Capítulo 45
"- O espelho... está partido.
- Sim,eu sei. Gosto dele assim. Faz-me parecer do modo como me sinto. "
Diálogo do filme 'O Apartamento'
Porque estou cansada, esgotada de tudo isso. Eu não sei o que estou sentindo e na verdade a minha vontade era de esquecer que a máfia e a CIE existiu e me isolar. Eu sou extremamente forte, porém eu sei que existe algo frágil em mim. Algo que ainda não sei administrar e talvez nem queira que exista.
- Luna, o que está acontecendo? - Lorenzo diz preocupado.
- Eu não gosto de falar da minha vida, Lorenzo. Dessa maldita vida que tenho! - digo nervosa já enxugando minhas lágrimas.
- É por minha causa? Eu estou te fazendo sofrer? - ele diz.
- Eu tenho uma vida assim desde meus cinco anos, Lorenzo. A culpa não é sua - digo.
- Você está falando da sua vida na máfia? Do seu pai? - ele pergunta sério.
- Sim... - digo.
- Posso te perguntar algo? - diz sem olhar em minha direção.
- Pergunte! - digo.
No fundo eu já sabia o que ele iria perguntar.
- A marca que você tem na perna, eu vi enquanto cuidava de mim. Foi seu pai que fez isso? - ele diz sem graça.
- Você quer saber mesmo, Lorenzo? - digo me levantando.
- Sim, é tudo o que eu mais quero. Quero saber o que aconteceu em seu passado que nos impede de ficarmos juntos? - diz levantando-se também.
Começo a andar pela área, Lorenzo me seguia com o olhar atento a qualquer movimento meu.
- Eu não sei se você sabe como é o treinamento dos jovens em uma máfia - digo de forma séria - Mas na maioria das vezes, as meninas são treinadas mais tarde e não há todo um treinamento físico...
Fico em frente ao saco de pancadas.
- Porém, eu tive o monstro do Dom em minha vida! - Digo dando um soco - Ele nunca foi de seguir as próprias regras que criava.
- Imagino que tenha sido horrível para você - Lorenzo diz evitando se aproximar.
- Eu fui obrigada a assistir uma tortura aos cinco anos de idade. Você sabe o que é isso, Lorenzo? - grito
- O que? Ele não podia fazer isso com uma criança - diz sem acreditar.
- Sim, mas ele fez. E você acha mesmo que ele se importava com tal coisa? - digo - Eu fui treinada de forma mais rigorosa que meu próprio irmão. Tinha que assistir e praticar torturas, matar, lutar e treinar dia e noite.
A raiva e a tristeza me consome cada vez mais, juntos com os socos que são dados por mim no saco de pancadas.
- Sabe como eu era acordada? Com um balde de água fria, e ainda recebia golpes no rosto algumas vezes - grito - Dom me obrigava a acabar com todos aqueles que eram contra a máfia, todos que cometiam um erro. Minha obrigação era mata-los da forma mais fria possível...
Lorenzo permanecia calado com um olhar frio, mas também triste.
- Mas com aproximadamente 12 anos eu simplesmente o desafiei...
- O que ele fez? - Lorenzo grita.
- A marca! Recebi a marca que agora tenho que carregar por toda a minha vida. Uma forma de nunca esquecer o que passei - começo a socar e chutar o saco de pancadas desesperadamente - Sabe o que é receber uma maldita marca dessa? O que é ser torturada por meu próprio pai?
- O..o que? - Lorenzo diz parecendo assustado.
- Viver com esse registro? Lembrar que ele me bateu violentamente? - A cada palavra meu ódio se alimentava e um novo golpe era realizado - Que usou um barril de água para brincar comigo e me desesperar? Por ter me feito quase perder a vida após diversos choques e a única coisa que eu pude fazer era ficar calada e sofrer - Eu não parava de bater e minha mão machucada voltava a sangrar.
- Mas por que não contou a ninguém, Luna? - Lorenzo diz parecendo estar desesperado.
- Por que a vida da pessoa que mais amava estava em minhas mãos - desta vez a tristeza toma o lugar da raiva e eu simplesmente paro com todos os golpes.
- Quem? - ele pergunta aterrorizado.
- Minha mãe. Ele apanhava praticamente todos os dias - digo olhando para o chão.
- Do Dom? Mas isso é proibido em todas as máfias. É uma questão de respeito - Lorenzo diz sem entender.
- Dom não tinha respeito por ninguém, muito menos por nós duas. E por isso ele a matou! - digo.
- Espere ai. Sua mãe foi morta pelo Dom? - ele pergunta.
- Sim, na minha frente, mesmo eu tentando impedir - uma mistura de sentimentos começou a me dominar - Ela morreu para me salvar, pois eu havia me tornado a mira de Dom.
- Mas isso é impossível! - Lorenzo diz começando a caminhar pelo local.
- Impossível por que, Lorenzo? - digo o seguindo - Achava que o tão famoso Dom obedecia suas regras? Pois saiba que não!
Ele tenta dizer algo, mas o impeço e continuo falando.
- Ele conseguiu o que ele queria! Prendeu Pietro, matou minha mãe e me transformou em sua maior arma - grito - Você não deve imaginar como minha vida é. Matar alguém para mim é a coisa mais simples que posso fazer, eu simplesmente não sinto nada.
- Mas você me salvou, Luna? - ele diz tentando me acalmar.
- Por que apesar de todo esse meu lado monstruoso... - começo a dizer - Eu quero permitir que o lado bom da minha mãe e tudo que ela me ensinou continue dentro de mim. E que o mesmo não morra como ela. Por que isso é exatamente a única coisa que permite que ela esteja comigo.
-Eu... Eu sinto muito - Lorenzo diz de forma triste - Ele não podia ter feito isso, Luna. Não! É impossível que qualquer pessoa possa fazer isso com sua própria filha..
- Nada é impossível quando se trata do Dom, Lorenzo. Absolutamente nada - digo.
- Deveriam ter desconfiado e impedido esse monstro! - diz.
- Ele era chefe da maior máfia italiana. Você acha mesmo que alguém ia se importar comigo? Além disso sempre soube manter as aparências.
- Mas você era uma menina, Luna! - grita.
- Uma menina que matava sem piedade a maioria dos homens que Dom ordenava...
- Não importa o que você era capaz de fazer, você foi colocada em risco todas as vezes. Colocada em risco por um homem que todos acreditavam que te protegia.
- Risco? Eu tinha condições de matar Dom, Lorenzo - digo.
- E por que não matou? - ele diz confuso.
- Por que Dom era esperto e fez com que fosse odiada por todos da máfia. Todos iriam vir até mim caso o matasse. Não importa o que dissesse.
- E por que você fugiu?
- Não tinha condições de ficar lá depois que vi ele matar minha mãe. Relembrar todos os dias os momentos que passei com ela naquela casa. Coisas que graças a ele, nunca mais irei vivenciar. Matá-lo era praticamente me enterrar viva.
Lorenzo que estava a andar para e diz:
- Eu queria ter te protegido...
- Como? Você não estava lá, Lorenzo - digo.
- Minha vontade era de ter encontrado Dom e o ter matado por fazer isso contigo - ele diz nervoso.
- Você não podia fazer isso, Lorenzo. Mesmo se nos conhecêssemos você ia ser uma criança na época, não ia poder se defender dele.
- Se eu não fiz nada antes, deixe-me cuidar de você agora, Luna? - ele diz.
- Eu não sei o que estou sentindo por você - digo - Eu nunca me envolvi com ninguém.
- Então vamos descobrir juntos, eu te ajudo a entender tudo isso - diz se aproximando - Me deixa cuidar de você e te ensinar que também é capaz de amar e de receber isso em troca.
- Eu não sou como outra pessoa. Eu tenho uma vida muito confusa, muitos traumas. Isso só irá te atrapalhar.
Ele parece pensar, mas logo seu semblante muda para o de raiva.
- Quer saber! Eu acho que você gosta é do Arthur, como muitos por aqui dizem - ele diz indo em direção a porta.
Vou rápido até você.
- Quem você pensa que é para falar isso? Eu estou sendo sincera com você... - grito - Agora você acha que tem o direito de julgar que exista algo entre eu e o Arthur?
- Você está apenas querendo fugir, não consegue admitir o que esta sentindo - ele diz tentando passar.
Seguro forte em seu braço.
- Quem está fugindo dessa conversa é você. Deixe de ser um idiota e pare de querer deduzir as coisas - digo.
- Luna, eu escutei coisa de mais agora. Eu tenho que pensar um pouco - após ele dizer solto seu braço rapidamente.
- Então vai, só não espere que eu vá tentar me explicar novamente, você que acredite no que quiser - saio de sua frente logo em seguida.
Penso que ele iria se retirar, mas de repente ele me puxa pela cintura fazendo com que me aproxime para perto de seu corpo.
- Eu sou louco por você, desde a primeira vez que te vi, Luna...
Após dizer isso ele simplesmente me beija, de uma forma que nem ao menos sabia explicar.
*****
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