47. Funeral comovente
"Hoje pela manhã, procurei juntar todas as forças dentro de mim para conseguir estar aqui hoje. Lembrei de todas as vezes que você vestia minhas roupas antes de ir embora, porque dizia que assim me sentia perto.
Algumas pessoas acham que por sermos jovens não entendemos o real sentido do amor, mas depois que te conheci, no instante em que pus meus olhos em você, sabia que havia encontrado o amor da minha vida.
Se era pra você partir, bem que poderia ter sido pra Berlim, Tokio ou Uzbequistão, pois pra qualquer um desses lugares eu poderia te seguir. Porque foi embora pra nunca mais voltar?"
Todos escutavam calados, enquanto Cristian lia as palavras que escrevera em homenagem a Olívia. O choro audível tomou conta da pequena capela, para onde o caixão com o corpo havia sido levado, após toda a organização do velório.
Não teve forças para prosseguir. O choro lhe invadiu, sentiu os joelhos enfraquecendo, a sua visão comprometida o deixava tonto e a boca seca o impediu de continuar.
O garoto desceu os três degraus de escada que elevavam o altar, onde ficava o palanque para discursos e voltou a sentar-se na cadeira ao lado de seus pais.
O padre Pérez voltou ao microfone - Alguém mais quer ter a palavra?
Evan então ergueu-se de seu lugar, ao lado de seu pai e caminhou até o altar. A bela foto de Olivia toda sorridente, exposta em um quadro ao lado do caixão, deixava tudo ainda mais triste.
O jovem, agora estava bem apresentável, com um terno preto bem alinhado, gravata e sapatos também na mesma cor. Foi duro vestir o luto por sua irmã. Já não existiam mais lágrimas para derramar de seus olhos.
Pegou um pedaço de papel do bolso de suas vestes e o desdobrou em silêncio. Pigarreou antes de se por a ler.
"Falar em perda é falar em saudade..."
Ao pronunciar as primeiras palavras que escrevera naquele papel, Evan deu-se conta de que nada daquilo era sincero. Eram apenas um aglomerado de palavras que nada queriam dizer para ele e que não representavam seu real sentimento. Amassou a folha e pôs de volta em seu bolso.
- Eu não estava preparado pra te perder, Olivia. Não estava preparado para sentir sua falta no café da manhã, nem das suas birras quando queria algo. Não estava preparado pra nunca mais poder ouvir sua voz, nem te abraçar e beijar o topo de sua cabeça, antes de sair para o trabalho. Assim como não estou preparado para voltar para aquela casa, cheia de lembranças suas e... - as lágrimas voltaram, no instante em que deu-se conta de que precisaria voltar - Você não tinha o direito de nos deixar. O que mais dói não é a sua partida e sim você ter ido e não ter me levado junto com você. Seu jeito doce e carinhoso, sua dedicação aos amigos, sua paciência comigo e seu amor por todos a sua volta nunca serão esquecidos. Sentiremos saudades. Vou te amar pra sempre, irmãzinha.
Assim que Evan deixou o altar, Emily ergueu-se de seu lugar, indo ao encontro dele. Pode ver, do outro lado da capela, alguns antigos amigos de escola. Entre eles estava Katie. Preferiu nem ao menos olhá-la.
Ao lado de Annabel, uma mulher extremamente parecida com a mesma e acompanhado dela e bastante abalado, estava Ian. Deveria ser sua mãe, Emily pensou, enquanto passava por Evan e subia os degraus. Antes que o padre pudesse novamente perguntar, ela foi até o palanque, ajeitou o microfone para que ficasse a sua altura e tomou a palavra.
- Eu não preparei nada pra dizer. Sou muito acanhada para falar em público e provavelmente devo estar escarlate nesse exato momento. Mas Olivia era minha melhor amiga e seria egoísmo meu não falar algumas palavras, por sentir-me envergonhada - sua respiração travou na garganta, seus olhos marejados e as mãos suando, frias e trêmulas - Bem, numa hora como essa, mesmo que eu não possa te ver, desejo que você possa fazê-lo, pra saber o quanto nós todos te amamos. Quanta falta você já está nos fazendo. Onde quer que esteja, amiga, sei que virou um anjo e estará sempre conosco, cuidando e zelando por todos nós.
Obrigada por tudo. Você estará sempre em meu coração.
Emily desceu lentamente. Estava demasiadamente tensa, seus músculos pesavam e ela mal podia se mover, tamanha a emoção naquele momento. Seus joelhos enfraqueceram e sentiu que não mais poderia se manter de pé, um sentimento quase elétrico atravessou seu corpo, quando seus olhos encontraram os de Evan, ele correu ao seu encontro.
- Emily, você está bem? - ele a segurava em seus braços com medo de que ela acabasse desmaiando e pediu que alguém lhe trouxesse um copo d'água.
O choro de Annabel se estendia pela capela, enquanto era amparada pelo atual marido e pela irmã.
A comoção era total. Olivia era uma moça extremamente querida por todos e por ser tão jovem causava um sentimento de negação profundo.
- Estou bem! - a garota bebericou do copo que uma moça gentilmente lhe forneceu e finalmente conseguiu voltar a si e ajeitar-se, já sentindo suas pernas firmes novamente e os músculos mais relaxados - Obrigada, Evan. É tão difícil aceitar tudo isso.
- Eu sei - ele a levou até seu lugar e sentou-se ao seu lado, envolvendo-a em um abraço, enquanto a cabeça dela repousava em seu ombro - Não sei como vou saber viver sem ela.
Após o final da cerimônia em que o padre terminou com uma bela parábola bíblica, todos se preparavam para seguir em procissão até o cemitério.
Olivia era de Nova York, por isso todos os seus entes queridos estavam enterrados por lá, mas os pais decidiram mantê-la por perto, assim poderiam visitar o túmulo com mais frequência.
Evan prometeu a Emily uma carona. Depois de se levantar do acento ao qual repousava, ele deu-lhe a mão para que se erguesse e já a guiando para fora da igreja, quando um bela mulher se aproximou dos dois. Era Caroline.
- Evan, vim prestar minhas condolências a você e toda a sua família - disse isso o abraçando amavelmente - Olivia era um boa menina, tenha certeza de que está em um lugar lindo.
O garoto assentiu, virando-se para Emily que avaliava tudo silenciosamente.
- Em, essa é Caroline Roberts. Ela é minha assistente na Soft Light e... - ele titubeou - E uma grande amiga.
- Sei quem ela é - Emily esticou a mão para a loira a sua frente - Sou Emily Marshall.
Os olhos azuis da mulher se arregalaram num ar de incredulidade, mas apertou a mão de Emily delicadamente - Essa é a famosa, Emily? Evan fala muito de você. Bem, até demais.
Emily entendeu perfeitamente o que ela quis dizer com aquilo, mas resolveu entrar no universo paralelo em que eles eram apenas amigos - Foi um prazer te conhecer, Caroline.
- O prazer foi meu - ela ergueu uma sobrancelha, fuzilando Evan com o olhar - Só vim mesmo para dar meus pêsames.
Caroline deu as costas para os dois e seguiu até um táxi estacionado bem em frente a igreja. Evan apenas a acompanhou com o olhar, tenso com toda aquela situação.
Emily não disse nada, apenas indicou a ele que precisavam ir, se não perderiam a procissão.
Chegando lá, o padre Pérez deu mais um de seus discursos, enquanto as pessoas deixavam presentes para Olivia.
Christian foi o primeiro. Tirou de seu pescoço uma medalhinha que continha o nome dos dois gravado nela, que Olivia lhe dera em seu aniversário. Deu um beijo no objeto e ofertou a ela, mentalmente desejando que um dia se encontrassem novamente.
Evan trouxe-lhe uma rosa amarela. As favoritas da menina. Ao deixá-la sobre o corpo, não pode conter as lágrimas e desabou com os braços estirados sobre o caixão branco. Seu pai o retirou de lá, mas antes deixou para ela outra rosa.
O homem genuinamente desolado, só conseguiu abraçar o filho, enquanto choravam continuamente.
Annabel ofereceu a ela uma pequena pelúcia da Minnie Mouse a qual a filha havia lhe presenteado durante a viagem de férias que fizeram até a Disney. As lágrimas da mulher encharcavam o brinquedo.
Outras pessoas deixaram flores e Emily apenas acompanhava tudo, com os braços junto ao corpo e devastada com a tragédia.
Instintivamente, ela pôs a mão em seu pescoço, lembrando-se do colar de meio coração que dera a Olivia no jantar de aniversário. Havia colocado antes de viajar.
Ela retirou a correntinha, afim de dar para a amiga, mas quando aproximou-se do caixão notou que Olivia ainda usava a sua metade.
O pensamento de Emily rompeu seu peito, sentia uma conexão emocional e espiritual com Olivia, quase como se pudesse sentir sua presença ao seu lado - Você nunca deve ter deixado de usar, não é? - Pôs o colar de volta e prometeu a memória da amiga que jamais tiraria.
Deixaram o cemitério desolados. Era a última vez que veriam o rosto de Olivia. Era uma cena aterradora deixá-la a sete palmos do chão.
Os parentes mais próximos, inclusive Emily, partiram para a casa de Annabel, para uma recepção, regada com boa comida. Algumas pessoas trouxeram consigo pratos que a menina gostava.
Annabel pegou alguns álbuns de família e distribuiu entre todos, para relembrar coisas em que ela vivera em sua curta vida.
Enquanto folheava um dos álbuns, Emily flagrou Evan, no meio da sala, olhando fixamente para a janela que dava para o quintal e a piscina.
- No que está pensando?
- Em quantas vezes ela quis dar uma festa nesse lugar. Quantas vezes me pediu pra apenas tirar uns minutos do meu dia para apreciar o sol refletido na água cristalina - os lábios trêmulos de Evan pareciam proclamar exatamente o que a irmã lhe dissera em um determinado momento.
Emily, por impulso o abraçou por trás, depositando suas mãos a frente do tórax do rapaz. Ele, por sua vez, entrelaçou seus dedos nos dela e uma lagrima lhe escapou, escorrendo por sua face.
Não quero voltar para aquela casa, Em - ainda de costas para ela, Evan confessou seu temor - Tudo lá me lembra ela e não é diferente no apartamento.
- Volte a morar aqui então!
Ele virou-se rapidamente, encarando-a, enquanto secava o rosto molhado com as costas da mão - Não. Preciso ser forte por ela. Era o que ela sempre quis, que eu me esforçasse para ser o mais feliz que pudesse. E de qualquer forma, nada faria com que eu a esquecesse.
- Fico tão feliz em ouvir isso - Emily sorriu, mas em seguida sua face se fechou em sinal de preocupação - Evan, eu preciso ir. Eu não te contei, mas Dylan foi embora ontem.
Os punhos de Evan cerraram - Como assim? Onde você passou a noite, Emily? Você me disse que não havia ido para a casa da Sra Reynolds.
- Ele deixou o quarto pago até amanhã - Emily sorriu com a lembrança do bilhete que Dylan deixara para ela sobre a cama do hotel.
"Fui embora, mas não sou um bosta que deixa sua namorada sozinha e desamparada, mesmo que ela prefira correr atrás de outro. Sinto muito por Olivia e espero que possamos conversar quando você voltar. Sua amizade é importante pra mim"
Dylan era o que todos julgariam como o homem dos sonhos, mas nos dela só havia espaço para Evan. Ele era o amor de sua vida.
Emily acordou de seu devaneio com a voz de Evan - Mas então não tem que se preocupar em sair tão depressa.
- Preciso ver a hora do meu vôo.
Evan baixou o olhar - Você precisa mesmo ir?
- Preciso! - já perdi alguns dias de aula e com certeza minha mãe deve estar furiosa por eu não ter voltado com Dylan.
- O que fará a respeito dele? - ele engoliu em seco - Vai voltar e fingir que nada do que aconteceu aqui foi real?
Emily aproximou-se de Evan. Seus olhos cintilavam intensamente - Vou terminar com ele. Não sei como, mas darei um jeito de voltar pra você, se for isso que realmente quer.
Os braços de Evan a envolveram num abraço forte que parecia não querer soltar-se nunca mais - Eu não só quero, como preciso. Emily, eu te amo e não sei se serei forte pra superar a morte de Olivia sem você.
- Vou conversar com meus pais - ela afirmou com veemência - Já passou da hora de me impor e fazer minha vontade valer.
Pela primeira vez, desde que chegara a Miami, Emily viu um sorriso despontar nos lábios de Evan. Era lindo. Era tudo que ela queria e precisava que dessa vez tudo corresse de forma positiva.
- Já que o hotel está pago, porque não fica mais essa noite? - seus olhos voltaram a estreitar- Sua companhia é tão importante pra mim.
Ele tentou beijá-la, mas Emily afastou-se rapidamente, impedindo que seus lábios o tocassem - Evan, não posso fazer isso com Dylan. Ele tem sido maravilhoso, preciso respeitá-lo.
Ele sorriu mais uma vez, diante de uma Emily tão leal, aquela que sempre admirou e amou tanto - Tudo bem, minha pequena. Mas pelo menos fique até todos partirem e deixe-me levá-la até o aeroporto. Sim?
Emily assentiu, enquanto segurava a mão do rapaz entre as suas.
No final, quando todos já haviam ido embora, os dois ajudaram Annabel a deixar a casa em ordem. Paul ainda aguardava na sala. O homem tentava ser educado com o atual marido de sua ex mulher, mas era extremamente difícil ter um diálogo com alguém tão diferente dele próprio. Respirou aliviado quando viu Evan se aproximando com Emily ao lado.
- Filho, estava esperando para conversarmos - Paul ergueu-se do sofá, alisando suas calças sociais que estavam um tanto amassadas - Sei que está com receio de voltar para casa. Porque não vem ficar comigo, pelo menos por enquanto.
Evan analisou a proposta rapidamente. Embora o clima entre o pai e ele estivesse bem mais ameno, era difícil concordar com qualquer coisa que o homem propusesse. Estava pronto para negar, quando ouviu Emily falar.
- Eu acho uma ótima idéia. Será bom para ambos!
Dizer não para Paul era um hábito, desde a briga que tiveram, mas negar o que quer que fosse para Emily era quase uma missão impossível. Sendo assim ele concordou.
- Tudo bem. Mas preciso passar em casa para buscar algumas roupas e levar Emily até o aeroporto.
- Nos encontramos em minha casa então, filho! - Paul sorriu em meio a um semblante completamente abatido e sussurrou para Emily - Obrigada!
Ela sorriu em resposta.
Após pegarem as malas de Emily no hotel e confirmarem que o vôo sairia as 18:15hrs, correram até a casa de Evan. Não deu tempo de olhar nada. Estavam com pressa e era melhor assim, pelo menos por enquanto. Seguiram então para a última parada juntos. O aeroporto.
Já no setor de embarque, a despedida era dolorosa. A perda de Olivia era um fator que não deixava suas mentes e dizer, mesmo que fosse um "até logo", naquele momento era algo bastante difícil.
- Quando chegar em casa, por favor me avise. Ok?
- Claro - Emily sorriu abraçando-o fortemente - E você, se cuide e não pense em fazer nenhuma besteira.
Evan beijou-lhe a testa carinhosamente, enquanto segurava-lhe as mãos - Ficarei bem, eu juro!
No auto falante do aeroporto, uma voz alertava que aquela seria a última chamada para o embarque.
- Agora preciso mesmo ir.
Evan a puxou para si, num abraço inesperado e cheio de amor - Sei que quer respeitar seu namorado e acho isso elogiável, mas eu preciso de um beijo pra acalmar meu coração.
Emily pensou em dar de ombros e continuar firme em sua decisão de preservar Dylan, mas Evan era seu ponto fraco. Por ele, ela deixava de lado todas as suas convicções, as quais ela era extremamente apegada.
Os lábios deles tocaram-se por um breve instante. O coração de Emily acelerou como todas as vezes em que o beijava e Evan teve a sensação estranha de que aquele seria o último beijo trocado entre eles por um longo tempo.
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