C : 22


N/A: Mais um capítulo pra vcs.
Espero que tenham gostado.

Desejo uma ótima leitura.

Até o próximo cap.

Obs: Quem quiser entrar no grupo do wpp, me chame no direct que enviarei o link. ♡

Não há nada mais solitário do que o
interior de sua própria mente.”
— A Biblioteca da meia noite.


SEBASTIAN VELARK


O jantar nos foi servido, Jéssika exalava ódio e repulsa, enquanto isso me sinto triunfante ao estar em vantagem. Servi mais do vinho para ela visto que não toquei na minha, estava com dores e tento disfarçar o máximo que posso.

— No que está pensando? — pergunto. — Consigo ouvir nitidamente as engrenagens rodando descontroladamente em sua cabeça.

— Estou pensando em como te matar discretamente. — sorriu ladino.

— Desejo sorte para isso. Muitos tentaram e não obtiveram êxito. — pego a taça contendo água gelada e bebo um pouco. 

Seu olhar suavizou com minha suposta confissão, ainda sim havia foto nas íris castanhas. Por incrível que pareça, passei a ser mais sincero do que pretendia essa noite. 

— É sério?

— O que!

— Que já tentaram te matar? 

— Sim. — poderia perguntar sobre qualquer coisa, porque inferno quer saber disso?

— É o que dizem. Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades¹. Mas no seu caso trouxe apenas desgraças, não é? — crispou os lábios. Não havia tocado no prato desde que havia chego. 

— Escolhas interessantes de palavras. — desdenho.

O ocorrido foi há anos, no tempo em que fui irresponsável. Ser adotado não exime meus problemas antigos e principalmente os futuros.

— Mas então. O que aconteceu com sua irmã?

— Pensei que não quisesse saber sobre mim, ou minha vida. — pontuo, franzindo  o cenho pela dor de cabeça parecer aumentar.

— Já que vou me livrar de você apenas quando morrer, é justo que eu conheça meu inimigo. — respondeu firme.

Assinto, ajeitando a postura. — Ela foi atropelada por um motorista bêbado na véspera do meu aniversário. 

Não era uma conversa agradável, aliás nem tinha como ser. A olho minuciosamente, um rubor suave tomava sua face, algo a incomodava, parecia lutar consigo mesma para dizer algo.

— Sinto muito por sua perda. 

— Não é preciso, ainda sim agradeço. 

O clima antes repleto de alfinetadas que partia dela, deu lugar a algo fúnebre e sombrio, visto a situação iminente era justo. 

— Onde ele está? — murmurou, a voz embargada e lumes marejados.

— Onde está quem? — questiono, sabendo de quem se trata.

— Não seja ridículo, sabe muito bem de quem estou falando. 

Pondero responder, poderia simplesmente negar, porém, independentemente do que aconteça, sei que sua raiva não irá diminuir, que logo logo despejaria tudo em mim sem temor algum.

— Venha. — ordeno, ficando de pé. Jogo algumas notas na mesa antes de seguir para sair com ela em meu encalço.

— Para onde vamos? 

Dispenso as despedidas do gerente, detestava bajuladores. Sem detestei. Aguardo o motorista trazer o carro, massajeio as têmporas a fim de diminuir as pontadas que pouco tiram meu ar. 

— Vou levá-la até ele. — respondo.

Entramos no carro e dei partida sem esperar que pusesse o cinto de segurança, devido ao horário as ruas já estavam mais tranquilas para trafegar. Parei no meio fio ao lado do cemitério.

— Espere aqui. — desci, batendo a porta.— Boa noite. Sei que está tarde e o horário de visitas já foi encerrado, mas pode me ceder alguns minutos para uma visita? 

O senhor de meia idade larga os papéis que organizava, ajeitou os óculos e sorriu ao ver Velark. 

— Quase não o reconheci, Sebastian. Claro, fique a vontade. 

Voltei já vendo-a encostada no capô, evitando o choro que ameaçava vir. 

— Vamos.

Passamos por fileiras e fileiras de túmulos até chegar ao dele, ouvia a respiração pesada, o choro e a ansiedade que a consumia mais do que o luto. Os seguranças nos deram privacidade, não foi difícil encontrar a lápide de mármore cinza, a foto dele junto às flores; não me aproximo, me afasto para que ela possa ter o momento que tirei dela. Mais um dentre tantos outros.

Fiquei quieto, ouvindo seu choro dolorido, os sussurros, os pedidos de perdão, seus dedos deslizam sobre a foto do garoto, tremia conforme o sentimento se alastra, dominando-a. Ali me recordo do que fiz ao homem que matou minha irmã, não foi diferente com o que fiz a Hector, todavia, a diferença era que ele demorou mais para morrer.

Desperto de meus devaneios a tempo de Jéssika ficar de pé com certa dificuldade, automaticamente e involuntariamente a seguro, franzindo o cenho por um ato que até então pensei não ter.

— Não toque em mim. — desvencilhou-se de mim, se afastando. — Vamos embora agora. — ordenou, indo na frente.

No retorno não tinha nada a ser dito, por ela ou por mim. Afinal, a culpa era minha. Pedir desculpas não iria apagar o que aconteceu.

Ela não esperou o carro ser desligado ao parar na garagem, saiu batendo a porta sem olhar para trás, soltando um palavrão faço o mesmo, precisando de remédios que ao menos me faça dormir por uma noite inteira. 

Pensei diversas vezes em não ir atrás dela, mas já estava subindo as escadas, seguindo até seu quarto, abro a porta e a encontro chorando, deitada na cama ainda vestida.

— Jéssika. — a chamo.

— Não quero conversar com você, muito menos olhar para você. — diz sem se virar, encolhendo-se um pouco mais. — Apenas saia e me deixe em paz. — pediu.

Uma pontada em meu feito diante aquilo deixou-me com um sentimento que desconheço. Deixo o cômodo indo para o meu, o incômodo crescendo em meu peito, acabo por ignorar a dor e os remédios e encher o copo com conhaque e acender um cigarro.

Será mais uma noite extremamente longa. 

[...]

— Estes sentimentos de preocupação, culpa, proteção, geralmente vem de pessoas que se importam com outras, Sebastian. — Madson diz. — Amor, paixão também. — enfatiza. 

— Não estou apaixonado por ela. — ressalto.

— Não foi isso que eu disse, quem está dizendo isso é você. — retruca. 

Estávamos em sessão a vinte minutos, meu cansaço me deixava devagar, sentia o corpo todo tenso ao ponto de não conseguir fazer sequer um exercício físico nos primeiros minutos do amanhecer.

— Porque se nega tanto a ver? É compreensivo que sinta desconforto por essa avalanche de novas emoções, entretanto, não é ruim senti-las. Volto a mencionar, não é pecado amar alguém. Faz parte da vida, Sebastian, ninguém está imune a não sentir nada. Mesmo que repudie, ainda estará lá, acontecendo naturalmente até ceder e aceitar. 

Passo as mãos pelo rosto, soltando o ar devido a maldita dor que me acompanha todos os dias, pressiono a nuca totalmente desconfortável.

— Sebastian? — ouço o chamado distante. — Está sentindo dor?

— Sim. — me forço a responder. — Muita. 

— Vou chamar uma ambulância. — pegou o celular.

Tento impedi-la mas a dor já me consumia, me deixando inconsciente sobre o divã.

Acordo um pouco atordoado, minha visão estava turva, mas reconheci o quarto de hospital, o cheiro pungente de éter. Me sento na cama, removendo os acessos, descendo da cama…não iria esperar pelos médicos então opto por sair e nisso ignoro a enfermeira me chamar diversas vezes. Havia apagado por quase quatro horas, a dor sumiu, e espero que fique assim por um bom tempo.

Volto ao consultório apenas para pegar meu carro e ir para empresa, no caminho ditei algumas ordens a minha secretária. 

Em quinze minutos já estava entrando no prédio, entro no elevador e pressiono o botão do último andar, encosto devido a tontura e ao enjoo, noto manchas de sangue no paletó, certamente devido às agulhas que tirei e não estanquei com um algodão — tinha que ver o que estava acontecendo comigo, mas não agora. Isso pode esperar. 

— Senhor Velark! — saudou. — Tudo se mantém em perfeita ordem. — informou. — O presidente das empresas Seven na Coreia do Sul entrou em contato conosco e deseja conhecê-lo.  O seu dispositivo foi muito bem elogiado pelo senhor Kang. 

— Certo, envie um email para marcar uma reunião.

— Farei isso. — bloqueou a tela do ipad. — trarei remédios para o senhor, e um terno limpo, com licença. — indicou a mancha já seca de sangue.

Sozinho encosto a cabeça no encosto da cadeira, questionando de como tudo tem saído do controle, mesmo tentando evitar que isso de fato aconteça. 

[...]

Não esperava encontrar Jéssika na sala, a lareira estava acesa, uma manta xadrez cobria suas pernas, um livro estava aberto em seu colo, segurando uma taça de vinho. Deixei minhas coisas em cima do aparador e tirei o paletó, sigo para a adega e talvez tenha notado minha presença, porém não fez a mínima questão de dizer algo. 

— Ligaram do hospital. — sua voz soou indiferente, quase rude.

— E? — fecho a garrafa de uísque irlandes.

— Nada. Saber que estava lá não me deixou surpresa, mas saber que estava em uma consulta com uma psicóloga, isso sim é surpreendente. — sorriu, virando a página. — Não surtiu efeito ao que parece. — sorriu de novo.

— Não teste minha paciência. — a advirto, tomando da bebida, decidido a tomar um banho e trabalhar. 

— Está nervoso? — fechou o livro, olhando para mim como se quisesse me matar, e de fato ela quer. — Me pergunto como alguém como você vai ao psicólogo, tirando eu, Madson também vive para contar história, tipo, como isso funciona? — levantou do sofá, engulo em seco pela camisola de cetim branco frente única, sua pele amorenada era quase hipnótica em contraste com as chamas vindas da lareira, os cabelos negros estavam maiores, as mechas onduladas cobriam a curvatura dos seios devido ao decote nada decente. Ela está fazendo de propósito, com certeza.

— Melhor ir para seu quarto. — ressalto. 

— Faz isso você, vou ficar aqui, lendo, bebendo e fingindo estar em uma pousada luxuosa, ao invés de presa nessa droga tendo você como meu carcereiro. — alfineta. — Aliás, avisei que podiam te deixar morrer, mas infelizmente não fizeram isso, uma pena.

— Que esposa adorável. — ironizo, deixando o ambiente.

No banho, enquanto a água escorre pelo meu corpo, apoio as mãos na parede, a dor volta a enrijecer meus músculos, deixando minha pele quase febril mesmo a água estando gelada. Termino antes do previsto, enrolo a toalha em volta do quadril e volto ao quarto, tomando três comprimidos de uma vez  para o efeito ser mais eficiente — pego um cigarro da carteira e me sento na poltrona, tragando da fumaça, sentindo preencher meus pulmões. De fato as coisas iam de mal a pior, queria sentir raiva, porém, nada vem, apenas um relaxamento estranho, uma calmaria que nunca tive na vida. 

Apago o cigarro ainda pela metade ao ouvir um barulho vindo do corredor, abro a porta e vejo Jéssika deitada no chão perto do quarto, rindo e balbuciando palavras desconexas. Ah, que ótimo.

— Jéssika. — chamo, sem me importar de estar usando apenas a toalha.

— Inferno. O que foi?  — continuou estirada no chão. — Não bebi tanto, essas malditas escadas. Por que caralhos você fez isso? Quem construiu essa droga de lugar? 

— Talvez tenha sido eu? 

— Tudo é você. — choramingou. — Porra, não podia ter sido sei lá, o arquiteto Montrose W. Morris? 

— Se está se referindo à mansão construída em 1899, da época da idade dourada, ele é meu.

— Ah, sério? Vá se foder, Sebastian. — começou a chorar. — Está em todo lugar, isso é uma droga. Aquela porra custa 60 milhoes. Como caralhos você…

— Pelo fato de poder e ter?! — completo.

— Cala a boca. 

A ajudo a ficar de pé, a mesma se desvencilha de minhas mão e entra no quarto, virando para mim e nisso seu rosto aquece ao me mirar de cima abaixo. 

— Te odeio. — bate a porta na minha cara logo em seguida. 

— Não é a única. — murmuro.

Me visto rapidamente e sigo para o escritório onde fico até às cinco da manhã, totalmente cansado.

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¹ ref ao filme Homem Aranha.





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