teria um tempo ainda para seguir viagem, mas precisava despachar as malas de novo... Passar umas mensagens...
Meia hora depois estava sentada com aquele homem lindo, falante e rindo dos casos deles.
- Então quer dizer que não lembra mesmo de mim?
- Não, desculpe – respondi nesta altura constrangida por não lembrar.
- Não te culpo por não se lembrar de mim, afinal eu sempre fui muito quieto e retraído e não tinha nada que chamasse atenção da menina mais linda da cidade e marrenta.
- Eu linda? E marrenta? – perguntei rindo.
- Sim. Todos os garotos suspiravam quando você passava, e o pior, vocênão olhava para ninguém.
- Essa para mim é novidade. Nunca fui linda e muito menos marrenta... Hum talvez tenha sido marrenta, mas sempre fui uma garota comum.
- Ah Joana!! Desculpe posso te chamar assim? – confirmei com a cabeça tomando meu segundo café – de comum você nunca teve nada!
Fiquei pensativa...
- Nunca pensei que alguém poderia me ver assim.
- Acho que é porque você nunca deu oportunidade para conhecer outras pessoas. – ele disse olhando diretamente nos meus olhos me deixando sem jeito.
- Você deve estar de brincadeira em dizer que sempre passou despercebido, não é verdade? – falei mudando o foco.
- E pior que não! Sempre fui gordinho, baixinho e na adolescência além de ter o rosto cheio de espinhas eu usava aparelho nos dentes. Pode alguém assim ser notado?
- E o que você fez para mudar tudo isso? Pois você é um rapaz muito bonito e bem extrovertido agora.
- Pois é... Incluí esporte na minha vida e uma alimentação balanceada depois que meu pai casou-se de novo com uma nutricionista.
- Achei que você iria dizer que ela era dentista – falei rindo.
- Meu pai é dentista. – falou ele prestado mais atenção em mim.
E eu realmente devo ter feito uma cara de espanto.
- Você é o Alê do Toninho dentista? – estava em choque.
- Sim... Esqueci de incluir que nem identidade eu tinha. – falou sem aquele sorriso agora – sempre fui o filho do Toninho dentista.
- Desculpe Alexandre, mas você é outra pessoa agora. Está realmente muito bonito e além de muito simpático. – analisei-o um pouco – Convenhamos você além de todas as características que disse, era um bicho do mato. Eu lembro que muitas vezes eu chegava ao consultório do seu pai e te via estudando na mesa da secretária. Eu tentava puxar papo, mas você não respondia, e quando o fazia era mal educado e grosso comigo. Muitas vezes saída sem nem olhar na minha cara.
- Que vergonha das minhas atitudes agora. - falou ele balançando a cabeça – sei que eu era um idiota. Aquele era meu jeito para ser notado. Achava que assim eu chamaria atenção. Depois de muito tempo descobri que usei a pior tática.
Neste instante escutamos chamar nosso voo. Levantamos para ir para a área de embarque, antes disto ele segurou meu braço e falou bem próximo de mim.
- Obrigado pelo 'rapaz bonito que me tornei', eu acho que foi um elogio, não foi? – eu somente sorri, senti que meu rosto ruborizou.
Não falei mais nada até estar dentro do avião e acomodar na minha poltrona, e ele do meu lado, sem mordomias agora.
Sua proximidade agora começou a mexer comigo, seu cheiro e seu calor estavam neste instante me incomodando. Fiquei inquieta e ele pelo jeito notou isso.
- Você tem medo de avião?
- Não. Por quê?
- Está agitada, inquieta. Está tudo bem?
- Sim. Agora comecei a pensar o que me espera em Viana, Vitória... Essas coisas.
- Eu sinto muito...
- Sente? – pensei o que será que ele está falando.
- Sim... Sua mãe... Sei como é difícil...
Eu não sabia o que ele falava, mas o que estava parecendo era que ele não sabia que eu estava totalmente alheia aos acontecimentos. Então resolvi aproveitar esse gancho... Que fiz muito mal por sinal.
- Por que você sabe como eu me sinto?
- Ora eu perdi minha mãe numa fase que talvez fosse a mais importante da minha vida. Não que a perda não é sempre ruim.
Perdeu a mãe? Mas o que tem haver comigo? A minha mãe... Minha mãe não morreu... Minha está doente...
Acho que fiquei sem fala e sem mais pensamentos naquele instante...
O que ele estava me dizendo?
- Sei que para você não vai ser fácil mesmo enfrentar tudo agora. Mas vamos pensar que ela está bem agora, num lugar junto de Deus.
Pronto! Desabei e caí por terras.
O Que ele disse?
Isso mesmo?
A mãe morreu?
O que você entendeu?
Esta história está começando...
Se você indicar para mais uma pessoa...
E essa pessoa para mais uma...
Aos poucos terá muitas pessoas lendo...
Que tal?
Estrelas são sempre bem-vindas....
Beijos no se 💜
Lena Rossi
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