11. Uma triste decepção
Meu irmão agressivo? — Olivia parecia indignada com o que acabara de ouvir — Sua mãe mal o conhece, como pode concluir isso?
As meninas se encontravam sentadas na escadaria de acesso ao ginásio da escola e junto a elas também estavam Katie e Thomas. A hora do almoço chegara, mas aquela conversa sobre a mãe havia deixado Emily nervosa e ainda não conseguira dar nenhuma mordida em seu sanduíche.
— É o que eu acho também, mas pelo tanto que conheço minha mãe, quando ela tem uma opinião formada sobre alguém, dificilmente muda. Não posso correr o risco de contar sobre o namoro e isso não levar a nada, ou pior, ela me impedir de ver seu irmão.
— Eu entendo você! — Olivia mantinha um olhar tristonho desde o início da conversa — É mesmo uma situação horrível essa de vocês.
— O pior de tudo foi a reação do Evan, acho que perdi ele pra sempre, Liv — suas próprias palavras fizeram lágrimas brotarem nos olhos de Emily — Ou talvez nunca tenha o tido.
Olivia envolveu a amiga em um abraço acalentador, acarinhando seus cabelos enquanto a outra tombava a cabeça sobre seu ombro, num ato que revelava sua franca derrota.
— É, você tem toda razão, sua mãe é bem cabeça dura mesmo — Katie, que ouvia tudo calada, finalmente falou, sem conseguir conter o sorriso escarnecedor estampado em seu rosto — É uma pena, o namoro de vocês mal tinha começado.
Thomas revirou os olhos, ergueu-se e saiu a passos largos de volta para dentro do prédio escolar. Aquele assunto o estava incomodando, a falsidade de Katie lhe era indigerível e o arrependimento por não ter tido coragem de se declarar à Emily, por vezes o deixava inconformado.
— Também não é bem assim, deixa de ser tão dramática e conversa com ele, Em! — Olivia tentou amenizar o pessimismo que se abatera sobre Emily, mas seu olhar involuntariamente acompanhou o caminho percorrido pelo amigo, entendendo o desconforto dele e se esforçando para ignorar totalmente o comentário maldoso de Katie — Meu irmão ficou chateado por você não ter nem tentado falar com sua mãe, mas se você explicar tudo direitinho, talvez ele entenda a situação.
— Ele quer namorar e eu não posso — a derrota tomava conta do coração de Emily naquele momento e nada que fosse dito por Olivia lhe faria ver as coisas de outro modo — Não sei se existe um jeito de resolver isso.
— Você não devia ter perdido sua virgindade com ele — Katie provocou, erguendo uma sobrancelha e juntando os lábios em um biquinho cínico — Eu avisei que ele iria desencanar depois de conseguir o que queria.
— O quê? — inquiriu Emily, boquiaberta com a petulância do que Katie dizia — Não que seja da sua conta, mas eu ainda não transei com ele!
— Ah! Qual é, você dormiu no quarto dele, não quer que a gente acredite que não rolou nada, quer? — Katie alfinetou novamente — Não banque a sonsa, Emily!
— A única sonsa aqui é você, Katie — Olivia saiu em defesa da amiga — Ela está dizendo a verdade. Evan me contou que a Em estava um pouco alta naquela noite, por causa da bebida, então eles só deitaram juntos e dormiram.
— Então essa é mais uma prova do que eu digo — prosseguiu Katie, sem se dar por vencida em sua tentativa de desestabilizar a rival — Ele desistiu de você por ser virgem, a história de sua mãe só veio a calhar.
— Meu irmão nunca faria uma coisa dessas, Katie! — retrucou Olivia, visivelmente irritada.
O sinal estava próximo de soar e os alunos já começavam a se encaminhar de volta a salas, mas o cansaço mental em que Emily se encontrava a fez guardar seu sanduíche sem que ela o tivesse tirado um pedaço sequer.
Katie levantou-se, deixando o degrau onde estava sentada e fez outra de suas observações nada agradáveis — Bem, independente do que for, eu continuo sendo a única aqui que não é mais uma criança boba.
Nas entrelinhas, a garota se referia a ser a única do grupo que já tivera relações sexuais, como sempre contando vantagem, bancando a "sabe-tudo" quanto ao assunto e a conhecendo desde pequena, Emily sabia que ela tinha razões para isso.
Recordou-se de quando Katie havia namorado com Robert Johnson, logo após Emily e o garoto terem um rápido envolvimento. Ela perdeu sua virgindade com o mesmo e agora parecia ter sido somente para vangloriar-se.
— Como se ser um sabonete usado fosse de grande valia — Olivia ironizou, juntando seus pertences e dando a mão para que Emily também se erguesse — Isso não é qualidade não, querida!
O semblante de Katie imediatamente se fechou em uma carranca, forçando Emily a reprimir um sorriso debochado de quem sabia o lado certo para se estar, embora conhecesse a loira não a muito tempo, era fácil reconhecer que fizera um julgamento precipitado no início, mas agora tinha nela sua nova melhor amiga.
Já que o dia não havia sido nada como ela desejara em seus sonhos, Emily resolveu aproveitar a noite quente e estrelada, sentando-se em sua varanda para ler, na tentativa de relaxar um pouco e esquecer-se do real motivo de estar assim. Mas como poderia, se ao olhar para o outro lado da rua lá estava ele, o mustang vermelho?
Depois do jantar com sua mãe, decidiu-se por dormir cedo, já que essa era a única coisa que a fazia desligar-se de Evan. Mas será que ela queria mesmo esquecê-lo?
Após sua higiene noturna, a garota foi até o criado-mudo, pegando de dentro da gaveta o cd que Evan lhe dera e que, por algum motivo desconhecido, ela havia esquecido-se completamente. Ficou algum tempo apenas observando o objeto em suas mãos, mas quando finalmente tirou-o da embalagem plástica, para sua surpresa, de dentro dela caíra um pequeno pedaço de papel escrito à mão:
"Ouça a faixa cinco primeiro, ela tem seu nome. Penso em você quando a escuto. Espero que goste!"
A grafia dele era incrivelmente bonita. Parecia ser desenhada de maneira sublime, beirando a perfeição. Naquele momento, o estômago de Emily revirou-se, na mesma hora em que seus olhos correram pelo conteúdo do bilhete.
Ele pensava nela muito antes do beijo, então porque agora não ficava do seu lado? Porque desistir de algo que ele também sentia? Porque deixar uma coisa que nem ao menos começou terminar daquela forma? Por mais que pensasse, nada parecia se encaixar.
Por um instante, Emily hesitou. Pensou se deveria mesmo ouvir aquela coletânea, afinal ele não sentia mesmo o que dissera, do contrário não seria tão frio.
Por fim tomou coragem e colocou o cd para reproduzir, pulando diretamente até a faixa cinco que Evan indicara no bilhete.
O som era como os que ouvira com ele em seu quarto, nada de melodia suave, nem vozes doces como as que a maioria dos jovens julgaria romântico, mas a letra da música principal escolhida por Evan, em um de seus trechos, dizia:
"Era sempre uma menina tão bonita
Não tinha ninguém como ela no mundo
Um pequeno pedaço do céu
Que ninguém poderia tocar
Eu vejo ela em meus sonhos à noite
Eu vejo você quando eu fecho meus olhos
Eu apenas não posso tocar em você, Emily"
Ouvir aquilo era tão empolgante para ela. Nunca havia escutado algo e pensado em outra pessoa, mas essa música realmente tocou o coração de Emily. Era assim que Evan a via no início. Antes daquele beijo. Uma coisa que ele queria muito, mas tinha medo de tocar. Talvez esse tenha sido o motivo de ele não ter tentado mais, talvez tivesse medo do que estaria por vir.
Emily adormeceu gradativamente, enquanto a musica continuava a dizer:
"Emily, você salvou o dia
Emily, você salvou o dia"
As semanas que se seguira foram um verdadeiro inferno para a menina.
Não vira mais Evan desde o ocorrido e Olivia sempre inventava desculpas para encobrir o distanciamento entre eles, dizendo que o rapaz andava ocupado com o trabalho e que quase não tinha tempo nem para ela, mas Emily no fundo sabia que ele a estava evitando.
O final de semana se aproximava, no sábado seria aniversário de Olivia e a loira, como era de se esperar, estava super animada com a festa que havia planejado para si, já Emily, mesmo não querendo estragar a euforia da amiga, não tinha ânimo algum para comemorações.
A mãe de Olivia prometera deixar a casa livre para ela e seus amigos, desde que não houvessem bebidas alcoólicas dessa vez e a supervisão ficaria a cargo de Evan, o que deixava Emily ainda mais apreensiva com a situação.
As meninas passaram a semana envolvidas com os preparativos da festa, mas temendo encontrar Evan por lá à noite, Emily deixava apenas Katie ajudando Olivia naquele horário. Não queria pensar no fato de que isso estaria facilitando o contato da rival com Evan, pois a mínima hipótese disso acontecer já deixava sua garganta seca e as lágrimas inundando-lhe os olhos.
Quando o tão aguardado dia chegara, Olivia estava uma pilha de nervos, então pediu que Katie lhe ajudasse com os preparativos finais. Muito embora achasse a garota um tanto incoveniente e também não gostasse de vê-la perto do irmão, sabia que se pedisse ajuda para Emily a meteria em uma situação desconfortável.
As duas sozinhas encheram os balões e enfeitaram a casa toda com eles, terminaram de preparar os comes e bebes e por fim tudo estava pronto e lindo, bastava apenas os convidados chegarem para que dessem início a grande noite de Olivia.
Enquanto isso, na casa vizinha, já passava das seis da noite e Emily ainda estava de pijamas, deitada sobre o sofá da sala, reunindo forças para o que teria de enfrentar mais tarde. Sua mãe saíra como fazia todos os sábados e ela não estava nem um pouco animada com a festa e o motivo estava mais claro que água.
Olivia havia convidado quase a turma inteira da escola, o que por si só já a deixava zonza só de imaginar e claro, o motivo principal é que teria de ver Evan novamente. Não sabia como agir depois de ele a ter ignorado por dias.
Depois de muito pensar, levantou-se do sofá, rumo ao banheiro. Precisava se preparar física e psicologicamente, reunir forças e enfrentar seus medos, Olivia merecia esse esforço.
Escolheu um vestido curto vermelho, justo na cintura e solto até a barra, com um belo decote coração. Seu estilo favorito.
Calçou um par de sandálias prateadas, altas e com amarras nos tornozelos. Prendeu os cabelos, mas logo os soltou, vide que assim valorizaria mais seu visual. Também caprichou na maquiagem dessa vez, olhos pretos e bem marcados, blush rosado e nos lábios apenas um brilho discreto.
Ao atravessar a rua Emily pôde ver que a porta da casa de Olivia já se encontrava aberta, o local parecia completamente cheio e constatou que ela devia ter sido a última à chegar.
Logo que adentrou a residência avistou Olivia vindo em sua direção. A loira usava um vestido preto, justo, todo trabalhado em paetês e sandálias brancas, com salto fino, alto. Os cabelos soltos, continham leves cachos caídos nos ombros e o rosto sem muita pintura, levava um tom corado, talvez por conta do calor, apenas nos lábios passara um batom vermelho bastante chamativo.
— Já estava me preparando para ir até sua casa te buscar — Olivia sorriu ao ver a amiga.
Emily, por sua vez, a abraçou carinhosamente, lhe entregando uma caixinha enrolada em papel celofane — Parabéns, Liv! Espero que goste do seu presente e me desculpa pelo atrasado, estava me arrumando e nem vi a hora passar.
— Pois valeu a pena, você está linda! Definitivamente vermelho é a sua cor — elogiou a loira, enquanto abria o embrulho.
— Olha quem falando, você é quem está maravilhosa — retribuiu.
Os olhos de Olivia brilharam diante do presente, um pequeno par de brincos dourados em formato de coração, cravejado com pedras azuis brilhantes.
— Ah, eu amei! — agradeceu-lhe com um grato abraço — Combina com os meus olhos — disse, pondo a jóia ao lado do rosto, para evidenciar o que dizia.
— Precisa de ajuda com alguma coisa? — Emily inquiriu, correndo os olhos pelo ambiente repleto de pessoas, algumas conhecidas, outras nem tanto.
— Na verdade eu preciso sim, Katie me prometeu manter a casa livre de bebidas alcoólicas, mas ela desapareceu e isso aqui já está ficando fora de controle.
Por todos os lados da casa haviam adolescentes com garrafas e copos de cerveja, alguns já andavam com dificuldade por conta do álcool, outros disputavam quem conseguiria beber o copo inteiro de uma só vez, sem cair de sobre um banquinho de madeira.
— Eu te ajudo a procurar enquanto você tenta dar um jeito nessa gente toda — sugeriu Emily.
Olivia anuiu, gritando com um rapaz que mexia no som estéreo de seu irmão — Ei, não toque nisso — afastou-se de Emily, em direção a outro jovem — E você, isso é um vaso chinês raro, não é copo não...
A morena balançou a cabeça e não pôde evitar sorrir, enquanto caminhava em direção a cozinha da casa de Olivia, mas para sua total decepção, ao adentrar o cômodo, encontrou Katie sentada em banco alto e muito próximo a ela, encostado no balcão de mármore, estava Evan.
Sem ser vista Emily virou-se e voltou para a sala. Ninguém a obrigaria a ver tal cena. Foi então que soube que tudo aquilo que Evan havia lhe dito sobre não se interessar por Katie, era mentira. Ele estava afim do que lhe parecia mais fácil, uma menina que não tinha uma mãe que o achava indigno dela. Katie era bonita, solta e gostava dele, ela não tinha mais nenhuma chance.
Sentiu que iria desmoronar e rapidamente adentrou o quarto de Olivia, para não correr o risco de fazê-lo diante de todos. Chorou muito. Queria ir embora dali, mas sabia que por Olivia, tinha o dever de ignorar sua vontade e ficar.
Depois de algum tempo sozinha, conseguiu acalmar-se, mas quando se preparava para voltar a sala, a porta se abriu e através dela surgiu Evan, que fechou-a logo em seguida atrás de si, parando para analisar o rosto avermelhado da garota lá dentro.
— Emily? O quê faz aqui? Te procurei por todo lado. Porque não está na sala com os outros? — perguntou apenas para iniciar a conversa, pois já sabia a resposta para todos aqueles questionamentos.
— Estou indo! — a menina virou-se em direção a saída — Só precisei ir ao banheiro.
Evan a puxou pelo braço e conduziu-a até a cama — Vem, senta aqui comigo um instante — seus dedos tocaram-na o rosto carinhosamente — Você me viu com Katie. Não foi? Por isso está assim.
— Foi... — respondeu, sem olhá-lo diretamente nos olhos — Mas não tenho nada com isso, nós dois não somos mais namorados e também, aqui somos todos adultos...
Ela deixou a cama, voltando para perto da porta, falando sem pausas, gesticulando freneticamente, procurando evitar que o choro a vencesse e que caísse em controvérsia, já que ouvi-lo era como levar um tiro à queima roupa no peito.
— Emily por favor, me escuta! — pediu-lhe o rapaz — Katie e eu não temos nada um com o outro, é de você que eu gosto.
— Gosta? Então por que se afastou?
Evan caminhou até ela, que de cabeça baixa, recostada ao batente da porta, não tinha mais forças para reprimir o choro.
O garoto então ergueu-lhe o queixo, fazendo com que ela o olha-se dentro do olhos.
— Fui um idiota, deveria ter pensado em uma forma de ficar ao seu lado e não te ignorar daquela forma — deu de ombros, levando as mãos a cabeça, atordoado — E a presença de Katie nessa casa também foi um erro...
— Evan, onde você quer chegar com isso? — ela o interrompeu — Por favor, me diz que vocês não... — olhando para o teto, deu uma volta em si mesma, incrédula — Ah, eu não posso acreditar nisso!
— Fui fraco! — admitiu ele — Nos beijamos algumas vezes e, bem... Quando Olivia nos deixou a sós pra ir até sua casa...
Emily já sabia o que ele iria dizer, não precisava e nem queria ouvir as palavras deixarem os lábios do rapaz — Vocês transaram. Não foi?
Ele anuiu, suspirando profundamente e apertando os olhos, sem conseguir encará-la — Me perdoe, Emily. Aconteceu apenas uma vez e mesmo que isso não faça a mínima diferença, nunca vai acontecer de novo — ele tentou segurar-lhe a mão, mas ela o repeliu — Quando você nos viu na cozinha, estava dizendo a ela que...
— Você é nojento! Está certo que não tínhamos mais nenhum compromisso, mas precisava que ser justo com ela?
— Emily...
Seus olhos ardiam, enquanto ela abria a porta do quarto da amiga, dando as costas para o rapaz e o deixando sozinho na penumbra de seus calamitosos erros carnais.
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