C : 39
N/A: Boa noite meninas. Espero que estejam bem.
Venho agradecer as mensagem de carinho a respeito da morte do meu irmão, li cada mensagem entt agradeço de coração por todo apoio e carinho.
Quem quiser me seguir no insta: @autorayasmimsantos
Mais uma vez obrigada.
Ótima leitura.
...
Há uma névoa ocultando minha visão, impedindo que eu veja a profundidade
de minha dor. Há rochas por toda parte, sinto ao esticar minhas mãos e sentir a rigidez fria contra minha pele.
Estou presa, não consigo sair, não há para onde ir.
A ciência de que a saída está próxima é crível, sei que a liberdade não irá proporcionar o que tanto desejo.
Pois o resultado não é nada mais do que a condenação por sentir tudo o que não deveria.
— Yasmim Santos.
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JÉSSIKA VELARK
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Sebastian não emitiu uma só palavra desde o ocorrido, tampouco me acompanha em refeições, era como se ele não morasse ali, como se eu estivesse completamente sozinha. Faz uma semana e meia que toda essa situação se solidificou, desde então tenho buscado manter a seriedade quando tudo parecia forçar-me a enlouquecer.
Duas noites atrás o encontrei no corredor, houve apenas uma troca de olhar, onde ele foi o primeiro a desviar e se trancar no escritório — naquela fatídica manhã, acordei e ele já não estava, o procurei por todos os cômodos, enviei mensagens que não foram respondidas, ninguém possuía autorização para me dizer onde ele estava e quando pretendia voltar. Deveria estar feliz, deveria agradecer por estar longe dele, eu deveria…mas não estou, e isso era horrendo até para admitir.
Estava acordada desde às três da manhã, devido as luzes que iluminam a propriedade, pude contemplar os primeiros flocos de neve cair, permaneci assim por horas, até a escuridão se dissipar aos poucos e revelar um céu completamente cinzento — viro para o lado esquerdo e pego o celular em cima do pequeno móvel, verifico as horas e consequentemente encaro a data…
— Feliz aniversário, Jéssika — sussurro em completo desânimo, deixo o celular no mesmo lugar e deixo a cama.
Durante o banho me trouxe uma espécie de crise existencial, o tempo pareceu ter passado em uma velocidade absurda, não fazia ideia ou não quis me atentar de fato, todavia, estar presenciando o último mês do ano e consequentemente meu aniversário, tudo pareceu me atingir em cheio, o que me levou a refletir mais do que já tenho feito. Depois de vestir confortavelmente, faço um rabo de cavalo e sigo pelo corredor, a mansão toda estava bem aquecida, conforme descia as escadas pude sentir o cheiro gostoso de café fresco, o que me trouxe um pouco de ânimo, visto que o cansaço era nítido.
— Bom dia, senhora Velark! — saudou uma das funcionárias, que lembro vagamente o nome, entretanto, possuía feições suaves e uma voz carinhosa.
— Bom dia!
— Deseja algo especial para o café?
— Não, obrigada, o café já está ótimo — ressalto, à medida que a xícara me era entregue.
Sozinha na copa, observo a neve cobrindo a propriedade, não demoraria a tudo estar coberto, o que me levou a uma lembrança deveras boa — meus pais amam o natal, por isso, sempre começamos a enfeitar a casa no dia primeiro, passamos quase o dia todo decorando o lado interno e externo da casa, enquanto minha mãe assava biscoitos com gotas de chocolate e fazia chocolate quente e cremoso, tudo era caloroso, repleto de amor e lembrar disso me trouxe saudades.
Devido ao silêncio absoluto de Sebastian, tomei a decisão de não partilhar mais o quarto consigo, por respeito ao seu espaço e luto que parece consumi-lo dia após dia — enquanto me sirvo de um pouco mais de café, recordo-me dos primeiros dias após a notícia breve do falecimento de sua mãe.
A espera para realocarem os restos mortais de Elizabeth para os EUA foi uma espera quase eterna. Viajamos às pressas para a Itália, preparar documentações e provar que aquela mulher que havia sido enterrada como indigente era sua mãe adotiva. Foram doze dias em que permanecemos em um hotel de luxo, e durante todo esse tempo, Velark ficou em silêncio absoluto, mal se alimentava, mal dormia, apenas ficava em um estado inerte, só voltava a realidade quando precisava preparar as coisas do funeral.
Assim que voltamos, estávamos prontos para ir direto ao cemitério, o tempo gélido e céu acinzentado contribuiu para o luto que demorou a sentir e que o devorava de dentro para fora — deixei flores brancas sob o túmulo de mármore negro, próxima a foto pequena, ela era linda, e que infelizmente jamais saberiamos ao menos a causa de seu falecimento. Elizabeth fora posta ao lado de sua falecida irmã, contive o anseio de me sensibilizar com a situação, no entanto era quase impossível, a dor da perda é algo que jamais iremos conseguir levar com naturalidade.
Deixo meus pensamentos e por pouco não grito de susto ao vê-lo diante de mim, coloquei a mão no coração e suspiro, chego perdi o fio da meada. O observo se sentar de frente a mim e servir-se de café, mesmo com o rosto pálido e marcas escuras ao redor dos olhos, ele não deixava de ser lindo e intimidador — a barba estava por fazer e os cabelos haviam crescido consideravelmente.
— Está tudo bem? — pergunto, após longos minutos de silêncio.
— Sim — seus olhos azuis pareciam sombrios.
Assinto sem dizer nada além, tomamos café e ele foi o primeiro a deixar a cozinha, terminei rápido e diz o mesmo, seguindo para meu quarto; minha mãe enviou mensagem para saber o horário estimado que irei chegar, respondo rápido e deixo o celular em cima da cama, escolho roupas escuras e pesadas devido ao frio, deixo tudo sobre a cama e vou tomar um banho quente.
Em uma hora estava pronta, as roupas me cairam bem, jeans preto e uma blusa branca de tricô sobre uma de manga longa por baixo, deixei meus cabelos soltos e fiz uma maquiagem suave, apenas para ocultar um pouco as olheiras, estava colocando o par de botas que chegam a altura do joelho quando ouço duas batidas leves na porta, em seguida Sebastian entra, meio incerto se deveria estar ali ou não.
— Você está linda — elogia. — Está indo para casa de seus pais?
— Sim. Quer ir?
— Não — murmura. — Ficarei aqui. Não esqueci que hoje é seu dia, então…Feliz Aniversário — me estende uma caixinha pequena e vermelha, com um laço preto.
— Obrigada, mas não é necessário presentes — digo receosa.
— É seu dia, então merece — sorri ladino.
Pego o presente meio sem jeito, retiro o lacinho e retiro a tampa, vendo ali o que não acreditaria até então, ainda mais vindo dele, talvez o fato de estar ainda desmemoriado o tornou o homem que deveria ter sido.
— Um carro? — exaspero. — Sebastian, definitivamente não posso aceitar.
— Por favor! Aceite — insiste. — Aceite como um agradecimento por tudo que fez por mim e ainda tem feito, você merece muito além que apenas um mero carro, Jessika, então aceite, por favor!
— O que fiz é algo que qualquer um faria — digo.
— Sabe que não, ao menos não por mim, até porque não tenho ninguém além de você — acaricia meu rosto com cuidado antes de se afastar. — Aproveite seu dia, acredito que estejam ansiosos para te ver.
— Certo. E se te conforta, irei voltar — digo com sinceridade.
— Sei que vai — sorri.
Permaneço parada depois dele sair e deixar a porta entreaberta, encaro a chave com o símbolo de um trident, por fim suspiro e pego a bolsa e saiu antes que meus pensamentos me levem até ele.
No andar inferior apenas verifico se não esqueci nada, ajeito o sobretudo e coloco o cachecol em tom off white ao redor do pescoço, o frio me recebeu assim que deixei a mansão, o veículo estava diante de mim e ele é lindo demais, por gostar muito de carros logo analisei o modelo Grecale Trofeo preto, não contenho a ansiedade, destravo as portas e entro, o cheiro de novo, o interior de couro marrom, deslizo as mãos pelo volante e sorrio.
— Meu Deus! Ele é louco — sussurro.
Sem mais delongas ligo o carro com todo cuidado do mundo, o motor ronca como uma fera, sigo pelo caminho livre de neve e por fim deixo os portões, não tento nem mexer na tela de led para não danificar nada, dirijo com todo cuidado e com uma felicidade que transborda. Não tardou para eu chegar no bairro onde nasci e cresci e que conheço como a palma das mãos — desligo o carro e desço tremendo de frio, corro até a porta e toco a campainha, não demorando mais do que um minuto para eu ver o rosto de minha mãe.
— Feliz Aniversário, querida — me puxa para dentro. — Está linda.
— Obrigada mãe.
— Aquele carro é seu? — sua pergunta já era esperada por mim.
— Não, quer dizer, sim. Sebastian me deu de presente.
— Nossa! É um belo carro, não consigo imaginar o quanto ele vale — brinca. — Venha, eles já estão aqui.
Respiro fundo antes de seguir minha mãe, preparando meu coração para encarar as duas pessoas que foram importantes em minha vida e que perderam o único filho que tinham.
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