Como assim ele também gosta de mim? - Emily nem sequer notou o entusiasmo presente em suas palavras.

- Ele fica me fazendo centenas de perguntas sobre você e dizendo o quanto está feliz por eu ter feito novas amizades - relatou Olivia, ainda com um sorrisinho brincalhão em seus lábios.

- Mas isso não quer dizer que ele goste de mim, apenas está contente por você estar se adaptando a cidade - rebateu Emily, agora tentando controlar sua euforia.

Olivia abriu-lhe um sorriso gigantesco, parecia ter total convicção no que dizia - Por isso mesmo. Nunca, nesses meus 14 anos de existência, meu irmão quis saber se eu estava me adaptando - ela fez sinal de aspas com os dedos - Acredite em mim, conheço meu irmão, e sei que ele gosta de menina como você.

- O que você quis dizer com "menina como você"? - Emily franziu o cenho e cruzou os braços, encarando a amiga, em busca de respostas mais diretas.

- Delicada, mas ao mesmo tempo moleca. Meu irmão gosta de cuidar, de conquistar, não curte meninas que se jogam para cima dele, como se fossem galinhas no milho.

Olivia lançou-lhe um sorrisinho de quem sabe do que está falando e as duas caíram na gargalhada.
Mais alguns minutos de conversa e Emily pôs um dos filme novamente, desde o início, o que acabou por fazê-las dormir em meio a ele.

No sábado pela manhã, levantaram da cama perto das 9h, tomaram café e acompanharam Elizabeth até o supermercado. Almoçaram também na casa de Emily e após ajudarem com a limpeza da cozinha, foram sentar-se no sofá, a fim de jogarem um pouco de vídeo game. Ouviu-se então a campainha tocar.

- Oi, Elizabeth! Eu gostaria de falar com minha filha, por favor - era a voz melódica e extremamente baixa de Annabel, mãe de Olivia.

- Claro, entre! - convidou a outra, abrindo a porta e chamando pela menina - É sua mãe, Olivia!

Emily e Elizabeth foram para a cozinha, deixando mãe e filha a vontade. A conversa foi longa, mas elas pareciam estar se entendendo. As duas choraram muito, se abraçaram e por fim, Annabel se despediu - Te vejo mais tarde. Meu amor, convide Em e Beth para jantarem conosco hoje à noite, quero retribuir o que estão fazendo por nós!

Elizabeth a acompanhou até a porta, agradecendo o convite - Uma pena, mas já tenho compromisso para hoje. Vou visitar minhas irmãs, mas se Em quiser ir, por mim tudo bem.

Ouviu-se um grito agudo e alto vindo da cozinha - Siiim!

- Acho que o convite já foi aceito! - falou a mãe de Emily, com um olhar doce.

Logo que sua mãe se foi, Olivia contou a Emily sobre a decisão de se separar que os pais haviam tomado. Seu pai passaria para pegar o que era dele, assim que saísse do hospital, que provavelmente seria só na próxima semana, já que os médicos pediram para que ele ficasse em observação por mais alguns dias. Emily disse a ela que assim seria melhor, mas não pode evitar pensar na separação dos próprios pais.

- Você devia ir vê-lo! - disse Emily à Olivia, afim de tirar o seu pai da cabeça e ajudar a amiga a se reconciliar com o dela.

- Você viria comigo? - Olivia disparou, com olhos azuis suplicantes.

Emily olhou para a mãe por um instante, como se pedisse permissão. Elizabeth assentiu - Claro! Podemos ir na segunda-feira, depois da escola - disse por fim.

- Fechado! - Olivia ainda estava com os olhos vermelhos de tanto chorar - O que acha de ligarmos para Katie e convidá-la também para o jantar?

- Ótima idéia, Liv! - Emily levantou-se imediatamente, num giro atravessou a sala, até a mesinha onde se encontrava o telefone. No segundo toque Katie atendeu:

- Oi Emily, tudo certo? - sua voz parecia como a de alguém que estivera dormindo o dia todo - Quem morreu?

- Tudo bem! Por enquanto, ninguém - zombou Emily - Vai fazer alguma coisa hoje?

Katie demorou alguns segundos, ouvi-se um bocejo, para só então dar-lhe a resposta - Acho que não. Por quê?

- A mãe de Olivia vai dar um jantar - explicou - Então nós pensamos em te convidar.

- Boca livre? Estou dentro! - ela deu uma risada tão alta que quase estourou os tímpanos de Emily.

- Ok! As dezenove na casa de Olivia que fica do outro lado da minha. É verde com janelas brancas - explicou Emily.

- Certo. Nos vemos a noite então! - se despediu Katie.

- Até lá!

Pouco antes das 17h, Olivia decidiu ir para casa, ajudar a mãe com os preparativos do jantar. Minutos depois, Elizabeth também se despediu da filha e saiu para encontrar suas irmãs.

Emily então se viu só. Finalmente, com toda a preguiça que lhe cabia, saiu do sofá e foi se aprontar. Tomou um banho bem demorado e relaxante, lavou e deixou os longos cabelos completamente soltos dessa vez.

Vestiu uma blusa cor-de-rosa lisa, um macacão jeans curto, que a deixava com um ar ainda mais jovial, calçou seus tênis brancos e pra finalizar, passou um pouco de maquiagem, nada muito exagerando, apenas um pouco de blush e um batom claro.

Após uma boa olhada no espelho, as palavras de Olivia ressoaram em sua cabeça "delicada, mas ao mesmo tempo moleca". Sacudiu a cabeça e afastou aquele pensamento. Não era possível que Evan estivesse mesmo interessado nela, aquilo só podia ser coisa da imaginação de Olivia.

Desceu as escadas, abriu a porta e saiu em direção a casa da amiga. Ela própria atendeu a campainha, e com um abraço apertado, convidou Emily para entrar. Ambas sentaram-se na sala de estar.

Annabel apareceu em seguida e cumprimentou-lhe com um beijo no rosto - Fique a vontade, querida, preciso voltar para a cozinha se não esse jantar não sai hoje.

- Não se preocupe comigo - Emily avisou - Estou bem.

A casa de Olivia não era muito grande, mas muito bem mobiliada. Na sala, além do sofá vermelho de veludo que as meninas estavam sentadas, havia uma poltrona, feita do mesmo material. Uma mesinha de centro, com o tampo de vidro e sobre ela um vaso com flores. A estante de mogno cereja era repleta de porta-retratos de família, um televisor de 52' com TV a cabo e um aparelho de som, o mesmo que Evan usara para reproduzir seus CDs da última vez que Emily estivera ali.

A campainha tocou, em meio a um diálogo sobre quem era o mais bonito dos Jonas brothers. Emily agradeceu por que aquilo já a estava deixando maluca.

Olivia abriu a porta e então, como um furacão, falando sem parar, surgiu Katie. Usava um lindo vestido vermelho, um tanto quanto decotado, é verdade, mas mesmo assim, muito bonito. Nos pés um sapato preto, com meio salto. Os cabelos trançados como Emily normalmente usava o seu. A maquiagem era bem delicada, mas o batom rosa Pink, chamava toda a atenção para seus lábios carnudos. Olivia a convidou para se juntar a elas na sala.

De repente, a porta de um dos banheiros, que dava direto para a sala, se abriu. Evan saiu de lá, com os cabelos molhados, sem camisa e usando apenas uma bermuda estilo surfista, branca, com coqueiros desenhados, numa combinação de tons de azul.

- Ei, gatinha! - disse-lhe, abrindo aquele sorriso que a desmontava por completo.

Suas bochechas coraram ao vê-lo sem camisa. Olhou rapidamente, mas depois desviou o olhar constrangida - "Oi" para você também!

Ele foi até o quarto, vestiu uma camisa branca, lisa e em poucos minutos estava de volta.
Sentou-se no sofá, junto a elas, cumprimentou Katie, olhou diretamente nos olhos de Emily e usando seu costumeiro tom sarcástico, perguntou - Então Em, hoje é sábado, imagino que tenha mais tempo do que da outra vez - e completou - Não vai sair correndo, como a cinderela a meia noite, vai?

Ela enrijeceu e tinha quase certeza que estava parecendo um pimentão - Não, sua mãe me convidou para passar a noite aqui, já que a minha, suponho que vá chegar bem tarde.

- Também vou ficar se não tiver problema. Meus pais brigam o tempo inteiro, adoraria fugir disso um pouco - disse Katie, interrompendo a conversa.

- Claro que pode ficar - Evan sorriu levantando-se do sofá - Aliás, bem vinda ao clube! Vamos assistir a um filme após o jantar?

- Oba! Exclamou Olivia que vinha da cozinha para avisar que o jantar já estava servido.

- Todos sentaram-se à mesa, Evan ao lado de Emily. A comida estava ótima, como da primeira vez. Mas a mãe de Olivia parecia estar mesmo querendo agradar.

- Hm! Essa lasanha está maravilhosa, mãe! - Evan já estava servindo-se pela segunda vez.

- Divina! - acrescentou Emily, também se servindo de outro pedaço.

- Desculpe não ter elogiado mãe... - disse Olivia engolindo o que restara da ultima garfada - Mas você me ensinou a não falar de boca cheia.

Ninguém conseguiu se agüentar, todos gargalharam com o jeito espontâneo de Olivia.

Após terminarem de comer e lavarem a louça, Annabel fora descansar em seu quarto. O dia havia sido bem exaustivo para ela. As meninas juntaram-se no quarto de Olivia.

Emily ainda não havia entrado ali. Era tudo muito bonito. As paredes rosa Pink, contrastavam com o papel de parede atrás da cama, branco, estampado com sakuras, também em rosa. A cama branca era de casal e o guarda-roupas era enorme, todo espelhado.

Em frente à cama, uma escrivaninha, por sobre ela um computador, alguns CDs e uma coleção de livros de dar inveja a quem gosta de literatura. Havia ainda uma mesinha com rodinhas, que suportava seu televisor e um aparelho de DVD. Na janela, a cortina de rendas branca, estava presa por um elástico. No chão um tapete bege e peludo, que dava vontade até mesmo de deitar-se nele. O criado mudo ao lado da cama tinha um abajur, uma garrafa com flores e uma boneca Barbie, dentro de um carro conversível rosa.

- Seu quarto é lindo! - elogiou Emily, de boca aberta com o cenário.

- A casa toda é, só não vi ainda o quarto do seu irmão! - Katie falou maliciosa e emendou - Será que ele me mostra mais tarde?

As outras meninas ignoraram o comentário. Olivia até pensou em retrucá-la, mas apenas revirou os olhos. No jantar, Emily havia notado alguns olhares da amiga para cima de Evan, mas como já tinha falado com ela sobre seu interesse no rapaz, achara que estava vendo coisas. Mas diante desse comentário, quase teve certeza de que não estava maluca.

- Prontas para o cinema em casa? - era Evan, aparecendo à porta, com alguns DVDs nas mãos.

- Sim! - as três gritaram juntas.

- Shiii! - fez ele, pondo o dedo sobre os lábios, como se pedisse silêncio para elas - Falem baixo, a mãe teve um dia difícil, precisa descansar.

- Desculpe mano!

Emily também se desculpou. Katie limitou-se a silenciar, já que não sabia nada sobre o dia turbulento de Annabel.

- Então vejamos, temos aqui O Diário de Bridget Stones, um romance, escolhido obviamente por Liv. Temos também A Liga Extraordinária...

Olivia o interrompe - Obviamente escolhido por você.

- Com muito orgulho, mana! - ele sorriu e deu de ombros - e por último, escolhido pelo meu lado sentimental temos a comédia romântica Recém Casados. Então o que vai ser, meninas?

Elas se olharam por um segundo, como se conversassem sem usar as palavras - O que acham, vamos dar uma chance para o lado sentimental dele? - Emily falou, erguendo uma de suas sobrancelhas.

- É esses olhos verdes merecem uma chance! - Katie não perdeu a oportunidade de rasgar elogios ao garoto.

Olivia riu e balançou a cabeça, indicando que sim. Em seguida, levantando da cama, anunciou - Vou fazer pipoca! - deixou o quarto, mas logo em seguida voltou - Pode me ajudar, Kat?

- Ok! - respondeu ela e meio a contragosto, foi ao encontro de Olivia, deixando Emily sozinha com Evan.

Ele então pegou uma das almofadas de Olivia, ajeitou atrás de sua cabeça e se recostou na cabeceira da cama, bem ao lado de Emily, que sem nem ao menos pensar, perguntou - Como você está depois desse lance com seu pai?

Evan olhou para ela e soltou um leve suspiro - Aliviado! Sabe, fazem anos que esses maus tratos vem ocorrendo.
Quando eu era criança, não entendia bem o porquê de toda aquela hostilidade por parte dele, para com ela. Depois, já na minha adolescência, as agressões se tornaram físicas e eu nunca pude fazer nada para detê-lo - ele parecia recordar coisas de um passado não tão distante - Dessa vez, quando eu a vi machucada, não consegui me conter, parti para cima dele. Mesmo sendo meu pai, isso que ele fez não tem perdão. É de uma covardia sem tamanho.

Os olhos de Evan encontraram os de Emily e brilharam, como se sorrisem, mas logo em seguida desviaram-se - Homem que bate em mulher, não merece nem um pingo de respeito meu.

Dava para ver o rancor nos olhos de Evan. Os de Emily se encheram de lágrimas e ele prosseguiu, parecia mesmo que estava precisando conversar com alguém e desabafar - Sei que a Liv no fundo está triste, afinal ninguém quer ver os pais separados. Ela é muito apegada com ele, sempre foi, desde criança e também era muito pequena para lembrar-se das noites em que nossa mãe, aos prantos, vinha deitar em nosso quarto. Mas vai ser melhor assim. Vou cuidar delas e vamos ficar bem.

- Eu tenho certeza de que vai! - Emily afagou os cabelos de Evan. Sua voz era doce, caridosa e solidária.

- Obrigada Em, por ter cuidado da Liv ontem. Ela gosta muito de você e bem... Eu também!

Emily ficou imediatamente vermelha. Pensou por um momento se aquilo era mesmo real. Evan Blake, irmão mais velho de sua nova melhor amiga, estava dizendo que gostava dela?

Depois de alguns segundos e gaguejando conseguiu dizer - Também gosto muito da Liv. É bem verdade que no início não tinha interesse nenhum na amizade dela, mas depois... Hã, depois de... Bem...

- Depois de me conhecer! - ele completou, com um meio sorriso na boca.

- Bem, é! - era nítido o desconforto de Emily naquele momento. Ele sabia sobre seus sentimentos e pior ainda, sabia de seu cinismo para com sua irmã.

Evan não conseguiu conter-se e abriu um sorriso inteiro, ao ver o rosto da menina ficando ainda mais corado - É isso que tem me deixado maluco ultimamente.

- Isso o quê? - as palavras saíram de sua boca espontaneamente, enquando ela se ajeitava ao lado dele.

- Esse seu jeito meigo - disse ele, tocando o nariz dá menina com a ponta do dedo - Às vezes você é um pouco desligada, é espontânea, ri, chora, como agora a pouco, enquanto eu falava do meu pai e não liga para o que vão pensar. Você não precisa forçar nada.

Ela sorriu para ele, um pouco sem graça com os elogios e o toque tão inocente - Não sei o que pensar!

- Eu também não - admitiu ele - Você é amiga da minha irmã, tem a mesma idade que ela e ainda por cima, mora do outro lado da rua - ele falou como se tentasse entender a si próprio.

Emily rolou para baixo, saindo da posição que estava recostada na cabeceira e deitou por completo na cama, sem dizer nada, apenas olhando para o lustre no teto do quarto.

Evan virou-se de lado, apoiado em seu cotovelo, para olhar para ela e com delicadeza, tirou um fio de cabelo que estava solto em seu rosto - Você é linda!

Quando Emily se preparava para agradecer e retribuir o elogio Evan, ainda com a mão em seu rosto, interrompeu - Talvez eu vá me arrepender disso, mas foda-se!
Ele aproximou seu rosto do dela, Emily sentiu o hálito quente dele em sua face, e seus lábios foram se tocando lentamente.

O beijo de Evan era a coisa mais incrível que já havia sentido na vida. Era calmo, tranqüilo e tinha gosto de hortelã. Suas línguas dançavam a mesma canção. Foi mágico, tão intenso como nenhum outro jamais fora.

Ele acariciava seu cabelo, passando-o pelos seus dedos de uma forma doce, quase que a fazendo flutuar e quando ele se afastou deu-lhe um selinho, como se para brindar aquele beijo.

Nesse exato momento, adentrando a porta aos pulos, com uma bacia enorme de pipocas nas mãos, apareceu Olivia, seguida por Katie com quatro latas de refrigerante - Voltamos!

Emily podia jurar que Olivia havia tramado toda aquela situação. Com as pipocas e as bebidas em mãos, deitaram-se sobre a cama da mesma, dando início ao filme.