Capítulo 1

- Como foi a entrevista de emprego? - Amber pergunta.

- Não acho que serei contratada. - Assumo suspirando alto.

- Por que tem tanta certeza disso?

- Havia pessoas muito melhores que eu. - Lhe respondo.

Entreguei meu currículo em vários lugares procurando por um emprego, mas como não tenho nenhuma formação, e nenhuma experiência eu sei que é quase impossível arrumar um bom emprego.

Quando me ligaram avisando que eu fui escolhida para fazer uma entrevista quase não acreditei, mas a minha animação acabou no momento que eu coloquei os pés na empresa.

Havia pessoas bem mais vestidas que eu, e uma das coisas mais importantes, tinham formação acadêmica.

No momento da entrevista eu percebi que chamaram uma pessoa inútil apenas para dizer que a empresa dá chances para os menos favorecidos, mas na verdade isso não passa de uma grande mentiras.

- Tenha esperanças. - Amber me oferece um sorriso largo.

- Estou tentando, mas é tão difícil. - Assumo.

- Não seja pessimista. - Amber aperta minha mão levemente. - Eu sei que está passando por um momento ruim, mas eu tenho certeza que vai encontrar uma saída em breve.

- Espero que esteja certa. - Forço um sorriso.

- Eu queria te ajudar, mas você sabe que a minha condição atual não me permite. - Amber abaixa a cabeça. - Eu te indiquei no meu serviço, mas eles só aceitam pessoas com experiências.

- Obrigada por estar tentando me ajudar. - Agradeço.

Amber e eu somos amigas de longa data. Quando nos conhecemos não gostamos uma da outra, e tudo isso porque estávamos apaixonadas pelo mesmo garoto.

Após descobrirmos que estávamos sendo enganadas pelo idiota, acabamos nos tornando amigas inseparáveis.

Amber nunca teve uma vida fácil. Sempre se virou sozinha porque seus pais faleceram quando ela era ainda adolescente. Assim como eu ela ficou responsável por seu irmão mais novo, e com isso veio vários problemas juntos.

Jeff tem lhe dado muita dor de cabeça desde muito novo. Ele é imaturo, preguiçoso, não ajuda a irmã em nada, tudo o que ele faz é causar problemas atrás de problemas.  Ele acabou se envolvendo com pessoas ruins e Amber continua tendo paciência com ele dias após dia.

Amber está tendo que sustentar o irmão, como também tem que pagar suas dívidas de jogos, e Jeff não move um dedo sequer para ajudar a irmã limpar sua sujeira.

Amber tem muita paciência com ele, porque se fosse eu no seu lugar já teria desistido dele. Está certo que é a única família que lhe resta, mas ela não é obrigada a ter que aguentar um homem adulto que só faz merda mesmo que ele seja seu irmão.

Jeff já é um homem adulto, e enquanto ela continua passando a mão e sua cabeça e assumindo os erros do irmão, ele nunca será capaz de amadurecer.

A vida da minha amiga é tão deplorável quanto a minha. Nossa sorte é que temos uma a outra para desabafar nossas dores e nossos problemas.

- Vai continuar distribuindo currículos? - Amber pergunta.

- Sim. - Aceno com a cabeça em confirmação. - Sei que é praticamente inútil, mas vai que eu acabe tendo sorte em algum momento.

- Você está tão abatida. - Ela me olha preocupada. - Deveria descançar um pouco.

- Não posso me dar ao luxo de descansar.

Estou trabalhando em duas lojas de conveniências diferentes durante o dia, e uma durante à noite, e por mais que eu sinta que esteja pretes a morrer não posso me demitir. Não recebo muito pelo meu trabalho de meio período, mas foi o que eu consegui, e é o que está colocando comida na mesa.

Durante o dia Julie fica na escola, por isso não preciso me preocupar, e durante à noite Amber está cuidando dela para mim.

Se eu não arrumar um emprego fixo o mais depressa possível não sei o que vou fazer da minha vida. As dívidas estão se acumulando cada dia que se passa, e isso está me deixando cada dia mais estressada e desgastada.

Meus pais faleceram há um ano, e eu não tive nem tempo de passar pelo luto. Se ao menos fosse somente eu seria menos complicado. Eu poderia me virar como desse, mas acabei sendo a responsável pela minha irmã mais nova.

Ela não sabe que estamos passando por necessidades, e eu quero que continue assim. Foi difícil para mim perder meus pais, mas para Julie deve ter sido ainda mais difícil.

Ela era muito apegada a nossa mãe, e ainda hoje eu a escuro chorando em seu quarto.

Eu estava no segundo ano da faculdade administração quando meus pais faleceram, mas eu tive que trancá-la porque não tive condições de continuar pagando as mensalidades.

Minha mãe queria que eu focasse apenas nos estudos, e por isso não permitiu que eu arrumasse um emprego enquanto estudava.

Tentei fazê-la mudar de ideia, mas ela estava irredutível, então acabei fazendo a sua vontade para não contrariá-la.

Se eu ao menos soubesse que os perderia algum tempo depois, teria sido mais teimosa. Mesmo naquela época seria difícil arrumar um emprego, mas pelos menos eu estava estudando, então isso poderia me ajudar de alguma forma.

Nossa família nunca passou necessidades, meu pai sempre cuidou muito bem de nós, mas quase nunca lhe sobrava dinheiro para ter algumas regalias.

Tudo o que temos é a casa que vivemos, mas em breve terei que pagar a hipoteca, e se eu não conseguir dinheiro até lá meus problemas aumentarão ainda mais.

A cada dia que se passa me sinto ainda mais impotente e de mãos atadas. É tão ruim ter a sensação de que você não é boa o suficiente para fazer alguma coisa da vida, mas ao mesmo tempo digo a mim mesma que eu devo ter esperanças.

Essa é somente uma fase ruim na minha vida? Em algum momento vai mudar ou estou tendo falsas esperanças?

Agora estou confiante, mas no minuto seguinte eu me pergunto se realmente não estou sonhando demais.

- Você vai...

Amber se cala quando seu celular começa a tocar.

- Oi Mily. - Ela atende a ligação.

Enquanto Amber conversa ao telefone me levanto do sofá, e caminho em direção a cozinha.

Assim que entro o recinto abro a geladeira e pego uma garrafinha de água, e volto para a sala novamente.

- Eu vou conversar com ela depois eu lhe dou a resposta. - Amber fala.

Me sento no sofá e então olho para Amber com curiosidade.

- Quem era? - Pergunto assim que ela finaliza a ligação.

- Uma colega do trabalho. - Ela fala com animação.

- Por que está tão eufórica? - Questiono.

- No dia que te indiquei no meu serviço Mily estava comigo. - Ela explica. - Ela me disse que sua mãe trabalha como cozinheira em uma casa, e parece que estão precisando de uma nova empregada. Mily disse o emprego é fixo, e que o salário é muito bom.

- Sério? - Arregalo os olhos.

- Ela disse que sua mãe vai te indicar se você quiser.

- É claro que eu quero. - Falo com convicção.

Amber me olha por um tempo em silêncio, e parece preocupada com a minha animação.

- Tem certeza? - Amber pergunta. - Não se importa em ser uma empregada doméstica? O trabalho com toda certeza é muito pesado.

- Não me importo nem um pouco. - Falo. - É um trabalho honesto como qualquer outro, e como não tenho medo de trabalhar farei o meu melhor.

- Você tem razão. - Amber sorri abertamente.

- Diga a sua amiga que eu aceito. - Falo.

Não me importo se terei que fazer trabalhos domésticos para me sustentar. Tenho saúde e força de vontade, por isso estou disposta a aceitar esse desafio sem receio algum. 

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