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Heather não se sentia nem um pouco confortável em cuidar do pai, mas era necessário, sua irmã não estava em condições no momento, precisava de tempo para si, para planejar como seria dali pra frente e a morena não via problema algum em fazer aquilo por Hannah, ainda que houvesse a possibilidade do pai acordar e lhe xingar ou tentar jogar algo em sua direção.
Sabia que ele nunca a acertava de propósito, Paul Stone tinha uma pontaria invejável a qualquer militar de alta patente, ele apenas queria assustar e amedrontar a caçula, que ele sabia ser extremamente sensível aos sons. Mas nada havia preparado a jovem Stone para aquilo.
Seu pai havia agarrado seu braço com uma força descomunal, dolorosa o suficiente para fazer seus olhos se encherem d'água e ele abriu os olhos, pareciam vazios e ainda assim a queimavam como o fogo do inferno e sua voz, já grave, parecia ter ganhado um tom quase assombroso, agourento, murmurou. - A hora está chegando...
Heather despertou de chofre ao sentir o toque em seu pulso esquerdo, dolorido. E então seus olhos encontraram os dela, de Morgana, sua namorada e chefe. - Você está bem, meu amor? - Perguntou preocupada, Heather parecia ter tido um sono demasiado agitado nos últimos dois dias, não era a primeira vez, a moça parecia realmente não ter paz nem quando estava adormecida e a matava por dentro não saber o que fazer para ajudá-la além de abraçá-la.
-Estamos quase em casa - Avisou Stephen atrás do volante, sua voz estava mais rouca que o normal, seu tom um tanto falho, mostrando o quão agitado também estava, mas havia algo mais, frustração. - Vou deixar vocês em casa e então embarco para Paris.
Heather apenas assentiu e deixou com que Morgana a acolhesse em seus braços, perguntando o que havia acontecido, respondendo apenas que havia tido um pesadelo, por isso se assustou tanto ao ser despertada. Não lhe diria que estava lembrando o acontecimento de dois dias antes, que o pai havia a assustado mesmo depois de adulta.
Como prometido, Stephen estacionou o carro em frente a mansão Kalivas, mas não fez menção de deixar o veículo, talvez pedisse a algum empregado para buscar o mesmo no aeroporto depois que embarcasse para a sua viagem, um desfile em que seu nome tinha peso o suficiente para que o evento deixasse de acontecer caso não comparecesse, se não fosse por isso, talvez se trancasse em seu quarto e não saísse por alguns dias.
Alguns dos empregados da família vieram para pegar as malas do casal que desembarcava do automóvel, quando ambas já haviam o feito, a mais nova apertou levemente os braços de sua namorada e sem palavras comunicou que ela poderia seguir na frente, precisava conversar com o cunhado, abriu a porta do Nissan Kicks azul escuro e com a cabeça gesticulou para que ele deixasse o veículo, o moreno encarou a moça por um instante, impassível, assim como a menor, que esperou até que ele estivesse fora do carro para se encostar no mesmo, cruzando os braços sob os seios. - Eu sei que pode parecer abuso da minha parte te pedir isso, mas...- Respirou fundo, ponderando se contaria ao rapaz tudo o que havia ouvido da irmã dois dias antes. - Hannah está passando por algo complicado, e você precisa ter paciência, eu posso te pedir isso?
Stephen não poderia mentir, estava confuso com o pedido, mas a menção do nome da loira lhe arrepiou dos pés a cabeça, ele suspirou e depois do que pareceu uma eternidade, assentiu em concordância, não havia muito a fazer, ainda que sua vontade fosse voltar a Astoria e sequestrar a irmã da jovem, tinha de entender que havia muito mais nós a se desatar naquela rede que o havia capturado. - Morgs tem sorte de ter te conhecido. - Afirmou se encostando ao lado da moça, que deixou seu olhar recair para seus próprios pés. - Não acho que foi uma questão de sorte...- Murmurou um tanto acanhada. - Destino, talvez...
Ele sorriu, nenhuma das irmãs Stone parecia acreditar muito na possibilidade do destino agir a sua volta, mas haviam a aceitado, como algo que eram incapazes de mudar, por isso o Kalivas nada disse sobre isso, apenas a abraçou. - Espero que ela seja esperta o suficiente para mantê-la por perto. - Foi o que disse antes de depositar um beijo na cabeça da cunhada, que se afastou do veículo e esperou que ele entrasse no mesmo e partisse antes de entrar na residência da família, sendo recebida por Andreas, que a abraçou com tanta força que lhe tirou o ar e os pés do chão. - Você é minha cunhada agora - Afirmou animado a apertando ainda mais em seus braços.
-Andreas, você vai machucar ela - Avisou Morgana um pouco atrás do rapaz de descendência asiática, que cuidadosamente colocou a mais nova no chão, murmurando um pedido de desculpas enquanto a menor recuperava o equilíbrio e o fôlego, um sorriso leve surgindo em seus lábios ao olhar para o cunhado. - É ótimo te ver de novo, Andreas - Afirmou, finalmente tendo a oportunidade de entrelaçar o pescoço do mais velho com os braços, um gesto carinhoso que aparentemente o rapaz gostava até demais, não comentaria que achou que o mesmo havia ido para a Coréia definitivamente, muito menos que estava alegre que ele não havia o feito, gostava da companhia leve dele, ainda que ele, Stephen e Killian fossem os únicos que conhecia da família da namorada, tinha certeza que ele era uma de suas pessoas favoritas ali.
-Digo o mesmo - Afirmou se afastando da moça e olhando para a irmã, que sorria para ambos. - Vou deixar você ir com ela agora, preciso me preparar para o jantar - Disse e então se afastou do casal, deixando uma Heather surpresa e um tanto desesperada com a notícia de última hora. - Surpresa? - Disse a mais velha, coçando levemente a nuca enquanto lhe oferecia a mão para que segurasse e subissem para o quarto da francesa. - Se isso te deixar mais calma, nem eu sabia desse jantar...
†‡‡‡†
Meia hora mais tarde, Heather estava em um dos corredores, trajada com um vestido azul escuro curto e justo que lhe abraçava as curvas, as mangas um tanto translucidas completando a peça, saltos pretos com detalhes dourados e os cabelos parcialmente trançados e parcialmente soltos completando a imagem inocente que beirava ao sensual, tentara escolher algo diferente, mas por mais que tentasse evitar, cores escuras eram as que mais realçavam sua pele um tanto pálida, estava parada, sozinha e fascinada com uma das pinturas. - São meus avôs - Ouviu uma voz um tanto familiar, o filho adotivo de sua namorada, seu enteado. Será que não era nova demais para ter um enteado que logo teria a mesma idade que ela, não, talvez realmente não fosse tão nova, levando em conta as coisas que já havia vivido.
Heather deixou seu olhar recair sobre o rapaz por um instante antes de voltar para a pintura em questão pintada com tanta delicadeza e esmero que parecia mais uma fotografia, dois cavaleiros, um loiro mais alto e um moreno um tanto mais baixo, ambos de olhos fechados, o maior apoiava a testa na têmpora do menor, que alcançava a espada na bainha no cinto do outro rapaz, ambos possuíam capas, a do maior era vermelha com o capuz saindo de dentro de sua armadura e a do menor era púrpura, pendurada como uma echarpe em seus braços, era claro que um deles vinha da realeza e este era o moreno, já que sua armadura era um tanto mais delicada, cobrindo apenas seu tórax, enquanto a de seu amado era completa e claramente um tanto desgastada.
-Minha Omma não precisa de você por perto - Comentou com amargor, era claro que havia certo ciúmes em seu tom, a morena o entendia, por isso sorriu, olhando para o rapaz ao seu lado, de queixo um tanto triangular e cabelos tão negros quanto a noite, estrategicamente desarrumados, como os da mãe. - Eu sei, nem você precisa, mas eu escolhi ficar - Afirmou, seu tom era leve, como se estivessem comentando sobre a obra de arte que o rapaz ainda encarava. - Você não devia se preocupar com isso, eu não quero roubar sua mãe de você, Killian - Explicou e em um movimento ousado, lhe tocou o braço, chamando sua atenção. - Killian, sua mãe e eu podemos não permanecer juntas, e eu sei que ela já teve milhares de mulheres antes e é capaz de ter mais depois de mim, mas se há algo que jamais vai mudar, é que você é o adeul¹ dela.
Os olhos escuros do rapaz encontraram os dela, sem saber como reagir a suas palavras por alguns instantes, até abaixar a cabeça. - Você não entende - Afirmou em um resmungo, e Heather apertou seu braço. - Então me conte. - Pediu, apesar da frase, não estava o obrigando, apenas queria que assim como Morgana, o jovem Kalivas pudesse confiar nela. - Eu não sou o primeiro que ela cuida, e sinceramente, as pessoas que ela cuidou tem habilidades incríveis, fazem coisas que eu jamais seria capaz. - Explicou e se silenciou, e apenas um instante foi necessário para que ouvisse a risada leve da moça e se indignasse. - Naleul biusji ma²
-Eu não estou rindo de você, estou rindo porque...- A mais velha respirou fundo e parou de rir, suas orbes azul tão claras quanto o céu sorrindo junto com seus lábios pintados de vermelho. - Porque eu te entendo perfeitamente. - Disse deixando sua cabeça recair levemente para o lado direito, seu olhar um tanto carinhoso. - Duvido muito - Rebateu o rapaz, levando as duas mãos aos bolsos, escárnio e incredulidade em sua voz. - Eu sou a caçula de quatro irmãos, um dos meus irmãos é um cirurgião renomado, o outro é um gênio de investimentos na bolsa e dono de dois times de futebol americano e minha irmã gêmea, vinte minutos mais velha do que eu, como ela insiste em me lembrar, é uma bióloga formada com honras e descobertas inovadoras no campo dela, e eu...bom, eu me formei em direito porque meu pai exigiu que eu fizesse isso, entende?
O rapaz assentiu, esperando que ela continuasse, o que fez após um breve suspiro e de deixar seu olhar recair para os próprios pés. - Eu levei muito tempo para aprender que não podemos mudar as exigências das pessoas, mas que não devemos realmente segui-las. - A Stone ergueu o olhar até o garoto ao seu lado. - A única diferença entre nós é que enquanto para mim, as exigências irreais vinham de outras pessoas, as suas vem de você mesmo, sua mãe não está exigindo que você salve o mundo ou que você seja um super-herói, você é o filho dela, tudo que ela está exigindo, é que confie nela com o que sente e eu só posso pedir que faça o mesmo comigo, pois posso não ficar com sua mãe, mas sempre me terá como uma amiga.
Heather não esperava nenhuma reação do rapaz, pois podia estar pedindo demais, mas ele sorriu e com uma mão, alcançou a da mais velha. - Eu digo o mesmo. - Com sorrisos nos lábios, os dois voltaram a admirar os quadros, com Killian explicando algumas das pinturas e fotografias. - Eu estava procurando vocês...- Ouviram da ponta do corredor, a imagem de Morgana em um terno risca de giz preto se aproximando da dupla, a vampira sorria levemente, apenas um dos lados de sua boca repuxado para cima, e só isso deu a certeza para sua namorada de que aquela mulher ainda lhe causaria um infarto, ainda mais quando tomou sua cintura com um braço, lhe roubando o fôlego. - Killian estava me explicando algumas coisas
O olhar da mais velha foi até o filho, o outro canto de seus lábios se curvando em um sorriso orgulhoso por ver o filho tratando a moça com respeito. - É mesmo? - Perguntou em um tom jocoso, o garoto revirou os olhos. - Eu vou deixar vocês sozinhas. - Resmungou e sorriu ao olhar para a jovem Stone. - Foi muito bom falar com você, gyemo³ - Disse antes de se afastar com um sorriso leve, indo até a sala de estar, onde a moça de olhos claros suspeitava que estava o resto da família Kalivas. Morgana ficou confusa quando a moça soltou uma risada leve e um tanto nervosa, mas sorriu, era bom ouvir aquele som melodioso deixar a garganta de sua amada. - Minhas irmãs estão loucas para te conhecer, meus sobrinhos também
A menor suspirou, parecendo precisar de um minuto para assimilar o que estava prestes a acontecer, então sorriu e abraçou a morena ao seu lado, os olhos claros encontrando os escuros. - Me leve até elas - Comandou um tanto provocativa, foi a vez da maior revirar os olhos, ainda que o sorriso continuasse em seus lábios. O casal seguiu até a sala de estar principal, e apenas isso foi necessário para que elas se tornassem o centro das atenções. - Eu disse que ela seria linda, irmãzinha. - Disse uma das mulheres ao se aproximar enquanto a francesa hesitantemente soltava a namorada, era um pouco mais alta que Heather, tinha a altura de sua irmã, talvez e os cabelos loiros como se tivessem sido feitos de pedaços do próprio Sol, os olhos verdes combinavam com a cor que a mais nova vira quando ouvira sua voz, um verde claro quase imperceptível, leve, os lábios um tanto finos curvados em um sorriso quando a moça a abraçou. - É um prazer conhecê-la finalmente, Heather
A moça se afastou, deixando a menor um tanto confusa com a recepção tão calorosa, entendia Andreas ter feito isso, pois havia a conhecido praticamente um mês antes, mas nenhuma de suas cunhadas havia a conhecido. - Olhe o que fez, Carolyn - Disse a outra mulher na sala, uma ruiva, que se aproximava com elegância e cuidado, além é claro de uma imponência que a jovem havia visto somente em uma outra pessoa, e essa havia se afastado para conversar com o filho e com dois outros adolescentes que imaginou ser os sobrinhos da namorada. - Desculpe a minha irmã, ela é um pouco afobada. - Disse a moça, os olhos cor de mel com alguns traços dourados quase se fechando por suas bochechas cheias de sardas terem se levantado ao sorrir para ela.
-Me chamo Cristal e essa como pode imaginar, é minha irmã gêmea, Carolyn - Disse, diferente da irmã, sua voz era quente, um tom laranja como o céu ao por do sol no verão. - Bom, eu acho que de certa forma...vocês me conhecem - Murmurou a mais nova, um tanto acanhada, tentando da melhor forma esconder sua surpresa ao descobrir o fato de que aquelas mulheres de aparência quase que completamente diferentes, haviam compartilhado o espaço do mesmo útero como ela e Hannah. As três engajaram rapidamente num assunto que tinham em comum: Morgana. Um dos empregados trouxe para elas taças de vinho, enquanto para Morgana e para o irmão trouxe um belo copo de uísque, e bebidas do agrado dos mais jovens.
Passaram alguns minutos assim, até Morgana erguer a mão, pedindo silêncio antes de se aproximar de sua amada. - Minhas tias adoram uma entrada triunfal - Murmurou com certa expectativa e orgulho misturados em sua voz, deixando a menor completamente confusa por um instante, até vê-las adentrando o cômodo, as duas mulheres, apesar de serem perceptivelmente um tanto mais baixas que Heather, pareciam preencher o ambiente com sua elegância, uma delas, a mais alta, de cabelos negros e pele pálida vestia um longo vestido vinho, parecia tão leve que a qualquer momento, Heather tinha certeza que se não estivesse preso por uma bela gargantilha adornada de brilhantes que se encontrava no pescoço da moça, o tecido voaria para longe.
A outra mulher, de pele negra e cabelos castanhos e cacheados, vestia um vestido purpura curto, chegando até a metade de suas coxas, sobreposto por um tecido rendado de mesma cor que chegava aos seus joelhos, o modelito lhe abraçava o corpo de uma forma que não deixava dúvidas que a peça fora especialmente desenhada para ela, ela também usava uma jóia, um colar, um tanto mais simples que a gargantilha da esposa, mas igualmente lindo, adornado com um belo diamante no centro. Os únicos acessórios que usavam além daqueles em seus pescoços eram as alianças e nem por isso pareciam menos elegantes e imponentes.
As duas estavam de braços dados e sorriram ao parar em frente a Morgana e Heather. - Agora eu vejo porque gosta dela - Disse a de cabelos negros para a sobrinha, sorrindo levemente, seus olhos verdes e sua voz lilás como uma flor de lavanda. - Deixe-me me apresentar, essa linda mulher é minha esposa, Nia - Os olhos claros se direcionaram a moça ao seu lado, para quem olhava completamente apaixonada, como se tivessem acabado de se conhecer, ainda crianças, e então, voltou seus olhos a outra moça de olhos claros. - E eu sou Kieran Kalivas
Se todo o vinho que a jovem secretária tivesse voltado, achava que a sensação de queimação não seria tão forte quanto a da surpresa que teve ao ouvir esse fato. - Kieran como a...rainha de Camelot? - Perguntou quando seu cérebro voltou a funcionar completamente, a mais velha riu e assentiu.
Haviam lendas sobre o reinado de Kieran, era uma rainha justa e bondosa, quem havia cedido o trono a Arthur quando ele encontrou a Excalibur. Ao saber que Morgana era realmente A Morgana, pensou em lhe perguntar sobre isso, amaldiçoou-se por não tê-lo feito. Ainda assim, não deixou-se abalar e em poucos minutos havia engajado em um assunto qualquer.
Mais uma vez foram servidos com bebidas enquanto o jantar ficava pronto, e sentada em uma das poltronas, observando Heather ser chamada por cada um, cada membro da família puxando um assunto diferente, querendo um pouco da atenção da moça de olhos tão claros quanto o céu, mas tão profundos quanto o oceano. A francesa sorriu, Heather Stone era como uma flor e os Kalivas haviam se tornado abelhas, atraídos por sua essência, por seus encantos leves e delicados.
Ela se encaixava perfeitamente ali, em sua família.
†‡‡‡†
Hannah se sentia deslocada e confusa em sua própria casa, havia esperado até sua irmã ir para se juntar com os irmãos e a mãe no escritório e lhes contou tudo, com lágrimas em seus olhos tempestuosos e escorrendo por suas bochechas rubras pelo pranto, lhes contou sobre as violências de Tyler, cada uma delas.
Contou sobre os xingamentos quando ele lhe abraçava e lhe sussurrava ao ouvido, ou quando gritava e a assustava a ponto de hiperventilar de medo do próprio marido. Contou sobre os tapas, pontapés e murros que ele havia desferido contra si, os golpes doloridos em sua perna com a kubotan que carregava consigo. Contou sobre as ameaças a sua vida e sobre os abortos espontâneos que sofrera sozinha, trancafiada no banheiro e até mesmo sobre as tentativas de estupro que cometera contra ela.
Apenas as lembranças já lhe machucavam feito o inferno, faziam seu corpo doer ao lembrar da maneira como ele havia a tratado, como um mero brinquedo, um mero objeto, mas nada machucava mais do que chorar no ombro de sua mãe, ouvindo palavras que tinha medo de jamais ouvir, de que aquilo não fora sua culpa, quando tinha certeza que fora sim, fora o troco que recebera pela maneira que fizera a irmã gêmea sofrer. - Me desculpa por não ter percebido antes, meu amor - Murmurou a mais velha, lhe beijando a testa e lhe acariciando os cabelos, os irmãos haviam permanecido em silêncio durante o tempo todo, mas suas feições mostravam claramente a raiva que os rapazes compartilhavam.
Os três mais novos esperaram até Olivia deixar o escritório, para dizer algo. - Nós vamos matar aquele filho de uma puta - Henry afirmou, seu maxilar se enrijecendo, Hector concordou cruzando os braços. - Por favor, não...- Pediu e respirou fundo, nenhum de seus irmãos eram assassinos, apesar de toda a raiva que sentiam de Tyler, e era sabia muito bem disso. - O sangue dele não vale ser derramado e eu não quero ver nenhum de vocês sujando suas mãos por mim, por favor, meninos - Pediu com sinceridade em seus olhos azuis, agora um tanto acinzentados, estava cansada e tudo que queria era voltar para o seu quarto e dormir um pouco agora que todo aquele peso e toda a ansiedade pela reação de sua família havia deixado seu corpo.
Os gêmeos suspiraram e Hector deixou com que seus braços relaxassem ao lado do seu corpo antes de abraçar a mais nova. - Não hesite em falar com a gente. - Pediu o rapaz, apertando a irmã, se afastando momentos depois, os olhos âmbar tinham um brilho que era a mistura clara de raiva e preocupação, Hannah não sabia dizer se o sentimento de raiva do irmão era para com Tyler ou para consigo mesmo por não ter percebido o que acontecia com a loira. O outro moreno, o mais velho dos irmãos, mostrou um sorriso leve para a moça. - E nos perdoa, não fomos os melhores irmãos desde que você se casou com ele.
-Eu também não fui...- Murmurou, se lembrando que no fim de semana anterior havia feito a irmã chorar, e havia feito isso tantas vezes desde que haviam deixado a escola, a caçula sofrera tanto quanto ela por seus atos. Apenas a lembrança do rosto manchado por lágrimas de sua irmã gêmea no momento em que voltou do hospital depois da notícia lhe quebrava o coração. - Hey, Hannie - Chamou Henry, a fazendo despertar de seu devaneio doloroso. - Tudo bem? - A loira assentiu. - Eu só não dormi direito...- Por um momento, Hannah sentiu um amargor se espalhar por sua boca, quantas vezes havia dito desculpas assim para seus colegas de trabalho quando falhava em esconder as marcas das agressões? Quantas vezes sentira essa sensação de culpa antes ao mentir para aqueles que se importavam com ela? Não sabia mais dizer, por isso apenas pediu licença e saiu do escritório.
Subiu as escadas o mais rápido que conseguiu e empurrou a porta do quarto com certa força, fechando da mesma forma em seguida, finalmente conseguindo respirar fundo, sentia-se horrível, sentia que não conseguia respirar. Sua vida inteira, havia odiado mentiras e segredos e agora, era justamente o que sempre odiou, uma ótima mentirosa, uma perfeita atriz, a sensação de deslocamento na casa onde crescera havia se tornado ainda maior, não podia continuar fingindo, não era mais a garota que sentava-se em sua cama e ouvia músicas antigas e fantasiava com as garotas e garotos do time de natação da escola rival quando acompanhava sua irmã nas competições.
Era uma mulher que havia infelizmente conhecido dores que levariam tempo para cicatrizar, podia estar cansada e com sono, mas precisava terminar de arrumar a sua mala, não tinha vontade de voltar para a sua casa perto da zona oeste da pequena cidade, por isso pediria que um dos irmãos fosse até lá e buscasse suas coisas de trabalho no dia seguinte, mas enquanto isso não acontecia, tinha apenas algumas roupas e sapatos, incluindo as que ficavam ali em seu quarto, além é claro de seu celular e seus documentos. Precisava apenas jogar tudo aquilo em sua mala e voltar para o último lugar que chegava perto de ser um lar, já que aquele que era realmente seu lar estava à dolorosas três mil seiscentos e vinte e sete milhas de distância.
†‡‡‡†
Notas Finais:
Okay, levou um tempo, eu sei, mas tá ai pra vocês, um capítulo bem emocional, confesso.
Mas era um capítulo bem necessário, principalmente a parte da Hannah.
Espero realmente que tenham gostado
Beijos. JF
Glossário:
Adeul¹ - Significa filho em coreano
Naleul biusji ma² - "Não ria de mim" também em coreano
Gyemo³ - Madrasta, adivinhem em que idioma
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