→ O conto é extremamente pequeno, mas espero que gostem do pouco que vão ler e que entendam o motivo por eu tê–lo escrito.

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         “Cada flor tem seu devido significado e a maioria das pessoas as dá de acordo com este, sendo para distribuir seu amor, pesar, paixão ou outro sentimento. Anteriormente, eu não sabia disso. Nunca tinha  realmente chegado a pensar sobre isso. E só estou o fazendo agora por sua causa.

       Eu não costumava dar flores a você. Porém, não era por não possuir esse conhecimento e temer lhe entregar alguma com um significado contrário a do que era esperado. A verdade é que eu nunca quis. Quero deixar claro desde já que, me arrependo amargamente por isso. Tenho uma grande cota de erros e esse, sem dúvidas, foi o maior deles.

        Me arrependo por não ter lhe dado todas as flores, com todos os significados possíveis, apenas para que visse seu  magnífico sorriso com mais frequência; por não ter te mostrado o quanto a amava através deste gesto nenhuma única vez, mesmo quando ficava explícito que você queria recebê–las.

        Eu sempre fui tão arrogante. Pensando bem agora, nem mesmo sei o que a levou a aguentar passar anos do meu lado. Reconheço que não a merecia. Você sempre foi tão meiga e doce. Nós éramos extremamente opostos.

         Enquanto eu passava os dias a insultando por qualquer coisa fútil, você vivia me dizendo qual eram suas flores preferidas e em quais cores as achava mais belas. Isso me irritava tanto. Era óbvio que você gostava de flores, mas eu não era obrigado a dar–lhe alguma só por que me pedia. Na época não entendia sua constante necessidade de ficar repetindo o nome de flores. Entendo atualmente.

        Me recordo nitidamente do dia em que disse que te amava pela primeira — e única — vez. Nós estávamos deitados em nossa cama e eu estava acariciando seus longos cabelos, quando simplesmente sussurrei em seu ouvido 'eu te amo'. A princípio você me pareceu assustada, mas depois chorou de felicidade. Você chorou, Amália. Chorou por ter escutado três palavras — as quais eu não achava verdadeiramente importantes. Pensei que após ter dito que amava–lhe naquele dia, você não esqueceria e não fosse necessário dizê–lo novamente. Pensei que dizer era suficiente e não fosse preciso demonstrar, mas eu estava enganado Amália e você... você estava certa.

         Sua paixão por flores era tão grande que me lembro que quando nos conhecemos seu vestido era florido. Até mesmo o seu guarda–roupa era cheio delas. Achava isso tão estranho, afinal por que alguem teria uma fixação por flores?

         Te perguntei isso mais de uma vez enquanto ainda vivia, mas só fiquei sabendo depois da sua morte. Você adorava flores e esperava — gostava de — recebê–las em vida, porque não queria recebê–las apenas em morte. Faz total sentido, mas eu não sabia. Me perdoe, meu amor.

        Me desculpe Amália, por favor. Perdão por cada flor que não te dei, por cada significado que não lhe demonstrei; por cada lágrima que te fiz derramar; por cada vez que te machuquei; por cada dia que não lhe dediquei.

         Nunca fui um homem compreensivo e você sabia disso. No entanto, durante anos ficou do meu lado, me ouvindo em momentos que não merecia ser ouvido e me ajudando em momentos que não deveria ter ajudado, lhe agradeço — tardiamente — por isso.

         Já fazia alguns anos que não escrevia uma carta, mas senti que precisava fazê-lo. Preciso dizer uma coisa importante: Eu te amo. Sim, eu sei que você já se foi a vários meses e eu deveria ter repetido essas palavras quando ainda estava aqui, mas eu não consegui. Sabe quando dizem que uma pessoa só passa a dar valor à outra quando a perde? É verdade. Com toda certeza afirmo que não diria nada disso se você ainda estivesse comigo, porque eu sempre fui insensível.

         Você precisa saber que ERA, É e SEMPRE será, a mulher mais importante da minha vida. A única que preencheu meu coração errante e trouxe–me vida — mesmo agora em morte.

         Não consigo e nunca conseguirei me esquecer dos seus belos olhos azuis, assim como o céu em seu resplendor; nem da sua bela e macia boca, que eu não cansava de beijar. Nunca me esquecerei do seu lindo e delicado rosto e sempre e, para sempre, vou me lembrar do olhar amoroso que lançava em minha direção, quando acordava pela manhã e percebia que eu ainda estava deitado ao seu lado, mesmo quando dizia que iria partir.

         Finalmente estou lhe dando uma flor, assim como me pediu deveras vezes. Contudo, esta não significa amor, paixão, carinho, desejo, nem nada parecido. Esta será a primeira flor que vou te dar e significa morte, a sua morte.

         Essa é a primeira flor que estou te entregando Amália e sinto muito por estar entregando–a após tua morte.

         Vou deixar–lhe esta pequena carta junto a esta flor para que você tome ciência de tudo que sinto. Espero que aceite minhas sinceras e tardias desculpas. Prometo que a partir de hoje sempre vou trazer flores. A cada dia vou trazer uma flor para você Amália.

         O que não lhe dei em vida, juro que lhe darei agora. Novamente peço desculpas e prometo me redimir por tudo que deixei de fazer.

         Com amor, o seu amor.”

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Dê algo para alguém enquanto essa pessoa ainda vive, porque quando ela se for não voltará apenas para receber tudo que um dia mereceu, mesmo que você queira que assim seja.

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Muito obrigado por ter lido.