Nono Capítulo
É claro que Annabelle se arrependeu imediatamente daquele contato assim que se separaram e Howl mantinha um sorriso suave no rosto. Tudo bem que ela estava se tocando que cada vez mais gostava de Howl – e ainda não sabia se isso era conveniente ou não –, só que não era necessário que parecesse uma desesperada, certo? Embora estivessem casados e enfrentando essa batalha juntos, se conheciam há menos de uma semana, então era difícil dizer o quanto de contato era permitido entre os dois. Apesar de que foi ele quem começou, com aquele beijo. E dizendo para ela trata-la como um namorado. Mesmo que aquilo fosse uma grande mentira.
- Vamos entrar e checar a casa por dentro? – ele convidou, tirando-a de seus devaneios confusos e pegando duas das malas. Ela concordou com a cabeça e pegou a mala restante, indo na frente.
A primeira coisa que a garota notou quando entrou na casa foi o gato malhado e gordo que estava sentado no meio do corredor, como se os aguardassem, o rabo parecendo o balançar de um pendão desafiando as leis da gravidade. Howl também notou imediatamente o animal e sorriu.
- Bartholomeu! – e assim que pronunciou o nome naquele sotaque magnífico (na opinião de Annabelle) o gato soltou um miado fino e saiu de sua posição, rebolando o traseiro e o rabo até seu dono e começando a ronronar como um motor de barco.
- Que gracinha! – Annabelle disse, hesitando um pouco antes de abaixar-se e acariciar o pelo macio. Bartholomeu não pareceu ter se importado e miou curioso para ela. – Ah, que bom que ele não é desconfortável com estranhos.
- Bartholomeu e Miles viviam na rua quando eu encontrei eles e trouxe para casa. Então eles são bastante acostumados com pessoas passando por eles o tempo todo. – Howl sorriu e pôs-se a continuar trazendo as malas para dentro. Annabelle começava a imaginar se haveria algum defeito em Howl e se, pra compensar tudo de bom que ele era, não seria uma coisa insuportável e terrível. Aquilo começava a preocupa-la. Não se lembrava de as regras da vida permitirem pessoas tão maravilhosas assim andando entre os meros mortais.
- Pelo que entendi, pra cá – ele apontou para a porta à esquerda deles, mais próxima. – é a cozinha e na porta do outro lado é a sala de estar. Ali no canto do fim do corredor é a escada que dá acesso aos quartos, e aquela porta do fundo dá pra um pequeno quintal. – ele foi explicando enquanto apontava, e ela seguia com o olhar suas indicações. – Do lado dela acho que tem um banheiro, mas deve ser meio suspeito. Lá em cima tem três quartos, duas suítes e um menor de hóspedes.
- É surpreendentemente grande por dentro, não? – Annabelle comentou. Depois soltou um suspiro. – Então vamos ter que levar isso tudo lá para cima. Agora me arrependo de ter trazido tanta coisa. – comentou, pesarosa, mas Howl não pareceu se importar.
- Vamos levar as malas juntos, mesmo que tenhamos que descer várias vezes, não fica muito ruim.
- Ok. – ela concordou e pegaram a primeira mala, mais pesada.
A escada era difícil de subir, ainda mais segurando uma mala e tentando não matar o outro esmagado caso derrubassem a sua parte do peso, mas de alguma forma conseguiram fazer isso com todas as três malas. O casal encontrou-se bufante ao terminar, decidindo por um intervalo para tomar ar antes de prosseguirem com a arrumação. Sentaram-se lado a lado no último degrau e Annabelle inclusive recostou-se numa das malas, sentindo os braços doerem.
- Aliás... – Howl chamou-lhe a atenção e ela o olhou com mais atenção. O rosto dele estava levemente avermelhado e suado, com alguns fios de cabelo colados a ele. Não parecia horroroso, ao contrário de Annabelle, que nem queria imaginar sua situação ao bufar em resposta para que ele prosseguisse. – Como temos dois quartos, você prefere dormir separadamente, certo?
Ah. Annabelle não tinha pensado naquilo. É verdade que na sua casa acabaram dividindo a cama, então não tinha muito problema com aquilo. Mas se pudesse escolher entre dormir juntos ou separados... ela escolheria separados... não é? Ela já não tinha certeza. Porque, bem, não era tão ruim assim dormir ao lado de Howl. Não é como se ele soltasse puns fedidos durante a noite ou roncasse. De qualquer forma, aquele casamento todo era um fingimento então não precisariam se forçar àquilo. Não é?
- Sim. Separados. – ela disse, meio mecanicamente, tentando tirar da cabeça a imagem da noite que passara em casa junto com ele. Forçou um sorriso e depois obrigou os músculos a se movimentarem. – Vou levar as malas para o quarto então, para começar a ajeitar as coisas enquanto ainda tenho força de vontade para fazer isso.
- Eu te ajudo a leva-las até lá. – Howl levantou também, mas antes que qualquer um dos dois pudesse dar um passo, uma coisa branca passou correndo entre eles, pulando as malas. – Miles!
Ao ouvir o dono chamando, o gato parou e os encarou com um olhar de desdém. Ele era bem mais magro do que Bartholomeu, com o corpo praticamente todo branco mas com algumas manchas nos tons dos pelos do outro, e o rabo todo malhado. Soltou um miado agressivo e continuou correndo para um dos quartos.
- Acho que ele está bravo porque passei muito tempo longe. Ele é um pouco mais ciumento que Bartholomeu, mas não se preocupe. Ele não faz nada. – Howl disse, olhando com carinho para onde o gato desaparecera. Annabelle surpreendeu-se ao ver aquele olhar no rapaz. Por algum motivo bem bobo, invejou o bichano.
Levaram as malas para o quarto que seria de Annabelle – já que descobriram que um dos quartos já estava lotado de caixas com as coisas de Howl – e, recebendo uma ligação, ele a deixou sozinha para desarrumar a bagagem como queria. Ela mal havia começado a retirar as roupas quando ele voltou.
- Desculpe, o Bill ligou e quer me ver no estúdio. Parece que temos que resolver umas coisas então tenho que ir para lá. Não sei que horas volto. Você fica aqui? – ele falou.
- Sim, sem problemas. – não é como se ela tivesse alguma outra ideia para onde ir, e encontrar Bill de novo não seria tão prazeroso assim. - Vou arrumar minhas coisas. – ela sorriu. Ele concordou e acenou, saindo do quarto. Ela pôde ouvi-lo dizer algo para os gatos e depois bater a porta da frente, e de repente tudo ficou muito silencioso. Annabelle suspirou.
Pegou o iPod e selecionou a pasta do Compass~, que Maddy fizera questão de lhe passar para que ela tivesse a mínima decência de ouvir a banda do marido, colocando a música que mais gostara até o momento para tocar no alto-falante, assim não ficaria tão solitária. A voz de Howl era deliciosa nessa balada chamada Pearl Eyes, e ela já estava até mesmo aprendendo a letra para cantar junto.
Enquanto arrumava todas as suas coisas, Bartholomeu e Miles lhe pagaram uma visita. Bartholomeu chegou primeiro, já se enfiando dentro de uma mala relativamente vazia dela. Miles, um pouco mais tímido, demorou mais pra entrar na mala também, mas pareceu se divertir bastante quando o fez. Annabelle tentava se distrair com a diversão dos animais, porque se deixasse sua mente viajar, ela ia acabar ficando cada vez mais deprimida.
E ela não queria ficar assim porque ela não devia ficar deprimida! Ela e Howl não eram nada além de um casamento falso, e temporário. Ela sabia e insistira nisso desde o começo, defendendo que preferiria divorciar-se a ficar junto com Howl, até que o problema da banda entrou em jogo. Então por que o fato de ele sair e a deixar sozinha a abalava tanto? Ela queria passar mais tempo com ele, afinal, ele era seu único porto seguro naquele país totalmente desconhecido. Ela não saberia nem chegar ao supermercado que Bill mencionara mais cedo, sem contar que estava longe de suas amigas e pais. Mas também parte dela queria descobrir mais sobre Howl, e não o Howl que estava na mídia e sobre o qual ela poderia achar tudo na internet. Ela queria saber sobre aquele Howl que acordara ao seu lado numa manhã em Vegas e que desde então tinha estado junto com ela. O Howl que acabara de sair da porta e a deixara sozinha.
Suspirou, cansada daquilo. Bartholomeu aproximou-se dela e aprumou-se em seu colo, ronronando alto. Ela sorriu e acariciou o pelo comprido.
- Pelo menos tenho vocês aqui, não é? Mas vai ser bem difícil passar o tempo assim...
Mais uma vez suspirou, e odiou-se por isso. O que ela era, uma menina bobinha apaixonada? Ela e Howl eram adultos e estavam resolvendo a situação assim; não tinha que ficar amuada com essas besteiras infantis. Não é como se fosse para ser real mesmo, desde o começo.
Como desistira logo de arrumar as malas, decidiu que estando sozinha em casa seria uma boa hora de buscar sobre Chad e Mitch e descobrir o lado sombrio da Compass~. Mas assim que ligou o notebook, percebeu que não tinha a senha do Wi-Fi ainda e, uma coisa pior, não tinha o número do Howl para ligar em caso de emergência. Não que seu celular estivesse funcionando fora do seu país, o que a impossibilitava inclusive de dar a seus pais e amigas mais notícias sobre sua chegada à Inglaterra (havia mandado uma mensagem com o Wi-Fi do aeroporto, já que tinha sinal antes daquela parte maluca de passar pelas fãs) e conversar com eles. Já estava começando a ficar com saudades deles, mas sabia também que eles tinham seus empregos e suas vidas e não poderiam ficar o tempo todo pendurados no telefone com ela. De qualquer forma, era um grande problema não ter o número de Howl nem acesso à internet; como ele disse que não sabia que horas voltaria, ela também não tinha previsão nenhuma para comer já que não sabia onde era o supermercado nem nada do tipo. E ela estava ficando com fome, aquela porcaria de refeição do voo era impossível de sustentar uma pessoa por muito tempo.
Decidiu ver a casa com seus próprios olhos para matar o tempo e ignorar as manifestações que sua barriga fazia, e como Bartholomeu ainda estava em seu colo, segurou-o com cuidado e levantou-se junto com ele. Ele era bem pesadinho mas ronronava satisfeito por ser carregado, e ela ponderou quantos cômodos conseguiria passar com ele naquela posição antes de desistir da jornada.
O primeiro quarto que visitou depois do seu era o de hóspedes. Ele era bem menor e tinha dois colchões empilhados que poderiam servir como uma cama alta ou dois colchões individuais direto no chão. Um pequeno armário, cortinas simples para evitar a luz, não tinha muita coisa ali, então ela rapidamente passou para o próximo.
Ela não pretendia demorar-se no quarto do Howl, porque provavelmente era invasão de privacidade, mas deixando Bartholomeu em cima da cama (ao que ele miou em protesto) não resistiu à curiosidade e aproximou-se da caixa mais próxima e abriu-a apenas para espiar seu conteúdo, torcendo para não ser a caixa das cuecas. Por obra do destino ou de um demônio na pele de empresário, aquela caixa continha diversas revistas de fofoca. Annabelle não tinha certeza se Howl realmente colecionava as revistas que Compass~ saía, porém aquela caixa parecia estrategicamente colocada ali para que uma esposa curiosa encontrasse. Mordeu o lábio inferior, considerando se deveria ou não mexer naquilo - não queria se render caso aquilo fosse um esquema de Bill. Entretanto, ela procuraria tudo aquilo na internet de qualquer jeito e ela teria que saber no que estava se metendo, logo, não haveria nada de errado em descobrir mais sobre o emprego de seu marido.
Sentando-se ao lado de Bartholomeu, apoiou a caixa e retirou as revistas conferindo as datas. Depois de ter separado algumas – eram realmente muitas revistas e ela não queria passar a tarde toda lendo-as – pôs-se a pesquisar sobre Mitch Jones e Chad Lynn.
Ao terminar sua pilha separada de revistas, Annabelle encarava Bartholomeu um pouco chocada. Não sabia bem o que esperar, mas aquilo certamente fora inesperado. Quer dizer, Chad fora até surpreendente. Pelo que ela entendera, ele não conseguia ir bem na escola não importa o quanto tentasse e isso lhe causou uma raiva pelas instituições e os professores que tanto o atormentavam por sua "burrice", fazendo-o cometer diversos crimes de vandalismo. Logo depois da banda começar a estourar ele foi retido por algum tempo e aquilo marcou sua imagem, mesmo que estivesse tentando melhorar recentemente. Por ter feito aquilo, paparazzi sempre ficavam de olho em qualquer passo que ele desse para incriminá-lo de qualquer coisa, e mesmo incidentes com bebidas e mulheres eram tratados como um grande problema.
O que, na verdade, comparado à Mitch não era. O baterista era justamente a imagem que Annabelle tivera dele ao conhece-lo. Um grande safado que amava bebidas, drogas e mulheres. Os escândalos deles eram todos referentes a isso, mas seu ponto é que muitas vezes ele se envolvia com fãs – não groupies, fãs mesmo – e o pior acidente que aquilo levara foi o suicídio de uma delas por não ser amada de verdade pelo rapaz. Foi por causa disso que ele fora parar em uma entrevista individual com a tal Jess, que Howl mencionara mais cedo. Para ele foi bom, já que no programa ele conseguira refrear um pouco a imagem terrível que estava se espalhando sobre ele e o caso foi mais controlado. Annabelle percebeu aí o quanto aquela mulher era influente, e parou sua leitura aí, sem querer descobrir mais nada sobre aqueles dois e com dor de barriga pensando sobre o dia seguinte.
Ela imaginava que, para o casamento de ela e Howl ser tratado daquela forma, os dois tinham que ter feito muita coisa ruim. Ler sobre aquilo, porém, deixou-a com um gosto ruim na boca. Lembrava-se do rosto de feições bonitas de Chad e seu jeito desleixado e sorriso maroto e imaginava-o naquela revolta que o levara à prisão. E Mitch, Mitch tinha aquele jeito de lhe chamar de gostosa e olhá-la com cobiça, mas o pensamento de alguém ter se suicidado por ele lhe deixava com dor de cabeça.
Levantou-se, um pouco atordoada, e uma a uma guardou as revistas de volta à caixa. Sentiu que se Bill deixara aquelas revistas ali como um aviso para que ela soubesse onde ela estava se metendo. Annabelle não conseguia deixar de imaginar se Howl, mesmo sendo todo perfeito e adorável com ela o tempo todo, também não teria nada do tipo escondido dentro de si. Ela não percebeu nada nas revistas sobre ele, só que estava focando-se nos outros. E se algum dos títulos ali também se referisse a Howl e algum escândalo horrível? Maddy saberia sobre isso e a avisaria, não é? Maddy lhe havia dito desde o começo que Howl era o mais gentil dos três então não haveria problema para Annabelle. Mas saberia Maddy tudo daquilo que Annabelle acabara de ler? Sobre Mitch, sobre Chad? Por que ninguém nunca lhe falara nada e lhe deixara descobrir tudo por si mesma?
Ouviu barulhos no andar de baixo, barulhos que gatos não fariam sozinhos, e olhou para fora da janela, reparando que já havia anoitecido. Percebendo que devia ser Howl chegando, saiu rapidamente de seu quarto sendo seguida por Bartholomeu e desceu as escadas, antes checando se deixara as coisas em ordem no quarto dele.
- Belle? – ouviu sua voz chama-la quando estava no meio das escadas e terminou de descê-las, aproximando-se da cozinha que estava com a luz acesa. Sentiu um cheiro maravilhoso de pizza e assim que chegou à porta deu um encontrão em Howl, que pareceu surpreso em vê-la. – Ah, você já está aqui. Você é mais silenciosa que os gatos. – ele riu, afastando-se e olhando-a. De repente seu sorriso sumiu. – Você está bem? Está muito pálida.
Ela gaguejou um pouco, pensando no que responder. Não tinha certeza se queria conversar sobre Mitch e Chad agora. Tendo Howl sorrindo ao seu lado já aliviara seus sentimentos, mas seu coração ainda estava apertado de tudo que lera e estava receosa do que Howl seria na verdade. Antes que pudesse replicar, ele sorriu calmo.
- Deve estar morrendo de fome, não é? Desculpe. Eu saí para o estúdio e esqueci que você não poderia fazer compras nem nada do tipo. Vamos comer, vem. – ele puxou-a pela mão e abriu as caixas das pizzas, servindo-a com uma fatia de marguerita. – Essa está boa?
- Sim, obrigada. – ela forçou um sorriso. Realmente estava com fome e sede e puxou para perto de si uma das cervejas que Howl trouxera. Ele, que se sentara à sua frente e servia-se também de uma fatia enorme, olhou-a surpreso. – O que foi?
- Não sei. – ele soltou uma risada. – Acho que não imaginava você tomando cerveja. Quase comprei refrigerante para você.
- Ei! – ela reclamou e ele riu mais uma vez. O peso em Annabelle se esvaía aos poucos. Não teria como aquela pessoa à sua frente ter um passado obscuro, não é? E Howl contara para seus pais como ele era, como sua família era. Howl era Howl, aquele quase príncipe dos contos de fadas que ela encontrara na vida real e acidentalmente se casara. Ela não tinha que se preocupar. – Não se esqueça que eu bebi tanto em Vegas que acabei até casada com você.
- Ah, é mesmo. É certamente uma wild girl. – ele comentou com uma ponta de ironia antes de enfiar um pedaço de pizza na boca.
- Howell! – ela apertou os olhos, apontando o garfo para ele, mas não fez mais nada além de rir.
Continuaram a comer em silêncio, a refeição agora estava muito mais leve e Annabelle sentia-se muito mais feliz. Iria se lembrar de nunca mais ler coisas ruins enquanto estivesse morta de fome.
- Ah, lembrei. – Howl disse de repente, mas parou antes para tomar um gole da cerveja. – Vamos repassar nossa história de passado direitinho e com vários detalhes. Temos que pensar em tudo que Jess pode querer saber e perguntar para respondermos sem hesitação. Como é a primeira vez que vamos a público, todos ainda vão estar muito duvidosos da veracidade desse casamento. – ele contou, remexendo o restante da pizza no prato dele. Já era seu quinto pedaço, enquanto Annabelle parara no terceiro e agora só bebericava a cerveja.
- Certo. – ela respondeu, tentando não aparentar todo o nervosismo que sentia. Falhou miseravelmente. Howl lançou-lhe mais um de seus sorrisos adoráveis.
- Se você estiver muito nervosa para falar, não fale, a menos que lhe perguntem diretamente. Isso vai reforçar aquilo de que você tem medo de público, e, sendo sua primeira entrevista, ninguém vai ligar para isso. – ele explicou.
- Mas e se me perguntarem algo e eu não souber responder direito? – ela perguntou, temerosa.
- Invente qualquer coisa. Eu vou assimilar o que você disser e adaptar pro que a gente tem em mente. Não se preocupe, Belle. Vai dar tudo certo. – ele sorriu confiante e ela ficou tentada a se sentir assim também, mas ainda tinha um enorme medo de arruinar tudo apoderando-se de todo seu corpo.
- Bem, eu não aguento mais. – ele disse, largando os talheres e reclinando-se na cadeira, colocando os braços atrás da cabeça. – Acho que seria uma boa tomarmos um banho e já irmos dormir. Como a entrevista é cedo amanhã, temos que descansar bem.
- Certo. – Annabelle não tinha nada a reclamar daquele plano. Depois de se alimentar, estava sentindo-se incrivelmente cansada.
Deixaram a cozinha uma bagunça, mas subiram para os quartos em silêncio e desejaram boa noite um para o outro, como estranhos. Annabelle, depois de uma ducha rápida, enfiou-se na cama e preparou-se para uma boa noite de sono.
Exceto pelo fato de que já fazia horas que ela estava deitada e não conseguia pregar os olhos. Encarava o teto, estranhando a cama, os lençóis, o peso de Bartholomeu – que parecia ter escolhido o quarto de Annabelle como o seu favorito –, estranhava até mesmo o próprio pijama que trouxera de casa. Não sabia se estava nervosa ou sofrendo de jet lag, o fato é que não conseguia dormir de jeito nenhum. E faltava apenas algumas horas para a entrevista na TV com a tal Jess. Ela provavelmente ia estar parecendo um zumbi e a sua primeira impressão para o público seria horrível. Pensar nisso apenas a deixava ainda mais insone.
Decidiu ir ao banheiro e, depois que terminou, pensou em checar se Howl estaria sofrendo também. Tateando para buscar a saída já que estava escuro e desconhecia a arquitetura do quarto, encontrou a porta entreaberta do pior jeito possível: com a cabeça. Reclamando baixinho da dor e esfregando a testa, seguiu pelo curto corredor com a mão na parede até encontrar a porta do quarto de Howl. Empurrou a porta também entreaberta e espiou. Como era noite clara e de lua cheia, mesmo que o quarto estivesse escuro ela conseguia ver graças à luz que entrava pela janela. Howl estava em outro mundo, completamente apagado na cama. Vestia uma regata e estava agarrado a um travesseiro, parecendo confortável. Ela pensou que, sendo um artista que viajava de ônibus para turnês, dormir em qualquer cama já era muito melhor do que os bancos do veículo. Aproximou-se um pouco só para ter certeza que ele estava dormindo, mas logo se tocou de quão estúpida era aquela ideia. Mesmo se ele estivesse acordado, o que ela falaria para ele, invadindo seu quarto de madrugada?
Dando meia volta para voltar ao seu cômodo e tentar dormir de vez, mal deu dois passos quando uma coisa branca passou rapidamente por ela e a assustou, fazendo-a recuar e tropeçar em uma das caixas de mudança, caindo com um estrondo no chão.
Se Howl não estava acordado antes, agora ele estava.
- Bartholomeu? – Annabelle ouviu o murmúrio sonolento do rapaz e levantou-se, sentindo-se explodir de vergonha. Howl esfregava os olhos e ela não sabia o que fazer, querendo fugir. – Ah, Belle.
- Hm, oi. – o que mais ela poderia dizer?! Annabelle gostaria de se enfiar numa das caixas e viver ali para sempre.
- Não consegue dormir? – ele perguntou, aquela voz sonolenta e rouca carregada de sotaque arrepiando-a no pior momento.
- ... Sim. – ela confessou, apertando a barra da blusa em nervosismo. Howl sorriu, os olhos ainda meio fechados.
- Vem cá então.
- Quê? – ela perguntou, assustada. Howl já levantava o lençol e deixava um espaço vazio para que ela entrasse. Entre o corpo dele e a beirada da cama. E ele parecia esperar. Era possível que ele estivesse com muito sono, certo? Annabelle não sabia o que fazer, o rosto em chamas por ter se metido naquela situação. Hesitante, seu corpo se moveu quase por vontade própria – afinal, ela queria ficar perto de Howl – e aconchegou-se no espaço que lhe era mostrado. O peito de Howl tocava-lhe as costas e ela depositara a cabeça em um de seus braços, e o outro agora abaixava o lençol sobre ela, envolvendo-a. A respiração de Howl estava absurdamente próxima e fazia a cabeça de Annabelle revirar-se em êxtase. Ela engoliu em seco, estando aquecida e confortável e imediatamente começou a sentir-se sonolenta.
- Desculpe por isso. – murmurou. Imaginou que Howl já estivesse dormindo novamente, então surpreendeu-se ao ouvi-lo responder em voz baixa.
- Não se preocupe. Você deve estar estranhando tudo aqui, então se eu posso ser o seu porto seguro e te fazer dormir em paz, eu vou ser.
Annabelle sentiu o rosto praticamente explodir ao ouvir aquilo, e apertou os lábios tentando refrear o sorriso bobo que queria brincar em seus lábios.
E, quase inexplicavelmente, adormeceu logo depois como um bebê, como se não tivesse passado horas e horas em nervosismo e angústia, sofrendo com insônia.
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Nota da Autora: Pra quem esperava já a treta com a Jess, espero que o capítulo tenha compensado mesmo assim! Vocês estão loucas para jogar o casal na fogueira né? HAHAHAHAH
Esse capítulo pelo menos está cheio de revelações bombásticas! O que acharam do passado do Mitch e Chad? Esperavam coisa pior ou foi bem chocante?
Pra dar uma aliviada, tem a cena fofinha deles dormindo, OLHA QUE AMOR. Percebi que termino muitos capítulos com eles dormindo e começo vários com eles acordando HAHAHAH Espero que não se importem!
Se você gostou da história, não deixa de dar um voto nela porque significa muito pra mim! Mesmo que não comente, só deixar uma estrelinha já significa MUITO!
Aliás, se você gosta de gatos, vai ter um pequeno spam de fotos deles para representar o Bartholomeu e o Miles (graças às duas gatas da minha amiga que foram as modelos <3) lá no meu grupo do Facebook, então se você ainda não está lá, pode vir: https://www.facebook.com/groups/247995218690574/
Se você não gosta de gatos mas quiser vir mesmo assim, será muito bem vindx HAHAHAHAHA
Espero que tenham gostado e até a próxima!
Beijos,
Anne
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