CAPÍTULO 03 ✨
Limpo minhas lágrimas enquanto observo o jardim da sacada do meu quarto, eu nunca pensei em me casar, jamais! Isso nunca foi a minha vontade, casar, ter filhos e viver para uma família nunca esteve nos meus planos, pelo contrário sempre tive pavor. Agora sou obrigada a me casar, com um homem que nunca vi na vida.
- Que droga, Paris, vamos ser obrigadas a viver em cativeiro - Murmuro enquanto me abaixo para alisar a cabeça da minha linda dálmata - Estou fadada à infelicidade.
Deixo algumas lágrimas rolarem pelo rosto, uma mistura de medo e raiva tomando conta de mim. Nunca imaginei que meu próprio avô seria capaz de destruir minha vida dessa forma. Duas batidas suaves soam na porta. Eu me levanto, caminho até a porta branca, giro a maçaneta e a abro.
- Harper! - suspiro de alívio ao ver minha melhor amiga e a envolvo em um abraço.
- Como você está? - ela pergunta, me puxando para dentro do quarto.
- Muito mal - admito, sentindo meus ombros caírem sob o peso da situação. - Eu não quero me casar, pelo amor de Deus! Em que século estamos?
- Concordo que destruir um banco não é pouca coisa, mas obrigar você a se casar é um exagero - ela diz, segurando minhas mãos. Concordo, sentindo meus olhos marejarem mais uma vez.
- Hoje vou conhecer meu "noivo" - murmuro, enxugando as lágrimas e respirando fundo. - Será que ele também odeia essa ideia?
- Com certeza. Pelo que ouvi, ele também tentou recusar, mas foi obrigado a aceitar, assim como você - Harper responde, soltando minhas mãos e se abaixando para fazer carinho em Páris, que se aproxima abanando o rabo, todo feliz. - Páris, que coisa mais fofa esse colar!
Harper é minha amiga de infância, nossas famílias sempre foram vizinhas, então crescemos juntas, como irmãs. Ela e sua mãe me apoiaram muito depois que perdi meus pais. A mãe de Harper é uma mulher admirável, que superou a perda do marido antes mesmo da filha nascer. Ele morreu de câncer um mês antes de Harper vir ao mundo, e todos dizem que era um homem bondoso, que partiu cedo demais. Hoje, sua mãe é dona de uma empresa de cosméticos, a Essence & Bloom, conhecida mundialmente pela qualidade dos produtos e pelos preços acessíveis.
- Você poderia fugir - sugere Harper, se levantando e me encarando com um sorriso travesso. Reviro os olhos enquanto ela larga a bolsa na poltrona ao lado do espelho. - Brincadeira, Ana. Estou só brincando.
- Você vai comigo ao jantar - aponto para ela, que começa a negar, mas eu faço um sinal para que fique em silêncio. - Vai sim! Já te salvei de várias enrascadas.
- Não estou falando com o seu irmão. E não quero correr o risco de acabar matando ele durante o jantar - responde, fazendo garras com suas unhas enormes, pintadas de rosa. - O Levi é um idiota.
- Você diz isso agora, mas amanhã vai estar conversando com ele como se nada tivesse acontecido - ela cruza os braços e olha para o lado. - Vamos lá, Harper, todo mundo sabe que você o considera como seu melhor amigo.
- Sim - ela descruza os braços e examina as unhas. Arregalo os olhos, indignada, e ela solta uma gargalhada, vindo me abraçar. - Estou brincando, sua doida! Você é minha preferida.
- Ahh, sua besta! - retribuo o abraço, beijando sua bochecha, e ela faz o mesmo. Ter Harper ao meu lado me faz esquecer um pouco da minha preocupação. - Se você realmente me ama, vai comigo a esse jantar maldito.
- Tudo bem, Anahí - diz ela, mas eu lhe dou um tapa leve na cabeça.
- É Ana, sua maluca!
- Certo, Ana! - Ela ri e concorda, mas estala os dedos como se tivesse uma ideia. - Que tal tomarmos uma volta antes do jantar?
Levanto as sobrancelhas, meus olhos brilhando com a tentação.
- Claro, mas só uma - Ela assente, pegando a bolsa enquanto o celular começa a tocar. - Me busque às sete. O jantar é às nove, certo?
- Combinado. E eu te amo, Ana- diz, mandando beijos enquanto ela atende o celular, finge pegar todos os beijos no ar e corre para fora, falando ao telefone.
Eu me deixo cair na poltrona com um suspiro profundo, sentindo o peso nos meus ombros diminuir um pouco. Páris, minha dálmata de olhos sempre atentos, se aproxima devagar, como se entendesse meu alívio. Com um movimento ágil, ela sobe no meu colo e se acomoda, deitando a cabeça no meu peito.
- Você é mesmo minha parceira, né, Páris? - murmuro, enquanto deslizo a mão pelo pelo macio dela. Páris fecha os olhos, se entregando ao carinho, e eu sorrio, sentindo uma onda de calma se espalhar dentro de mim.
A certeza de que Harper vai comigo ao jantar e a presença aconchegante de Páris no meu colo me ajudam a afastar a tensão que ainda lateja no fundo da mente. Minhas mãos deslizam suavemente pelo dorso da cadela, num movimento quase automático, como se esse simples gesto pudesse espantar o nervosismo.
- Vai ficar tudo bem, né? - pergunto baixinho, como se Páris pudesse me responder.
Ela levanta a cabeça e me olha por um instante, com aqueles olhos profundos que parecem entender tudo. Depois, se aconchega ainda mais contra mim, e eu solto um riso leve, de alívio. Entre o carinho de Páris e o apoio de Harper, sinto que talvez esse jantar não seja tão insuportável quanto imaginei.
Eu respiro fundo, olhando para o espelho enquanto ajusto o vestido branco justo na cintura, que se abre suavemente em uma saia estruturada e elegante. Abaixo dele, a blusa de gola alta preta realça o contraste, criando uma combinação clássica e sofisticada. Deslizo as mãos pelo tecido, descendo até a meia calça preta, garantindo que esteja tudo no lugar, e sorrio levemente, apreciando o efeito.
Pego os saltos pretos de salto fino e calço, sentindo a confiança crescer à medida que me elevo alguns centímetros. Com eles, o look fica completo, transmitindo exatamente o tipo de elegância que eu preciso para essa noite.
Em seguida, escolho algumas joias douradas que estão sobre a penteadeira. Coloco um par de brincos que brilham sutilmente contra minha pele e deslizo duas pulseiras no pulso, sentindo o peso agradável e o brilho dos metais. Termino com um anel delicado, que complementa o visual sem exagero.
Com um último toque, ajeito meu cabelo, penteando-o para ficar alinhado, com um leve brilho. Me olho uma última vez no espelho e solto um suspiro, pronta para o jantar que me espera na casa do avô de meu futuro marido.
Pego minha bolsa e caminho até a porta do meu quarto. Hoje, Páris vai ficar com a governanta, não quero que ela passe por nenhum estresse. Esse jantar pode ser um desastre, e eu não quero prejudicar minha bebê.
Saio do quarto mexendo no celular, rolando o feed do Instagram, quando ouço um pigarreio. Me viro e vejo o Nícolas. Pisco os olhos algumas vezes, e ele me encara por alguns segundos, sem dizer nada.
- O que foi, coisa feia? - pergunto, e ele revira os olhos enquanto caminha em minha direção. Toma meu celular da minha mão e o balança no ar. - Nícolas, não comece.
- O que você está vendo aqui? - Ele pergunta, mexendo no meu smartphone, e eu dou alguns passos pesados até ele. Ele estica o braço, impedindo que eu pegue o aparelho. - Tá falando com os amantes?
- Para de ser idiota. - Acerto alguns tapas nele, e ele solta uma risada. - NÍCOLAS, SEU IMBECIL! - Grito, fechando os punhos enquanto ele continua com meu celular estendido no ar.
- Níco, devolve o celular para a Anahí, rápido - Kyllie Sinclair, namorada do meu irmão, aparece no meu campo de visão. Meu irmão ainda continua com suas gracinhas. - Rápido, Nico. Estamos atrasados, precisamos passar no meu apartamento ainda.
- Ok. - Ele abaixa o aparelho e, antes de me devolver, faz um biquinho e beija minha testa. - Adultério é pecado.
- AAHHH! - Grito, pegando meu celular da mão dele e passando por ele, marchando. - EU TE ODEIO!
Ouço a risada dele e da Kyllie enquanto ando pelo corredor até a escada. Desço os degraus rapidamente e vejo, através da enorme vidraça, o carro da Harper parado em frente ao portão de acesso. Provavelmente, ela parou lá fora para que meu avô não nos visse saindo antes da hora certa.
Saio de casa quase correndo, meu coração batendo rápido, e avanço até o portão. As portas do carro esportivo da Harper estão abertas, esperando por mim. Ao chegar perto, o vento gelado da noite me atinge, e por um segundo, sinto a liberdade se aproximando. Ela está ali, no banco do motorista, me olhando com aquele sorriso cúmplice, como se já soubesse o que estou pensando.
Entro rapidamente no carro e nos entreolhamos por um segundo, como se não precisássemos de palavras. Ela dá a partida, acelera e o carro dispara, os pneus cantando no asfalto, e em segundos estamos saindo da frente da casa. Meu celular começa a vibrar, o nome do meu avô piscando na tela. Olho para ele, mas nem hesito. Desligo a chamada sem pensar duas vezes e, logo em seguida, ligo o som do carro, aumentando o volume.
A batida de Bang Bang preenche o ambiente, e eu não posso evitar, começo a cantar, acompanhada pela Harper, que também já está se entregando à música. Jessie J, Ariana Grande e Nicki Minaj tomam conta de nós. Eu abro a capota do carro e o vento entra com tudo, bagunçando meu cabelo, que balança para todos os lados. O vento quente da noite bate na minha pele, e sinto a adrenalina tomar conta de mim.
Cantamos, rimos, e o mundo lá fora desaparece. O carro voa pelas ruas, e a música parece acelerar tudo, como se o tempo fosse nosso para dominar. Não me importo mais com o que está por vir. Eu sou só eu, o carro, o vento e a liberdade, tudo ao som de Bang Bang.
- Para - Peço, vendo o bar que amamos e que sempre frequentamos nos finais de semana. - Um shot, nada mais que isso. - Olho para a Harper, que nega com a cabeça, mas dou de ombros e desço do carro, enquanto minha amiga me xinga com todos os palavrões possíveis.
- ANAHÍ! - Ela grita, e eu corro até a entrada do bar, invadindo o lugar, que ainda toca a música que ouvimos há alguns minutos. - ANAHÍ, PELO AMOR DE DEUS!
Mexo meu corpo conforme a batida da música, cumprimento algumas pessoas que perguntam o motivo do meu sumiço e invento uma desculpa qualquer. Chego até o bar.
- Um shot da sua tequila mais forte - digo, batendo meus dedos sobre o balcão. Harper para ao meu lado e me olha com espanto.
- O que foi? - Pergunto, e ela me encara, claramente preocupada.
- Hoje é o jantar do seu noivado! - ela diz, e eu reviro os olhos, pegando o shot e virando-o de uma vez.
- Anahí, precisamos ir. - Ela suspira, frustrada.
- Até você, Harper? Todos estão contra mim. Eu só quero me divertir antes de assinar minha sentença de morte! - Abro os braços em um gesto de indignação, e ela respira fundo.
- Se fosse com você, eu também estaria bebendo. - Ela admite, e eu sorrio, satisfeita com a resposta.
- Ana... - Eu pego o pequeno copo e ofereço à minha amiga, que o pega e vira o líquido de uma vez. - Pronto, agora vamos.
- Só um pouquinho mais - digo, juntando minhas mãos em um gesto de rendição. Ela parece pensar por um momento.
- A noiva sempre chega atrasada, não se preocupe. - Ela dá um sorriso, e eu a beijo na bochecha.
- Tudo bem, mas por favor, não fique bêbada. Temos que ir ao jantar. - Me levanto e vou em direção à pequena pista de dança do bar.
Estamos em um ritmo frenético, bebida atrás de bebida, as risadas se misturam com a música, e, aos poucos, a tequila vai tomando conta de mim. Harper, a essa altura, já está tão bêbada quanto eu, embora tente disfarçar. Começo a dançar de forma desajeitada, pulando e rindo, enquanto as pessoas ao nosso redor nos olham com um misto de diversão e se juntam a nós.
Nós duas estamos tão longe de nos importar que já estamos até perdendo o ritmo da música, mas isso não importa. A noite é nossa, e, por enquanto, o mundo lá fora não existe.
De repente, o celular de Harper começa a tocar. Ela olha para a tela e imediatamente a expressão dela muda. O nome do Levi aparece, e eu a vejo travar. Ela atende com um sorriso torto, tentando esconder o pânico.
- Oi, Levi! - Ela fala, mas sua voz sai embolada, um monte de sílabas desconexas que mal formam uma palavra. Ela olha para mim com os olhos arregalados e, antes que eu possa perguntar o que aconteceu, já é tarde. Ele grita do outro lado da linha.
- Onde vocês estão, Harper? - Pisco os olhos enquanto Harper apoia sua mão na sua testa, a tensão na expressão de Harper me faz dar risada.
Ela me puxa para fora do bar, suas mãos agarrando meu braço com força enquanto ela ainda tenta falar com ele, mas as palavras saem todas misturadas. Eu quase não consigo parar de rir. Estou em outro mundo. Mas quando ouço o grito do Levi do outro lado, entendo que é sério.
- Onde vocês estão? - O grito quase atravessa o celular. Ela solta uma risada nervosa, mas o medo já está estampado no rosto dela. Harper rapidamente desliga o celular e olha para o relógio. São dez e meia da noite. O pânico toma conta dela.
- Merda! - Ela grita, enquanto me puxa com mais força. Eu, claro, não estou nem um pouco preocupada. Só acho tudo engraçado demais. Mas a expressão dela me faz parar de rir um pouco - Olha o que você fez, sua maluca! - Ela grita, e sem pensar, me dá um tapa na bunda. Isso me faz dar um pulinho e balançar a cabeça, ainda rindo.
- Me deixe ser feliz! - Dou risada, fazendo mais um pulinho. Tudo parece mais leve assim, como se eu estivesse flutuando.
Harper me puxa até o carro, e, mesmo bêbada, consegue abrir a porta e me empurrar para dentro. Ela entra no banco do motorista, tentando se concentrar, mas tudo ao redor parece girar. Eu estalo a língua no céu da boca e continuo rindo, a risada escapando sem controle, porque, para mim, a situação está absurdamente engraçada.
Ela tenta ligar o carro, mas parece que está em câmera lenta. Depois de alguns segundos, finalmente, o motor ronca, e ela começa a dirigir, a caminho da casa do avô do futuro noivo. Eu, ainda rindo, olho pela janela enquanto estalo a língua de novo, sentindo o vento fresco entrar pela janela aberta. Tudo parece uma grande piada agora.
- Você está realmente me levando até lá? - Pergunto, entre risos. Harper só me lança um olhar furioso, mas não diz nada. Ela está tão tensa quanto eu estou solta, e a situação, agora, é tensa e hilária ao mesmo tempo. Só sei que, a cada quilômetro, a ansiedade de Harper aumenta, e minha diversão não para. Ela só me olha, com os olhos arregalados, e eu continuo estalando a língua e dando risada, sem a menor noção do perigo.
Harper estaciona o carro em frente à casa, e a visão que se abre diante de nós me faz parar de rir por um segundo. A casa é imensa e imponente. Seus contornos são elegantes, com janelas altas e um design arquitetônico que mistura o clássico com o moderno. As luzes da fachada iluminam as paredes de um tom suave, quase azul, criando um ambiente de sofisticação que parece um cenário de filme.
O jardim que circula a casa é perfeitamente cuidado, com gramas verdes e flores coloridas que parecem quase artificiais de tão bem cuidadas. Ao redor, pequenas lâmpadas de luz branca delicada se acendem, criando um brilho suave, como estrelas espalhadas pela terra. As árvores altas balançam levemente com o vento, e tudo ali parece ter sido planejado com um cuidado extremo.
Eu fico ali, olhando, com a boca aberta. Tudo parece tão perfeito e, ao mesmo tempo, tão fora do meu lugar. Essa casa poderia estar em um conto de fadas, e eu sou apenas uma personagem fora de contexto, um toque de caos entre toda a perfeição.
Harper, ao meu lado, solta um suspiro profundo, tentando respirar e não mostrar o pânico em seu rosto. Ela olha para a casa e parece pensar por um momento, ainda sem sair do carro.
- Pronta para enfrentar isso? - ela pergunta, e sua voz está tão tensa quanto o resto de seu corpo. Eu, por outro lado, estou em outra dimensão, ainda rindo da situação. Mas, mesmo assim, sei que o momento está prestes a se tornar bem real, e a tensão entre nós duas é palpável.
Eu me recosto no banco do carro, dou uma risada suave e olho para Harper.
- Como nunca estive mais pronta para nada. - Eu sou sincera, mas a verdade é que não sei nem o que estou dizendo. Só sei que, enquanto o carro está estacionado ali, eu e ela estamos prestes a entrar em um mundo que, em muitos aspectos, não fazemos ideia de como navegar.
Harper suspira mais uma vez, parece que o peso da noite caiu sobre ela, mas ela me encara com um sorriso forçado e, finalmente, sai do carro. Eu sigo logo atrás dela, ainda rindo baixinho, e, juntos, avançamos em direção à porta daquela mansão que parece ter saído diretamente de um sonho ou de um pesadelo, dependendo de como você olhasse.
- Meu Deus, onde vocês estavam? - Levi sai de dentro da casa e nos encara com uma expressão de desaprovação. - O vovô está furioso, Anahí.
- Eu não consigo lidar com pressão - Harper diz, colocando as mãos no peito, como se a situação fosse pessoal. Levi balança a cabeça em negação, claramente irritado - E eu ainda não estou falando com você - ela diz, e eu percebo que a conversa vai acabar se tornando um jogo de empurrar responsabilidades.
- Não começa, Harper - Levi pede, claramente tentando manter a calma. Os dois são amigos de longa data, então é melhor que resolvam isso entre eles. Eu só fico ali, observando, enquanto sinto a tensão aumentar - Vamos, não dá tempo de vocês tirarem esse cheiro de álcool barato de vocês - Levi diz, impaciente, mas com um toque de humor na voz. Eu, claro, não sou de deixar barato.
- Barato, o caralho! - retruco, apertando a ponta do nariz dele, e ele olha para mim com um sorriso forçado. - Eu te amo, irmão.
Levi começa a ajeitar o meu cabelo, tentando, em vão, me fazer parecer mais apresentável. Com a testa franzida e os dedos rápidos, ele tenta disfarçar o fato de que estamos completamente bêbadas, e é claro que eu não ajudo em nada. Harper está ao meu lado, também tentando se manter em pé, enquanto Levi vai de um lado para o outro, ajeitando nossos cabelos com uma precisão que beira o ridículo.
- Fiquem paradas! - ele ordena, e eu me esforço para não cair de tanto rir, mas, antes que eu perceba, tropeço em uma das pedras da calçada. De repente, sinto o chão se aproximando e, por um instante, parece que o mundo vai desabar, mas me recupero rapidamente, me endireito como se nada tivesse acontecido.
Levi me olha com os olhos semicerrados, claramente impaciente.
- Isso, Anahí. Comemore o tombo - ele murmura, mais para si mesmo do que para mim.
Nesse momento, Maelle aparece na porta com um saco de balas, o olhar irritado.
- Pelo amor de Deus, controle a língua, Anahí! - ela diz, me entregando um pacote de doces, e depois vira-se para Harper. - E você, Harper, vem comigo.
Harper, com um sorriso torto e os olhos ainda brilhando de diversão, responde com uma voz cheia de sarcasmo.
- Tá bom, boa sorte, amiga. Ele vai ser lindo e bem dotado, pode confiar! - Levi solta um suspiro exasperado e se vira para Maelle.
- Pelo amor de Deus, leva a Harper daqui, Maelle - ele pede, como se já estivesse no limite.
Maelle não perde tempo. Ela pega Harper pela mão e começa a arrastá-la para longe, enquanto Levi me guia para dentro da casa. Eu dou um sorriso torto para ele, completamente desorientada, mas sigo em frente. Ele me puxa até a porta da sala de estar, onde a música e a conversa se misturam ao fundo, e lá dentro está todo mundo, inclusive meu noivinho.
Levi para na entrada, respira fundo e me olha com uma expressão de quem está lidando com um caso perdido.
- Não me faça passar vergonha - ele murmura, antes de me empurrar levemente para dentro da sala.
Eu abro os braços assim que entro na sala, sentindo todos os olhares se voltando para mim. O silêncio envolve todo o lugar, mas logo o peso do olhar do meu avô me atinge, e eu engulo em seco. Ele está ali, parado no meio da sala, com os olhos furiosos e decepcionados, como se eu fosse a maior decepção de sua vida. E, por um momento, quase sinto o peso da culpa. Mas não por muito tempo.
Com um passo desajeitado, vou adiante, tentando manter o equilíbrio em meio ao meu estado alterado, quando um garçom passa ao meu lado. Sem pensar, estico a mão e pego a taça dele.
- Obrigada, meu amor - digo, e o garçom sai, sem dizer absolutamente nada, me ignorando de forma educada.
Eu sigo com a taça na mão, olhando ao redor da sala, tentando afugentar o desconforto que eu mesma criei.
- Onde está a música dessa festa? Estamos aqui para comemorar, não? - Minha voz sai mais alta do que eu imaginava, e eu dou uma risada sarcástica. A tensão no ambiente cresce, mas me sinto estranhamente à vontade. Nicolas começa a caminhar na minha direção, o que me faz desviar do toque suave que ele tenta dar no meu braço.
- ONDE ESTÁ O MEU NOIVINHO? EU DESEJO VÊ-LO! - Eu ignoro o gesto e grito, em um tom exagerado e quase infantil.
Mordo a ponta da minha unha, minha mente ainda um pouco confusa enquanto analiso toda a sala, até que os meus olhos param em um homem lindo. Negro, de pele radiante, com olhos castanhos profundos e uma presença quase hipnotizante. Ele está recuado, no canto da sala, ao lado de outro homem, mas não me dou o trabalho de olhar direito para esse outro. Só ele importa.
- É você, meu Deus, olá futuro marido! - Dou um pequeno pulinho, com os olhos brilhando de empolgação e exclamo.
O olhar do meu avô agora é uma mistura de fúria e desapontamento, e ele começa a caminhar em minha direção, os passos pesados e ameaçadores.
- Já chega, Anahí, vamos para casa - ele diz, estendendo a mão para tentar me segurar. Mas, antes que ele possa me tocar, eu me desvencilho rapidamente e, sem pensar duas vezes, levanto a taça no ar.
- Eu quero fazer um brinde! - digo em voz alta, chamando ainda mais atenção para mim.
Faço uma pausa dramática, olhando para meus irmãos, que me encaram com pesar, como se eu fosse um caso perdido. Mas eu sigo em frente.
- Um brinde ao meu futuro casamento, FORÇADO! - Grito, e, em um impulso irracional, arremesso a taça contra a parede. Ela se estilhaça em milhares de cacos, espalhando vidro por toda parte e assustando todos na sala. Eu faço uma breve reverência, como se tivesse feito algo grandioso, e completo, com um sorriso desafiador - Tenham uma boa noite, e vão se fuder.
O ambiente fica em silêncio por alguns segundos, e eu posso sentir os olhares pesando sobre mim, mas, neste momento, estou além disso, aceno e me viro saindo da sala de estar, ouvindo apenas o toque do meu salto contra o piso.
Eu dou o último passo até a porta de saída da casa, sentindo o vento frio bater contra meu rosto. Ele parece me acordar um pouco, mas não o suficiente para tirar a leveza da minha cabeça. Meu corpo balança um pouco enquanto me curvo para frente, e antes que eu perceba, a bebida que tomei escapa de mim, forçando-me a vomitar no chão da entrada. Sinto o gosto amargo na boca, e o meu estômago doer.
Levi e Nícolas correm até mim, um de cada lado, me segurando delicadamente pelos braços. Eu limpo a boca com o dorso da mão, sentindo a umidade e o gosto residual da bebida que não caiu bem no meu estômago.
- Você está bem, irmã? - Nícolas pergunta, com a voz carregada de preocupação. Eu olho para ele, mas não tenho energia para responder. Tudo parece girar em torno de mim.
Levi balança a cabeça em desaprovação, mas sua voz é calma.
- Vamos para casa, ela deve ter bebido sem comer nada. - Ele diz, e a preocupação na sua voz é evidente, mas eu não posso nem reagir direito. Só quero sair daqui.
Os dois me ajudam a caminhar até o carro, o motorista abre a porta para nós, e Nícolas me carrega, colocando-me cuidadosamente no banco de trás. Sento lá, o corpo pesado e tonto, sentindo a cabeça girar, e o mundo ao redor parece diminuir à medida que a porta é fechada. Só então, a inquietação me atinge de novo, e eu bato no vidro do carro.
- Onde está a Harper? Não deixe ela sozinha! - Grito, tentando manter a calma, mas é impossível controlar a urgência na minha voz.
Levi abre a porta novamente, seus olhos mostram paciência, mas também uma leve frustração.
- Maelle a levou embora, fica tranquila. Agora, fica calada. - Ele fecha a porta com firmeza, e eu fico ali, no banco de trás, com a cabeça ainda girando.
Eu olho para meus dois irmãos, que estão distantes do carro. Eles falam com nosso avô, que gesticula com as mãos, visivelmente desconcertado e bravo. Uma tensão ainda paira no ar, mas eu mal posso me concentrar nisso.
Meu olhar se desvia, e vejo, lá na entrada, o homem lindo, aquele que será meu marido. Algo dentro de mim sorri involuntariamente, mesmo que o mundo ainda esteja virado de cabeça para baixo. Meus olhos se fecham lentamente, e eu me jogo de costas no banco, sentindo a cabeça rodopiar, antes de finalmente cair no sono.
🌟 Teremos sim mocinhas problemáticas, preparem-se pois Anahí é um furacão.
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