C : 2
O que eu fiz não foi por prazer sexual. Mais do que isso, trouxe-me certa paz de espírito.
— Andrei Chikatilo.¹
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A reunião havia sido demorada pelo simples fato de termos a conclusão de que meu container havia sido extraviado, seguindo para o Brasil, com uma equipe trabalhando arduamente para recuperar, não havia muito que ser feito ali, meu retorno aos Estados Unidos seria dali algumas horas, deixando a empresa sigo para o hotel no qual estou hospedado, afrouxo um pouco a gravata e abro três botões da camisa social, observo Tóquio pela janela do carro, o céu escuro anunciando uma chuva que não tardaria a cair — no hotel onde estou hospedado, adentro o quarto seguindo até a adega onde sirvo uma quantidade generosa de conhaque e me sento no sofá, observando a cidade, a falta de quietude trouxe consigo ansiedade, a ânsia de ter aquela mulher para mim causava-me uma espécie distorcida de euforia.
Sempre me considerei um homem convicto, fazendo do foco uma prioridade, tanto quanto o controle que exerço sobre tudo que faço. Ao tê-la em meu campo de visão foi como um bálsamo, um acalento aos meus desejos sombrios e desumanos — imagino-a assustada, olhando para mim com medo e pavor enquanto a tomo contra sua vontade...porra, a minima visualização deste momento me deixou excitado, afasto os pensamentos rapidamente, tomo um pouco da bebida e relaxo, em breve a terei somente para mim, e não haverá nada que possa tira-la de mim, nem mesmo aquele namorado que vi em certas publicações nas redes sociais. Desbloqueando a tela do ipad observo as mensagens trocadas pelo casal, não havia sido difícil hackear o celular dela, conforme leio a ganância queima em meus olhos, Jessika era demais para um homem como esse tal de Hector, fiz questão de saber sobre ele, o que faz ou deixa de fazer, seus propósitos e etcetera, todavia, não encontrei nada suspeito, ele definitivamente era um homem retratado em livros românticos e cheios de frescura.
Patético, consto, sorrindo em demasia largando o aparelho ao meu lado, será interessante ver o que poderei fazer com ela.
Devido a diferença de fuso horário, noto que Jessika estava para sair do trabalho fora do horário costumeiro, eram por volta das sete e ela está para sair agora, às dez e vinte e cinco da noite, o homem contratado por mim esperava um sinal, então espero.
Ela está saindo, senhor [ 22:37 p.m ]
Pegue-a. [ 09:37 a.m ]
Segui para o banho na expectativa de chegar em solo americano e meu animal já esteja à minha espera.
O retorno havia sido quase uma eternidade, a observei, pois dei ordens explícitas para onde ela deveria ser levada, durante as horas em pleno voo, segui com meu trabalho mas também fiquei de olho nela dopada na cama, na câmara subterrânea que construi justamente com este intuito e finalmente está sendo usado pela primeira vez — no desembarque fui recebido por uma chuva torrencial, o carro já aguardava e o horário não era de meu conhecimento quando tenho algo muito importante a tratar.
Ao chegar sigo diretamente para a câmara, descendo alguns degraus e segui pelo corredor estreito até parar diante da porta de aço, inseri minha digital e a porta foi destravada, entro e a luz se acende, pela parede de vidro temperado a vejo, os pulsos e tornozelos amarrados, os cabelos cobrindo o rosto ainda adormecido, havia ordenado que a mantivessem sedada até minha chegada, portanto, puxo uma cadeira e ali me sento, observando atentamente, pensando se a desperto ou espero que o faça espontaneamente, entretanto a ansiedade e euforia me mantive entretido com pensares um tanto vivido sobre como seria dali em diante.
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JESSIKA SCARLET
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Desperto confusa e atordoada, pisco várias vezes até minha visão adaptar-se com a maldita claridade, pânico tomou conta ao fitar o ambiente, eu estava praticamente dentro de uma caixa de vidro, tento buscar na memória o ocorrido, tudo era vago e desconexo, lembro-me de ter saído do trabalho tarde, havia dispensado meu namorado, ele quis me buscar e eu neguei de imediato pois conseguiria chegar em casa — agora, lamento por simplesmente não ter aceito. Dor irradia por meus pulsos e tornozelo, as cordas estavam apertadas, não faço a menor ideia do porque fui sequestrada, lágrimas escorriam por meu rosto, procurando por algo ou alguém aí o vejo. sentado de modo imponente, os braços fortes cruzados contra o peito largo, os lumes paralisados em mim, não se moveu um centímetro, engoli em seco, ainda que fosse uma situação angustiante, tento manter a calma mesmo que minha voz tenha denunciado todos os sentimentos negativos que estou sentindo.
— O que está acontecendo? — A pergunta rápida e trêmula pareceu não afetá-lo.--- Quem é você?
Sua figura era intimidadora, não sei seu nome mas sempre que o via entrar na cafeteria pedia para outra garçonete atendê-lo, me recusava pelo fato de sentir nada além de medo, infelizmente me esquivar dele não surtiu efeito já que estou aqui e ele continua num estado quase catatonico.
— Por favor, me solte e me deixe ir p-para casa. — Imploro, o choro aumentando e a sensação de morte me rodeando, num aviso para que eu fique quieta.
— Por favor! — Tento novamente.
Minha vida agora está em suas mãos, sei que ele é o autor de tudo aquilo e do provavelmente irá acontecer a partir disto, meu choro e súplica não faria com que me libertasse, seja qual for seu objetivo eu era o centro — começo a implorar a Deus que me ajude, que mude minha sentença, todavia, não iria adiantar. Eu iria passar por aquilo mesmo não querendo, ninguém desejaria passar pelo que estou passando, disso não tenho dúvidas.
Seu jeito ainda imóvel era perturbador, totalmente diferente do homem que servi café alguns dias atrás.
— Por favor, me deixe ir, prometo não dizer nada a ninguém, apenas me deixe voltar para casa. — Busco implorar de novo e de novo, recebendo silêncio como resposta.
Não sei quanto tempo havia passado, o primeiro movimento que o vi fazer foi ficar de pé e vir até mim, tentei me afastar mas não tinha como já que estou amarrada como um animal, o tom azul de seus olhos eram profundos e opacos, meu coração acelera quando sinto seu cheiro distinto e sua destra se fechar em meu maxilar, apertando com força, tentei me desvencilhar, conquanto a dor aumentou e soltei um resmungo doloroso e abafado.
— Não sairá daqui. — Ouço-o dizer, o timbre grave causando arrepios por todo meu corpo.
Essa havia sido minha sentença.
Tentei gritar, sua mão fechou-se em minha boca, sua irís dilatada eram como buracos negros, pronto para varrer minha existencia deste mundo como se não fosse nada.
— Se gritar será pior. Então sugiro que cale a boca. — Não respondo, o que logo trouxe outra onda de dor por meu rosto. —- Entendeu? Assinta. — Ordenou.
Faço um menear positivo com a cabeça e fui solta de maneira brusca.
— Quem é você? — Consigo sentir seus dedos ainda em meu rosto, a ardência e dormência eram sensações vividas de que está mesmo acontecendo.
— Sou seu pesadelo. O pior deles. — Murmurou de costas pra mim, saindo em passos largos, deixando-me sozinha.
A luz foi apagada, a penumbra findou-se junto ao meu pavor que trouxe novamente choros quase perpétuos, sentimentos de pânico, angústia, medo me assolavam por completo, tentei me soltar das amarras, resultando em cortes superficiais pelos pulsos, parei ao sentir o cheiro pungente e forte de sangue, naquela cama pequena me encolhi, as lágrimas salgadas e grossas escorrendo por minha face até o cansaço me arrastar para inconsciência, trazendo consigo pesadelos borrados e aqueles olhos azuis que prometiam dor e perda de humanidade.
Nunca fui de pensar em suicidio.
E hoje havia sido a primeira vez que desejei morrer apenas para escapar de um futuro degradante, humilhante e maldito.
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21/05/2023
...
OBS: ¹ Andrei Romanovich Chikatilo foi um assassino, serial killer ucraniano, conhecido como Açougueiro de Rostov. O Estripador vermelho e O Estripador de Rostov.
Matou 53 pessoas entre 1978 e 1990.
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