Cap|03

O despertador toca tão alto, que certamente os vizinhos devem ter chamado a policia por perturbação.

Ninguém em sã consciência colocaria um despertador a essa hora da manhã. Não dessa altura.

Desligo de forma nada delicada o objeto barulhento em cima do criado mudo. Questionando-me, por que raios coloquei esse treco para tocar tão cedo.

— Ai, minha cabeça.— Sussurro tentando abrir os olhos.

Minhas pálpebras pesam da noite mal dormida. Minha cabeça lateja das várias doses exageradas de vodcas na noite anterior. Meus pensamentos estão a mil. Eu mal consigo  raciocinar direito.  

Pra minha sorte é domingo. Terei o resto do dia para descansar. E processar com calma os últimos acontecimentos. Tomei um banho. Vesti uma roupa leve, e prendi meus cabelos em um rabo de cavalo.

Gina já está de volta. E pra variar, comendo um omelete e fuçando algo da clínica em seu Notebook. Ela avalia atentamente meus movimentos em silêncio. Sua expressão é de quem estuda uma de suas pacientes prestes a surtar.

Talvez eu esteja!

— Você está bem?

Porque todo mundo me fazia essa pergunta repetidamente?

Deve ser pelo óbvio. Eu não estou nada bem. E minha cara de ressaca não ajuda muito a disfarçar isso. Um vinco se forma em sua testa, quando meus olhos enchem de lágrimas. Soltei o ar com força, deixando meus ombros rígidos caírem.

— Eliot está aqui!

Falei sentindo o peso das minhas próprias palavras.

— Aqui onde ?

Pergunta ela confusa.

— Aqui! Em Nova York. Na Coast. Na minha vida de novo!

A notícia pareceu pegar Gina de surpresa. Pois ela apenas abre e fecha a boca sem emitir som algum.

Atônita. Essa é a palavra certa!

— Por Deus Gina! Fala alguma coisa.

Suplico.

— Desculpa. É que eu estou em choque com essa bomba Sel. Diz ainda perplexa. — Como ele sabia que você está aqui? Da empresa?

Encostei-me no balcão que divide nossa sala da cozinha. Fixando o chão.

— Ele não sabia. Fomos pegos de surpresa!

Falo quase inaudível.

Francamente, nem eu acreditei nisso ainda. Não que isso fosse impossível. Mas também não é tão simples lidar com a ideia se que Eliot não sabia que eu trabalho na Coast. Eu estou em todas as páginas de fofoca e assuntos sobre a empresa.

— E como você está se sentindo com tudo isso?

Gina, ainda atenta à mim pergunta. Enquanto eu remexia nas gavetas do armário procurando sabe Deus o que.

Ponderei sua pergunta alguns segundos. A verdade é que eu não sei a resposta. 

Não agora. Não nesse momento.

Por mais que no fundo eu quisesse deitar em seu colo e chorar.

Muitos porquês rodam minha cabeça. Eu não posso me dar o luxo de ficar chorando. Não sem antes entender tudo o que aconteceu. E o porquê a vida está trazendo isso novamente.

Concerto minha postura. Tomo o ar para meus pulmões e dou um meio sorriso.

— Estou bem! Não é como se minha vida fosse mudar só por que Eliot resolveu aparecer. Ele é passado. Nós somos!

Minto descaradamente. Isso está me corroendo por dentro. Meu coração parece que vai pular pra fora do peito a qualquer momento.

Ela me lança um olhar desconfiado por cima dos seus óculos de grau.

— Se eu não fosse sua melhor amiga. Diria que você está realmente falando a verdade.

Revirei os olhos e voltei minha atenção para o que estava fazendo. Decidi não estender mais o assunto e ela pareceu entender meu sinal. Tomei um gole de água e voltei a atenção para preparar meu café da manhã.

Mas é um pouco difícil me concentrar, quando um par de olhos verdes não sai da minha cabeça.

Fiquei tão aérea em pensamentos. Que só me dei conta do horário quando meu celular vibrou, anunciando uma nova mensagem.

Samantha avisando que teríamos uma reunião na segunda.

— O que você vai fazer com relação a ele?

Suspirei.

— Não há o que fazer Gina! Seja lá o que Eliot tenha vindo fazer em Nova York. Que termine vá embora de uma vez!

Falei. Dando fim naquele assunto.

Passei o restante do domingo assistindo séries e me afundando em sorvete.


[...] 

Acordei bem cedo. Rolei varias vezes na cama, tentando de alguma forma não ter motivo pra sair dela hoje.

Mas meu telefone toca. Colocando fim nos meus planos.

Thomas!

Thomas não toma apenas minhas horas de trabalho. Ele também toma minha vida, e sugava toda minha energia diaria.

Pego o objeto prateado e levo até a orelha.

— Tenha um bom motivo para me perturbar essa hora da manhã, Thomas Coast.

Resmungo. Sentando na cama e revirando os olhos. Consigo ouvir sua risada contida. Uma espécie de palavrão se solta do seus lábios quando algo cai, fazendo um barulho estrondoso.

— Bom dia para a senhorita também.— Diz com deboche— Só liguei para prepará-la psicologicamente. Samantha está cuspindo fogo pela boca. E você sabe o motivo.

Montanhês!

O que poderia ser mais desastroso. O cara pelo qual fui apaixonada o ensino médio inteiro e que marcou minha vida. Agora ser um homem irresistivelmente lindo, e arrogante. E estar fazendo de volta na minha vida.

Ou o simples fato de que, terei o imenso desprazer de nos associamos aos Montanhês.

Vulgo empresa do meu ex-noivo/marionete do pai.

Fixo minha atenção em um canto qualquer do quarto, permitindo odiar por milésimo de segundo a vida.

A empresa Montanhês pertence a Otavio. Pai de Heitor. Um caso que quase levamos para o altar. Mas graças a Otavio, isso não aconteceu.

Segundo algumas revistas de fofocas a qual leio nas horas vagas.

New York time por exemplo.

Relatam que as empresas Montanhês, estão sendo avaliadas em bilhares e bilhares de dólares. O que faz com que ela esteja no ranking de multinacionais mas relevantes do mundo. E é claro. Samantha os que mais perto possível!

A possibilidade de estar cara a cara com Otavio novamente, me dá um certo enjoo.

Sempre fora um homem frio e calculista. Além de um verdadeiro canalha. Não esperou nem a poeira baixar após a morte da esposa. Pra poder então se exibir com uma modelo qualquer. Que veste 34 sem dificuldade alguma.

— Sou mesmo obrigada a comparecer?

Pergunto. Em uma tentativa inútil de fugir dessa reunião.

— Se não quiser ver Samantha se tornar um furacão demolidor da sua vida vida. Você é!

Reprimo a imensa vontade de xingar o universo.

Me despedi de Thomas e combinamos que ele me pegaria para a tal reunião. Caminhei até o banheiro. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e joguei água no rosto.

Solto o ar preso entre uma respiração e outra. Tudo esta ficandode cabeçapara baixo.

Ver Eliot novamente, trouxe a tona os sentimentos que durante muitos anos eu lutei pra superar.

Juro que se esse emprego não fosse tão importante para mim. Jamais voltaria olhar para cara daquele velho xereta. Tao pouco voltaria a encarar Eliot Evans novamente.

— E se eu vê-lo. O que faço? como agir quando ele tentar falar comigo?

A possibilidade de encontrar Eliot novamente, estava me consumindo.

— Seja educada. Cumprimente-o, sejam amigos. Ou simplesmente faça o que você sempre fez. Ignore-o e siga sua vida. Como se  não lhe afetasse até a alma, o fato dele está no mesmo prédio que você!

Obrigada por me lembrar disso, Gina!

Suspiro mais uma vez.

— Eu ainda não acredito que tudo isso está acontecendo!

Exclamo. Me jogando na cama, fitando o teto branco do meu quarto.

Gina é minha melhor amiga desde a faculdade. Quando nos formamos, passamos a dividir apartamento juntas. Ela sabe de tudo o que aconteceu no passado. Com Eliot, Scott e Meg.

Meu noivado com Heitor foi um ato de desespero. Uma tentativa falida de virar a pagina da minha vida. Não que ele seja uma pessoa ruim. Porque ele não é!

O seu único problema é o mala que ele chama de pai. Que sempre foi contra nosso relacionamento. Pois segundo ele. Eu não estava a altura de seu filho. Quando era apenas secretaria. E bem, em nenhum momento Heitor confrontou o pai por isso. E vê-lo novamente depois de tudo. Não será nada fácil!

Bem, muita coisa não será nada fácil daqui pra frente. Eliot. Heitor. Otavio.

Por Deus!

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