C : 17


N/A: Voltei com mais capítulo para vcs. Espero que gostem.

Esta realmente diferente da primeira vez, um ponto e outro mantenho porém tenho adicionado situações mais coerentes com os momentos.

Desejo boa leitura e até a prox atualização.

Fiquei louco com longos intervalos de
horrível sanidade.
— Edgar Allan Poe.


JÉSSIKA VELARK




O SILÊNCIO. 


Onde quer que você esteja, seja a alma desse lugar…

Discutir, não alimentar.Reclamar não resolve. Revolta não auxilia. Desespero não ilumina.

Tristeza não leva a nada. Lágrimas não substituí  suor, irritação intoxica. Deserção agrava. Calúnia responde sempre com o pior. Para todos os males, só existe um medicamento de eficiência comprovada.

Continuar na paz, compreendendo, ajudando, aguardando o concurso sábio do Tempo, na certeza de que o que não for bom para os outros, não será bom para nós …Pessoas feridas, ferem pessoas.

Pessoas curadas curam pessoas. Pessoas amadas amam pessoas. Pessoas transformadas  transformam pessoas. Pessoas chatas chateiam pessoas. Pessoas amarguradas amarguram pessoas. Pessoas santificadas santificam pessoas. Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor. "ACORDE"...

Se cubra de GRATIDÃO, se encha de AMOR e recomece… O que for benção para sua vida. Deus te entregará, e o que não for, Ele te livrará !

Um dia bonito nem sempre é um dia de sol… Mas com certeza é um dia de Paz.

— Chico Xavier.


🥀🌹


Os dias se passam, as feridas formaram cascas devido a cicatrização, a coceira era insuportável, ainda me privo de roupas muito fechadas na região, todavia, pelo menos ele não havia feito mais nada que pudesse adicionar à lista interminável de traumas. Acordei cedo como de costume, deparo-me com a mesa já posta, no móvel ao lado da cama encontrei uma pilha de livros em perfeito estado de conservação, franzi o cenho, incomodadas por tais atos vindo do próprio diabo — em tal manhã mantenho-me convicta de que irei me fortalecer e lutar por minha liberdade, pereci tempo demais…sei que consigo me livrar dele, apenas preciso de tempo e paciência. 

Não suporto permanecer nesse quarto, o ambiente todo gritava morte e lamento, sinto-me totalmente sufocada, tomando coragem abro a porta, dando de cara com Kenji, este trajado em terno escuro, olhar neutro e semblante totalmente impenetrável; passo por ele sem me preocupar com repreensões, pois sei que está me seguindo. Procuro pela governanta, encontrando-a dando alguma instrução aos funcionários que penso serem responsáveis pelo jardim e toda a área externa da propriedade, ao me ver os dispensa, ajeita a postura e me cumprimenta num menear sútil.

— Em que posso ajudar, senhora? 

— Há quanto tempo estou presa aqui? 

— Quase três meses. — havia se passado tanto, pareceu anos para mim, busco não me abalar, muito menos pensar que o maldito dera ordens para que me desse tais respostas. 

— Quero uma ginecologista, e nome de todos os remédios que me foram dados durante todo o tempo que estou nesse inferno. — Ordeno sem receio algum.

— Sim senhora. Cumprirei tais exigências, será informada quando a médica chegar. 

— Ótimo. 

Preciso tirar a dúvida, só de pensar em uma gravidez indesejada me faz querer surtar e me desesperar de imediato. Fiz menção de voltar ao quarto, entretanto paro e faço meu último pedido.

— Por favor! Se há outro quarto quero mudar, não suporto ficar naquele.

— Sim senhora. Pedirei que limpem e organizem tudo que possa precisar, e por fim poderá mudar de acomodação. 

Está fácil demais, penso. — Obrigada.

— De nada. 

Vejo Kenji à minha espera, não havia tomado café da manhã, portanto volto ao quarto, paro diante da porta e ouço-o pigarrear.

— Não seria melhor que tomasse seu desjejum no jardim? Aproveitaria o bom tempo para respirar e sentir mais conforto. — Incita.

— É uma ordem dele? 

— Não. É apenas uma sugestão. — Me encara a espera de uma resposta. 

— Certo.

— Vá, pedirei que a sirvam. 

Não obstante volto ao andar inferior, seguindo para os fundos onde havia ido, de fato o ar estava fresco, o sol ainda ameno, o céu azul piscina, a vegetação bem aparada, me sento em um das cadeiras de assento arredondado, apoio as mãos na mesa e fecho meus olhos, sentindo a brisa tocar meu rosto e colo, refrescando uma pele febril — algo tão simples pareceu encher-me de esperanças — chega a ser estranho estar em um momento confortável em minha própria prisão. Empregados me servem em silêncio, absorvo o cheiro gostoso de café expresso, frutas bem cortadas em uma travessa de vidro, por último, Kenji me entrega um dos livros, penso em agradecer, porém não o faço. 

Abro o livro: Dias Perfeitos – Raphael Montes. Mergulho na leitura intrigante, acompanhada com café, torradas com geleia de morango, ali permaneço por um bom tempo, a leitura era intensa, pesada, todavia me interessei de pronto. Um dos trechos inclusive deixou-me em um misto de curiosidade em prosseguir com a leitura, e no quanto tinha familiaridade com o que venho vivendo contra minha vontade:

“O mundo estava repleto de idiotas. Bastava olhar ao redor: idiota de jaleco, idiota de prancheta, idiota com voz aguda que agora falava de Gertrudes como se a conhecesse tanto quanto ele.” 

Mantenho-me centrada na leitura, até ser interrompida por meu segurança, informando que a médica estava a minha espera, volto ao interior, passando pela ampla cozinha, inalando o cheiro gostoso de algo sendo preparado — diante as portas duplas de madeira envernizada, ignoro a ansiedade se alastrando por meus dedos trêmulos e abro a porta, entrando na biblioteca onde vejo uma ruiva a minha espera.

— Pode esperar lá fora. — Digo ao asiático que não se move. 

— Sinto muito, tenho de acompanhar. Ordens do senhor Velark. 

Reviro os olhos e me sento no sofá de couro amarronzado. 

— Bom dia senhora. Me  chamo Audrey. Irei sanar todas as suas dúvidas. — Informa tranquilamente. — Me foi passado todos os medicamentos que tomou nos últimos meses, e todos são para dores musculares, outros para mantê-la em hidratação, vitaminas. 

— Doutora, preciso de um teste de grávidez. — A interrompo. 

— Claro. — Abre a maleta deixada na mesa de centro em formato oval, pega a pequena caixinha e me entrega. — Se deseja algo mais exato, posso solicitar exame de sangue. 

— Faça isso, por favor!

— Irei esperar, pode ir fazer. 

Temerosa com o resultado entro no lavabo, leio as instruções e faço rapidamente, deixando em cima da cuba de vidro e espero com pesar no coração e embrulho no estômago, visto que li sobre o resultado ser imediato pego a fitinha, vendo apenas um risquinho, o que me foi um alívio que não consigo descrever. Volto um pouco mais relaxada.

— Amanhã posso retornar para colher seu sangue, esteja em jejum. — Assinto. — Sente algo ou sentiu da semana passada para cá?

— Sim, enjoos, náusea e dor de cabeça e cólica abdominal. 

— Irei receitar remédios que vão ajudar com isso. — Assinto novamente, seu olhar esverdeado para comigo era estranha, parecia querer perguntar algo, todavia, é fato que ele havia a ameaçado e possivelmente pago uma grande quantia para não dizer nada sobre o que viu e ouve. — Volto amanhã às oito para colher seu sangue, o resultado sairá no mesmo dia, porém às quatro da tarde. 

— Obrigada. 

Não a acompanho pois Kenji abre a porta indicando a saída, avisando a outros no comunicador que a médica estava de saída. Encarando o tapete, respiro fundo, uma, duas, três vezes, cada um com calma; graças a Deus recebi educação sexual dos meus pais, por mais horrível que tenha sido, constrangedor até, mas serviu para que soubesse de modo  um pouco mais sucinto sobre proteção e prevenção. 

Fico um tempo considerável ali, lendo o livro, mantendo-me longe da realidade até o horário do almoço. Meu novo quarto estava bem organizado, no entanto, opto por ficar em outro lugar, marco a página em que parei, me levanto, tentando aliviar um pouco a coceira nas costas, o dia permanecia tranquilo e silencioso, não durando tanto, visto que ao me virar me deparo com Sebastian, este me olha com cautela, as mãos nos bolsos da calça social azul marinho — havia algo a perguntar, mesmo temendo por uma resposta arrogante, tento conter o tremor no corpo e o frio que me percorre sempre que ele está presente.

— Quero saber dos meus pais. — Indago. 

— Não acha que fez exigências demais por um dia? — retruca, os lumes azuis fitando-me de forma diferente de outrora. 

Antes me olhava como se fosse um animal violento que precisava ser domesticado, agora, parecia mais humano. De qualquer forma quero que ele e seu maldito temperamento queime no inferno. 

— Não! Quero saber deles, e quero saber agora. — Ordeno. 

Um sorriso pretensioso desponta em seus lábios pouco pálidos, desde a captura procuro não faço questão em olhar mais que o necessário, porém, agora o vejo, e odeio ainda mais…a despeito de tudo que aconteceu, ódio não se compara ao que sinto por esse miserável.  Recuo um pouco devido a sua aproximação, minha panturrilha esbarra no sofá e me sento bruscamente, Velark não para, diante de mim se inclina, pousando ambas mãos em lados opostos, nos braços do móvel, impedindo-me de uma suposta tentativa de fuga. 

— Acordou disposta a me enfrentar, querida? — Prendo a respiração ao sentir o cheiro forte e amadeirado de seu perfume. 

— Não é da sua conta. 

— É da minha conta. — A ponta de sua língua raspa pelo lábio inferior, infelizmente me vi encarando aquele movimento ridículo. — O que tanto está olhando? — Debocha.

— Me fale sobre meus pais. Exijo saber, tenho direito de saber. — Insisto. 

Sebastian me analisa antes de se afastar e endireitar a postura arrogante e viril. O observo ir até a adega, servindo-se de uma bebida qual não conheço, penso em reformular o que havia dito, todavia sua voz prepotente quebrou o silêncio. 

— Sei tudo sobre você, o que me trouxe a liberdade de fazer de tudo para que seu sumiço fosse algo que não trouxesse suspeitas. — Se sentou na poltrona, as pernas levemente abertas. — Para seus pais, você está em um intercâmbio na Holanda. Vi que era seu sonho.

— Filho da puta.

— Antes que pergunte, eles pensam que está estudando, feliz e realizada por alcançar mais um objetivo. — Tomou a bebida. — Seu apartamento continua sendo pago, os donos estão felizes assim como seu pai e sua mãe. — Sorriu. — Quase colocou tudo isso a perder ao mandar mensagem para o desgraçado, mas resolvi a tempo. — Frisou. 

— Seu maldito, isso é mentira. 

— Não é. — Tirou meu celular do bolso interno do paletó. — Veja por si mesma. 

Ofegante pego o aparelho, desbloqueado e indo até o aplicativo de mensagens,  li todas as mensagens, as que não eram respondidas por mim, as de minha mãe, de Hector me desejando boa viagem, o quanto me amava — desde a noite do sequestro até hoje de manhã. Fotos e vídeos eram enviados.

— Quem é essa mulher? 

— A que consegue se passar por você sem que seus pais sintam a diferença. — Deixou o copo na mesa ao lado e volta a ficar de pé. — Viu como consigo dar um jeito em tudo? Vê o quanto consigo ter todos na palma da mão? 

Não o respondo, apenas leio as mensagens de Hector, o seu amor e carinho trouxe lágrimas aos meus olhos, meus pais felizes por algo que nunca aconteceu, por algo que era fruto de uma mentira muito bem orquestrada. Cansada daquilo arremesso o aparelho para longe.

— Você é um tremendo de um maníaco. — Ofego, com dificuldades em respirar, meu coração começa a palpitar. — E-eu odeio você. — Me desequilibro devido à tontura, me apoiando no sofá. 

— Não me interessa o que sente ou deixa de sentir. — Engrossa a voz. — Ninguém está procurando por você. Ninguém está preocupado com você. 

— P-pare. — Peço, suas mãos agarram meus braços. 

— Para todos isso aqui não está acontecendo. — Sorriu. — O diabo mora nos detalhes, Jéssika. E eu sou o mestre, domino o que eu quiser com eficiência. Não há outro meio de se livrar de mim. 

O empurro com toda força que consigo reunir e desfiro um tapa em seu rosto, o estalo eclode alto, tento manter a respiração conforme passo por ele e corro até o quarto, meu rosto umedece pelas lágrimas salgadas, a desesperança volta com força, tornando-me algo inútil e sem propósito algum. Me sento no chão e deixo que os soluços e o choro tomasse força. Me encolho ao deitar no piso gélido, meu coração queima de raiva, de frustração.  É tolice pensar que estarei livre, é ridículo implorar por um salvamento que não virá. 

Não sei quanto tempo fico naquele estado. Desperto sem a ciência de ter apagado, todo o quarto estava coberto pelas sombras, me apoio no que penso ser a porta e tateio até encontrar o interruptor, a luz ilumina o ambiente diferente do que estive, a escuridão era notável através das janelas…meu corpo todo doía, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer instante, cambaleio até a cama, me sentando nela — a porta se abre e Kenji entra, fazendo uma espécie de reverência. 

— Senhor Velark solicita sua presença no jantar que será daqui a duas horas e meia.

— Que horas são? 

— Sete horas. A senhora apagou por oito horas. — Informa.

— Como sabe disso?

— Consegui ouvir, pelo silêncio interpretei que dormiu. 

Umedeço os lábios antes de perguntar: 

— Sabe o porquê do jantar ser tão tarde? 

— Haverá algumas pessoas importantes. — todo tempo que respondia encarava o chão. — Uma das funcionárias virá para ajudá-la a se arrumar. Com licença. 

 Sozinha busco um raciocínio lógico, certeza que ele está tramando algo. Com a chegada da funcionária vou para o banho, demoro ao máximo, lavo os cabelos, hidrato a pele, enquanto faço isso penso em algo, ou irei fugir ou farei desse jantar seu arrependimento. 

Deixando o banho tudo o que precisava estava ali, o vestido longo continhas mangas longas, cobriria grande parte das cicatrizes, com meus cabelos longos iria cobrir por completo, passo creme por todo o corpo, faço isso com toda calma possível — coloco o vestido, o tecido grosso agarra ao meu corpo, evidenciando as curvas e o quão magra estou, penteio os cabelos e logo a mulher baixinha retorna, secando meus cabelos, deixando-os o ondulados, me dispus a fazer a maquiagem, minha pele estava quente devido a raiva e ansiedade em terminar para finalmente descer. Finalizo com um batom matte vermelho sangue, ignoro os acessórios e calço o par de sandália preto e dourado da Saint Laurent, momentos antes outra chegou para cuidar das minhas unhas, tudo foi finalizado quando o jantar finalmente deu início. 

Pela sacada vejo carros luxuosos chegando, pessoas bem vestidas descendo e sendo recepcionada pela governanta, parece que será um jantar interessante, penso. O cheiro de rosa negra impregna o ar, não me viro ao ouvir a porta ser aberta, pelo reflexo do vidro vejo Sebastian, trajado em um terno todo escuro, os cabelos bem penteados e feição totalmente fechada. 

— Sente-se. — Ordenou. 

Sem relutâncias o faço, o vejo puxar a cadeira e se sentar, tirou o celular do bolso e me entrega. 

— Deixarei que ligue para seus pais. Entenda que se falar qualquer palavra que os deixe desconfiados, dois homens meus entraram atirando, faço questão de que veja em tempo real a morte daqueles que são importantes para você. — Ameaça de modo sereno e calmo, pego o aparelho, pela visão periférica o vejo tirar a arma do cós da calça, deixando apoiado na coxa esquerda, o objeto prata brilhando mortalmente, já apontado para minha direção. — Ligue. 

Disco os números e tento não deixar o celular cair devido ao tremor, espero nervosa, engulo a vontade de chorar ao ouvir a voz de minha mãe. 

“ Alô? "

— Oi mãe. 

Jéssika? Oi minha querida, como está? “

— E-estou bem. — Minha voz embarga. — E a senhora? E o papai? 

“ Estamos bem meu amor. Quando virá nos visitar? “

— Irei em breve, meus estudos têm consumido meu tempo, mas irei. — Olho para Sebastian, que destrava a arma e ajeita a postura desleixada. 

“ Entendo querida. Por favor, venha quando puder, sei que está abalada mas será bom ficar conosco, fico preocupada com você sozinha longe de nós.”

— Pode deixar, eu irei. Sinto saudades, amo vocês.

“ Também te amamos, nossa princesa, sentimos muitas saudades. "

— Preciso ir agora. Nos falamos assim que possível. — Limpo as lágrimas e luto para manter ao menos a voz estável. 

“ Fique com Deus meu amor. “

— Amem, vocês também, diga ao papai que o amo. 

“ Direi amor. Beijos.”

Encerro a chamada e respiro fundo, desejando que meu olhar fosse o suficiente para transmitir toda raiva que sinto desse filho de uma puta. 

— Boa garota. — trava a arma e a guarda. — Agora seja uma boa esposa, temos convidados essa noite.

— Vá você e seus convidados para puta que pariu. 

O impacto de sua mão contra meu pescoço me assustou tanto quando seu peso me empurrando até meu corpo cair na cama e ele ficar por cima de mim. 

— Tenha respeito e decoro. Ainda há tempo de mandar seus pais para onde mandei seu namorado. Saia da linha e isso irá acontecer, ou caso eu seja criativo farei com você algo que irá impossibilitá-la de dar um passo sequer. — Aperta um pouco mais, tirando meu ar. — Assinta se entendeu!

Assim faço e logo me solta, tusso algumas vezes para recuperar o ar. 

— Tem dez minutos para se recompor e descer. 

Massageio o pescoço, o xingando de todos os palavrões que conheço, me vejo no espelho, aplicando um pouco de base para ocultar a vermelhidão no pescoço antes de sair, me equilibro nos saltos e abro a porta saindo para o corredor.

— Você está fodido, desgraçado. — Prometo baixo, forjando uma personalidade, uma postura a sua altura. 

Se ele é o Diabo, então serei Lilith. 

Eu mesma vou comandar a porra desse inferno. 

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14/01/2023

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