43. Briga, orgia e tragédia
Assim que Evan e Caroline chegaram ao local combinado, ele pediu dois drinks ao barman. Se acomodaram ali mesmo, enquanto mantinham uma conversa alegre e descontraída.
De repente, um rapaz aproximou-se deles, sentando-se ao lado de Evan e pondo sua mãe esquerda sobre o ombro do mesmo - E aí, amigo! - falou ele, enquanto bebericava de seu copo, uma bebida de cor avermelhada - Como vai nossa pequena Emily?
Mesmo já sabendo de quem se tratava, Evan, com os punhos cerrados, virou-se para ver a quem pertencia aquela voz grave e arrogante - O que faz aqui, Ryan? Você não tinha alugado um apartamento em Los Angeles?
- Então, é uma história engraçada - Ryan pôs o copo sobre o balcão - O amigo com quem eu dividia o apê acabou voltando pra Londres e cá estou morando de novo e tenho quase certeza de que vou permanecer, já que seu pai me ofereceu um emprego.
- Ele o quê? - Evan parecia não acreditar no que ouvia - Só pode estar de brincadeira com a minha cara.
Ryan ajeitou-se no banco alto ao lado de Evan, escorando seu braço sobre a madeira e pegando novamente seu copo - É a mais pura verdade, irmãozinho. Você sabia que me formei em engenharia no ano passado? Seu pai viu meu currículo na fila por um estágio profissional e claro, meu charme e elegância fizeram o resto por mim.
- Não sou seu irmão e você deveria agradecer por eu não encher sua cara de socos - Evan levantou-se, fechando as mãos em sinal de pura raiva.
Caroline, que apenas observava a conversa dos dois atentamente, levantou-se também, segurando o braço de Evan, como se podesse impedi-lo de partir para cima do outro.
- Sei o que fez com Emily, mas também sei que ela não iria querer que eu resolvesse isso com violência.
Por fim, a loira entendeu o motivo de toda a apreensão existente alí.
- Sua, ao que me parece, ex namorada, que me provocou a noite toda - Ryan fuzilou Caroline com o olhar, deu um longo gole em sua bebida, lançando um sorriso provocador em direção a Evan - Mas aí, quando eu decidi pegar ela de jeito, aquela vadiazinha gritou e o otário do Nathaniel não me deixou mostrar a ela o que é um homem de verdade.
- Olha aqui, seu babaca metido a valente - Evan não pode se conter, desvencilhou-se de Caroline e pegou Ryan pelo colarinho da camisa, tirando-lhe os pés do chão - Acha que é homem pegando uma mulher a força? Vou te avisar só uma vez, nunca mais chegue perto dela, entendeu bem?
- Ou o que? - Ryan o afrontou - Vai me bater, na frente de sua namorada, por causa da ex?
- Evan, por favor, tá todo mundo olhando pra gente - a loira tentava amenizar a situação - Vão nos expulsar, ou pior, podem chamar a polícia.
- Cala a boca, Caroline! - Evan segurou Ryan com ainda mais força, fazendo-o lufar.
A jovem afastou-se assustada e Evan voltou seu olhar novamente em direção ao garoto que respirava com dificuldade.
- Escute bem, eu amo a Emily, vou sempre protegê-la e não me importo se estamos em um local público, toque nela de novo e eu te mato, seu monte de lixo.
Evan jogou o garoto sobre o banco, dando-lhe as costas. Mas quando procurou por Caroline, viu-a se afastar correndo, passando pela porta do bar, sem olhar para trás. Sobre o balcão, a pulseira que fora presente seu.
Ryan mantinha os olhos arregalados e o semblante perplexo com tamanha agressividade e fúria de Evan.
Ele por sua vez, pegou a jóia e pôs em seu bolso, pagou os drinks e seguiu atrás da loira, tentando alcança-la, mas assim que saiu do local, a avistou entrar em um táxi e sumir na penumbra da noite.
Evan voltou para dentro do bar. Felizmente Ryan já havia sumido. Pediu um whisky duplo com gelo e tentou ligar para Caroline, mas seu celular estava desligado.
Deixou centenas de recados na caixa postal dela, sem receber nenhuma resposta, Evan desistiu. Terminou sua bebida, pagou a conta e seguiu até seu carro.
A noite estava um pouco fria. Pensou em como a companhia de Caroline lhe seria acolhedora naquele momento.
Como pode fazer aquilo? Como pode perder o controle daquela forma? Não tinha o direito de machucá-la, quando tudo que ela fez desde que estavam juntos, fora apoiá-lo. Estava decepcionado consigo mesmo.
Chegou em casa mais cedo do que esperava e para sua tristeza, tudo que havia lá, era uma completa quietude. Olivia deveria estar com Christian, ou estudando com suas novas amigas.
Deitou-se em sua cama, olhando para o teto a espera de alguma coisa que lhe tirasse daquela melancolia em que se encontrava. Pensou em ligar para Emily, talvez ouvir a voz dela lhe fizesse bem. Mas e depois? O que faria depois?
Naquele momento, lágrimas começaram a desprender-se de seus olhos.
Pela manhã, Evan acordou com uma enorme enxaqueca. Após fazer sua higiene matinal, desceu as escadas, sentindo um delicioso aroma de café fresco.
- Bom dia, irmão!
- Pensei que estava com Christian - Evan serviu-se, se sentando a frente da menina loira e sorridente - Não tem parado em casa ultimamente.
- Está sentindo minha falta? - Olivia também se acomodou no acento de um banco alto para apreciar seu café - Onde está Caroline? Achei que iam sair ontem a noite.
Evan ergueu a xícara, dando um longo e prazeroso gole do líquido escuro. Parecia pensar no que dizer.
- Olivia, Ryan está na cidade novamente.
- E o que isso tem haver com você e Caroline?
Evan torceu os lábios e encarou a irmã com um semblante mortificado - Não consegui me controlar. Espero conversar com ela na hora do almoço e torço para que me desculpe.
- Não vai me dizer que bateu nele dentro do bar?! - Olivia bebericou de sua xícara, esperando que ele lhe explicasse de uma vez por todas o que havia feito.
- Não. Tive que me controlar muito pra não esmurrar a cara dele, mas consegui me conter. Apenas o ameacei.
- Não entendo porque isso te faria perder a Care - Olivia já estava começando a se afeiçoar a jovem sempre tão simpática.
- Saí de mim, Olivia - Evan tentava justificar sua atitude esquentada da última noite - Ele tentou estuprar a Emily, isso é nojento, não posso admitir que...
- Evan, o que você fez?
- Disse a ele que amava Emily e que sempre iria protegê-la.
Os olhos de Olivia se estreitaram e ela deu as costas para o irmão, depositando sua xícara na pia e em seguida voltando a encará-lo - Você é burro? Sério, é inacreditável que tenha sido tão idiota ao ponto de perder uma mulher como Caroline, pra voltar a sofrer pelo fantasma da Emily.
- Você não entende! - Evan também deixou sua louça sobre o outro móvel e encarou Olivia com ar de deboche - Acha mesmo que gosto disso? Acha que se eu pudesse esquecê-la, se pudesse simplesmente arrancá-la do peito e por Caroline em seu lugar, eu já não teria feito?
- Acho que precisa decidir qual caminho quer tomar!
- O que quer dizer com isso?
- Que se ainda ama Emily e acha que ficar com ela é o que te impulsiona, deve ir atrás dela - Olivia pegou sua bolsa e os materiais escolares de sobre o sofá e suas chaves da mesinha ao lado da porta - Agora se você quer desistir, se acha que não vale a pena lutar por ela, esqueça tudo e todos que de alguma forma te aproximam desse sentimento. Se liberte, irmão!
Olivia saiu, deixando Evan com aquela difícil decisão e a dúvida pairando sobre sua mente.
Interrompeu seus pensamentos e foi se aprontar para o trabalho.
Assim que adentrou o seu setor da empresa, Evan pode ver Caroline debruçada sobre uma porção de papéis e imersa em seu trabalho.
Sua função, além da que lhe cabia anteriormente, agora era também recepcionar os clientes e visitantes na entrada. A antiga secretaria estava de licença maternidade e devido a sua volta eminente, não teria porque contratar alguém para suprir uma função dessas por tão pouco tempo. Caroline era amável e não se importou de ter de fazê-lo.
- Quer um café? - Evan aproximou-se, despertando a jovem tão compenetrada em seu trabalho - Desculpe por ontem, Care! Prometo que não vai mais acontecer.
- Não vai mesmo. Acabou, Evan!
- Como assim acabou? Não faz isso, Care. Vamos conversar fora daqui e nos entender. Por favor!
- Você não faz o mínimo de esforço pra esquecer aquela garota, Evan! - a loira levantou-se de seu posto, atrás de seus papéis e caminhou até o outro lado da recepção - Eu até posso aceitar que você ainda não me ame, mas ver você a defender daquela forma, aquilo foi demais pra mim.
Em meio a discussão, um dos sócios da empresa adentrou a recepção, pigarreou para chamar a atenção para si e encarou os dois jovens com ar de desaprovação - O que está acontecendo aqui?
- Nada, senhor!
Caroline voltou para sua mesa quase que imediatamente, na esperança de que o velho ranzinza não tivesse ouvido muito coisa, enquanto Evan o encarava com o olhar desafiador.
John Stevenson era o segundo na escala de comando e não se sabia bem porquê, mas estava sempre tentando menosprezar Paul por trabalhar no setor financeiro, mesmo também sendo sócio do local. Era um homem amargo, por conta de seus três divórcios e diziam as más línguas que sua última esposa o havia traído com um de seus empregados.
- Acho que não é da sua conta o que acontece. O senhor não tem o direito de nos repreender, já que quem cuida da parte administrativa sou eu e Caroline se reporta diretamente a mim.
- Você não cuida de coisa alguma, meu jovem - o velho replicou - Seu pai pode ser o chefe do financeiro, mas você aqui é um mero empregado.
Evan bufou. Estava a ponto de retrucá-lo novamente, quando Paul entrou pela porta de acesso ao local.
- O que ouve?
- Pergunte a seu filho - o velho respondeu secamente - Entrei e tive a impressão de estar participando do programa da Oprah Winfrey. Ele e a assistente discutiam como se estivessem em casa.
- Evan, vá para sua sala. A Soft Light é uma construtora muito bem conceituada e necessitamos de pessoas que venham única e exclusivamente para trabalhar, não para discutir problemas particulares. Estamos entendido?
O garoto apenas deu de ombros, ignorando a presença de seu pai e indo para sua sala como ele ordenara, mas antes que sua porta se fechasse por completo, pode ouvir seu pai advertindo o velho autoritário.
- Qualquer que seja o seu problema comigo, Stevenson - pôde-se ver uma veia de seu pescoço querendo saltar para fora - Deixe meu filho e a namorada dele fora disso.
O homem ainda resmungou alguma coisa, mas Evan não pode ouvir.
Após o expediente de trabalho, tentou novamente conversar com Caroline, mas ela estava irredutível. As palavras do garoto a haviam magoado verdadeiramente e não seria nada fácil fazê-la voltar atrás em sua decisão.
Evan foi para casa, pensando em dividir seu martírio com Olivia. Estava precisando desabafar. Mas a irmã não se encontrava. Por sobre a estante da sala, apenas um bilhete
" Fui jantar com a mamãe. Não me espere.
Com amor, Olivia"
Depois de quatro ou cinco doses de seu whisky favorito, a solidão voltou a invadir sua mente e Evan rendeu-se a devassidão sexual como forma de reprimir os sentimentos que o machucavam.
Ligou para uma mulher qualquer de sua lista telefônica. Uma jovem ruiva, de cabelos tingidos e olhos cor de avelã, magra e voluptuosa, que apesar de bonita, era extremamente vulgar.
Foi ao encontro de quem ele chamava apenas de Kia, deveria ser o diminutivo de Kiara, mas não tinha essa certeza. Nem precisava.
Levou-a diretamente para sua casa. Não lhe ofereceu nenhum tipo de bebida, até porque, dadas as circunstâncias, ela parecia já ter bebido o suficiente para encher um lago de álcool.
Ele não teve o menor tato, transou com ela no tapete da sala. Tratou-a como se fosse um pedaço de carne. Não teve carinho algum, não a beijou. E ela parecia estar no piloto automático, a bebida fazia sua cabeça girar, enquanto gemia de maneira histérica.
Assim que acabaram, Evan deixou a mulher nua, em exaustão deitada sobre o carpete e sentou-se em seu sofá, apenas de cuecas.
Já passava da meia noite. Precisava trabalhar pela manhã, mas não tinha cabeça e muito menos ânimo para isso. Ficou naquela posição por algum tempo, apenas observando a ruiva que estava prestes a pegar no sono.
Ouviu um barulho em sua porta, a maceta girou, um facho de luz invadiu o ambiente escuro e Olivia adentrou a sala, perplexa com a cena que acabava de ver.
- Evan? - ela procurava pelo interruptor de luz, na esperança de que o que estava vendo fosse apenas coisa de sua cabeça - Quem é essa mulher? O que você fez com essa casa?
Ele limitou-se a olhá-la por apenas um segundo, desviando o olhar para a garota em seu tapete - Essa é Kira, não, espera! acho que é Kiara, sei lá, o importante é que ela é gostosa.
- Evan, isso está passando dos limites, você está completamente bêbado, transando com uma prostituta no meio da sala.
Ele riu, tentando se erguer, mas caindo tonto sobre o sofá novamente - É, acho que tô bêbado. Mas ela não é prostituta não!
Olivia sacou seu telefone celular do bolso de sua jaqueta - Tira essa garota daqui, ou eu vou...
- Ou o que, Olivia? - ele finalmente conseguiu se levantar e caminhar até a irmã - Vai ligar para a mamãe?
- Não. Vou ligar pro meu namorado e ver se posso passar a noite na casa dele.
- Quem sabe você se muda pra lá, assim para de encher meu saco com essa sua moralidade.
Olivia bufou, extremamente irritada - Ele não me atende. Vou dirigindo até lá. Não aguento mais nenhum minuto nessa casa. Essa garota está me dando náuseas.
Ela deixou a casa e Evan voltou para o sofá, olhando para a figura embriagada e bagunçada a sua frente.
Uma tremenda burrada. Era isso que ele havia feito e sabia lá no fundo, em seu subconsciente que quando o efeito da bebida passasse, tudo viria a tona e o sofrimento seria eminente.
Em seu último ato de sobriedade, Evan colocou a jovem, que minutos atrás, dormia em seu tapete, dentro de um táxi e voltou para a casa completamente atordoado.
Sentiu o cheio de álcool, misturado com sexo e o perfume barato da garota. Sentiu-se nauseado. Subiu para seu quarto e se jogou sobre a cama, o teto girava, como tudo abaixo dele também.
Seus pensamentos não o deixavam descansar e Emily era tudo que tinha neles. Aquela frágil garota que ele tanto queria proteger. Onde ela estaria? Será que sentia tanto a falta dele, como ele sentia dela? Será que, assim como ele, ela também estava tendo que lidar com a insônia e a maldita angústia de não ter notícias alguma?
O sono demorava a chegar. Evan continuava alí, imerso em seu drama, quando ouviu o telefone, no andar de baixo tocar.
Levantou-se com dificuldade e cambaleando desceu as escadas, segurando o corrimão para não cair. Atendeu. Antes não o tivesse feito.
- Você é parente de Olivia Blake? - disse uma voz masculina do outro lado da linha.
O telefone caiu de suas mãos, assim que o homem lhe dera a pior notícias que ele poderia receber.
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