61. Um casal em potencial
- Senhorita, preciso que mostre sua bolsa, ou serei obrigado a chamar a polícia - o gerente da loja fora chamado e após Evan mostrar suas sacolas, a suspeita pairava sobre Megan.
- Você não pode fazer isso comigo, sou filha de Harry Fitzgerald - ela ergueu o nariz para demonstrar sua superioridade diante do homem - Vou te processar por danos morais.
- A senhorita pode ser filha de George W. Bush, se não mostrar a bolsa, serei obrigado a detê-la aqui e deixar que os policiais façam seu serviço.
Evan estava atordoado com todo aquele estardalhaço por parte do gerente, enquanto Megan se negava veementemente a mostrar-lhe sua bolsa.
- Megan, por favor - disse ele, tocando a mão da garota - Mostre a ele que não pegou nada e vamos embora, por favor.
Quando os olhos da jovem encontraram os dele, Evan soube que, de fato, ela havia pego algo. Aquele palavrão dito assim que o alarme tocou, o rosto pálido e o olhar de culpa confirmavam isso.
- Senhorita, eu não tenho o dia todo, por isso...
Evan tomou a bolsa das mãos de Megan e revirou até encontrar o que temia. Ele tirou de dentro um par de óculos de sol, com a etiqueta da loja e o entregou ao homem calvo e de barba grisalha a sua frente - Isso deve ter caído dentro da bolsa dela quando passou perto da sessão onde eles ficam. Nos desculpe o transtorno.
Evan fitou Megan com o semblante endurecido - Já disse para não andar com a bolsa aberta dessa forma. Olha o que nos fez passar.
- Sinto muito! - Megan balbuciou e desviou o olhar até o homem engravatado - Me perdoe a indelicadeza.
- O senhor e a senhorita podem achar que somos tolos para acreditar nisso, pois não somos - o homem lançou um olhar torto na direção de Evan - Vamos averiguar as câmeras de segurança e saberemos o que, de fato, aconteceu. Se o objeto caiu sem querer em suas coisas, lhe pedirei desculpas formalmente.
Evan o encarou com desprezo. Não havia motivos para que fosse tão rigoroso, o objeto tinha sido devolvido, Megan havia se desculpado e não precisava de todo aquele alarde. Estava claro que o mesmo queria apenas descontar a frustração de vê-los deixar a loja ilesos e sem maiores complicações.
- Eu pago o óculos - era sua última tentativa de negociação.
- Isso não será possível, esse objeto em questão será contundente na investigação de roubo - disse-lhe o gerente com o queixo erguido.
Não pode mais se conter diante de tanta tolice. Evan caminhou até ele e o olhou nos olhos desafiadoramente - Eu não sei se sabe - tocou o crachá do homem com a ponta dos dedos, lendo o nome gravado nele - Meu caro, Steve mas nessa loja você é apenas um empregado, como outro qualquer e pode ter certeza de que o dono Rigon Davis, que inclusive é meu amigo, ficará sabendo do fato de que você se negou a vender-me essa droga de óculos solar.
A face do homem mudou rapidamente. Empalideceu diante da ameaça feita por Evan e por fim se rendeu. Indicou a uma de suas vendedoras que cobrasse o valor de etiqueta e deixou a frente da loja, indo em direção, ao que Evan julgava ser sua sala.
Quando finalmente deixaram para trás toda aquela confusão na loja, os dois seguiram em silêncio até o estacionamento. Evan parecia enfurecido com a vergonha que passara e Megan se mantinha em silêncio por temer a reação dele a suas explicações.
Megan adentrou o carro sem que o garoto fizesse menção de abrir-lhe a porta. Aquela atitude a deixava amedrontada. Ele deu ré e saiu do local rapidamente, dirigindo, ainda sem olhar para ela.
- Será que agora você pode me dizer o que foi aquilo? - sua voz era baixa, mas o tom severo fez os pelos do braço de Megan se arrepiarem - Você tem dinheiro, eu tenho dinheiro, qual é a necessidade de roubar?
Ela encolheu os ombros, se ajeitou sobre o banco e gaguejou ao falar - Eu... Eu... Eu não sei, Evan.
- Como assim você não sabe? Megan, isso é inaceitável - seus olhos se estreitaram e ele a encarou com inflexibilidade - Aquele monte de coisa que você comprava antes de seu pai devolver os cartões, as botas caras com que você disse ter gasto suas economias, era tudo roubado?
A garota baixou o olhar. Havia sido exposta ao opróbrio e parecia consternada diante de quem mais gostaria de orgulhar. Evan estava sendo um bom amigo diante de todos os problemas que ela carregava. Ele se manteve ao seu lado todo o tempo.
- Me Desculpe, é algo que não consigo controlar - seus olhos começavam a arder e ela tentava reprimir as lágrimas - Tudo começou depois que John foi embora.
Ela tentava, sem sucesso, segurar a vontade absurda de chorar - Evan, tem coisas que eu não te contei sobre ele. Foram os meus pais que mandaram John pra outro condado, fizeram ele escolher entre mim e a promessa de um contrato com um grande canal esportivo.
- Mas se me recordo direito, você me disse que John não havia conseguido o emprego - Evan questionou, enquanto guiava o carro por uma curva acentuada.
Ela passou as mãos entre os fios de cabelo que caiam sobre seu rosto molhado, os pondo atrás das orelhas - Era tudo mentira. Não havia contrato algum, foi tudo um plano mesquinho de Harry para afastá-lo de mim - ela limpou uma lágrima que corria por sua face - Ele era cinco anos mais velho do que eu, de família humilde, não tinha posses e eu estava tão apaixonada que já sonhava em me casar com ele.
- Megan, a sua vida faz muita novela mexicana passar vergonha - ele fez uma careta - Mas como a partida dele desencadeou esses seus, digamos, impulsos?
- No começo era por pura diversão e raiva dos meus pais. No fundo eu queria ser pega e faria questão de dizer a que família pertencia, só pra ver o que Harry faria quando tivesse sua cara estampada em uma matéria sobre o furto de sua filha - ela jogou sua cabeça para trás, recostando-se no encosto do banco - Eu também gostava da adrenalina, da sensação de controle que isso me dava.
- Mas e agora, porque continua com isso? - Evan coçou o queixo, tentando compreender os motivos da jovem - Isso faz tanto tempo.
- Eu parei por um tempo. Mas depois, quando meu pai cortou meus cartões, passou a ser por necessidade, já que não tinha mais dinheiro para comprar as coisas de que necessitava e manter meu estilo de vida caro.
- E agora? - Evan insistiu - Quero saber porque me fez passar por aquela vergonha se tem seus cartões de volta e todo dinheiro que precisa para comprar até o shopping inteiro.
- As coisas passaram dos limites. Eu sei que é errado, sei que não devo e que te deixei constrangido, mas fiz isso tantas vezes que não sou capaz de enumerar e depois de tudo, não consigo refrear a vontade de roubar.
- Megan, isso é uma doença - Evan avaliava o semblante cabisbaixo da jovem, não mais com dureza e sim com compaixão - Você precisa procurar um psiquiatra. Fazer terapia.
A jovem olhava para os pés, sem nada dizer.
- Eu conheço alguns. Se quiser te acompanho, mas por favor, procure ajuda - Evan moveu os lábios em um breve sorriso - Não posso passar por aquela vergonha novamente. Você entende isso?
Ela então ergueu a cabeça, fitou as mãos do garoto ao volante e tocou levemente sua perna - Muito obrigada pelo apoio, eu prometo que farei como você disse, mas não me deixe sozinha.
- Ei, ei, ei... - ele ergueu o queixo de Megan com os dedos, sem tirar a atenção da estrada - Somos amigos. Não somos? E eu nunca abandono um amigo. Agora enxugue essas lágrimas e vamos nos divertir.
O lugar estava completamente lotado e Evan já começava a se arrepender de ter ido. Odiava lugares com grandes aglomerações, música alta e drogas rolando para todos os lados.
Megan havia insistido muito para que ele a acompanhasse a inauguração do local e ele não pode negar. Com tudo que estava passando, achou que seria bom sair e espairecer, mas não sabia que o lugar era daquele jeito.
Sentaram-se próximos ao bar e pediram dois chopp's para começar. Enquanto bebericando suas bebidas, um rapaz negro, de estatura média, um porte físico de dar inveja, muito bonito e carismático tocava violão e cantava, num acústico maravilhoso. O lugar era uma espécie de bar, mas também uma casa de shows.
Evan sentia-se desconfortável, mas já que estava alí, o jeito era relaxar e curtir. Após alguns copos de chopp e de apreciar a boa música do local, a única coisa que queria era sua cama e o tão esperado sono.
- Mas já? Vamos ficar mais um pouco - Megan juntava as mãos em forma de reza - Você precisa deixar de ser tão careta.
- Ah, agora eu sou careta? - a testa franzida - Mas quando estamos nos divertindo na cama, você bem que...
- Evan? - uma voz masculina o impediu de continuar - Cara, o que você tá fazendo por aqui? Achei que não gostasse de lugares barulhentos.
Os olhos duvidosos de Ian desviaram-se para Megan e ele automaticamente lhe lançou um sorriso largo.
- Eu posso dizer o mesmo a você, primo - Evan zombou - Megan, esse é Ian MacGuire, meu primo e colega de trabalho. Ian, essa é Megan Fitzgerald, minha...
- Nova namorada - completou Ian debochadamente e estendendo a mão para a jovem de cabelos encaracolados.
- Não. Somos só amigos - respondeu Evan, analisando os olhares trocados pelos dois - É uma longa e esquisita história, não vale a pena entrarmos em detalhes.
- Digamos que somos amigos coloridos - Megan enrolava um sorriso sarcástico entre os lábios - Evan é muito gostoso, não posso negar, mas fora do quarto, é chato e antiquado.
Ian riu da sinceridade e espontaneidade extrema da garota, mas principalmente da cara amarrada que se formava no semblante do primo.
- Megan - Evan a repreendeu - Será que dá pra ser menos direta?
- Que isso, deixe a garota, Evan - Ian parecia se divertir com a situação - Já estavam de saída?
- NÃO!
- SIM!
Mais uma vez, Ian soltou um riso alegre - Parece que essa relação libidinosa de vocês só dá certo entre quatro paredes. Estou errado? - ele piscou para Megan.
- Quem em sã consciência usa a palavra libidinosa - disse Evan revirando os olhos e sacudindo a cabeça de forma humorada.
Megan recostou-se no balcão do bar ao lado de Evan e abriu um sorriso estonteante na direção de Ian - Eu acho sexy quem mede as palavras em vez de usar termos chulos.
Evan gargalhou, bebericando lentamente sua bebida - Agora a pouco eu era tido como careta por não gostar de barulho e ele é sexy falando coisas do século passado?
- Tá com ciúme? - questionou ela.
- Ah, dá um tempo - Evan riu alto - Você é a rainha dos palavrões e da vulgaridade.
- Ei, não briguem - repreendeu-os Ian.
Os dois se entreolharam e riram como se aquilo fosse algo que somente eles poderiam compreender. A cumplicidade que havia se formado em torno da amizade deles, ia muito além do fato de transarem ocasionalmente, eles se comunicavam de forma que, somente eles poderiam compreender.
Depois que Evan se abrira com Megan, ela o estava ajudando a superar a perda da irmã e a lidar com o sentimento que ainda nutria por Emily. Ela o fez entender que, por mais que falar sobre o assunto lhe doesse, reprimir iria deixar tudo ainda pior.
Por outro lado, ele a estava ajudando com a relação estremecida que tinha com a família. Muito embora o pai fosse um boçal e a mãe uma lunática, Evan sabia melhor do que ninguém o quão ruim era viver em pé de guerra com os pais. Além disso, depois de ouví-la falar tão desolada sobre a necessidade de roubar, estava obstinado a ajudá-la no que quer que fosse.
- Nós brigamos, mas no fundo, nos amamos - ela deu um meio sorriso - Vou me despedir de uma amiga e depois podemos ir, senhor ranzinza - ela soprou um beijo para Evan.
- Ela me lembra a Olivia - admitiu Ian, assim que a garota afastou-se deles - É espontânea e alegre. Sinto falta daquela pequenina.
- Nem me fale, irmão - Evan engoliu em seco, cruzando os braços a frente do corpo - Ela era tudo o que me mantinha de pé. Megan tem feito isso da maneira dela, mas...
- Mas você sente falta de amar de verdade - Ian apertou os lábios e fez sinal a um Garçom que passava.
Evan contraiu a mandíbula - Tem falado com Emily? - deixou que as palavras saíssem, sem que pudesse detê-las.
Ian pediu ao garçom uma dose de Martini - Muito pouco. Ela evita minhas ligações, mas responde as mensagens quando se acumulam demais.
- E como ela está? - murmurou Evan.
- Nada bem. O tal Dylan a deixou, depois que soube do ocorrido entre você - Ian bebeu seu drink, com os olhos sobre Evan - Ao que sei, foi uma das amigas dela quem contou e depois disso, todos os amigos a tem ignorando.
- Eu a amo tanto, cara - Evan suspirou - Só queria que as coisas tivesse tido um rumo diferente.
- Ainda dá tempo. Porque não a procura? - Ian o incentivou - Sei que ela está passando as férias com a avó, em Malibu.
- Quem está em Malibu? - Megan surgiu saltitante, a frente do dois rapazes.
- Emily - o nome da jovem saía como fogo vivo entre os lábios de Evan.
- Emily? A sua Emily? - Megan arregalou os olhos - E o que estamos esperando? Vamos até lá!
- Você não vai a lugar nenhum - Evan bateu o pé - E nem eu. Emily quis assim e assim será.
- Porra de garoto cabeça dura - ela ralhou - Parece até que não quer ser feliz.
- Eu já disse que gosto dela? - Ian baixou o olhar para a bebida e levou o copo a boca, acabando com o que restara do líquido - Ela é determinada. Coisa que você deveria ser, primo.
- Pronto, agora são dois pra encher meu saco com essa história - Evan fez o mesmo que Ian com sua bebida - Emily e eu somos incompatíveis, nunca dará certo. Mesmo que, talvez eu nunca consiga amar alguém como a amo, não posso deixar isso ser a única coisa que me motiva.
- Nada é tão bom como o amor, nem tão verdadeiro como o sofrimento - Ian pronunciou as palavras espontaneamente, enquanto procurava pelo garçom, para que pudesse pagar a conta e deixar o local.
- Você citou Alfred de Musset? - a jovem encolheu as sobrancelhas e o indagou duvidosa.
- Gosta de poesia? - Ian soou surpreso.
Ela assentiu - Porque? Sou rebelde de mais para ser romântica?
- Pelo contrário - disse ele em tom suave - É romântica demais para ser rebelde.
Evan sorriu diante da cena. Seu primo e sua namorada de mentira, que peça o destino estava querendo lhe pregar? Brincadeira ou não, talvez algo bom estivesse se formando bem diante de seus olhos.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top