Décimo Sexto Capítulo
Depois de alguns segundos sem nenhuma resposta, Annabelle sorriu e fechou a porta atrás de si. Ela estava surpresa, mas não totalmente surpresa. Howl não havia avisado quando ia embora, nem quando voltaria, mas como ele tinha preparado toda a visita de sua família e amigas, ela meio que esperava que ele fosse voltar depois disso. Só não esperava que fosse imediatamente depois.
- Bem vindo de volta. – ela se aproximou. – Foi tudo bem? – perguntou. Howl analisou-a por um tempo, fazendo-a subitamente lembrar que, quando ele se fora, eles tinham brigado. Estava tão triste com a partida de seus familiares e amigas e em êxtase pelos últimos dias que, com sua súbita volta, por um momento esquecera daquilo, apesar de ter passado tanto tempo remoendo a situação. Era capaz que ele ainda esperasse que ela estivesse chateada e quisesse bater nele e desistir de tudo.
Mas Belle não estava se sentindo assim. Sozinha, ela pensara muito sobre as coisas que aconteceram entre os dois, e com a visita de Rowena e dos outros, pôde clarear os pensamentos definitivamente. Todos lhe mostraram lados diferentes de Howl e ela entendeu mais sobre o homem com quem havia acidentalmente se casado. Era uma coisa importante e que eles não haviam feito antes. Mas agora Annabelle sentia-se mais capaz de enfrentar não só Howl como também toda aquela situação, pelo menos de uma forma melhor do que estivera fazendo até agora. Quando chegou em Londres, era uma garota de uma cidade de 500 habitantes que havia se metido em uma baita encrenca e não sabia o que a esperava. Ainda por cima, acabou se apaixonando pelo homem que mal conhecia.
Agora, as coisas já eram diferentes. Howl pareceu perceber aquilo só de olhar para ela, parada na soleira da porta, aguardando que ele a respondesse.
- Sim, foi tudo bem. – respondeu, parecendo aliviado que estava tudo bem. – Escute... nós precisamos conversar... – o tom dele era mais apologético do que tenso, então Annabelle não se sentiu assustada com o que poderia significar aquilo.
- Sim, precisamos. – ela concordou rapidamente, parecendo mais uma vez surpreender Howl. Ele provavelmente estava se perguntando o que teria acontecido com ela durante o tempo que se afastou. – Se quiser, leve as coisas pra cima e tome um banho, vou preparando o jantar e então conversamos, que tal? – ofereceu. Ele concordou com a cabeça, dando um sorriso fraco e pegando as malas do chão.
Annabelle imediatamente foi para a cozinha, ao passo que os gatos seguiram Howl escada acima. Com isso, ela poderia organizar melhor o que gostaria de falar com ele e como falaria, assim não teriam problemas. Ela nunca tivera problemas de comunicação antes durante seu emprego e sua pacata vida, mas a briga da última vez resultara disso, e ela não poderia deixar isso acontecer de novo. Iria perdurar o tempo restante que combinara com Howl e a banda, por isso era melhor que o clima ficasse bom.
Seu coração ficou inseguro apenas em um momento: quando parou para pensar porque fora Howl que iniciara a ideia de "precisamos conversar". Teria acontecido algo? Se tivesse, ela provavelmente saberia pela mídia, certo? Não devia ter nada de errado, talvez ele apenas estivesse arrependido de tudo e quisesse se desculpar.
Ela sorriu com esse pensamento. Gostaria de que as coisas voltassem a ficar bem entre ela e Howl. Aquilo nunca fora um relacionamento de verdade, mas os momentos que passara perto dele foram bons o suficiente para ela os querer de volta. Ter brigado com ele e ter ficado afastada dele sem nenhuma notícia foi algo que ela não desejaria passar de novo. Talvez só ela estivesse se sentindo desse jeito, como uma verdadeira esposa, mas que Howl a deixara confortável e fazia seu coração palpitar quando estava por perto era uma verdade que ela nunca poderia negar.
Howl terminou o banho e voltou para a cozinha quando ela estava perto de terminar a torta de frango que havia preparado. Ele a observou em silêncio por alguns segundos, mas Annabelle já havia notado sua presença ali e, terminando de arrumar a mesa, voltou-se para ele, preparada para o que quer que fosse ser falado naquele momento.
Os dois se entreolharam, como se aguardassem quem fosse começar, e Howl tomou a dianteira.
- Belle, eu... – ele hesitou, depois baixou os olhos castanhos. – Preciso me desculpar pelo jeito que agi com você. – ele disse, pigarreando. Ela arregalou levemente os olhos. É claro que a possibilidade de Howl desculpar-se com ela havia passado pela sua mente, mas não achou que ele ia ser tão direto. Além do mais, ele parecia realmente envergonhado de estar falando aquilo, sendo extremamente fofo. Annabelle odiava o quão injusto Howl podia ser às vezes.
- Hm, eu também não fui muito certa daquela vez também. – ela murmurou, encostando-se na bancada. Mal terminara a frase, Howl já balançava sua cabeça negativamente.
- Não estou me referindo só ao que eu disse naquela noite. – ele suspirou, passando a mão pelo rosto. A garota o encarou, um pouco confusa. Howl voltou a levantar seus olhos para ela. – Estou me referindo ao tempo todo que você esteve aqui. Eu fiz tudo errado com você.
- O-o que? Como assim? – como ela passara a última semana martelando a briga entre os dois, nunca lhe passou na cabeça que Howl estaria falando de outras coisas. Ela nem sabia que outras coisas eram.
- Desde que você chegou aqui, eu só tenho te usado. Eu te deixava sozinha em casa e quando era conveniente sairmos na mídia, eu te levava para jantar e atuava para tudo parecer real. Eu só fui perceber o quanto eu fui horrível quando te vi sentada na minha cama, chorando. – ele engoliu em seco, agora mexendo no cabelo da nuca, completamente constrangido. Ela ainda o encarava, surpresa pelo que ele falava. Fez menção de falar alguma coisa, mas Howl a interrompeu. – Deixa eu terminar, por favor. Quando você disse que ia me ajudar, eu fiquei tão feliz que tudo seria resolvido facilmente. Nós fingiríamos que estávamos casados, teríamos uma história, nenhum problema. Quem se importaria de fingir estar casado com uma garota bonita? Eu não. – ele deu ombros. – Fiquei preocupado um tempo, se daria certo, se você ficaria bem, mas depois da Jess eu pensei "Annabelle é forte". Então assumi que você se viraria sozinha e eu poderia continuar minha vida do jeito que sempre fora. Eu só vivi com pessoas ao redor na época que eu vivia com meus pais, depois disso passei a ter uma vida totalmente independente e não me importar com outros, que estavam todos distantes de mim. Eu me focava no trabalho, saía com meus amigos da banda e ficava nisso. Enquanto você esteve aqui, era muito fácil eu me esquecer que você estava em casa e ficar no estúdio apenas trabalhando. As pessoas já pararam de falar tanto da gente também, como uma notícia absurda, pelo menos. Ao meu ver, estava tudo maravilhoso. E eu achei que você poderia estar saindo e se divertindo na cidade, completamente alheio ao fato de que você é uma garota do interior, que foi jogada num mundo totalmente diferente do seu e está tendo que enfrentar diversas coisas que não são parte do que você está acostumada. E o pior de tudo, é que você teve que fazer isso sozinha. Eu não estava aqui nem no começo, para te ajudar a se adaptar à cidade e ao que fosse preciso. Como Bill falou que tínhamos que manter a produção dos singles e álbuns normalmente, foquei-me no trabalho, como sempre fiz. – ele deu um sorriso fraco. – Acho que eu realmente não estava pronto para ter uma vida de casado. – completou, hesitando um pouco antes de dizer ainda: - Realmente me desculpe pelo que fiz com você, Belle. Eu te arrastei pra um mundo totalmente maluco e desorganizado, mas na hora que você precisava eu soltei sua mão e te deixei sozinha. Espero que possa me desculpar e me dar uma chance de fazer as coisas direito para você dessa vez.
Annabelle ficou em silêncio, estupefata pelas palavras. Aquele decerto não era o rumo que esperava que as coisas tomassem. No máximo esperava que Howl se desculparia por ter dito as coisas daquela forma para ela na última vez que se viram. Ela não o culpava por ter dito aquilo, só a forma com que disse. Até porque ele estava certo, ele não era obrigado a se apaixonar por ela. Mas agora tudo estava confuso e ela precisava digerir suas palavras.
A primeira coisa que conseguiu dizer foi:
- Eu acho que nunca pensei que você fosse uma pessoa ruim. – o que era verdade. Howl pareceu um pouco surpreso, e até mesmo Annabelle estava um pouco assim, mas mesmo em sua solidão ela não pensava com raiva de Howl. Ela entendia o lado dele e sabia que também estava sendo meio parva ao não correr atrás das coisas que queria. Quando esteve sozinha, percebeu também o quão pouco se esforçara ali. É claro que perdida numa cidade grande e sem nenhuma companhia, a situação era bem mais difícil para ela e ela já estava fazendo um esforço concordando em ajudar Howl sem aparentemente nada em troca. Por ter se apaixonado facilmente por ele, achou que o mesmo aconteceria em relação a ela, mas nunca colocou nenhum esforço em fazê-lo se apaixonar por ela. Talvez isso que a tivesse frustrado naquela noite da briga. Howl não tinha sido o melhor marido falso, mas Annabelle entendia completamente que a culpa não era só dele.
Agora precisava achar um jeito de exprimir esses sentimentos para que Howl também pudesse entender.
Pigarreou, levantando os olhos para encará-lo. Howl tinha um olhar ansioso, aguardando pelo que ela diria. Respirando fundo, Annabelle começou.
- Quando eu concordei em ajudar você, achei que seria o mais fácil pra nós dois. Eu era obviamente a parte que mais saía perdendo nesse nosso combinado, mas ainda assim concordei porque sabia que, se não concordasse, você sairia perdendo e seria muito pior do que a minha situação. Então aceitei entrar nesse mundo maluco a que você refere. O problema é que você assumiu que eu era forte, e eu não sou exatamente forte. Quer dizer, eu posso ser forte, mas não sempre. Principalmente não quando estou numa cidade grande e turística, sendo alvo de fofocas e notícias do mundo pop. Não sei ser forte nessas horas porque nunca antes passei por isso. Quando cheguei aqui, eu estava completamente dependente de você. Achei que, como combinamos que eu seria sua esposa por três meses, estaria tudo bem depender de você. – ela deu um sorriso fraco, desviando os olhos. – Eu me esforcei para conseguir fazer as coisas direito, mas nunca me esforcei para conseguir as coisas que eu queria, e eu não posso jogar a culpa em você por não tê-las conseguido. Também não precisava ter esperado você tomar a iniciativa sempre e deveria ter saído por conta própria e feito o que queria fazer. Foi errado da minha parte achar que poderia depender de você, e foi errado você achar que eu seria independente e forte o tempo todo sem você. Mas não acho que seja uma pessoa ruim, porque, bom... – ela de ombros e riu. – Apesar de tudo você sempre me tratou bem. Sempre foi gentil e sempre cuidou de mim. Você falou que seria meu porto seguro aqui e eu acreditei nisso. Em nenhum momento você foi rude comigo, embora tenha me deixado sozinha. Por eu estar sempre tranquila e feliz ao seu lado, a dependência se tornou bem mais fácil. "Se eu estiver ao lado de Howl, vai ficar tudo bem." Talvez por isso que eu tenha me apaixonado por você. – corou, mantendo os olhos baixos. – E talvez por isso que eu esperava que você tivesse se apaixonado por mim mesmo quando não era sua obrigação. Então me desculpe também pelo jeito que agi, exigindo algo de você que você nem sabia que eu queria.
Quando terminou de falar, Annabelle permaneceu de olhos baixos, um pouco envergonhada de ter falado tudo. Realmente falara tudo. Esperava que tudo ficasse bem agora.
Foi surpreendida pelos braços de Howl envolvendo-a, de forma que sua testa ficou apoiada no ombro dele. De olhos levemente arregalados, tentou afastar-se por reflexo mas ele a manteve ali. Aguardando a explicação para aquela atitude, ouviu:
- É muito injusto da sua parte ser assim. – ele não parecia bravo, só que Annabelle pôde ouvir um tom de mágoa em sua voz. – Eu tento me redimir por ter sido um babaca e ao invés de você pisar em mim e se aproveitar da chance, você faz esse tipo de coisa. Como é que você consegue ser tão incrível? Assim fica difícil para mim. – ele resmungou o final e ela não entendeu o que estava difícil naquela situação para ele. Talvez a culpa fosse do cheiro de Howl, que invadia suas narinas e chegava a arrepiar os cabelos de sua nuca. O calor dele a envolvia e ela podia sentir perfeitamente todos os pontos em que ele a tocava. Aquilo decerto era perturbador, então não podia se sentir culpada por não entender nada direito.
Howl afastou-se alguns centímetros, apenas para que pudessem encarar-se nos olhos sem se tocarem. Annabelle manteve os olhos fixos nos dele, aguardando ele dizer mais alguma coisa já que estava sem palavras. Na verdade, estava inclusive sem fôlego. Ele a chamava de injusta, mas ela não concordava com isso. Ele conseguia deixa-la sem ar nenhum só de estar tão próximo dela. Parecia que sua espinha dorsal tinha derretido e ela ia cair a qualquer momento. Quando ele finalmente abriu a boca para falar, seu hálito suave atingiu o rosto da garota e ela teve que se controlar muito para não ficar na ponta dos pés e beijá-lo.
- Você pode me dar mais uma chance de fazer as coisas direito? Ainda temos mais ou menos um mês, e eu não quero que essa seja uma experiência horrível para você. – ele pediu, os olhos baixos encarando todo o rosto de Belle, parecendo inquietos. – Dessa vez, não vou te deixar sozinha. – sussurrou.
Ela sabia que devia responder algo decente e parar de ser parva, como ela mesma tinha dito que tinha sido anteriormente. Mas era impossível. Com esforço, concordou com a cabeça e afastou-se um pouco dele, pelo menos para que pudesse respirar um pouco de ar fresco e voltar a pensar claramente.
- O que foi? – ele perguntou, observando-a, e o rosto da garota esquentou ainda mais. Ela estava achando que logo poderia fritar um ovo em suas bochechas avermelhadas.
- N-nada. – respirou fundo e forçou um sorriso fraco. – Fico feliz que a gente pôde conversar desse jeito. Esclarecer as coisas acaba sendo sempre a melhor opção, né?
- Sim. É uma pena que a gente não tenha feito isso antes. – ele riu. Um silêncio constrangedor podia estar prestes a se instalar na cozinha quando Annabelle exclamou:
- Ah, a torta! – e correu até o forno, onde o jantar já estava cheirando bem. Howl recebeu uma ligação e saiu por alguns segundos da cozinha para atende-la, deixando Annabelle servir a mesa e a torta sozinha. Quando retornou, tinha um sorriso em seu rosto.
- Depois do almoço vamos fazer um live em uma rádio. – ele contou, sentando-se e tendo seus olhos brilhantes ao ver a torta que a esposa preparara.
Annabelle sentiu seu estômago afundar um pouquinho. Agora que se resolveram, ela queria poder passar um tempo ao lado de Howl conhecendo-o mais e mais. Ele pareceu perceber que a notícia a abalou um pouco, mas inesperadamente soltou uma risadinha.
- Belle, você não está pensando que eu não escutei nada da nossa conversa há cinco minutos, está? – ele arqueou as sobrancelhas, ao passo que a garota corara e tentara colocar uma expressão inocente em seu rosto. Às vezes ela odiava como parecia que Howl lia sua mente. – Eu não vou ser um idiota e sair correndo direto para o trabalho depois que discutimos tudo aquilo. – ele falou, antes de soprar um pedaço da torta e coloca-la na boca, parecendo apreciar o sabor.
- M-mas... – ela franziu levemente as sobrancelhas. – Você não pode simplesmente não ir trabalhar, ainda mais se é um live numa rádio, não é?
- Claro. – ele concordou e lançou mais um sorriso largo para ela, que ficou ainda mais confusa. – Mas dessa vez você vai comigo.
Belle ainda não tinha entendido as intenções de Howl ao pararem no estacionamento particular da rádio. Os dois receberam crachás e Howl entrelaçou sua mão à dela. Ela apareceria ao vivo? Precisaria ser entrevistada? Por que ele a estava levando junto?
- Belle!! – Mitch e Chad levantaram os dois braços e acenaram para ela quando se aproximaram, dando largos sorrisos. – Já faz um tempo, como você está?
- Er... bem, obrigada. – ela retribuiu o sorriso, mas ainda completamente perdida. Olhou interrogativamente para Howl, que deu ombros.
- O que foi?
- Por que eu vim? Vou ser entrevistada? – perguntou, seguindo os dois outros membros da banda para dentro do prédio, com Howl ao seu lado.
- Nah. Hoje você vai ficar do lado de fora. Pensei que você gostaria de interagir um pouco mais com a banda e talvez entender um pouco do que eu faço. – podia ser impressão de Annabelle, mas ela achou que Howl havia corado um pouco. Depois, ele pareceu surpreso. – Ah! A menos que... que você não queira. – e então a animação dele se esvaiu, enquanto ele a encarava um pouco hesitante, mordendo o lábio inferior. Tentando não se focar em seus lábios e sim no que precisava dizer, Annabelle deu um pequeno sorriso.
- Não, tudo bem. Acho que eu gostaria muito de ver.
Howl sorriu novamente ao ouvir essas palavras. Os dois entraram no elevador, atrás de Mitch e Chad, que já haviam pressionado o botão do sétimo andar. Eles começaram a falar sobre um assunto qualquer relacionado às pessoas que trabalhavam ali e calaram-se assim que chegaram ao andar, saindo para cumprimentar quem os recepcionava.
Annabelle ficou um pouco para trás, sem saber o que fazer. Mas não precisou esperar muito, alguém a encarou em dúvida e Howl apressou-se em apresenta-la com um largo sorriso e uma nota de orgulho que fez o coração da garota bater rápido por algum motivo. Ela não sabia se Howl estava atuando naquele momento, apesar de que ele provavelmente atuava muito bem.
- Meninos, vamos entrando, vamos. Querida, você espera aqui, pegue esses fones. – o homem grisalho com uma gravata laranja-berrante que havia primeiro cumprimentado o grupo impediu-a de seguir Howl e os outros pela porta, e ofereceu-a uma cadeira em frente ao painel com milhares de botões atrás de uma janela de vidro que mostrava a sala na qual eles haviam acabado de entrar. Howl acomodou-se com um violão na cadeira que possuía um microfone na altura do rosto e outro na altura de suas mãos. Mitch acomodou-se em algo que parecia uma caixa de madeira, suas pernas longas parecendo estirar-se por todos os lados. Deu umas batucadas e soltou um sorriso largo, parecendo adorar aquilo. Chad, para a surpresa de Annabelle, segurava um violoncelo, parecendo completamente deslocado. Sentada e observando em silêncio, Annabelle colocou os fones que haviam lhe entregado e ouviu o que eles conversavam, apesar de uma lâmpada acima da janela indicar que eles estavam fora do ar ainda.
Howl percebeu que os olhos de Annabelle estavam fixos nele e sorriu para ela, acenando. Ela corou, porque tinha imaginado que aquele vidro era como aqueles de interrogatórios criminais, que não seria vista por quem estava dentro. Talvez ela assistisse mesmo CSI Las Vegas demais. Era óbvio que Howl e os outros podiam vê-la, porque o homem com a gravata fazia alguns gestos para eles e eles concordavam.
- Belle! – Chad perguntou de repente e ela deu um pulo no lugar, levantando-se para enxerga-lo melhor. – Qual é sua música favorita?
Ela surpreendeu-se um pouco com a pergunta. É claro que tinha estado ouvindo todas as músicas do Compass~ desde que viera para a Inglaterra, não só porque havia se casado com Howl mas por serem muito boas. Achou inesperado que a perguntassem algo do tipo.
- Não me diga que você nunca ouviu nada nosso! – Mitch começou a levantar-se quase ameaçadoramente e a garota apressou-se a responder.
- Ouvi, ouvi! – falou com ansiedade, fazendo os três rirem. – É Pearl Eyes. – respondeu, lembrando-se da balada que mais gostava de ouvir deles. Os três soltaram um "ohhh" como se a admirassem por isso, o que era estranho, e mais estranho ainda, juntaram as cabeças e começaram a cochichar coisas. Chad tocou algumas notas no violoncelo e depois concordou logo com a cabeça.
Um toque no vidro do homem grisalho chamou a atenção deles, e ele começou a fazer uma contagem regressiva a partir do dez com os dedos. Annabelle ajeitou o fone e aguardou, e quando o último dedo se foi, ela ouviu a vinheta e a luz indicou que estavam no ar.
"E aqui estamos com a querida banda Compass~! Tendo estado nos holofotes recentemente, sem deixar de preparar um novo álbum quentinho para as fãs, eles vieram tocar algumas acústicas para nós ao vivo! Soltem as vozes rapazes!" ela pôde ouvir o locutor dizer. Howl arrumou-se na cadeira e começou a falar. Todos eles cumprimentaram as fãs e se apresentaram e logo depois Howl anunciou que tocariam uma balada e um trecho de uma música nova inédita que não haviam tocado em lugar nenhum ainda. Então ele anunciou Pearl Eyes, piscando para Belle que arregalou os olhos de leve. Eles tinham planejado aquilo ou acabaram de mudar por ela falar que gostava da música?
De qualquer forma, o violão suave começou e Howl imediatamente começou a cantar, quase em um sussurro. Annabelle, sentada na cadeira o encarando, sentiu os pelos do corpo inteiro se arrepiarem. Ela tinha ouvido todas as versões gravadas das músicas, mas aquela era a primeira vez que via Howl cantando ao vivo. Pearl Eyes era uma música com uma melodia lenta, mas a letra poética era quase cantada em um sussurro rouco, até que alcançava o refrão e adquiria uma força que fez o coração dela bater ainda mais forte, uma sensação esquisita no estômago.
"Pearl eyes
Pearl eyes
A miscellaneous of colours
Of lights and sparkles
Everything inside those
Pearl eyes
Pearl eyes"
Howl cantava colocando emoção em cada palavra e sussurro, enquanto Mitch e Chad acompanhavam a melodia com a cabeça e tocando seus instrumentos. Annabelle sempre achou que o baixo tinha um som profundo, mas aquela música ao som do violoncelo podia se tornar ainda mais incrível. Howl continuou cantando enquanto dedilhava no violão, e finalmente atingiu a última estrofe da música, levantando os olhos para Belle e não os movendo até que a última palavra tinha sido cantada.
"You are staring at the stars
They still shine so bright
A miscellaneous of colours
Of lights and sparkles
Everything reflected on those
Lovely pearl eyes
Pearl eyes"
A música encerrou e Howl ainda encarava Annabelle, dando-lhe um último sorriso e depois desviando os olhos, pronto para responder aos comentários feitos pelo locutor. A garota, percebendo que tinha prendido o ar de repente, soltou-o, mas a sensação que lhe prendia o interior não se foi. O coração dela parecia prestes a saltar do peito e sua cabeça rodava ligeiramente, talvez pela falta de ar. Seu rosto também estava quente, porque não fora a única percebendo Howl encará-la durante aquele tempo. Ela não sabia o que havia acontecido com ele de repente, mas não era uma mudança de todo ruim. Ela só teria que se acostumar para quase não morrer de arritmia toda vez que ele fizesse esse tipo de coisa.
Depois de uma breve conversa com o locutor, eles anunciaram a música inédita, chamada Travelers of Skies e cantaram uma versão curta dela, de cerca de um minuto e meio, apenas para mostrar o que as fãs deviam esperar desse novo álbum. Mais animada do que Pearl Eyes, manteve Annabelle acompanhando o ritmo com o pé e um sorriso em seu rosto enquanto admirava a letra e o modo que Howl cantava. A voz dele parecia cada vez melhor, ainda mais ao vivo. Pareceu extremamente curta na opinião dela, e ela logo quis ouvir todo resto. Imaginou que as fãs ficariam muito feliz com isso.
Mais um pouco de conversa e eles se despediram, a luz acima dela voltando a indicar "fora do ar". Levantou-se, entregando o fone para o homem grisalho com um sorriso, e aguardou de pé que os meninos arrumassem as coisas e voltassem para onde ela estava.
- Muito bom, muito bom! – o homem os aplaudiu quando eles saíram da sala à prova de som e eles sorriram. Toda a staff que estava lá aplaudiu também, assim como Annabelle, que os encarava com olhos brilhantes. Howl encarou-a, fazendo seu rosto esquentar mais uma vez, mas ela não desviou os olhos.
Enrolaram mais um pouco nas despedidas e seguiram o caminho. Chad espreguiçou-se e Mitch bateu palmas.
- Eu toparia uma Starbucks agora. O que acha Belle? – ele sorriu largamente, parecendo mais simpático do que sempre fora, e ela voltou a estranhar a atitude deles. É claro que nunca a trataram mal, só que toda aquela proximidade era inusitada.
- Ela parece estar se perguntando porque vocês estão tão grudentos com ela assim. – Howl rolou os olhos e ela o encarou espantada. Ele não poderia ler mentes, poderia?
Os dois riram, Chad apertou o botão do elevador e voltou-se para ela.
- Soubemos de que Howl estava te tratando como um lixo. – ele fez uma cara feia para Howl, que rolou os olhos. Annabelle ia rebater para dizer que não era bem assim, mas Chad sorriu como se planejasse algo. – Então decidimos que vamos ser super legais para você, para que você goste mais da gente do que dele. – Mitch soltou uma risada e Annabelle também abafou o riso, apesar de Howl ficar sério.
- Não é engraçado. – ele pareceu se incomodar bastante com a brincadeira. – Eu já repensei minhas ações e não vai acontecer de novo. – rebateu, empurrando o mais novo para dentro do elevador que acabara de chegar. Annabelle seguiu-os sorrindo.
- Mas mesmo assim, queremos que a Belle goste da gente também. – Mitch disse, entrando por último. Sua cabeça quase batia no teto do elevador e, Annabelle, a mais baixa entre eles, sentia-se dentro de muros quando estava de pé ao lado dos três. – Vai ser mais fácil pra ela se ela se der bem com todo mundo e se divertir com a gente, não é? – ele agora voltou-se para ela, piscando.
- Suponho que sim. – ela murmurou, lançando um olhar de soslaio para Howl, que a encarava. Ele suspirou.
- Bom, não é como se eu pudesse impedir ela de ser amiga de alguém. Mas cuidado com eles. Eles são idiotas e isso pode ser contagioso. – ele piscou para ela, fazendo-a rir. Mitch, saindo primeiro já que estava mais próximo da porta, não pareceu incomodado.
- Então ela devia também se preocupar com você, que passa tanto tempo perto da gente. – rebateu, e dessa vez todos riram.
Seguiram para o carro de Howl, que os levaria até uma Starbucks. Annabelle, sentada no banco da frente ao lado de seu marido com os outros dois no banco de trás, pensou que essa era a primeira vez que se divertia de verdade desde que chegara na Inglaterra, tendo seu coração bem mais leve agora que conversara com Howl e pudera resolver tudo.
De fato, do jeito que as coisas seguiam, ela ficaria bem triste de voltar para casa dali a um mês.
Continua...
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Nota da autora: Depois de um tempão sem att, espero que o capítulo tenha compensado! Pretendo vir com o próximo mais rápido do que essa última vez, então aguardem!
Para quem não está no meu grupo do Facebook em que eu aviso tudo (Histórias da Anne~), por causa do Level Up, do site Universo Paralelo, em qual fui uma das autoras convidadas do Time Rosa, acabei não escrevendo UNEV para me focar nos desafios durante o mês, inclusive no conto que tivemos que escrever juntas (Os Problemas de Charlotte Wright). Mas agora estou de volta e prestes a terminar UNEV! Ainda não sei quantos capítulos faltam, mas estamos indo para a rota final!
Queria agradecer todas as leitoras novas que, mesmo com a história em hiatos, vieram aqui e deixaram comentários! Toda hora eu tinha notificações no Wattpad e muitas pessoas leram durante esse período, o que me deixou imensamente feliz! Espero que estejam gostando e que continuem apoiando a história daqui pra frente <3
E AI? PERDOARAM O HOWL? O COITADO PAGOU OS PECADOS? Quero saber tuuuuuuuudo! Hahaha A música Pearl Eyes foi composta por mim, desculpem por ser uma porcaria apesar de eu ter escrito que o Howl era um compositor maravilhoso... eu não sou ele –q Espero que tenham gostado de qualquer jeito!
Queria agradecer também à Gabriella Medeiros, que faz parte da equipe do Brainstorm no Espaço Criativo (http://espacocriativo.net), que me ajudou com algumas ideias e me deu forças pra seguir em frente <3 espero que a partir de agora a história tome o rumo que eu queria e que vocês gostem mesmo assim ahahhaha Gabi, espero que tenha gostado ;w; ♥
Lembrando que temos Aquela Noite em Vegas, os primeiros dois capítulos de UNEV no ponto de vista do Howl, para quem não leu ainda! O link é: http://w.tt/1nPgpYw
Também tenho uma obra de Contos para quem se interessar em ler algumas outras histórias minhas, cujo link é: http://w.tt/20bD4tK
E é isso! Volto em breve com mais capítulos para vocês!
Beijos e até logo <3
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