C : 26
Teaser maravilhoso que ganhei da Mah_das_rpgs
Quero saber o que acharam . Eu mesma achei perfeito.
Não esqueçam de votar ❤️. Obrigada.
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SEBASTIAN VELARK
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Compaixão é um sentimento qual nunca senti na prática. Observar o sofrimento de Jéssika, o choro sofrido pela perda me foi como um tiro no peito; palavras de conforto não seriam válidas, afinal, eu sou seu karma, o autor de cada gota de lágrima que escorreu por sua face. Culpa pouco sei sobre, e pareço ter desencadeado esse desconforto que embrulha o estômago. Divago por minutos, encarando a vasta cidade, absorvendo o silêncio e o cheiro de café fresco que provém da xícara deixada por minha secretária — a dor de cabeça ainda permanece. Este é o quinto dia em que minha empresa se tornou um alicerce para que Jéssika pudesse usufruir de minha ausência na propriedade, deposito a xícara na mesa próximo ao macbook e encosto a cabeça, massageando as têmporas, torcendo para dor me deixar em paz por alguns minutos pelo menos.
— Com licença! — assinto ainda de olhos fechados. — Senhor. Os acionistas que haviam cancelado acidentalmente o contrato conosco, pediram uma reunião para conversarem para que o contrato seja refeito — informa, de pronto abro os olhos e a vejo entre as portas duplas.
— Marque para as seis.
— Sim, senhor — sorri. — Precisa de alguma coisa? Está se sentindo bem?
— Estou ótimo, pode ir.
A fim de me manter ocupado, ligo o ipad e revido alguns contratos de importação e exportação; a cada minuto a dor aumentava, tirando-me do foco, impedindo-me de trabalhar. Os supostos acionistas enviaram email informando que estariam no horário marcado. Pego o quarto comprimido e tomo junto de água; sinto a visão pouco turva e não me atrevo a ficar de pé, espero normalizar antes de seguir para meus próximos afazeres, preciso analisar o andamento dos dispositivos e colher relatórios.
Faltando cinco minutos, lavo as mãos e encaro o espelho, a palidez e a falta de uma noite de sono completa é evidente, respiro fundo e deixo o banheiro, seguindo até o elevador — conforme subia, a tontura se alastra, busco apoio e meu coração dispara, tento respirar mas o pânico faz com que eu me sente no chão e afrouxe a gravata.
— Droga! — resmungo, piscando várias vezes a fim de enxergar.
As portas se abrem e agradeço por não ter ninguém no corredor, fico de pé com muito esforço e caminho devagar, fazendo exercício de respiração até estar diante a sala de reunião. Entrando todos ficam de pé, faço um gesto para que se sentem conforme sigo até a ponta e me sento, movendo as pastas para meu lado direito, o copo contendo água gelada jazia do lado esquerdo, o pego e tomo um gole longo.
— Queríamos pedir desculpas pelo cancelamento repentino, senhor Velark. Houve apenas um mal entendido, caso concorde, refazemos o contrato, com melhores cláusulas — Zayn diz antes que terceiros.
— Claro. Que isso não aconteça novamente, Zayn. Caso contrário irei vetar suas solicitações — enfatizo, ignorando a dor lancinante.
— É compreensível seu posicionamento — assente. — Não irá acontecer, tem minha palavra.
— Ótimo. O contrato será refeito e enviado por email. Minha secretária cuidará disso.
— Obrigado.
— A reunião está encerrada — me levanto com certa dificuldade.
— Está se sentindo bem, Sebastian? — Cam pergunta.
— Sim — chamo Victória, qual entra na sala em menos de três segundos. — Providencie o novo contrato e mande diretamente para Zayn ainda hoje — ordeno.
— Sim, senhor.
Os acompanho até a saída. Por não haver trabalho opto por ir para casa, tinha de descansar antes que algo pior aconteça, peço ao segurança para buscar meu carro e aguardo, visto que minhas coisas me foram entregues. Assumo o volante rapidamente, observo o tempo fechado e torço para chegar o mais rápido possível, ao menos antes da dor voltar e me impossibilitar por completo.
No caminho minhas mãos tremiam ao segurar o volante, ofego algumas vezes, o enjoo me faria vomitar caso tivesse comido algo decente, em todas as tentativas feitas vomitei minutos ou segundos depois de ingerir — ativo o piloto automático e procuro o celular, não conseguiria conduzir, envio uma mensagem breve, talvez rude para meu motorista. O carro segue por mais um quilômetro e para no posto de gasolina, desço apenas para assumir o banco do passageiro, encosto a cabeça e fecho os olhos, grunhindo pela dor maldita e náusea. Hiroshi não tarda a chegar, o ouço entrar, sinto o carro se movimentar, a todo momento permaneço de olhos fechados. Isso não era nada normal.
— Senhor? Chegamos — Hiroshi informa.
Abro os olhos e desço quase aos tropeços, com calma subo degrau por degrau, agradecendo por estar em casa. Não vejo Jéssika, muito menos ouço sua voz ou seus passos, sigo para meu respectivo quarto, o cansaço faz com que os possíveis sintomas de algo que ainda desconheço retornem com mais força e violência — no banheiro removo as roupas, tensionando os músculos a fim de aliviar a tensão e ligo o registro, deixando a água fria tomar meu corpo por inteiro; após me lavar deixo o box de vidro escuro, envolvendo uma toalha ao redor do quadril, busco apoio na porta, ergo o rosto e a vejo, olhando para mim, os braços cruzados e postura em total alerta.
— O que faz aqui? — resmungo.
— O vi chegar — responde com indiferença. — Não parece bem.
— Estou bem, eu só… — minhas palavras foram interrompidas pela visão que escurece tão rápido quanto pude prever, não sentia o chão sob meus pés. Caiu no chão, batendo a cabeça, levando-me em um pré desmaio à medida que a dormência para a fazer moradia.
— Meu Deus! Sebastian! — a voz alheia vinha tão distante e abafada, consigo sentir suas mãos em meu rosto, quis responder, porém algo me impedia. — ALGUÉM ME AJUDA! — sabia que gritava, pois seu rosto estava corado, seus dedos tremiam ao segurar meu rosto entre as mãos.
— E-eu estou bem — pisco diversas vezes, me concentrando no piso frio antes de me levantar.
Dispenso os seguranças que chegaram para me dar um certo auxílio, me desvencilho dos braços de Jéssika, me apoiando no móvel e por fim me ergo até estar totalmente de pé, para meu alívio a toalha apenas afrouxou.
— Você não está nada bem — tenta se aproximar.
— Fique distante, por favor! — peço, cansado.
— Vou te ajudar a se vestir, precisa de um médico urgente. — insiste.
Quis rir ao notar a preocupação, a maneira como mexe em minhas coisas, separando roupas confortáveis sem se importar com meu suposto pedido que devia ter soado como ordem.
— Consigo me vestir sozinho — aviso, fingindo não ver o rubor que tomou sua pele amorenada.
— Que bom, então se vista logo.
Enquanto me visto, observo-a de costas, totalmente atenta e impaciente. Como se fosse capaz de me segurar…tenho o triplo de sua altura e peso, mas era engraçado vê-la se esforçar, ainda mais por alguém que não mereça.
— Peça a governanta para que chame o dr. Denyel — comunico, me deitando nos lençois frios.
Jéssika assente sem objeções, deixa meu quarto e nisso encaro o tento, um incômodo toma meu coração. Depois de anos, hoje é a primeira vez que sinto o gosto do medo. O quão amargo é a sensação.
— Ela já está entrando em contato com ele — mal a ouço dizer tais palavras, meu coração dispara e o ar começa a me faltar. — Sebastian?
Sento de modo abrupto, o desespero tomando conta, busco respirar, o pânico anseia de devorar, meu corpo todo treme o suficiente para que minhas ações sejam vetadas, dando passagem para Jéssika subir na cama e tentar me segurar.
— Sebastian? Olhe para mim — pede.
Me atento ao seu rosto, não percebo minhas mãos puxando-a para mais perto, inalo seu cheiro doce, de pronto retomo o controle.
— Ficará tudo bem — diz, totalmente confiante, procurando meu olhar, qual era tão distante e disperso. — Sabe o que é isso? — nego. — Isso é uma crise de ansiedade, pelo visto é a primeira vez, não é?
— Sim.
— Vou trazer um copo d'água. Não levante, fique assim — pede.
Era estranho sentir o conflito interno vindo de modo desenfreado, sem que eu possa prever e encontrar um meio de bloquear isso — me vejo impossibilitado por mim mesmo, chega a ser frustrante.
— Sua água — Jéssika me tira dos devaneios.
— Obrigado — pego o copo. — Por quê está dessa forma?
— De que forma?
— Preocupada. Assustada — digo. — Achei que me odiava, que sentia nojo e queria que eu morresse, e bom, talvez seu desejo esteja se realizando — não era minha intenção maltratá-la, apenas sigo curioso e confuso demais.
— Não sou uma sociopata igual a você — retruca, completamente arrogante. — Acredite, não queria me preocupar. seu babaca. Mas sigo aqui, com medo de que isso que sente piore.
Nada digo, assim ficamos por certa de quinze minutos até eu endireitar a postura ao notar vozes distintas vindo do corredor, logo tenho a visão do doutor.
— Posso entrar, senhor Velark?
— Entre.
— Com licença — entra, logo vendo Jéssika. — Boa tarde senhora Velark.
— Boa tarde, fique à vontade. — o mais velho puxa uma cadeira e se senta, olhando fixamente para mim.
— Diga-me o que tem sentido, por favor!
— Muitas dores de cabeça, tem semanas. Remédio algum resolve — digo.
— Algo mais fora essas dores?
— Muita náusea, sonolência extrema mas não consigo dormir. Fico nervoso de maneira repentina, mas dura pouco, parece que todas as emoções e sentimentos se misturam gradativamente.
Fico quieto. Denyel pega um bloco de notas junto a uma caneta, ajeitando os óculos no rosto e volta a olhar para mim.
— Sente a visão ficar turva? Vômitos?
— Sim — seu olhar intercala entre mim e minha esposa. — Antes de lhe dar um diagnóstico exato, precisamos fazer alguns exames, está de acordo?
— Não — sou rápido na resposta.
— Sim, ele fará — Jéssika toma a frente.
— Ótimo. Pode ir ao hospital amanhã?
— Sim — Jéssika responde novamente.
— Por hora, peço que descanse e me relate se outro sintoma surgir até amanhã — fica de pé. — Evite bebidas alcoólicas.
Assinto e o mesmo se despede e é acompanhado por Jéssika até a saída.
— Droga! — desço da cama, tirando a camisa de algodão, jogando-a na cama, procurando pelo maço de cigarro e o isqueiro.
Sigo para sacada, observando um pouco a chuva que começou lenta, o cheiro de terra molhada me invade, acendo o cigarro, dando uma longa tragada, lembranças recentes invadem minha mente tão caótica, arrepiando minha pele.
— O doutor me pediu para ficar de olho em você — ouço-a, mas não me viro. — Esses sintomas podem causar convulsão, pedi para que os remédios sejam comprados.
Não respondo, continuo fumando, ciente de que ela vinha até mim.
— Parece que tudo está sob controle.
— Não seja um idiota, Sebastian.
— Okay — apago o cigarro.
Infelizmente ela não é a única que está preocupada, de certa forma também estou. Pensar na morte nunca é agradável.
— Irei dormir aqui.
— Ah é? Pensei que quebraria o acordo, como pareceu ter feito.
— Não veio para casa há uma semana, não tem o direito de opinar — passa por mim. — Volto ao anoitecer, descanse, tente dormir.
A porta foi fechada, nisso volto a me deitar, usando o barulho de chuva para acalmar meus sentidos, permitindo que o sono viesse devagar e sorrateira. Fecho meus olhos e relaxo, adormecendo rapidamente, tendo apenas a escuridão como companhia.
Ao menos por enquanto.
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