38. Hello, Califórnia!

Já faziam quase cinco meses desde que Emily vira Evan pela última vez e conforme os dias iam se passando, a saudade que sentia tornava-se lancinante.

Em meio a uma bela tarde em Los Angeles Califórnia, Emily ouvia All The Time a música favorita de Evan e tentava organizar as coisas em seu novo quarto com paredes brancas e um lindo papel de parede turquesa.

Decidira que não mais queria viver em um ambiente infantil.

Deixou de lado todas as suas coisas de criança. Embalou tudo, inclusive seu despertador e caixa de música. Dois presentes extremamente especiais, mas que já não combinavam com a nova Emily e pediu que sua mãe guardasse tudo no sótão.

Em sua estante agora só haviam livros, cds e alguns filmes em Blu-ray.
Seu televisor velho também havia sido trocado por outro de última geração. Presente de sua avó por seus dezessete anos completados.

Seu laptop que antes ficava sobre a mesinha da sala e ela raramente o usava, ganhou um lugar especial em seu quarto, mais especificamente sobre sua cama, já que agora passava a maior parte do tempo procurando por novos filmes e seriados.

Por fim, no lugar de sua velha poltrona rosa bebê, havia um sofá bege pequeno e almofadas pretas. O hábito de ler fora a única coisa que não mudou em sua vida.

Há dois dias, ela e os pais, deixaram a casa de sua avó Ellie, em Malibu e mudaram-se para seu novo lar. Uma casa bonita e aconchegante, localizada no bairro Mar Vista, na cidade de Los Angeles.

Esse bairro modesto a oeste da cidade, tem suas ruas residenciais que dão diretamente nas avenidas principais que são povoadas por cafés tranquilos e quietos.

Emily poderia estudar em Venice High School, uma ótima escola de ensino médio, para assim concluir seus estudos e ingressar em alguma faculdade.

Ela agora estava segura de si. Do que queria para sua vida.

Precisava focar em seus estudos e pesquisar sobre universidades e o que gostaria de fazer pelo resto de seus dias. Decidir qual profissão seguir não era nada fácil.

O primeiro mês havia lhe mostrado que a relação a distância com Evan não daria certo.

No início eles se falavam todos os dias, mas a medida em que as coisas em seu trabalho foram ficando complicadas, ela só conseguia ter uns minutos de sua atenção a noite e nem sempre isso era possível, já que era o único momento que Evan tinha para estudar.

Olivia conhecera um rapaz. Seu nome era Christian e eles pareciam estar apaixonados. Por conta disso, elas quase não tinham tempo pra conversar, pois Olivia passava a maior parte do tempo ao lado de seu novo amor.

Emily podia muito bem entender os motivos da amiga e embora sentisse muita falta de suas intermináveis conversas, estava contente por Olivia estar tão feliz.

O jovem era músico, tocava em barzinhos, com sua banda de rock alternativo. Ao que Emily sabia, ele era três anos mais velho que Olivia, mas isso não era empecilho, já que seus pais eram bem mais flexíveis que os dela.

Evan sentiu um pouco de ciúmes logo que o conhecera, mas como o resto da família, ele também acabou por aceitar o rapaz, desde que ele e Olivia mantivessem a porta do quarto sempre aberta.

Com vergonha de entrar em contado com Alison, a única amiga que tinha na Califórnia, por conta do que aconteceu com Ryan, Emily não tinha amigos para desabafar e não podendo fazer nada para mudar o fato de que estava a 2733 milhas de distância de seu amado, Emily tomara uma decisão.

Iria terminar o namoro. Precisava ser assim. Não poder beijá-lo, tocá-lo, sentir ao menos a presença dele, era uma enorme tortura para ela.

Evan prometeu visitá-la assim que consegui-se uns dias de folga em seu trabalho, mas ela sabia que isso seria praticamente impossível.

Desde que Ruby fora demitida, o trabalho ficara todo nas mãos dele e nada poderia fazer com que o liberassem para visitar uma namoradinha fugitiva.

Então assim seria. Quando a noite caísse, ela ligaria para o garoto e colocaria um fim naquilo. Antes sofrer por algo que havia se encerrado, do que alimentar falsas expectativas de estar novamente ao lado dele.

O bairro em que Emily morava, ficava a poucos minutos da praia, um brinde da empresa em que seu pai trabalhava, já que era uma corretora de imóveis conhecida em todo o país.

O dia estava ensolarado. Aproveitando então a ausência dos pais, Emily resolveu vestir seu biquíni e pegar um pouco de sol. Lembrou-se de que em todos os anos em que vivera em Miami, foram poucas as vezes em que usou a praia para se distrair.

No ano anterior, mesmo sem condições de lhe dar um carro, seu pai tentava lhe ensinar a dirigir. Mesmo assim, ainda não estava tão apta ao volante e mesmo que quisesse usar o carro para sair, sua mãe não estava de acordo com aquilo e muito embora, seu pai burla-se as regras dela de vez enquando e lhe emprestasse seu carro, não poderia fazê-lo sem permissão do mesmo.

Decidiu então por pedalar. Foi seguindo o sol, acompanhando a paisagem de bangalôs e conjuntos residenciais coloridos e divertidos, rumo à praia.

O local estava mais movimentado do que pensara. Achou um canto sem muitas pessoas.

Largou sua bicicleta ao lado e estendeu uma toalha sobre a areia fina e branca.

Tirou seu vestido leve e florido, ficando apenas de biquíni, sentou-se sobre o pano e sacou de dentro da bolsa um livro intitulado Caixa de pássaros. Um thriller de terror psicológico, escrito por Josh Malerman.

Como era gostoso por os pés na areia e sentir o calor emanando por seu corpo.

No início, sentiu vergonha de sua pele tão branca, estando rodeada por pessoas extremamente bronzeadas.

Mas aos poucos foi desencanado de suas paranóias, largou o livro ao lado e apenas deitou-se sobre a toalha, fechou seus olhos e deixando aquela sensação maravilhosa lhe invadir de vez.

Faltavam menos de um mês para que suas aulas começassem e o fato de ter que se habituar a nova rotina, fazer amigos e se adaptar a nova escola a deixavam bastante tensa.

De repente, sentiu gotas d'água tocando-lhe a pele. Abriu os olhos lentamente.

Parado de pé ao seu lado, pingando água do mar e segurando uma prancha de surf estava um garoto que nunca havia visto antes.

Era magro e esguio. Seus cabelos molhados eram escuros e a pele bronzeada pelo sol. Os olhos do mesmo, cor de avelã a fitavam com fixação. Usava apenas uma bermuda de praia listrada.

- Ei, qual é a sua? Não viu que está me molhando não? - a face de Emily se fechou em uma carranca de dar medo.

O espanto nublou o rosto sorridente do garoto - Já vi que educação não é seu forte.

- Você é quem não tem educação. Onde já se viu sair por aí molhando os outros.

- Estamos na praia, garota - uma veia saltou para fora do seu pescoço - E as pessoas costumam se banhar nessa coisa maravilhosa em sua frente, chamada mar.

Emily engueu-se e pôs as mãos na cintura. Sua testa enrugou e seu olhar era desafiador - Pelo mar sim, não por pessoas inconvenientes que não sabem manter distância de quem apenas quer pegar um pouco de sol.

-Olha, quer saber? - uma linha apareceu entre suas sobrancelhas -Vim até aqui porque notei que, por causa do vento, seu livro estava ficando coberto por areia e quis ajudar, mas você é tão grossa que já me arrependi.

Um rubor subiu por toda a face de Emily - Bem, eu sinto muito por ter sido rude, é que...

- É que nada - ele a interrompeu - Esse seu nariz em pé diz muito sobre você!

Suas narinas inflaram e a raiva tomou conta de seu semblante.

Evan sempre gostava de exaltar o quão arrogante ela parecia ser as vezes e pensar nele e no fato de que teria de tirá-lo de vez da sua vida, a deixava ainda mais furiosa.

- Então porque ainda está aqui? Se bem me lembro, não pedi sua ajuda e nem sei porque estou perdendo meu tempo com um babaca metido a surfista igual você - descontou toda sua frustração naquele pobre garoto que apenas tentava ser prestativo - Vá embora logo!

O rapaz revirou os olhos - Fique aí, com seu livro chato - deu de ombros - Ninguém deve mesmo te aguentar para estar na praia lendo sozinha, num dia lindo como esse.

Sua vontade era de gritar um monte de palavrões, mas a medida que o garoto se afastava, Emily foi recobrando sua calma.

Revirou sua bolsa a procura de seu celular. Eram quase cinco hora da tarde e ela precisava voltar para casa.

Recolheu suas coisas, montou em sua bicicleta e pedalou de volta ao lar. Desta vez sem apreciar o que a rodeava.

Deixou sua velha amiga de duas rodas na garagem e entrou.

Após preparar um café com torradas, Emily deitou-se no sofá da sala para continuar sua leitura.

Por um breve momento, pensou no atrevimento daquele desconhecido na praia. Como ousava lhe chamar de arrogante sem nem ao menos conhecê-la?

Acabou por cochilar com o livro nas mãos.

Acordou por volta das dezenove horas, com o barulho exasperado de sua mãe que procurava sem sucesso as chaves em sua bolsa. Por entre os vidros da entrada, dava para ver, que junto a ela estava sua tia Rose.

Emily levantou-se de sua posição confortável no sofá, indo até a porta e destrancando-a para que elas então adentrassem.

- Obrigada, querida - Elizabeth entrou pela porta, seguida por Rose. As duas repletas de sacolas que continham alimentos para o jantar.

Emily engueu algumas das compras e ajudou a organiza-las na cozinha.

Enquanto preparavam a refeição, dialogaram sobre o dia que tiveram, sobre o emprego novo de sua mãe como promotora de vendas em uma empresa de cosméticos e claro, Emily acabou por falar novamente sobre o desconhecido da praia.

Sua tia Rose ficaria com o quarto de hóspedes naquela noite. No dia seguinte voltaria para Malibu.
Assim que seu pai chegara, os quatro tiveram um jantar agradável e descontraído.

As irmãs se encarregaram da limpeza dos pratos, enquanto Bruce tomava um café e assistia a programas esportivos como sempre fazia a noite.

Emily subiu para seu quarto, tomou um banho relaxante e ligou seu aparelho de televisão, zapeando em busca de algo interessante para ver.

Seu quarto ainda estava sem tv a cabo, por conta do pouco tempo em que estavam instalados na casa.
Acessou então sua plataforma de streaming em busca de algum filme.

Estava distraída, envolta da brilhante obra cinematográfica The Silence of the Lambs quando seu telefone celular chamou sua atenção, a despertando de seu interesse momentâneo.

Uma chamada de vídeo. Era Evan.

- Oi, gatinha! - todo o seu rosto se iluminou ao ver Emily do outro lado da tela - Você não faz idéia do quanto é bom ver você.

A cor fugiu-lhe do rosto e sua expressão fechada deixou Evan preocupado, fazendo seus olhos estreitarem.

- Emily, aconteceu alguma coisa? - indagou ele - Está com uma carinha triste.

- Bem, sim - ela suspirou profundamente - Serei direta. Evan, isso de namoro a distância não tem dado certo pra mim.

Evan ajeitou seu laptop sobre o colo, coçou a cabeça em sinal de dúvida - Do que você está falando?

- Está claro! - ela lutava contra as lágrimas - Evan, faz quase uma semana que não nos falamos direito, isso não é uma relação saudável.

- Emily, eu vou tentar arranjar mais tempo pra você, na semana que vem eu vou...

- Não! - ela o impediu de prosseguir - Você tem inventado mil desculpas, um monte de baboseiras que você e eu sabemos muito bem que você não pode cumprir.

O garoto pôs as mãos atrás da nuca. Tinha um olhar incrédulo e sua testa franzida indicava o quão surpreso estava com as palavras dela.

- Você só precisa de uma boa noite de sono - Evan tentava amenizar as coisas e fazê-la esquecer aquela bobagem toda - Eu sei que é difícil, pra mim também é, mas a gente se ama e...

- É justamente por te amar tanto que não posso continuar com isso - ela levantou-se e caminhou até o outro lado de seu quarto, enquanto o garoto a observava pela câmera - Não posso te prender a mim, não enquanto meus pais mandarem em minha vida.

Ele olhova para o teto, tentando disfarçar as lágrimas que brilhavam em seus olhos, mas em seguida a raiva trasformou seu rosto e em meio ao choro Evan esbravejou.

- Está bem, termine tudo, não preciso de você, sua criança idiota!

O garoto girou, deixando seu computador cair sobre a cama bruscamente e saindo da imagem por alguns segundos.

Evan, fale comigo, por favor! - o espanto ultrapassou o seu rosto - Eu te amo, mas...

- Mas deve ter conhecido alguém nessa cidade de merda em que está morando - voltou para a frente do aparelho - Quer saber? Vá se ferrar!

Quando a menina se preparava para rebater as palavras que saiam dos lábios dele, a tela escureceu e a transmissão foi encerrada.

Então era assim que as coisas terminariam? Evan pensava que havia outro em sua vida, quando somente ele era capaz de fazê-la feliz, quando só ele fazia seu coração disparar.

Seus olhos ardiam, nadando em lágrima. Deitou-se em posição fetal e deixando que a tristeza tomasse conhecimento de todo seu ser.
O cansaço venceu. Dormiu depois de tanto chorar.

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