53. Feridas abertas
Os dois meses que se seguiram, após o término definitivo com Emily e a morte prematura de Olivia, foram extremamente difíceis para Evan, mas enfim, depois de tantos transtornos ele enfim sairia da casa de Paul e voltaria a ter sua privacidade.
Por mais que tivesse a consciência de que sua irmã não gostaria de vê-lo largar suas coisas por conta de sua morte, ele não teve forças para voltar a viver em sua antiga casa. As coisas da menina ainda estavam lá e além disso, tudo naquele lugar, tinha um toque da feminilidade dela.
Seu antigo apartamento lhe parecia a melhor opção. Claro que aquele lugar o lembrava, e muito, dela também, mas eram lembranças boas. Nada de discussões, nada de cenas constrangedoras como as da última noite em que a vira e sem nenhum objeto pessoal dela.
- Esse lugar realmente ficou incrível, meu filho! - Paul levava o garfo a boca e degustava calmamente a refeição preparada pelo filho - E esse risoto está maravilhoso.
- Obrigado, pai! Me sinto em casa novamente.
Pai e filho almoçavam na cozinha nova de Evan. Assim como o ambiente em questão, o resto do apertamento também havia sido todo reformado.
A sala e a cozinha ganharam uma pintura em tons pastéis, e móveis na cor nozes com tabaco. Já o quarto continuava branco, porém com novos móveis. Evan não trouxera nada de sua antiga casa, exceto suas roupas e aparelhos eletrônicos.
- Quer uma carona para o trabalho?
- Não, vou com meu carro. Caroline e eu vamos sair para beber algo depois do expediente.
- Caroline? - um olhar duvidoso se estabeleceu na face de Paul - Vocês estão juntos de novo?
Evan pegou suas chaves de sobre a bancada da cozinha, seguindo em direção a porta - Na verdade não. Ela anda me ignorando desde que voltei das férias, mas finalmente topou sair comigo hoje, para conversarmos.
- Entendo - o homem mais velho acompanhou o filho para fora do apartamento e juntos entraram no elevador - Caroline é uma ótima moça, não a faça sofrer.
- Eu sei disso. Apenas quero que ela me ouça e deixe que eu me desculpe por tudo que causei a ela.
Após um dia exaustivo, Evan estava livre do trabalho. Era sexta-feira e tudo que ele queria era sair, conversar e ter uma noite agradável ao lado de sua colega loira.
Já havia passado da hora de esquecer Emily e seguir em frente. Ela decidiu que seria assim e não estava a seu alcance fazê-la mudar de opinião.
Foi para casa, tomou um banho rápido, vestiu uma camisa casual branca, calças jeans e calçou sapatos confortáveis. Era apenas uma noite agradável com uma amiga, pensou para si, antes de deixar o apartamento novamente.
Buscou Caroline na hora combinada. Quando a viu, saindo pela porta, usando um belo vestido midi verde esmeralda, justo ao corpo, destacando sua cintura fina, sapatos de salto alto e cabelos soltos ao vento, sentiu que talvez não pudesse se manter tão calmo como esperava e perguntou a si mesmo, como os olhos dela podiam ser tão azuis.
- Já disse que está linda? - Evan puxou a porta para que a loira adentrasse o local escolhido, o mesmo em que tiveram a briga em que resultou o fim da relação - Ainda mais do que de costume.
- Obrigada. Mas que tal pular a parte em que você me elogia e irmos direto ao ponto? A jovem donzela te abandonou de novo? - Caroline caminhou até o balcão do bar, seguida por Evan e sendo recepciona pelo barman do local - Um Seven & Seven pra mim e acho que pra ele, um whisky duplo.
- Acertou em cheio, tanto na bebida como sobre o fato de ela ter me abandonado mais uma vez! - Evan sorriu para ela, tentando soar engraçado e ignorando o comentário rabugento - Quero que me desculpe por aquela noite em que perdi o controle e quase agredi aquele cara na sua frente. Mas ele realmente me tira do sério.
- Está desculpado. Não sou uma pessoa rancorosa, quero que me considere uma amiga a partir de agora e como amiga, preciso que perceba que não é ele quem te tira do sério, Evan. É ela. Emily e tudo que a envolva.
- Creio que isso seja verdade - ele assumiu - Mas Emily escolheu se afastar de mim. Eu tenho que esquecê-la de uma vez por todas e preciso que me ajude.
Caroline bebeu um longo gole de seu drink e fitou Evan com o semblante endurecido - Não posso ajudar quanto a isso. Pensei que podia, mas não. Quando te ouvi defendê-la daquela forma, e depois com ela ao seu lado no velório de sua irmã, o seu olhar, o amor que exalava, meu coração implorava para ter aquilo também, mas ao mesmo tempo, sabia que não seria possível.
- Defenderia qualquer mulher que tivesse passado por aquela situação, Care - Evan tentou se justifica, mas seus olhos não conseguiam encarar os dela - Ele tentou estupra-la.
- Não é disso que estou falando. Vi seus olhos vermelhos em fúria quando o tal Ryan a insultou. Você disse que sempre a protegeria e está claro que nada mudou verdadeiramente.
- Me da uma chance - Evan tocou o rosto da loira com o nó de seus dedos - Posso ser quem você quer que eu seja, basta me dar a chance de provar que ela não me importa mais.
Caroline engueu-se do banco em que repousava e ingeriu o resto de bebida do copo em um só gole - Aí que está o seu erro, você não pode provar o que não é verdade. Você ainda a ama, Evan e eu não mereço viver das migalhas que ela deixou.
Care... - o garoto tentou segura-la pelo braço, mas ela se desfez do enlace - Por favor, pelo menos beba mais um drink comigo, afinal somos amigos.
- Preciso ir. Tem alguém me esperando aí fora - a loira conferia uma mensagem em seu celular - Só aceitei vir até aqui, para que soubesse que não guardo mágoa, mas sinto que, assim como você, preciso seguir com minha vida.
Caroline deu as costas para Evan e deixou o bar, sem olhar para trás, o deixando só, com sua bebida e seus pensamentos perturbadores.
Sabia que aquele não era um bom local para estar, diante das circunstâncias em que se encontrava sua vida, naquele momento. Havia prometido a si mesmo que não tornaria a ser o cara que tanto envergonhava sua irmã. Não beberia até cair e nem sairia com mulheres diferentes toda a noite para esquecer Emily. Não daria certo de qualquer forma.
Estava pronto para pagar a conta e deixar o bar, quando uma jovem moça se aproximou. Vestia uma jaqueta de couro preta, calças na mesma cor e botas de salto vermelhas. Seus cabelos eram castanhos, longos e encaracolados, o que contrastava muito bem com sua pele branca e seus olhos num tom âmbar.
- Posso aceitar a oferta que fez a sua amiga loira? - a garoto sentou-se no lugar que antes era ocupado por Caroline - Mas acho que prefiro algo mais exótico.
- O que acha de um Bloody Mary? - Evan ficou curioso com a ousadia daquela garota - Você tem idade para beber?
- Tenho 21 - ela procurou em sua bolsa a prova do que dizia e mostrou a ele sua carteira de habilitação - A propósito, sou Megan Fitzgerald.
- Um Bloody Mary e mais um whisky, por favor - Evan fez sinal para o barman, sem tirar os olhos da garota - Então, o que faz aqui sozinha, Megan Fitzgerald?
- No momento? - a morena da um pequeno gole em sua bebida que acabara de ser servida - Conversando com um completo desconhecido que não teve nem a decência de se apresentar, mas me pagou um drink delicioso, então está perdoado.
- Tecnicamente, ainda não paguei e Bloody Mary é um coquetel - Evan sorriu ironicamente - Mas me chamo Evan, sobrenome Blake.
- Sabe, Evan - os lábios dela se abriram em um belo e largo sorriso e em seguida, sua boca voltou ao canudo de sua bebida - Meu namorado me deu um pé na bunda, eu estou sem carro porque meu pai resolveu bancar o carrasco por eu tê-lo desafiado, eu não tenho dinheiro nem pra volta de ônibus para casa e não sei a diferença entre drink e coquetel. Não seja malvado comigo, me deixando com uma conta que eu não posso pagar. Okay?
- Veja bem, drinks, na maioria das vezes, são feitos com apenas dois ingredientes, um serve como base e o outro como complemento e não precisa ser necessariamente alcoólico - Evan adorava vangloriar-se de ser erudito - Já as receitas dos coquetéis são um tanto quanto complexas, como o seu Bloody Mary, que leva suco de tomate, de limão, molho inglês, tabasco e pimenta.
- Isso tudo é bastante interessante e eu adoraria ouvir mais sobre seus conhecimentos, mas você ainda não me respondeu se vai pagar por ele ou vai mesmo me fazer lavar pratos pra pagar?
O garoto riu da forma espontânea e cômica com a qual a moça lidava com a situação - Sou cavalheiro. Jamais faria isso.
- Já conheci muitos cavalheiros na vida, Evan - ela zombou - Meu agora ex namorado é um deles.
Os olhos verdes de Evan se estreitaram - E o que levou esse idiota a dispensar uma garota tão bonita como você?
- Outra garota, nem tão bonita assim - ela sorriu sem humor - Mas e a loira que estava com você, é sua namorada?
- Não sei bem se chegamos a tanto. Mas agora não importa, ela foi embora, provavelmente com outro e fui reduzido a amigo a partir de agora.
- Friendzone? Isso não é nada bom. Mas a julgar pela sua cara, ela não era tão importante assim.
- Que tal a gente sair daqui? - Evan tentava sair daquela saia justa em que havia se metido - Podemos dar uma volta e depois te deixo em casa, já que não tem carro e nem grana pro ônibus.
Megan assentiu, Evan pagou o que haviam consumido e juntos deixaram o bar. Entraram no carro do rapaz e foram até um parque próximo dali. Caminharam por entre as árvores do local e conversaram sobre seus empregos, família e ao que parecia, tudo que Megan mais queria era desabafar.
Os pais da garota eram extremamente ricos e ela sempre teve uma vida boa, tinha tudo que queria sem precisar fazer o menos dos esforços. Mas quando o pai descobriu sobre a origem pobre de seu então namorado, cortou todos os seus cartões de crédito, lhe tirou o carro e decidiu não mais pagar sua faculdade.
Megan estava vivendo na casa de uma amiga, já que seu antigo apartamento também havia sido transferido de seu nome para o do pai e ele trocara todas as fechaduras para que ela não tivesse outra escolha, a não ser voltar para casa e viver sobre suas regras.
- Você está arrependida de tê-lo confrontado?
Acreditaria se eu dissesse que não? a morena suspirou profundamente - Meu pai acha que não sou capaz de tomar minhas próprias decisões e embora nessa ele estivesse certo, eu precisava aprender com meus erros.
- Você está certa. Nossas escolhas é que nos levam a ser quem somos e ninguém tem o direito de nos forçar a fazer nada.
Os olhares se cruzaram e eles ficaram por um instante apenas avaliando um ao outro. Lentamente, seus rostos foram se aproximando, até que os lábios quentes de Megan encontraram os de Evan.
O beijo foi calmo, leve, como se aquilo fosse apenas uma forma dela agradecer por ele tê-la ouvido e dele, por ela ter lhe ajudado a não beber até cair naquele bar.
Quando seus lábios se afastaram, Evan sorriu para ela que retribuiu - Aquele Bloody Mary estava mesmo uma delícia.
O rosto de Megan corou com o sarcasmo presente nas palavras de Evan - Tão excêntrico quanto quem o bebeu.
- Você se considera uma pessoa assim tão surpreendente? - o garoto estava gostando daquele jogo - Porque sinceramente, te acho uma mulher dentro dos padrões.
Megan mordeu os lábios - Cuidado, você pode se espantar com o que ainda não sabe sobre mim.
- O que acha de me mostrar? - ele provocou.
Ela deu uma leve avaliada em seu relógio de pulso. Já passavam de duas horas da manhã - Acho melhor guardar as surpresas para o nosso próximo encontro.
- E nós teremos um próximo encontro?
- Se você quiser, porque não?
- Claro que quero, afinal preciso descobrir quais são suas excentricidade - Evan concordou sorridente - Vou te levar pra casa.
Já no carro, os dois voltaram a conversar de forma descontraída. Falavam sobre as semelhanças que existiam entre suas famílias. Megan também havia perdido um irmão a alguns anos, vítima de um câncer.
Victor, era o conselheiro de Megan, fazia de tudo para vê-la bem e feliz, assim como Olivia era para Evan.
Megan falava bastante sobre seus relacionamentos passados e no quanto um em especial, havia quase acabado com sua sanidade. John era alguns anos mais velho e as coisas não haviam terminado de uma maneira amistosa. Ela o amou demais, mas seu coração ficou partido quando descobriu que ele precisaria partir. Os dois tiveram uma longa discussão e depois disso, ela nunca mais voltou a vê-lo.
- Ele me deixou porque queria apostar no sonho de ser um grande comentarista esportivo - os olhos da jovem encheram-se de lágrimas, mas ela as enxugou rapidamente para que Evan não notasse - Virou apenas a droga de um corretor de imóveis e está casado com uma mulher asquerosa, uma antiga amiga na verdade, não gosto nem de recordar.
Evan pôs a mão sobre os joelhos dela e afagou carinhosamente - Não fique assim, ele que saiu perdendo nessa.
Entre todas as conversas e histórias compartilhadas entre eles, Evan ainda não havia tocado nem mesmo no nome de Emily. Ele não podia falar dela sem que a lembrança de tudo lhe voltasse a mente, o deixando inconstante e insano.
- Você é um bom ouvinte, Evan - Megan fez uma careta - Que tal falar sobre você agora?
- Não tenho muito o que dizer sobre mim - não iria destrinchar sua vida amorosa para alguém que acabara de conhecer, mesmo que ela ouvesse feito isso - Sou um cara comedido, Megan!
- Você já se apaixonou?
- Eu realmente não quero falar sobre isso com você.
- Já sim! - ela olhou para ele zombeteira - Eu sabia. Ela era bonita?
- Pare!
- Qual o nome dela? - Megan pôs os dedos sobre os lábios e juntou as sobrancelhas - Deixa eu adivinhar. Mia, Sophia, ou quem sabe Emma. Bem, de qualquer modo...
- Eu já disse pra parar, caralho!
Evan estacionou o carro abruptamente a encarando de modo severo. Ela não tinha o direito de fazer aquilo. Quem aquela garota pensava que era para o atormentar daquela maneira? Ele já tinha deixado claro que não queria falar sobre o assunto.
- Só te fiz uma pergunta. Não precisa gritar, droga!
Megan estava a ponto de novamente alfinetá-lo com mais perguntas indiscretas, quando seu olhar encontrou o dele e ela pode ver as lágrimas romperem de seus olhos e o desespero tomar conta de seu semblante.
- Emily era tudo que eu tinha. Agora não tenho mais nada!
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