42. Um beijo pra tentar
No sábado, Emily acordou bastante animada com a festa. Havia combinado de ir ao shopping com sua mãe, comprar algo para vestir a noite.
Passaram por diversas lojas durante a manhã, até decidir-se por um vestido de seda azul, bordado com pedras e rendas, curto e um tanto justo. Em suas costas uma bela fenda dava um ar bastante sensual para a peça. O sapato plataforma prata, combinava perfeitamente com o resto do look.
Depois do almoço, Emily deu atenção a algumas coisas da escola que ficaram pendentes. Ao fim da tarde ligou para Bradley para confirmar sua carona até a casa de Holly, já que não fazia ideia de como chegar lá dirigindo.
- Droga, Emily! Esqueci completamente que deixei meu carro na revisão, vou precisar ir com a Lucy.
- Posso ir seguindo vocês. Só preciso pedir o carro do meu pai emprestado.
- Tenho uma ideia melhor! - Bradley parecia tramar algo - Porque não vai com Dylan?
Emily pensou naquilo por um instante. Lembrou-se de que o garoto havia se oferecido para ir com ela.
- Se ele topar, por mim tudo bem!
Despediu-se da amiga, deixou o celular sobre o móvel de seu quarto e seguiu em direção ao banheiro.
Fechou a cortina e girou o registro do chuveiro, sentindo as primeiras gotas d'água caírem sobre sua pele. Fechou os olhos e se apoiou na parede, apenas relaxando com a água quente correndo sobre os ombros.
Apesar de animada, também estava um pouco apreensiva com a festa. Não conhecia a anfitriã, na verdade não conhecia quase ninguém, e como se não bastasse, ainda precisava se esquivar de Joe, para não cair na besteira de xingá-lo e de o expôr na frente de seus amigos e namorada.
Enrolou-se em uma toalha e voltou ao quarto. Notou que haviam algumas mensagens não visualizadas em seu telefone. Eram de Dylan.
"A que horas posso passar para buscar você?"
"Que se dane. Chegarei às 20hs. Esteja pronta!"
"Vista algo sexy... Brincadeira!."
Quanta presunção e arrogância pra uma pessoa só - falou para si - Mas até que é bem bonitinho.
Vestiu-se rapidamente, calçou seus sapatos e arrumou os cabelos, deixando-os soltos e lisos, mas com as pontas levemente onduladas.
Fez a pele como de costume. Aplicou um pouco de sombra clara, esfumando o côncavo com outra mais escura. Aplicou um pouco de sombra prata no canto interno dos olhos para o olhar ficar mais iluminado e finalizou com máscara de cílios. Nos lábios um belo batom cor de boca.
- Emily, desça - ouviu sua mãe chamar no andar de baixo - Seu amigo Dylan está aqui!
Deu uma última olhada no espelho e deixou o quarto.
Enquanto descia as escadas de sua casa, não pode deixar de notar o quão bonito Dylan estava. Vestia-se de maneira tradicional. Calça jeans, tênis e uma camiseta vermelha lisa, mas o cabelo estava penteado de forma diferente e Emily podia sentir seu perfume exalando por todo o cômodo.
- Boa noite e divirtam-se, criança! - Elizabeth sorria enquanto via os dois seguindo em direção a porta.
- Cuidarei bem dela, senhora Marshall!
Emily revirou os olhos e sorriu brincalhona com a fala doce do garoto sempre tão bruto.
Abriu a porta do carro para que a garota entrasse, mas antes que ela pudesse dizer algo a respeito, ele se antecipou - Não se acostume, só estou sendo gentil porque sua mãe está nos olhando.
Emily deu de ombros e adentrou o carro. Ele bateu a porta, dando a volta para entrar pelo lado do motorista.
- Você está bem gostosa nesse vestido, mas por favor, coloque o cinto!
- Esse é seu elogio? Estou gostosa?
Dylan expirou, enquanto girava a chave, dando partida em seu Porsche - Está bem. Você está muito bonita, Emy! Satisfeita? Agora coloque o cinto, não quero ser o culpado por estragar essa sua cara linda.
Emily segurava o sorriso. Não podia deixá-lo notar o quanto estava enaltecida. Pôs o cinto e se acomodou no banco do motorista.
A casa de Holly era enorme e aparentemente lotada naquele momento. A música estava alta e haviam pessoas com copos de cerveja para todos os lados. Alguns conversavam, sentados sobre um sofá gigantesco bem no meio da sala, outros dançavam ao som de algo que lhe parecia ser Sting.
- Quer beber algo? - Dylan ofereceu.
- Claro! Uma cerveja, por favor.
Enquanto assistia Dylan afastar-se e adentrar a cozinha do local, notou Lucy e Bradley se aproximando dela.
- Festa legal, não é? - Lucy balançava o corpo no ritmo da música que agora mudara para algo mais dançante e desconhecido.
- Eu preciso retocar a maquiagem. Vocês vêem? - Bradley tinha cara de poucos amigos, como se algo alí não a estivesse agradando.
- Você está emburrada desse jeito, porque o idiota do Tommy Wilson veio com a vadia da Lisa Wells? - Lucy cruzou os braços em desaprovação - Desencana desse traste, amiga!
A face de Bradley fechou-se em uma carranca de dar medo. Lucy resolveu concordar e a seguir até o banheiro - Você não sabe de nada, Lucy! Vamos ao banheiro. Emy você vem?
- Eu não posso, Dylan foi pegar uma bebida. Preciso esperar por ele!
As garotas se entreolharam, mas só Lucy sorriu com a afinidade que estava rolando entre os dois. Deram as coisas e deixaram Emily só, no meio da multidão, novamente.
Estava distraída, vendo como todos se divertiam e começando a se arrepender por ter ficado alí plantada, esperando o garoto que parecia não estar com nenhuma pressa de voltar para ela.
Quando estava prestes a ir atrás de suas amigas, Emily ouviu uma voz atrás de si, balbuciar em seu ouvido - Uau! Tá linda, garota fugitiva!
Quando virou-se, Joe sorria sarcástico para ela - Porque anda se esquivando de mim?
- Não seja ridículo! Deveria me agradecer por ainda não ter contado para Lucy sobre suas mensagens.
- Ah! Qual é, Emily? - ele aproximou-se ainda mais dela, ficando a centímetros de tocá-la - Sei que você sente atração por mim.
- Você só pode estar maluco!
Emily deu de ombros, mas Joe a puxou para si e sem que ela pudesse o repelir, deu-lhe um beijo contra a sua vontade.
Assim que se libertou das garras do garoto, Emily o empurrou para longe e tal foi sua surpresa, ao ver Lucy olhando diretamente para eles.
- Sua cadela falsa! Eu te ajudei a se enturmar e é assim que me agradece? Beijando meu namorado?
- Nã-não, Lucy! - Emily gaguejou ao tentar esplicar-se - Eu...
- Ela não fez nada, Lucy! - disse ao longe, uma voz grave que Emily conhecia bem - Esse cara que a beijou a força. Eu vi!
- Sem essa, Dylan! - Joe fez uma careta e seu semblante tinha um ar de deboche - Lucy, meu amor, deixa eu explicar, você sabe muito bem que seu amiguinho aí nunca gostou muito de mim.
Lucy desviou o olhar - Eu preciso sair daqui!
- Espera! Vamos conversar.
- Agora não, Emily! - Lucy voltou-se para Bradley, já com os olhos marejados - Me dá uma carona?
Bradley apenas assentiu, segurando a amiga pelo braço e a levando para fora da festa. Todos que estavam ao redor, também se espalharam, voltando a beber e dançar como antes.
Emily estava atônita. Sabia que a culpa de tudo aquilo estar acontecendo era sua, por não ter contado logo a Lucy o que estava acontecendo.
Joe tentou novamente se aproximar dela, pegando em seu braço, como se a cena protagonizada a pouco não fosse o bastante.
- Agora que ela se foi, pare de fazer doce e vamos lá pra fora nos divertir um pouco.
- Joe, me solta! - Emily falou, aflita com a mão dele tocando sua pele. Sentiu medo do garoto naquele momento. Lembrou-se de Ryan e de tudo que passara nas mãos dele.
Dylan surgiu, como um furacão, levando tudo e todos que se postassem em seu caminhos. Empurrou Joe para longe da garota e se pôs entre os dois - Você é surdo? Não ouviu o que ela disse? Vaza fora daqui!
- Quem você pensa que é pra me dar ordens?
Nesse momento, todos os convidados da festa se voltaram novamente para a discussão acalorada que se estendia cada vez mais.
- O cara que vai quebrar todos os seus dentes se tentar pegar qualquer amiga minha a força - a raiva tomava conta de cada vértebra de seu corpo e Dylan estava a ponto de explodir em fúria.
- Porque não faz isso, ao invés de ficar me ameaçando feito um viado?
Aquilo foi o estopim para Dylan que cerrou os punhos e desferiu um soco tão forte no rosto de Joe, que o fez sangrar pelas narinas.
Algumas pessoas seguraram Joe, mas ele ergueu os braços em sinal de que estava bem e soltando-se de maneira brusca. Tocou o sangue que vertia em sua face e ao notar seus dedos sujos pelo mesmo, apontou-os para o garoto a sua frente, imitando uma arma.
- Você tá fodido, Dylan! FO-DI-DO!
Joe deu as costas para ele e esbarrando em algumas pessoas, deixou o local chutando uma lata de lixo e algumas garrafas em seu caminho.
Emily fitou Dylan horrorizada, mas assim que seus olhares se cruzaram, caíram na risada. Parte pelo nervosismo e a outra pelas palavras tão clichês usadas pelo outro.
- Tudo bem, galera! O show acabou - Holly Benson surgiu por entre a multidão, fazendo-os se dispersar lentamente - Conheço vocês?
Emily sorriu constrangida. Esticou a mão para a moça loira a sua frente, pronunciando seu nome. Ela, por sua vez, apenas revirou os olhos, ignorando seu cumprimento - Não me importa, apenas saiam da minha casa!
- Vem, Emy - Dylan a puxou para a porta, trombando propositalmente em Holly que parecia xingá-lo com dezenas de palavrões - Podemos respirar um pouco de ar puro lá fora.
Deixaram a casa de Holly, atravessaram a rua e sentaram-se no meio fio, observando a bonita noite estrelada.
Emily acomodou-se de modo que conseguisse sentar sem mostrar nada por debaixo de seu vestido. Dylan sentou-se ao seu lado, assim que notou que ela havia conseguido se ajeitar.
- Porque não contou a Lucy sobre as mensagens? - Dylan alcançava o copo de cerveja para Emily após dar um longo gole.
Ela também bebericou do copo, pensando naquela pergunta que nem mesmo ela sabia a resposta.
- Eu não sei. Fiquei com medo de que ele de alguma forma pusesse a culpa em mim.
- Foi o que ele fez, gênio! Se eu não estivesse por perto, quem iria acreditar em você? - Dylan revirou os olhos, pegando o copo das mãos da menina - Nunca gostei daquele filho da puta!
Emily ignorou o comentário sarcástico e focou na informação seguinte - Porque não?
- Sempre me pareceu duas caras. Andava se esgueirando pelos corredores da escola e quando Lucy não estava por perto, ele agia de forma completamente diferente. O suportava apenas pela amizade antiga que tenho com as meninas.
- Obrigada por ter me defendido! - os cantos de sua boca se elevaram num sorriso grato - Principalmente por saber que me considera sua amiga.
- Emy! - seus olhos a encararam fixamente - Não sei como te dizer isso, mas... Bem, eu acho que gosto de você!
- Eu também gosto de você, muito embora você seja um arrogan...
- Porra, Emily! - ele a interrompeu bruscamente - Tô querendo dizer que tô apaixonado por você!
Ela corou. Não conseguiu esboçar a menor reação possível, diante daquelas palavras.
- Devo ser muito otário mesmo! -sussurrou apenas para si.
- Dylan, eu não sei o que te dizer, já falei sobre meu relacionamento anterior, ainda estou muito ligada a ele e...
- Deixe de ser trouxa! Está ligada a um cara que, muito provavelmente, está transando com alguém nesse exato momento e nem liga pra droga do seus sentimentos.
O rosto de Emily se fechou em fúria, os olhos ardiam e as palavras de Dylan machucavam bem mais que um tapa. Sabia que ele estava certo. Evan não ligava mais para ela, e baseando-se no fato de que uma garota atendeu seu telefone em plena a madrugada, ele deveria estar se divertindo desde que tudo teve um fim.
- Eu o amo! Não espero que entenda, mas por favor, já estou machucada o bastante pra ter que ouvir esse tipo de coisa.
- Eu não o conheço, mas as suas lágrimas me dizem que ele não merece teu amor.
- E você merece? - Emily levantou-se do meio fio, passando a mão em seu vestido para ter certeza de que não havia sujado por conta da poeira dos carros - Nos conhecemos a uma semana e só o que você tem feito é ser grosseiro e hostil quase que o tempo todo.
- Eu sou assim, desde que levei um belo par de chifres - ele analisava a confusão no olhar da garota à luz daquela bonita lua - O que? Acha que é a única aqui que sofreu por amor? Temo ter que te desapontar, coisa linda!
- O que aconteceu com você?
- Quando eu conheci a Bradley, ela tinha uma outra melhor amiga, Sarah. Sarah e eu namoramos, ela me traiu com meu melhor amigo, Bradley ficou do meu lado e fim da história.
- E o seu melhor amigo?
- Tirando o fato de ter ficado de olho roxo por algumas semanas, se mudou pra Seattle no final do ano passado. Sarah ainda estuda na Venice, mas como ela é do primeiro ano, raramente nos esbarramos.
Emily se esforçava para digerir toda aquela história traumática. Por fim, só pode dizer-lhe que lamentava profundamente.
- Bradley é uma boa amiga. Não fosse ela, o que você chama de grosso e hostil, poderia bem ser substituído por um iceberg.
- Obrigada por ser tão sincero!
- Vamos indo? Prometi a sua mãe que te levaria de volta para casa sã e salva - Dylan deu uma rápida conferida em seu celular - Já está passando da hora de criança dormir!
- E o que você faz acordado!
Os dois gargalharam com diálogo cheio de ironia.
Já estacionados em frente a casa de Emily, seus olhos passearam pela face alegre e risonha de seu acompanhante - Eu me diverti muito com você hoje. Só espero que Lucy me escute e me perdoe pelo que ouve.
- Ela vai. Você não fez nada, foi aquele mané que te forçou a beijá-lo - Dylan lhe lançou um sorriso calmo e tranquilizador, mas em seguida desviou o olhar envergonhado - O que eu disse mais cedo, sobre estar apaixonado - ele pigarreou - Por favor, esqueça. Tá bem?
- Tem medo que eu o machuque.
Ele sorriu sem humor - Você não pode me machucar. Não mais do que ela machucou. Minha preocupação é você!
- Eu?
- Você é intensa. É emotiva. Tem sempre os sentimentos a flor da pele. Talvez não seja a hora de eu estar me abrindo e te fazendo declarações.
- Muito pelo contrário - ela segurou o rosto do garoto entre seus dedos, obrigando-o a olhá-la dentro dos olhos - Você me fez cair na real hoje. Estou perdendo meu tempo. Ele está seguindo a vida, enquanto eu me afundo nas lembranças de nós dois.
Os olhos dele se estreitaram e antes que Emily pudesse negá-lo, ele já abria espaço entre seus lábios com sua língua quente e macia. Pode sentir o toque suave das mãos de Dylan sobre seu rosto, acariciando sua bochecha, enquanto seus lábios se encaixavam com perfeição. O beijo dele era surreal.
As janelas do carro embasaram por conta da respiração ofegante dos dois. As mãos de Emily suavam e o coração acelerado parecia querer pular para fora de seu peito.
Lentamente, seus lábios afastaram-se um do outro. Trocaram um olhar tímido e então sorriram.
- Acho que agora preciso entrar!
- Obrigada por isso!
As sobrancelhas de Emily se ergueram - Pelo beijo?
- Por fazer essa noite se encerrar da melhor forma possível.
Só pode sorrir em resposta.
Despediram-se e Emily adentrou sua casa, ainda em estado de êxtase. Tentou fazer menos barulho possível, para não acordar os país. Caminhou sorrateiramente até seu quarto.
Jogou os sapatos de salto alto num canto escuro do mesmo, vestiu seu pijama confortável e foi até o banheiro, afim de escovar os dentes. Depois deitou-se pensativa em sua cama.
Abraçou o travesseiro, sentindo o gosto dos lábios de Dylan nos seus. Fechou os olhos para dormir, quando de relance, sobre sua mesa de cabeceira, avistou o colar que Evan lhe dera.
Apertou as pálpebras fortemente para evitar chorar, mas era impossível controlar seus olhos inundados de lágrimas. Somente o sono profundo teria poder de amenizar aquela dor.
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