No sábado pelo manhã Emily acordou cedo, colocou um belo vestido verde florido e sandálias confortáveis. Sua mãe havia ido visitar a irmã e isso era um verdadeiro alívio para a garota, já que não estava muito afim de papo e nem de brigas, caso ela quisesse proibí-la de ir até a casa de Melissa.

Comeu uma maçã e foi andando até o apartamento de Evan. Parecia estar pressentindo que as coisas iriam ficar ainda piores. Seu coração batia num ritmo muito acelerado, as mãos suavam, mas não era hora de dar para trás, precisa falar com Evan e sabia que ele ficaria feliz em vê-la.

Tocou a campainha e em alguns segundo Evan abriu. Ria como se alguém houvesse lhe contado uma piada, tamanha sua gargalhada ao atendê-la.

- Ahm... Oi, Emily! - seu semblante se fechou imediatamente - O que faz aqui?

Por entre o vão da porta, sentada ao sofá da sala, aquele onde eles haviam passado a noite mais bonita da vida dela, Emily pode ver um rosto que lhe era muito familiar. Esse rosto era de Katie.

Emily empurrou Evan, entrando no apartamento abruptamente - O que ela está fazendo aqui?

A garota por sua vez, sorriu ao vê-la - Oi, amiga! - o sarcasmo na voz de Katie fez o sangue de Emily ferver de raiva.

- Calma Em, deixa eu explicar, ela... - Evan não conseguiu concluir, pois a raiva que Emily sentia era tanta, que nada que ele dissesse a faria acalmar-se.

- Não precisa dizer nada, já entendi tudo, como sou idiota, te entreguei de presente pra ela - levou suas mãos ao rosto, tentando não deixar transparecer o quanto aquilo a havia abalado.

- Não fala assim, vamos conversar! - ele tentava sem sucesso explicar o porquê da menina estar ali.

- Podia ser qualquer pessoa, qualquer pessoa nesse mundo, mas não ela! - Emily secou as lágrimas que agora rolavam por seu rosto, com as costas das mãos - Depois de tudo, Evan?

Para, Emily, não é nada disso que você está pensando... - mais uma vez Evan tentou se explicar, sem sucesso.

Vou deixar vocês em paz, tenho que ir ajudar uma amiga - ela tentava se recompor. Deu as costas e saiu pela porta sem apressadamente.

- Em... - Evan correu, mas novamente não conseguiu segurar o elevador antes da menina descer. Pegou a escada e tentou alcançá-la, mas novamente era tarde demais.

Emily entrou em um táxi e tentando acalmar-se, seguiu até a casa de Melissa.

Aquele momento, à porta do apartamento de Evan, não deixara seus pensamentos durante todo o caminho, mas o dia acabou por passar depressa. Se distraiu enchendo balões, organizando os comes e bebe e por algumas horas esqueceu a cena que havia visto.

Voltou para casa com a tarefa de convencer sua mãe a deixá-la ir até a casa de Melissa a noite. Precisava muito se distrair e essa era a melhor forma.

- Mãe, está em casa? - já em casa, Emily ia em busca de seu pedido.

O que foi Emily? Estou no quarto - ouviu-se a voz da mulher, que arrumava sua cama.

- Queria saber se posso ir até a casa de Melissa hoje a noite, é aniversário dela - Emily espiava pelo vão dá porta.

- Pode ir - Elizabeth esticava os lençóis sobre a cama - Mas quero você em casa cedo e vou ligar para a mãe de Melissa para saber se você está lá mesmo e pedir que ela te traga para casa - a mãe havia perdido a confiança em Emily e isso fazia com que ela tratasse a filha como uma criança de 5 anos.

- Ok, mãe! - correu para seu quarto, vestiu seu vestido favorito, aquele que usava no aniversário de Olivia. Lembrou daquela noite e sentiu uma imensa vontade de chorar, mas não podia, precisava curtir a noite e esquecer, já que Evan havia esquecido.

A casa de Melissa era linda e os enfeites haviam ficado ótimos, mas algo parecia estar faltando. Talvez Emily tivesse uma idéia errada dá amiga, mas sempre a viu como uma menina descolada e com amigos mais estilosos. Apesar de tudo estar perfeito, não parecia muito a cara da garota.

- Emily, você veio! - Melissa apareceu para recepcionar a amiga - Entre, estão todos na sala.

- Obrigada, você está linda! - elogiou.

Depois de algum tempo, já mais enturmada, Emily parecia se divertir, pensava no quanto era bom sair um pouco e conhecer pessoas novas.

O bolo foi cortado e o irmão de Melissa resolveu fazer uma brincadeira, sujando o rosto da irmã com glacê, gerando uma tremenda bagunça. Em minutos todos estavam jogando bolo uns nos outros e Emily tentava se esquivar.

Uma menina veio em sua direção, atingindo seu rosto, quando um outro garoto iria atingí-la em cheio, alguém a puxou pelo braço para dentro de uma porta, a fechando em seguida.

- Quem é você? - perguntou Emily, confusa - Porque me arrastou para dentro desse quarto?

- O cara que te salvou de sujar o cabelo. De nada, a propósito - ele zombou - Meu nome é Andrew e o seu?

- Sou Emily! - ela apresentou-se - Você é amigo da Melissa?

- Sim, mas também sou primo! - ele tinha um sorriso bonito, dentes perfeitamente alinhados, e seus olhos eram esverdeados - Vem, vou te tirar daqui com segurança.

- Andrew puxou Emily pela mão, guiando a menina até uma saída, sem serem notados. A porta dava em um jardim cheio de brinquedos e com luzes bonitas. Sentaram-se em um balanço de metal, debaixo de uma enorme figueira.

- Me diz uma coisa, eu estava reparando em você lá na sala - ele iniciou uma conversa - Parecia se divertir, mas as vezes também parecia distante, como se alguma coisa estivesse te chateando.

Quer falar sobre isso?

- Eu mal te conheço - ela foi ríspida - Não vou sair falando da minha vida particular com alguém só porque me tirou de uma guerra de bolo.

- Nossa, tudo bem - ele ergueu os braços em rendição - Não está mais aqui quem falou!

- Desculpa! - Emily percebeu que havia sido um tanto grossa com o garoto - Eu terminei com meu namorado e pra falar a verdade, vim até aqui pra esquecer disso, mas acabei ficando pior.

- Sinto muito - ele tentava ser solidário - Mas sabe, tem bolo no seu cabelo - ele puxou um fio, cheio de glacê na cabeça da garota.

- Quero ver eu tirar essa coisa do meu vestido... - ela analisava o estrago feito em sua roupa favorita.

- Você está parecendo uma palhacinha - ele zombou - Tem glacê vermelho no seu nariz.

- Ao invés de ficar aí rindo, deveria me ajudar a tirar - ela fechou a cara, fazendo careta para o menino que com o dedo tentava limpar seu nariz. Seus rostos ficaram próximos, os olhares se cruzaram e Emily pode sentir o hálito quente do garoto em sua face - Sabe onde mais tem glacê?

- Onde? - disse ela baixinho, tentado desviar o olhar do menino. Ele chegou ainda mais perto, trazendo o olhar dela de volta para si - Aqui! - disse, tocando seus lábios nos de Emily. Os olhares se cruzaram novamente e no impulso, Emily o beijou, agora mais intensamente, um beijo longo e molhado.

Quando afastaram-se, ela não conseguia olhá-lo nos olhos. Que besteira havia feito. Não podia sair por aí beijando um garoto que mal conhecia, isso era apelativo demais. Sua carência a espantava.

Desceu do balanço imediatamente, tentando afastar-se do garoto - Bem, eu preciso ir, tenho hora pra chegar - não deu chances para o garoto tentar algo mais.

- Tudo bem, mas pelo menos me dá seu telefone?

- Tem uma caneta? - questionou ela.

- Tenho - Andrew puxou do bolso de trás da calça uma caneta esferográfica e jogou para ela.

- Que tipo de pessoa trás uma caneta no bolso para uma festa? - ela questionou.

- O tipo que gosta de desenhar - respondeu ele, estendendo o braço para Emily escrever o número. Ela não pode evitar pensar em Evan e no fato de ele também gostar de desenhar - Legal, me mostra um dia?

- Claro! - ele parecia empolgado com o interesse de Emily em sua arte - Vamos tomar um sorvete e eu te mostro. Pode deixar que eu pago!

- Combinado! - Ela deu as costas para o garoto que acabara de conhecer e ainda parecia sentir o gosto dos lábios dele nos seus. Talvez fosse isso que estivesse precisando, alguém novo, alguém que não pudesse ficar na mira de Katie. Alguém que ela pudesse apresentar para os pais e fazê-la esquecer Evan. Quase uma missão impossível para o pobre Andrew.

Assim que chegara em sua casa, Emily foi surpreendida por centenas de mensagens de Evan, todas pedindo para que ela o deixasse explicar. Apenas as ignorou. Mas uma não era de Evan e sim de seu novo amigo Andrew:

"O que acha de eu te pagar aquele sorvete amanhã?"

Aceitou quase que de imediato. Evan não merecia sua tristeza.

No dia seguinte foi ao encontro marcado e se divertiu bastante. Apesar de todas as vezes em que ele a beijava, seu pensamento ia diretamente até Evan.

Andrew era um cara legal. Contava algumas histórias que pareciam mentiras, mas mesmo assim ela ouvia e a distraía.

Os dias se passaram e os passeios com Andrew ficavam cada vez mais frequentes e sua amizade com Olivia nitidamente abalada. Desde que Emily anunciara que trocaria o complicado namoro com Evan por umas ficadas tranquilas com um novo rapaz, as coisas tinha ficado feias entre elas. Olivia não conseguia entender como Emily não via que estava apenas se enganando e que o que ela sentia por Evan e ele por ela é que era real.

Evan, vendo de fora toda aquela situação, tentava incansavelmente convencer Olivia a conversar e se entender com Emily. Elas não podiam continuar naquele clima de velório, não era justo que o fim do namorado deles interferisse na amizade delas, daquela forma. Mas Olivia estava irredutível, dizia a todo o momento que não iria mais falar com Emily, enquanto ela não desse a chance de Evan se explicar. Era claro o tamanho do desapontamento de Olivia em ver a amiga com outro que não seu irmão.

Emily como de costume, esperava Olivia todos os dias nas escadas da escola, mas ela não ia mais a seu encontro. Para sua surpresa, naquela manhã, a amiga estava disposta a erguer a bandeira branca em nome da amizade, havia tido uma longa conversa com Evan e acabou por entender o lado de Emily em não querer falar com Evan Embora estivesse errada, não podia culpá-la por achar que Evan a havia traído, já que ele e Katie já tinham tido um momento juntos.

- Oi! - ela cumprimentou, sentando-se ao lado de Emily nas escadas.

- Oi Liv - parecia surpresa ao ver sua amiga - pensei que nunca mais fosse falar comigo.

- Meu irmão me convenceu do contrário - ela disse como se pudesse fazer Emily notar que seu irmão era uma boa pessoa - Acho que podemos dar uma chance para o... - ela fez uma pausa propositalmente - Como é mesmo o nome dele?

- Andrew! - tentou não dar importância para o desinteresse de Olivia - Nós vamos até o parque hoje, depois da escola. Quer ir?

- Pode ser - Olivia não estava nem um pouco empolgada, mas como havia prometido ao irmão que daria uma chance, resolveu aceitar.

As aulas acabaram e após almoçarem as duas seguiram até o parque, indo ao encontro de Andrew que já aguardava as meninas sentado em um banco e rabiscava alguma coisa em seu caderno de desenhos. Assim que avistou Emily, olhou imediatamente para Olivia e a encarou.

Emily o cumprimentou com um beijo rápido e os apresentou - Essa é Olivia, a amiga de quem eu te falei. Olivia, esse é Andrew!

- Prazer em conhecê-la, Olivia! - ele estendeu a mão para a menina que retribuiu o cumprimento meio a contragosto.

- Vou buscar sucos pra gente naquela lanchonete - Emily apontava para um estabelecimento do outro lado da rua - Enquanto isso, conversem e tentem se conhecer melhor.

Assim que Emily afastou-se, Andrew teceu um comentário ou outro sobre os olhos de Olivia e ela tentava ao máximo não ser mal educada, mas em determinado momento o garoto começou a olhar com certa insistência para as pernas da menina que se sentindo desconfortável levantou-se e ficou escorada em uma placa que havia ao lado do banco. Mas isso não intimidou Andrew.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Fala! - ela foi rude para que ele se tocasse o quão inconveniente estava sendo com aqueles olhares.

- Você e Emily já dividiram alguém? - ergueu uma sobrancelha - Sabe, ficaram com o mesmo cara, apenas por diversão.

A pergunta era totalmente nojenta e Olivia limitou-se a dizer - Isso não vai acontecer!

- Calma, só fiz uma pergunta. Você é muito bonita - ele levantou-se e foi para mais perto de Olivia.

A garota, por sua vez, deu um passo para trás, olhando a sua volta, procurando avistar alguém. O cheiro na roupa de Andrew lhe era familiar. A alguns anos atrás, o primo de Olivia, Deryck estava envolvido com drogas e aquele cheiro, mesmo que leve, era com certeza maconha.

Quando o garoto tocou em seu braço, ela já estava pronta para gritar, fazer Emily saber que tipo de pessoa era Andrew, mas então surgiu alguém, em meio as árvores do parque. Era Evan.