C : 11
Na ética o mal é uma consequência do bem, assim, na realidade da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que são tem sua origem nos êxtases que poderiam ter sido.
— Edgar Allan Poe.
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SEBASTIAN VELARK
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Por toda noite fiquei de guarda, odiando cada segundo que me pareceu a porra de uma eternidade, algo em mim exigia aquilo, inconscientemente estava preparado para impedir novamente uma tentativa de suicídio que partiria dela quando menos se espera — contive-me ao máximo para não a tomar com toda fúria e fome que nutria antes mesmo de cogitar a hipótese de a ter apenas para mim.
Friedrich Nietzche em seu pensamento retira a frase do autor grego Píndaro “Homem, torna-te no que és” aproprie-se das forças que o constituem, tome parte do movimento de auto-superação em curso constantemente dentro de si — para mim é um tremendo eufemismo, pois não há como manter algo que surge por simples capricho, que renasce em seu próprio ser e domina-o, que toma posse literal, exilando o que deveria ter sido para o que jamais deveria ter existido. Soltando a fumaça para a escuridão que aos poucos torna-se dia, estalo o pescoço, me virando para ver Jéssika ainda dormindo na cama, os cabelos ondulados cobriam parte de seu rosto, o copo a minha direita encontra-se vazio, o cinzeiro que logo teria mais um cigarro adicionado, a solitude pouco me apetece em momentos tortuosos, estes que devoram-me vivo, permitindo que minhas ações sejam quase bestiais, irracionais e sanguinárias.
Cerca de duas horas a morena despertou, sai do banho segurando a toalha em volta do quadril, seu rosto aqueceu por minha semi nudez, é cômico o fato de por tudo, ela continuar inocente, quase imaculada.
— Tome seu café da manhã e se arrume, sairemos daqui meia hora. — Digo, atento a diferença de sua respiração, se o silencio fosse mais exímio conseguiria ouvir as batidas frenéticas do seu coração.
— Tá.
Me visto no banheiro, permitindo que ela entre logo depois, os acontecimentos anteriores se fixam em minha mente, estimulando a dor de cabeça permanecer branda, tomo um pouco do café amargo e checo e-mails enviados por minha secretária, ignoro totalmente a movimentação alheia, me pego respirando fundo, inalando o cheiro doce e suave devido a porta entre aberta do anexo — certamente Jéssika era meu karma, um anjo maldito enviado apenas para fazer de mim o pior dentre o pior dos demônios.
— Sente-se. — Ordeno.
O conjunto social escuro combinava perfeitamente com ela, a pele amorenada surgia por entre a camisa social devido alguns botões não terem sido fechados, os cabelos ainda úmidos exalam o aroma que se assemelha a flores do deserto — me amaldiçoo por reparar tanto, portanto desvio minha atenção para meu trabalho. Termino meu café e chamo a equipe para levar nossas malas para o carro, nada do ocorrido chegou a ouvido dos civis, e assim permanecerá enquanto eu estiver caminhando por este mundo que pertence a mim.
No caminho o silêncio perdura, pela visão periférica noto a aliança em seu anelar direito, brilhando na pele suave e macia, o rosto preferindo encarar a paisagem do que se ater a onde de fato estava — o motorista adentra o aeroporto, guiando o veículo a área particular onde o jato já estava à nossa espera.
Jessika desceu primeiro sem se importar com nada além de sua vontade absoluta em ficar o mais longe possível de mim, emito ordens antes de embarcar, poderia ficar distante, todavia, seu desconforto me trás imaginações dignas de serem engolidas em chamas até virar cinzas — me sento à sua frente antes de pedir por uma bebida forte para afastar a falta de sono e dor de cabeça.
A aeronave decola em minutos, as horas se vão juntamente com meu receio pela presença atenta da garota. Por volta das sete, após o jantar onde comeu extremamente pouco, esperei que dormisse, no entanto, estava desperta, lutando contra algo que queria dizer, aguardo ansioso pelo que viria, por mais que suas ações me deixem com raiva, me encontro curioso com seus próximos passos.
— Por que faz isso? — Perguntou, a voz não passando de um sussurro. — Por que me submeter a toda essa insanidade?
— Pelo fato de poder. Por não haver ninguém capaz de me parar. — Respondo.
— O que te levou a ser desprezível e imoral? — A coragem começou a surgir.
Interessante.
— Qual o intuito de sua curiosidade? A coragem lhe cai bem, estava farto de tanto choro e pedidos contínuos para que eu não fizesse nada do que é do meu querer fazer. — Giro o copo ainda vazio sobre a mesa que nos separa.
— Não há mais nada a ser tirado de mim. — Crispa os lábios fartos, mantendo o semblante fechado.
— Claro que há. — Retruco. — Sempre haverá, e você sabe.
— Tipo o que?!
— Sua vida. — Me levanto para pegar a garrafa de absinto. — Seus pais. — Continuo. — Aquele garoto idiota. — Aperto a garrafa, buscando manter-me são. — O que eu puder usar para controlá-la, farei.
— Não teria coragem.
Bato a garrafa no suporte de vidro, me viro e a seguro rapidamente pelo pescoço, antes que pense que poderia fugir, mas não ali. Não na porra do meu jato.
— Acha que não? — Debocho, afastando suas pernas, mantendo meu joelho bem ali, inclinou um pouco mais meu corpo para estar próximo o suficiente para sentir o cheiro gostoso do seu medo e desejo quase imperceptível. — Ainda duvida da minha capacidade de fazê-la viver literalmente um inferno? — Desço meu olhar para sua boca gostosa e convidativa, como frutas maduras. — Jéssika. — Murmuro seu nome, apreciando na língua o quão bom era chamá-la. — Pense em mim como um deus e você apenas uma formiga, este que estarei prestes a queimar ao apontar na lupa contra os raios solares. — Pressiono meu joelho em sua boceta. — Você não é nada, não pense que aqueles que orbitam ao seu redor estão salvos de mim. Posso matá-los com a mesma facilidade com que respiro. — Seu ofegar agoniado quase me fez perder o maldito foco. — E você, querida esposa, faz parte disso. Caso morra, não lamentarei, pois outra estará ocupando seu lugar, sofrendo o pior do que ainda não sofreu. Estamos entendidos?
— Sim.
— Boa garota. — Me afasto.
O restante do percurso passei trabalhando, informando minha chegada para que algumas reuniões sejam reorganizadas, me privo do sono novamente, meu coração palpita e preciso conversar, expor esse maldito sentimento que parece querer me destruir.
Houve um tempo em que acreditei fielmente que as coisas seguiriam um rumo totalmente diferente do atual, fiz de tudo para fugir daquilo que fui amaldiçoado a ser — felizmente ou infelizmente não estava isento de ser um deus maligno e destruidor, oportunidades vinham com promessas de me tornar um ser humano ainda pior, depois de tanta luta acabei por ceder e viver com base de que nada fugiria do meu controle.
E agora está, tudo depois de ter sucumbido a uma ânsia profana de ter aquilo que não era meu, de aprisionar e manter uma mulher apenas para suprir o ódio que alimento desde jovem, que cresce descontroladamente e que no fim, será a porra do meu declínio.
Não existe uma forma crível de escapar. Talvez agora eu não queira, pois divagar sobre possíveis mudanças me mantem inerte por um tempo, sem me preocupar com absolutamente nada. Jessika está a centímetros de mim, adormecida, frágil, e é assim que a quero, no entanto, uma ponta solta precisa sair do meu caminho, haverá o momento em que isso irá acontecer, e sei que quando chegar, ela irá presenciar e ter a consciência exata de que sim, eu posso tirar vidas sem me preocupar com as consequências.
[...]
— Seja bem vindo de volta, senhor Velark. — Amaya me recebe. — O carregamento já está vindo para nós, ao que tudo indica foi um erro de rota.
— Ótimo. E o protótipo? — Pergunto, encarando meu segurança acompanhar Jéssika até o carro.
— Foi analisado e está perfeito para darmos incio a criação dele.
— Há algo mais a ser feito?
— Por hora, não senhor. — Desligou o ipad. — Pode ir, continuarei cuidando de tudo em sua ausência.
— Me ligue caso seja necessário.
— Sim senhor.
Entro no carro no mesmo segundo, precisava dormir antes de exercer qualquer trabalho que exija minha atenção. O tempo se mostra ameno, encosto a cabeça e fecho os olhos por alguns segundos até chegarmos.
— Aquela mulher não parece saber sobre suas atividades dignas do inferno. — Ouço Jessika comentar.
— Se soubesse estaria apodrecendo em uma cova rasa. — Respondo ainda de olhos fechados.
— Machista de merda. — Alfineta. — Se odeia mulheres era só começar a pegar homem.
— Não odeio as mulheres. — Respondo. — Tenha respeito, Jessika. — A advirto.
— Tanto faz. — Encerra a conversa.
Ao chegarmos desço do carro e sigo para meu quarto, tiro as roupas para tomar um banho frio, meu corpo ainda quente recebe o impacto da água fria, fecho os olhos e passo a pensar na maldita desgraçada que esta no final do corredor, meu pau endurece de imediato, mentalizar aqueles labios fartos, imagina-los acolhendo meu caralho me deixava louco; o melhor a se fazer seria matá-la e acabar logo com tudo isso, ignorando a maldita ereção desligo o registro, envolvo o quadril com a toalha e saiu do banheiro pegando a arma deixava sobre a cômoda, deixo meu quarto e em poucos passos arrebendo a porta do dela com um chute, seu olhar em mim era como de outrora,assustada, temendo pela propria vida, mas o pânico em seu ápice a paralisava, aponto a arma e a destravo.
— Não se mova. — Ordeno ríspido. — De joelhos. — Uma voz em minha cabeça parecia gritar em plenos pulmões para que eu não faça o que desejo fazer nesse minuto.
— Sebastian.
— DE JOELHOS, PORRA! — Aproximo, a seguro pela nuca e a forço a ficar de joelhos, pressiono o cano da arma em sua testa.
Jessika não chora, permanece olhando para mim sem ao menos piscar, me perco em suas íris castanhas, no tremor sutil e no desafio que estava impondo a mim neste momento. Ali ficamos, no maldito embate silencioso, onde a quero morta e ela deseja mesmo que isso aconteça…Envolvo minha mão e punho em seus cabelos, puxando sua cabeça antes de soltar o objeto e segurar seu pescoço.
— Maldita do caralho. — Xingo, a deitando na cama, seu ofego e medo ainda estavam presentes em suas ações automaticas na tentativa fútil de sobreviver. — Quero que morra na mesma intensidade com que quero me afundar em você.
— Escolha um, não me importo. — Sorri. — Seu filho de uma puta. Saiba que desejo o mesmo para você, seu cretino. — Umedece os lábios, cravando as unhas em meu braço. — De qualquer forma, não terá nada além disso. Que seu odio e fome o devore.
— É o que vamos ver, diabinha.
Afasto suas pernas para me manter entre elas, pressiono meu quadril no dela, ouvindo seu suspiro pesado, nunca tive apresso por beijar alguém, evitava ao máximo e com ela eu queria, sugo seu lábio inferior, raspando os dentes pela carne macia e quente, contenho o tremor e reações do meu corpo para com ela, tomo seus lábios com mais gana, seu beijo era lento e intenso ao mesmo tempo, aperto sua cintura a trazendo para mais perto — seu afastamento me deu liberdade para explorar seu pescoço, pelo tecido fino da camisa sinto seus mamilos duro, nisso paro, me afasto rapidamente, deixando o quarto.
— Garota maldita. — Bato a porta do quarto, meu pau doía pra caralho e ela sabia, a filha da puta sabia e estava jogando comigo.
Não entraria na questão dela ser diferente nem nada parecido com isso, mas compreendo que depois do que fiz na Grécia seu olhar mudou tanto quanto suas ações, será intrigante ver até onde ela vai a fim de tentar me dobrar — antes que chegue em seu objetivo vou fazê-la voltar a si.
E já sei por onde vou começar. Visto a cueca e uma calça de moletom, pego o celular e ligo para aquele que sempre segue minhas ordens com maestria.
"Senhor Velark."
— Pegue aquele merdinha e o leve ao galpão.
"Considere feito."
Encerro a chamada, me deito na cama e planejo passo a passo que irá torná-la mais suscetível a qualquer comando.
— Boa sorte diabinha. Vai precisar.
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01/10/2023
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