C : 24
N/A: VOLTEI!!!!
Vou explicar mais um pouco o motivo da minha ausência e a demora absurda nas atualizações.
Aconteceram uma série de coisas em minha vida. Fui mandada embora com dengue, a pior coisa foi ficar de cama com dores e febre alta. Mas estou bem melhor, todavia precisei resolver situações pessoas e pouco tempo tive para escrever.
Mas hoje trouxe um cap curto para vocês...terei mais tempo conforme pego seguro e toda essas coisas.
Peço perdão a todas ( os ) desde ja.
Boa leitura. ♡
Sou mestre na arte de falar em silêncio.
Toda a minha vida falei calando-me
e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra…
— Fiódor Dostoiévski.
⁛
SEBASTIAN VELARK.
⁛
Não há um meio de saber como será nossa vida ao nascermos. Da mesma forma que não escolhemos vir ao mundo, também não escolhemos quem chamaremos de mãe e de pai.
Sebastian estava fadado à dor e à miséria desde o ventre de Suzanna White; uma mulher de estatura média, cabelos longos e castanhos, porém mal cuidados, em meio aquela maldita vida, acometida a uma perdição da qual não faz o mínimo esforço de se ver livre, engravidou.
O nascimento da criança foi cercado de turbulência, a mulher entrou em trabalho de parto dentro de uma das piores biqueiras de nova york, com usuários caídos pelos cantos decrépitos e vendedores sem se importarem com a viciada gritando de dor e pedindo por ajuda. Dentro da ambulância os paramédicos fizeram o parto que ocorreu de madrugada, ao chegarem ao hospital, o bebe foi levado para o setor neonatal e Suzanna para um dos quartos para receber cuidados.
Durante os primeiros dias, enfermeiras lutaram por horas a fio para manter o menininho vivo, em exames feitos constou o nascimento prematuro, desnutrição e o alto nível de entorpecentes no organismo tão novo — policiais foram chamados, juntamente com a assistência social; Suzanna chorou e se desesperou, pois negou-se a delatar o companheiro, pelas agressões que sofria e pelo uso desenfreado de cocaina e heroina.
O nome dado foi em homenagem a um pai ausente, olhar para o garotinho pálido de cabelos ralos porém escuros, envolvidos na coberta do hospital local trouxe um sentimento materno raso, a mulher era jovem demais para ser mãe, todavia queria estar com ele, ainda que para as autoridades isso seria uma péssima ideia.
Meses depois, em uma casa caindo aos pedaços, a morena estava jogada no chão, apagada pela droga que injetou na veia, o bebe chorava por horas, faminto, sujo, em um desespero que não conhecia, mas que já sentia desde o ventre da mulher que devia amá-lo e protegê-lo. O pai que até então estava sumido entre os bares insalubres, entrou na casa cambaleando, soltando xingamentos pelo choro incessante do bebe, encontrando Suzanna despertando atordoada, e foi neste momento que objetos foram quebrados, móveis apodrecidos jogados nas paredes frágeis, e as ordens proferidas com ódio — Sebastian havia parado de chorar, a fome o embalou em um sono profundo, dando paz aos pais que já aguardam a próxima leva de drogas para se perderem em suas próprias mentes.
Ao completar um ano de vida, tudo ainda seguia um curso triste e doloroso. Sebastian era largado sozinho por horas, às vezes por dias, a escuridão era um de seus maiores inimigos, a fome o fazia comer o que encontrava pelo chão, seja sujeiras ou pão mofado — qualquer coisa que sanasse a dor no estômago.
Com dois anos, presenciou o pai espancar a mãe enquanto gritava e xingava de palavras horríveis, quando terminava com ela, ia até ele, queimando-o com cigarros, o forçando a beber álcool, divertindo-se com a ingenuidade e facilidade de coerção, ameaçando matá-lo de diversas formas possíveis e desumanas.
O medo era cada vez mais conhecido, os esconderijos eram benéficos, dificilmente era encontrado, já que com três aninhos percebeu que o espaço debaixo do tapete que cobria um buraco podia comportar seu corpo mesmo encolhido — assim ele sobrevivia, aprendia o que podia apenas para comer, a magreza era preocupante, todavia, não havia ninguém que pudesse salvá-lo.
Com quatro anos foi estuprado pela primeira vez. Seu pai sempre foi um monstro, e naquele ato conseguiu destruir mais uma mente tão frágil e inocente. Suzanna tentou impedir, no entanto o tiro acertou sua cabeça antes que o lapso de consciência a fizesse contar aos vizinhos o que ele estava fazendo com o próprio filho; não havia meios de medir tamanha dor, o quão grande era a destruição de seu corpo e mente.
Sebastian nunca proferiu uma só palavra e isso perdurou por mais tempo.
Aos cinco anos observou silenciosamente o mais velho sendo executado por agiotas que já tinham prometido ceifar sua vida caso o dinheiro não fosse pago; o desgraçado tentou vender o filho em troca de continuar vivendo, conquanto, os homens nada disseram, apenas descarregaram o pente das armas até que o sangue desse cor ao piso podre e o que mais pudesse estar pelo chão; antes dos criminosos deixarem a casa, o líder olhou para Sebastian e se foi.
Vizinhos chamaram a polícia quatro dias depois, ao sentir o cheiro de carne decomposta e entrar na casa, deparando-se com uma cena traumática e o menininho dormindo no sofá sujo, coberto por um lençol.
A ajuda veio tarde, psicólogos tentaram conversar, tirar qualquer palavra dele sobre o que eles sabem que acontecia, nenhuma palavra veio dele. Nem mesmo quando foi para o orfanato, onde faria muito do que via pela tv e desejava poder participar. Ter amigos, ir à escola, qualquer rotina normal que seus pais jamais quiseram lhe inteirar.
[...]
Em uma manhã cinzenta, as crianças acordaram cedo, eufóricas por ser o dia de visitas, a maioria ali ansiava por uma família, já Sebastian, aos seis anos fazia tudo de forma metódica, ignorava a ajuda das freiras para banhar-se, jamais permitiu que lhe tocassem, repudiava tal ato e elas o respeitaram, lamentando no olhar a vida sofrida do garoto. O jardim era o lugar onde passava horas a fio, os lumes azuis observando as folhas das árvores sendo tocadas pelo vento frio, o sol mal aquecia, mas era bonito ver o contraste do dourado com o verde profundo.
— Oi. — uma voz suave e melodiosa soou perto, Sebastian virou o rosto por segundos, apenas para ter o vislumbre a quem aquela voz pertencia. — Posso me sentar ao seu lado?
Não houve resposta, apenas um leve espaço no pequeno banco para que aquela mulher bonita e bem vestida pudesse se sentar.
— Pode me dizer o por que está aqui sozinho? — sem respostas. — Você não fala? — a mulher sorriu. — Sou Elizabeth Velark. — anunciou. — As responsáveis por você me disseram seu nome, espero que não fique chateado, achei lindo, combina com você. — elogiou esperançosa por tirar ao menos uma palavra do garoto.
— Gostaria de ser meu filho? — perguntou nervosa, os olhos verdes pouco marejados. — Adoraria ser sua mãe. Te dar uma vida maravilhosa e feliz. Perdi um filho e isso me abalou profundamente, mas tenho uma filha, o nome dela é Emilly. Gostaria de ter uma irmã?
De modo silencioso o mesmo assente, tirando um sorriso largo daquela mulher e um choro de alívio.
Era uma nova etapa, qual não estava preparado, mas estava curioso para saber se a vida pode ser doce depois de experimentar tanto amargor.
A mansão encheu os olhos do menino, jamais pensou que aquele lugar repleto de riquezas seria seu novo lar. Elizabeth observava cada mudança de expressão alheia, preocupada com o fato dele ainda não ter dito nada, porém a curiosidade brilhava nas orbes azuis.
— Irei levá-lo até seu novo quarto. — ouviu a mais velha dizer. — tudo aqui também é seu, espero que sinta conforto e amor em breve.
Sebastian mantinha distância ao seguir a mulher, seu marido nada dizia, apenas deixou que a esposa cuidasse de tudo e seguiu para o escritório.
O quarto era imenso, não continha tanto, mas o suficiente para que o menininho respirasse fundo, passando pela porta com certo receio.
— Quero que decore do seu jeitinho. O que quiser irei fornecer, tudo bem? — diz suave. — Espero demais que seja feliz aqui, Sebastian. Que em algum momento você me veja como mãe e também como amiga.
Assentindo tirou a blusa, dobrando e deixando na cama bem arrumada e macia, encarou cada centímetro do seu lugar, deixando a mente vagar para o pesadelo que tentava esquecer a todo custo. A porta estava aberta, ali sua nova irmã observava.
— Você é meu novo irmão? — perguntou com curiosidade. — Não sabe falar? — o sorriso foi amistoso, a menina sentou na cama e o olhou. — Seremos melhores amigos, tá bom? Sei onde os doces ficam. — tirou uma barra de chocolate do bolso da blusa. — presente de boas vindas. — Sebastian pegou incerto e deitou na mesinha ao lado da cama. — Cuidaremos um do outro sempre, essa é a regra.
Emily se despede e o deixa sozinho, quieto os dedos seguraram novamente a barra de chocolate, não abriu, apenas devolveu quando Elizabeth apareceu para ofertar algo para comer.
[...]
A adolescência foi acometida a uma série de dores de cabeça. Sebastian arrumava brigas na escola, já fora expulso por diversos motivos — Elizabeth tentava conter o marido sempre que ambos brigavam, entretanto, as discussões viraram agressões, Sebastian por muito não reagia, mesmo já ferido.
— Ellie. Ele precisa entender, isso não é atitude de homem de honra. — Renneé exclama, ofegante, as mãos trêmulas pela raiva. — É a sexta vez no mês que ele banca o vagabundo, e que seja a última. O meu sobrenome não será jogado na lama por conta dessa rebeldia.
A matriarca assente com os olhos marejados, aguarda a saída do marido para se aproximar do filho, tocando o rosto ferido.
— O que houve dessa vez? Hum? — não recebeu resposta. — Sebastian, sei que eles provocam você, apenas tente filtrar isso. Não perca a cabeça, sabe que Renneé não aprova. Vá tomar um banho e tome remédio para dor, não esqueça que eu te amo.
O moreno apenas deitou a cabeça no ventre, fechou os olhos e tentou dormir, naquele momento, Elizabeth sentiu o coração aquecer, era a primeira vez que Sebastian permitia toque, permitia carinho — o choro silencioso de felicidade escorreu pela face da senhora Velark, pois mesmo envolto em um sonho conturbado, Sebastian murmurou:
— Eu te amo, mãe.
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