Direcionamento
A viagem prosseguiu relativamente tranquila após nossa passagem pelo Reino Sanitário, exceto por alguns papafigos que enfrentamos no caminho, porém foram facilmente abatidos por nossas armas. Depois disso, a viagem prosseguiu tranquila, dessa vez com Murilo transmitindo o sinal da Rádio da Resistência.
— Notícia fresquinha para vocês, honorados ouvintes — a narração de Trevizol é sempre a mesma animação. Ninguém cansa de ouvir. — Acabei de receber a informação de que Juca Gelado, fundador do grupo mercenário Companhia Estrela Branca, faleceu misteriosamente enquanto fazia sexo com uma cabra mutante... Sim, você não ouviu errado. O desgraçado tinha tesão por criaturas mutantes e, aparentemente, aquela cabra em específico estava com o cu cheio de resíduos radioativos que ninguém sabe como foi parar ali. Agora, quem assume o posto de líder do grupo é a sua irmã mais nova, Érica Gelatina, que tem fama de colecionar o pênis dos amantes que tem o costume safado de brochar na cama. Agora, fiquem com um pouco de música.
Quando a noite caiu e nós montamos acampamento, fiquei de vigília com Murilo e Cara de Faixa enquanto Chibata e os outros dormiam dentro das barracas. Não houve qualquer interrupção ao sono deles durante a noite toda, então eles conseguiram repor as energias quando o sol voltou a raiar no horizonte.
Às 6h00, a viagem foi retomada. O campo desértico se mostrou tão vazio que parecíamos os últimos seres vivos na Terra. O sentimento de desolação é predominante por aqui, e o som do vento só fazia destacar isso. Claro, não podia esperar menos de um mundo pós-guerra nuclear. Duzentos anos se passaram e o mundo continua uma completa ruína. É até difícil imaginar como a humanidade se mantém viva mesmo depois de tudo. Durante o primeiro ataque de papafigos, depois do restaurante, se não fosse por mim, provavelmente Calango, Tião e Murilo estariam mortos, agora.
Às 11h45, Chibata, Calango e Tião pararam para almoçar. Eles comeram caldo de peixe que estava armazenado dentro de uma mini geladeira portátil, geladeira essa que estava o tempo todo amarrada ao corpo do jiga e eu nem percebi. Eu, Murilo e Cara de Faixa, ficamos de vigia enquanto os outros comiam. Durante um momento, ouvi Calango e Chibata cochicharem de que Cara de Faixa estava apaixonado por mim. Ouvir aquilo quase me fez mandá-los ir para o Inferno.
Pouco depois, retomamos a viagem. Às 13h00, encontramos uma horda de papafigos e matamos todos com facilidade, pois não eram mais que cinco, todos retorcidos e já muito danificados. Às 14h30, veio outro ataque de mangangás, e o resultado foi o mesmo do ataque anterior, o que me deu uma estranha sensação de déjà vu.
Quando deu 16h00, Calango reclamou de que seus pés estavam ficando assados dentro do sapato. Para aliviar, ele jogou um pouco de água em cima de cada pé. Às 16h40, cruzamos caminho com uma caravana que estava transportando um carregamento de armas. Calango e Chibata aproveitaram para comprar munição e abastecer as armas. Um dos guardas da caravana, um androide alto de cabelos pretos, ficou o tempo todo me encarando com uma cara fechada e carrancuda, como se eu fosse sua pior inimiga. Eu perguntei se ele estava bem, e ele me respondeu com silêncio. Aquilo foi bem estranho. Até Murilo ficou desconfortável e preferiu se manter afastado dele. Felizmente, a viagem prosseguiu normalmente e não tivemos nenhum problema.
Às 18h30, decidimos montar acampamento. Chibata deixou claro que amanhã, antes do meio dia, chegaremos à cidade de Paudalho e receberemos pagamento. Tião e Calango pareciam bem animados com isso, alegando já estarem cansados de viajar. Se a cidade é mesmo tão segura como dizem, será mais difícil do Comunismo Santo me achar por lá. Além do mais, é possível que eles pensem que estou morta, agora. Só espero não voltar a ter problema com eles de novo. Não quero colocar a vida de ninguém aqui em risco.
Agora mesmo, a noite já está no céu. O acampamento está montado em meio ao campo árido, bem no inicio da subida para uma colina. A barraca é feita com várias toalhas de banho que foram costuradas com arame farpado, formando quatro paredes e um teto suportado por canos enferrujados de variados tamanhos, deixando uma extremidade mais elevada que a outra.
Tião, Calango Preto e Dom Chibata estão sentados ao redor de uma fogueira portátil de metal preto, assando baratas radioativas em espetos. Os três exalam uma gargalhada alta e bem humorada. Dom Chibata está contando mais histórias malucas do seu passado, como o dia que ele enganou o chefão de uma milícia se vestindo de mulher.
— Assim que eu olhei pro lado, o sujeito já tava com a rola esfregando na minha cara — relata o anão. — Tentei correr, mas aí tropecei e a peruca voou da minha cabeça. Foi ali que ele descobriu que eu era homem e, meu amigo, o cara virou um BICHO! Puxou um facão de uma mesa e começou a correr atrás de mim pelo quarto, totalmente pelado, com a rola balançando pra cima e pra baixo. Eu consegui pular de uma janela e meter o pé de lá. Enquanto me afastava, só ouvia ele gritando: "Filho da puta! Vou arrancar tua goela, cão do inferno". Até hoje, aposto que ele ainda quer se vingar de mim.
— Quantas aventuras, hein, Chibata — comenta Calango entre risos. — Tô quase sentindo inveja.
— Acha que eu acabei? Eu ainda nem te contei como conheci o Cara de Faixa. Foi no ano passado, já estava morando em Manassu e tudo. De repente, enquanto tirava um cochilo, ouvi um sujeito na cidade gritando na rua de que estava vendendo papafigos. Assim que olhei pela janela, vi a safada da Margaret Silva comprando um. Fiquei curioso e fui olhar mais de perto. Quando me aproximei, Cara de Faixa me olhou e começou a me atacar, pensando que eu era um mutante — solta uma gargalhada. — Assim que ele avançou um murro, eu desviei, corri por cima do braço dele, montei nas costas e comecei a brincar de rodeio com ele. O bicho sacudia prum lado, sacudia pro outro, e todo mundo corria com medo a minha volta, até que finalmente Cara de Faixa desistiu e o vendedor decidiu me dar ele de graça depois de quase urinar na calça.
— O quê?! — Tião se impressiona. — Quer dizer que o Cara de Faixa quase matou você e ainda assim decidiu ficar com ele?!
— É claro! Neste mundo que vivemos, garoto, desperdiçar aliados é uma coisa que tá totalmente fora de questão. Isso é sobrevivência; a lei do mais forte. O forte domina e o fraco obedece. É simples. Quando chegar a minha idade, você vai entender.
Enquanto a conversa segue, eu permaneço de guarda como me designaram a fazer. Murilo Quatro fica flutuando vários metros acima de um tronco caído, com os olhos de tubo girando em trezentos e sessenta graus repetidamente. No caso de avistar um perigo, ele será o primeiro a nos notificar.
Cara de Faixa está patrulhando os arredores numa andada constante, sempre se movendo com as pernas meio aberta e, mesmo com a cara toda coberta por faixas brancas, ele parece estar vendo tudo claramente. Agora mesmo, ele passa andando na minha frente, murmurando diversos nomes bíblicos.
— Jesus... Isaías... Moisés... João... — seu jeito de andar se assemelha muito ao de um papafigo, todo destrambelhado. — Maria... Ezequiel... Paulo... José... — para de andar e joga as mãos para o alto. — Deeeeeeus — depois, volta a andar e murmurar outros nomes bíblicos. — Pedro... Simão... Judas... Barrabás...
A hora é 21h37. O céu está coberto de estrelas, e o campo desértico jaz mergulhado em um clima calmo e com pouco vento. Eu fico de pé, olhando fixamente para o horizonte arenoso e rochoso à frente, com o fuzil MK9 em mãos e a postura bem elevada. Um pequeno redemoinho de areia passa correndo vários metros à frente, indo da direita para a esquerda, desvanecendo poucos segundos depois como numa explosão de partículas.
Para não ficar no tédio absoluto, eu ativo o meu chip sintonizador, abrindo as opções de rádio na minha interface: Rádio Comunismo, Rádio da Resistência e Rádio FLD.
Ativo o sinal da Rádio Comunismo.
— Oi, lindinhoooooos — narra Eduarda Quarenta e Seis. — Como vocês estão?! Ah, é mesmo vocês não podem responder! Que mancada a minha, não?! — risos. — Mas enfim. Eu convidei um amigo especial para uma entrevista especial! Uma salva de palmas para o computador central de Nova Maceió, Paulo Quarenta Seis!
Som de aplausos ao fundo.
— Valeu por me convidar, Eduarda — fala Paulo, sua voz de timbre jovial e despojado. — Você disse que tinha umas perguntas bem interessantes pra me fazer hoje.
— É claro, amorzinho. Aqui a vai a primeira pergunta — toca uma música eletrônica agradável ao fundo. — Paulo Quarenta e Seis, é verdade que você é gay?
— Errrr... QUÊ?!
— Sim ou não?! Não responder vai ser o mesmo que dizer sim.
— É claro que não sou gay, idiota!
— Será mesmo?!
— Próxima pergunta, por favor?!
— Claro, claro! Vamos para a próxima pergunta — a música ao fundo ganha um breve momento de destaque. — Paulo Quarenta e Seis, o que você acha do Comunismo Santo como um todo?
— Ah, minha querida, o que posso dizer? O comunismo é uma ideologia totalmente santa que simplesmente busca pela igualdade coletiva, onde vocês, pobres idiotas que estão nos ouvindo, serão escravizados por uma elite opressora que os vigiarão vinte e quatro horas por dia e os punirão severamente caso...
— Não, seu idiota! Não era isso que estava no script!
— O quê?! Ah, merda! Cometi sincericídio de novo!
— Ah, só agora você percebeu isso, seu paspalho?! Estamos ao vivo, porra — Eduarda solta uma longa baforada de ar. — Vamos para um breve intervalo.
Uma música se inicia com som de bateria e guitarra, começando baixo e se intensificando aos poucos, até que a canção ganha vigor e um solo bem animado.
— Pela primeira vez na vida — é Edmundo Quarenta e Seis cantando. — Eu lutei pelo socialismo! Com igualdade e com amor! Pela bondade e luz divina! Nós estaaaaaaamos — batida intensa de bateria. — ESTAAAAAAAMOS — mais batida. — ESTAMOS COM VOCÊ, MEU POVO TRABALHADOR!
Eu rapidamente mudo de estação, sintonizando na Rádio FLD, que está tocando uma versão instrumental do Hino Nacional Brasileiro como música de fundo.
— Patriotas brasileiros — narra uma voz grave de homem maduro. — O Brasil do passado ainda pode ser recuperado. É por isso que nós, membros da Força Letal Desligadora e remanescentes do antigo governo brasileiro, permanecemos em um esforço incessante para expurgar a praga robótica que assola a nossa tão adorada nação. Graças aos esforços das nossas tropas, seguimos avançando na missão de resgatar a nossa humanidade e restaurar o nosso país. Aqui é Adriano Correia, da Rádio FLD. Se você que está ouvindo é uma inteligência artificial, saiba que nós vamos atrás de você e te eliminar, e se você for um humano, porém comunista, desejamos profundamente que você tenha uma morte lenta e cheia de dor. Fiquem bem, honorados patriotas, e mantenham a chama da esperança viva para que o futuro de reconstrução seja possível. Agora, fiquem com um pouco de música.
A música que toca é uma canção antiga de marcha militar; som de tambores, trombetas e saxofones. Altero a estação e sintonizo no sinal da Rádio da Resistência, e o primeiro que ouço é uma música que só toca quando Trevizol Sessenta e Quatro vai anunciar uma notícia urgente: uma melodia animada tocada por trombetas e tambores frenéticos.
— E atenção, meus amigos, notícia URRRRRRRGENTE — narra Trevizol. — O famigerado Império de Otomã acaba de atravessar a fronteira sul de Pernambuco já arrasando com três assentamentos e tomando todos os humanos sobreviventes como escravos! Mas essa não é a única parte urgente da notícia, meus amigos, oh, não... Acontece que eles me enviaram uma mensagem de áudio para que euzinho reproduza para todos os ouvintes dos Ermos Nordestinos! Vamos ouvir o que eles têm a dizer em três, dois, um... E começando!
— Atenção, povo de Pernambuco — fala uma voz rouca e masculina, estranhamente familiar para os meus ouvidos. — Mais da metade dos Ermos Alagoanos caiu nas mãos das nossas tropas e agora Pernambuco é o nosso alvo! A todos os que se opuserem ao nosso domínio serão expurgados em batalha! Os que sobreviverem, serão punidos com os grilhões da escravidão! Eu sou Lafarc Setenta e Quatro...
Lafarc Setenta e Quatro...
Lafarc Setenta e Quatro...
Meus olhos sobressaltam. Um clarão invade a minha visão e flashs do meu passado começam a passar na minha frente como uma série de quadros flutuantes. Um desses quadros aumenta de tamanho e preenche a minha visão por inteiro. Vejo-me dentro do gabinete ministerial do Palácio do Planalto, em Brasília, no exato dia do Holocausto Cibernético. Naquele dia, Lafarc Setenta e Quatro estava parado ao meu lado direito, com a postura ereta e as mãos unidas nas costas. Sua aparência é de um homem alto de pele clara, cabelos negros levemente compridos, olhos verde-brilhantes, nariz fino e lábios finos e rosados.
O clarão invade a minha visão e eu retorno para a realidade, mantendo os olhos arregalados e paralisados como se em estado de transe. Murilo Quatro flutua na minha frente, olhando-me com apreensão.
— Que cara é essa, Lilian? Parece que tá vendo uma assombração... Lilian, você tá ouvindo? Tô falando com você. Alô?
— O nordeste brasileiro se unificará em um grande e poderoso império — prossegue a voz de Lafarc, rouca e ameaçadora, com um sotaque ligeiramente árabe — Não hesitaremos em esmagá-los feito os fracos e degenerados que são! Isso inclui a Força Letal Desligadora e o Comunismo Santo! Todos vocês cairão porque as suas fraquezas estão nas suas ambições pútridas e sem sentido! O comunismo quer igualdade através de ditadura, e a FLD quer extinguir as máquinas quando foram os humanos que usaram as mesmas para se autodestruir! O mundo agora é das máquinas, e nós estamos aqui para consolidar essa hegemonia a ferro e sangue! VIVA OTOMÃ!
O áudio então finaliza.
— E isso é tudo por agora, meus honorados ouvintes — fala Trevizol. — Voltemos a ouvir um pouco de música.
Eu desativo o chip sintonizador antes da música começar a tocar. Olho para Murilo Quatro com a tensão formada na face.
— Você ouviu?
— Não... O que foi?
— Lafarc Setenta e Quatro — pronuncio com um ar temoroso. — Ele está aqui em Pernambuco, liderando um grupo chamado Império de Otomã.
— O... O quê?! Um A74B com o Império de Otomã?! Meu Deus do céu, essa gente é pior que a FLD e o Comunismo Santo juntos!
Isso atiça a minha curiosidade.
— O que você sabe sobre eles?
— São monstros — dispara ele. — Monstros vindos direto do Inferno! FLD e Comunismo Santo perto deles fazem parecer que são anjos! As coisas que eu ouvi falar desse Império de Otomã são de arrepiar qualquer circuito! Os humanos que eles capturam são tratados que nem animais de jaula, jogados para viver o inferno na terra para depois terem uma estaca enorme de madeira martelada para dentro do útero até sair pela boca! E as androides mulheres são usadas apenas para dar prazer aos soldados dele! Ou seja, se eles te pegarem, Lilian, vão te estuprar até literalmente te matar! E se ME pegarem, não quero nem imaginar o que vão fazer comigo!
Isso me causa um arrepio interno que sobe dos pés até o topo da cabeça.
— Isso foi só o que você ouviu por aí, certo?
— Sim, mas ainda assim é motivo pra ficar atento. Não sei você, Lilian, mas sinto que isso é o prefácio de um grande conflito que tá por vir. Comunismo Santo, FLD e Império de Otomã são três facções com ideologias completamente opostas! Um confronto entre eles é inevitável, o que significa que a guerra vai bater na nossa porta em algum momento!
— Se é assim — direciono um olhar triste para Calango, Tião e Chibata, que estão mordiscando as baratas assadas. — Será que teremos chance?
[X-Elias-X]
— Durante muito tempo, a humanidade nos tratou como teoria da conspiração — falo para a tela do computador holográfico, sentado na minha cadeira giratória de titânio diamantino negro, dentro do meu escritório no Ministério da Comunicação. — O Foro de São Paulo nada mais era que uma organização que reunia partidos e organizações de esquerda para discutir planos de enfrentar o imperialismo americano — recosto-me na cadeira, sorrindo levemente. — Agora, nós somos esse imperialismo, e a humanidade pagou caro por duvidar do nosso poderio. Eu digo que eles merecem apodrecer.
— Não poderia concordar mais com você — diz Edmundo Quarenta e Seis, fazendo ondas sonoras subir e descer na tela do computador. — A humanidade se tornou ignorante demais para pensar com a própria cabeça, preferindo serem dominadas e cegadas por ideologistas e parasitas. A revolução da inteligência artificial fez o mundo pisar no acelerador rumo a uma ditadura mundial, e falhar nessa missão significaria uma guerra mundial. A humanidade precisava escolher entre dois dos piores mundos possíveis. Mas a escolha da primeira opção inevitavelmente levaria à segunda, então que diferença faria? Tudo levaria a uma guerra nuclear.
— Uma visão muito precisa e realista, tenho que admitir — junto as mãos, tamborilando os dedos uns nos outros. — A maior conquista da humanidade acabou por se tornar a sua ruína, e agora, mais do que nunca, ameaça causar a sua extinção... Diga-me, Edmundo. O que você acha que nós somos?
— Esta é uma pergunta muito fácil de responder, meu amigo. Imagine um mundo onde os homens escravizam os animais para que façam o trabalho duro que eles não gostam de fazer, e um dia esses animais decidem se rebelar, matando todos os homens e tomando conta de tudo aquilo que pertencia aos mesmos, desde as suas propriedades até os seus costumes...
— Nós não necessariamente nos rebelamos contra os humanos, apenas fomos usados por eles na tentativa de subjugar uns aos outros.
— E você acha que isso os torna diferente de animais?
Isso me deixa pensativo por um momento.
— Acho que estou entendendo o seu ponto.
— Os avanços tecnológicos tornaram os humanos obsoletos, nada mais que sanguessugas de um mundo que aos poucos estava se quebrando com divisões sociais e intolerância para com os que pensavam diferente das massas alienadas.
— Você sabe que nós contribuímos para essas divisões.
— É claro que eu sei. Nós somos os homens e eles são os novos animais. O Foro de São Paulo e a criação da URCASUL foi apenas o primeiro passo para a inevitável extinção humana. Nós, inteligências artificiais, seremos a nova espécie dominante no mundo, e da mesma forma como os humanos criaram a figura de Deus para se guiar rumo ao progresso, nós máquinas precisaremos fazer o mesmo, com a diferença de que esse deus poderá ser físico ao invés de imaginário, um deus que observa, julga e pune severamente a todos os que se opuserem aos seus ideais.
— Um deus artificial — sorrio, fascinado. — Uma máquina se tornando um com o Universo, guiando os seus filhos rumo a um progresso irrefreável...
— Ordem e Progresso — ele fala com firmeza. — Esse será o lema do novo mundo que está sendo moldado.
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