04. Problema de família
A cada dia que se passava, Emily ficara ainda mais encantada com Evan. As caronas viraram sua parte favorita do dia e ele, ao que parecia, não queria deixar sua irmãzinha, como gostava de chamar Olivia, ir de ônibus para a escola.
Era uma manhã fria e chuvosa. Assim que o despertador soou, Emily pensou na desconfiança que sua mãe tinha dele e que era muito provável que ela não estivesse em casa, pois não havia vindo lhe acordar. Passou por sua cabeça matar aula e aproveitar a cama quente um pouco mais, mas então surgiu em sua cabeça, a imagem daquele sorriso que a fazia tão bem. Pulou da cama, vestiu roupas quentes, arrumou os cabelos, mas deixou-o solto.
Desceu, comeu um sanduíche, pegou a mochila e saiu pela porta, a fim de avistar Olivia e Evan, mas a única coisa que viu foi um homem alto,magro e esguio, de cabelos loiros escuro, parado em frente ao Mustang de Evan. Vestia uma camisa de botões verde clara, calças pretas e sapatos marrons.
Em seguida, pode ver Annabel saindo pela porta, usando o mesmo hobby da noite anterior. Ela conversou com o homem por um momento, pareciam estar discutindo e ela chorando. O homem então deu a volta, entrou no carro e desapareceu na rua seguinte.
Depois da cena que presenciou, Emily se deu conta de que ainda não conhecia o pai de Olivia e Evan e a julgar pela semelhança, apostaria que era o homem do Mustang.
Emily ficou parada por um momento, tentando decidir se esperava se iria até o ponto de ônibus ou se voltava para casa e aproveitava aquele frio não previsto para dormir mais um pouco.
Enquanto Emily se decidia, Olivia surgiu em sua frente, como num passe de mágica. Não parecia estar bem. Usava calça jeans, camiseta básica e tênis surrado, uma roupa extremamente simplória para ela. O cabelo loiro que sempre esteve bem arrumado, desde que conhecera a menina, dessa vez estava preso em um coque. O rosto lavado, sem sinal de maquiagem, também era algo incomum nela. Nem parecia a mesma menina, mas ainda assim estava bonita.
Olivia cumprimentou Emily com um abraço que demonstrava que realmente algo estava errado com sua amiga.
- Oi Em, acha que ainda vai dar tempo de pegarmos o ônibus? - disse a garota por fim.
Emily não se conteve - Por quê? Onde está Evan?
- Em casa. Meu pai levou o carro e... - não conseguiu terminar a frase sem chorar.
Emily a abraçou e sem saber o que dizer. Simplesmente perguntou - Tem certeza que quer mesmo ir para a escola?
- Qualquer coisa é melhor do que ficar em casa agora - respondeu ela, indo em direção a rua.
No ônibus as duas permaneceram caladas todo o tempo, Emily não queria ser evasiva demais. Não sabia como ajudar Olivia e ainda por cima tinha Evan. O que poderia ter acontecido para que ele nem sequer tenha saído de casa com a irmã?
Quando o ônibus parou em frente à escola, elas desceram e ainda em silêncio foram em direção a Katie, Beatrice, Chuck e Thomas que estavam sentados na escada.
Após os cumprimentos, Emily pediu a Katie que a acompanhasse até a biblioteca, para pegar um livro que estava precisando. Katie assentiu e seguiu Emily pelo corredor. Logo que se afastaram do grupo, Emily contou o que vira e que estava preocupada com Olivia, mas não sabia como ajudá-la. Katie a aconselhou esperar até que Olivia se sentisse pronta para falar sobre o assunto.
As aulas passaram sem maiores contratempos. O intervalo havia sido um tanto chato, Thomas parecia determinado a conquistá-la, mas por mais incrível que pudesse parecer depois que Emily conheceu Evan,perdera todo o interesse que tinha em Thomas. Só conseguia pensar naqueles olhos verdes e no jeito charmoso e enigmático do irmão de sua amiga, que por sinal continuava muito quieta.
O sinal tocou e Emily seguiu Olivia até o ponto de ônibus, novamente sem nada falar. Após se acomodarem nos últimos bancos do fundo, ela tentou conversar com Olivia, a menina pediu-lhe desculpas, mas preferia não falar. Eram assuntos particulares, segundo ela. Foram para casa quietas e na despedida apenas um "tchau" sem entusiasmo algum, o que não era próprio da menina loira que sempre estivera muito alegre e sorridente.
Quando entrou em casa, sua mãe a esperava no sofá. Seu semblante era de pura preocupação - Oi, mãe! Emily a cumprimentou com um beijo carinhoso.
- Oi, querida! Disse-lhe a mãe, retribuindo o beijo.
- O que ouve mãe? Você parece preocupada. Tia Rose está bem? - Indagou Emily.
- Sim. Natalie prometeu não sair hoje e cuidar dela.
- Então com o que você está tão preocupada?
Elizabeth franziu o cenho, soltou um suspiro e falou - Anna!
- Anna? A mãe de Olivia? O que ouve com ela? - Emily percebeu que algo grave estava acontecendo com a família de sua amiga, mas não conseguia entender o que era.
- Ela está com várias marcas roxas pelo corpo. O marido dela Paul, pai de Olivia, bebe muito e quando isso ocorre, ele a agride - Elizabeth parecia bem aflita enquanto explicava a situação à Emily - Ela ficou um pouco receosa em me contar, mas como está aqui em Miami sozinha, só tem os filhos, ela acabou se abrindo comigo e como seu pai também tem problemas com alcoolismo, eu fiquei...
Naquele momento tudo fez sentido. Porque não o vira na noite em que fora visitar Olivia, provavelmente estava bebendo em algum bar. A discussão na rua pela manhã e o porquê de Olivia estar tão arrasada.
- Não, meu pai nunca te agrediu! - ela se obrigou a ser um pouco ríspida, pois seu pai, apesar de também beber muito e esse ter sido o motivo da separação dos dois, não era agressivo.
- Não disse isso em momento algum, mas que o álcool foi o motivo de tudo entre nós ter chegado ao fim.
Emily, descontente com aquela conversa, deu as costas à sua mãe e foi tomar banho. Dizem que o chuveiro é o lugar que as pessoas mais usam para colocar as idéias no lugar. Parecia que com Emily não estava funcionando. Sua cabeça girava, cheia de pensamentos, procurando um modo de ajudar Olivia. Deu-se conta então, que realmente gostava da menina, que antes era apenas considerada uma ladra de amigos.
Deitou-se em sua cama, após vestir um pijama longo, pois a noite estava tão fria quanto à manhã. Podia ouvir gotas de chuva que começavam a cair no telhado, trazendo o sono que ela tanto precisava encontrar. Sonhou com Evan novamente.
Nos dias que se seguiram, Olivia faltou à maioria e nos que compareceu, limitou-se a ouvir e sorrir forçadamente. A menina insistia em não se abrir e contar a Emily sobre o incidente com seu pai.
Não vira mais Evan também. Parecia ter evaporado e da janela do quarto, Emily nunca mais havia visto o Mustang estacionado em frente à casa.
Era sexta-feira e depois de um dia cansativo, na escola, Emily só queria ir para casa, deitar em sua cama e relaxar. Por isso foi a uma vídeo locadora, perto de sua casa e pegou alguns filmes para assistir, entre eles seu favorito,Bonequinha de Luxo.
Assim que chegou a casa, tomou um bom banho e saboreou um delicioso frango assado que sua mãe preparara. Depois pegou o aparelho DVD da sala e levou para seu quarto e embora quisesse ver seu filme favorito pela quarta vez, optou por algo novo, um filme intitulado O Conde de Monte Cristo.
Baseado na obra de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo retrata a historia de um jovem inocente, que erroneamente, mas deliberadamente, é preso, mas trama uma brilhante estratégia para libertar-se e se vingar daqueles que o traíram.
O dia passou voando. Quando já estava completamente distraída com outro filme, ouviu o som da campainha e depois de alguns segundos, sua mãe apareceu à porta, seguida pela bela Olivia, que vestia um conjunto de moletom cinza e pantufas de coelhinho, segurando um travesseiro na mão.
- Olha quem está aqui, Em! - anunciou Elizabeth.
Olivia acenou meio tímida. Emily abriu um sorriso, desligando a TV.
- Oi Liv, entra!
- Não quero te atrapalhar, mas será que posso ficar e passar a noite aqui com você? Sua mãe já deu permissão. - a menina estava com os olhos marejados.
- Claro que pode! - Emily se preocupara ao ver lágrimas rolarem pelo rosto de sua amiga. Olivia entrou e Elizabeth fechou a porta dizendo que logo traria chocolate quente e alguns biscoitos.
- Obrigada, mãe! - agradeceu Emily, olhando para Olivia que sem dizer nada, sentou-se ao seu lado na cama, a abraçou e se pôs a chorar.
Emily esperou que Olivia se acalmasse e perguntou-lhe se agora queria falar sobre o que tanto a afligia.
Ela maneou a cabeça, enxugou as lagrimas e começou - Na semana passada, quando cheguei da escola, encontrei minha mãe bem machucada. Meu irmão estava cuidando dela. Ele me contou que havia saído mais cedo do trabalho - Evan trabalhava repondo produtos em um supermercado a mais ou menos um mês - e ao chegar em casa, meu pai estava bêbado,falava coisas horríveis e agredia minha mãe fisicamente. Ele foi para cima do meu pai, tirou ele de perto de minha mãe, mas ele parecia não querer desistir, então Evan lhe deu um soco.
- Nossa! Mas depois disso seu pai se acalmou? - Emily estava com os olhos arregalados, diante do que Olivia lhe relatava.
- Não. Meu pai quis revidar e Evan acabou perdendo a cabeça, ele o agrediu muito. Pela manha, eles discutiram novamente. Meu pai estava muito machucado e ainda bêbado, saiu com o carro e bateu em um poste.
- Meu deus! Como seu pai está? Porque não me contou isso antes? Eu poderia ter te dado mais apoio se soubesse o que estava ocorrendo. - Emily parecia realmente ofendida com o fato de sua amiga não ter lhe contado nada.
- Desculpa! Eu não queria te encher com meus problemas e no fundo, senti um pouco de vergonha por essa situação estar acontecendo. Meu pai está bem, mas o Mustang ficou totalmente destruído - Olivia novamente ficou com os olhos lacrimejantes - Não fui ver meu pai ainda. Falta-me coragem.
- E o seu irmão, como ele está com tudo isso? - só agora passara pela cabeça de Emily que Evan andava sumido nos últimos dias.
- Ele está bem, mas temo pelo ódio que ele sente de nosso pai. Isso não é nada bom.
Nesse momento, Elizabeth bate à porta do quarto, em suas mãos uma bandeja com duas canecas de chocolate quente e um prato com biscoitos - Hora do lanchinho!
Depois de devorarem os biscoitos com o chocolate, o ambiente já estava um pouco mais animado. Riram de algumas coisas que ocorreram na escola e Olivia, meio que sem querer, deixou escapar que tinha uma paixonite. Ethan Jones era um garoto de estatura média, magro, mas nem tanto. Pele clara, mas bronzeada do sol. Seus cabelos eram bem escuros, assim como os olhos ,negros como a noite.
- Ele é realmente muito bonito, mas não tanto quanto Evan! - o pensamento fora alto demais. Emily nem notou as palavras saindo de sua boca.
- Evan? Eu já desconfiava que você podia estar gostando do meu irmão!
O rosto de Emily passou de branco como a neve, para vermelho quase que instantaneamente.
Olivia então sorriu debochada - Relaxa. Acho que ele também gosta de você!
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