Capítulo 21
— Se você não parar com isso, eu vou fazer você engolir a próxima – Anelise olhou para Pedro que estava sentado na cadeira atrás dela pronto para atirar uma nova bolinha de papel.
Embora o loiro não tivesse coragem de fazer isso durante as aulas de física, assim que o professor de filosofia entrou na sala na terceira aula, ele havia começado a atirar bolinhas de papel na ruiva, quando viu que suas tentativas de chama-la e bater em seu ombro não surtiram efeito.
— Fala comigo então – Pedro respondeu no mesmo tom baixo, tentando não alertar o professor Wagner que tentava explicar as diferentes definições de amor dentro da filosofia grega.
— Falar o que? Que eu tô puta? É claro que eu tô puta. Eu tô sempre puta. – A garota respondeu rápido antes de voltar seu olhar para o professor.
— É, mas você nunca fica puta com o Rafael – Pedro se dobrou sobre a carteira para conseguir falar mais perto do ouvido de Ane.
— Isso porque o Rafa nunca foi idiota assim comigo antes. – A ruiva disse em um tom baixo e ainda assim suficiente para Pedro ouvir.
— Ele devia saber melhor do que falar da sua família conhecendo a história do seu pai. – O rapaz insistiu, tentando fazer Anelise falar sobre o que estava a incomodando desde a discussão com seu melhor amigo mais cedo.
— Isso não tem nada a ver com o filho da puta do meu pai – Anelise realmente se virou para encarar o loiro dessa vez.
Sua resposta não era uma mentira completa. Apesar da pontada de mágoa que havia sentido quando Rafael falou sobre sua família, o que mais a havia abalado era que o moreno quase havia falado sobre os sentimentos dela por Pedro na frente do rapaz.
Rafael era a única pessoa para quem ela realmente havia admitido esses sentimentos, embora fosse um acidente, e mesmo que ele tivesse dito que a notícia não era segredo para ninguém – além do próprio Pedro – ver seu melhor amigo prestes a falar sobre sua paixonite na frente do loiro a encheu com um misto de mágoa e raiva.
— É sobre a outra coisa então? – Pedro adivinhou, ele não queria falar de qualquer que fosse o interesse amoroso da ruiva, ainda que parte dele estivesse curioso para saber quem era o cara (filho da puta) que havia conseguido fazer Ane se apaixonar.
— Não é nada, OK? E é melhor você parar de me cutucar. – Ela fez um gesto na direção de Flávia que parecia prestes a cair da cadeira na fileira ao lado enquanto se inclinava o máximo possível para ouvir o que eles diziam – Sua namorada está quase surtando de ciúmes.
— Ela sabe que a gente é só amigo – O loiro continuou a olhar para Ane.
— E desde quando gente idiota tem bom senso? – Anelise fez questão de dizer isso alto o suficiente para que a morena ouvisse.
— Você ainda está puta com ela por causa da semana passada? – Pedro perguntou depois de lançar um olhar apologético para a namorada.
— Por ela foder com a melhor coisa que teria acontecido nessa bosta de sala? Imagina. – Ela viu um sorriso bobo se formar no rosto de Pedro e ficou confusa. – Por que você está sorrindo?
— Fazer o trabalho de sociologia comigo ia ser a melhor coisa que já aconteceu? – O loiro perguntou ainda sorrindo.
— Não é como se tivesse muita coisa boa acontecendo aqui para comparação – Anelise tentou parecer indiferente.
Ela estava prestes a acrescentar mais alguma coisa quando o professor apareceu do nada e bateu a apostila que estava segurando com força na carteira de Pedro, fazendo ele e Ane se assustarem e o resto da sala – exceto Flávia – rir.
— Philos ou Filio por sua vez – Wagner continuou a falar, sua voz se sobrepondo aos risos – Foi definido como o afeto que sentimos por aquelas pessoas que são importantes para nós, familiares e amigos o desejo de ajudar e cuidar, a preocupação com o bem estar. – Ao fim do discurso ele estava de volta à frente da sala – Mas é possível sentir mais de um tipo de amor por uma mesma pessoa? Sentir a abnegação do ágape o afeto de Filos e a atração de Eros pela mesma pessoa? Pedro? – O loiro congelou em seu lugar, sua mão ainda no ombro de Anelise tentando chamar sua atenção outra vez.
— Eu? – Ele afastou a mão do ombro da ruiva, seu rosto quase tão vermelho quanto os cabelos dela.
— Já que você está interessado na aula, aposto que você pode responder.
— Eu ficaria muito feliz em pesquisar isso para a próxima aula – O loiro brincou, tentando se desviar do constrangimento com uma piada como era de costume. Alguns dos alunos da sala riram, mas o professor não parecia impressionado.
— Sim, é possível – Anelise declarou antes que Wagner pudesse repreender o loiro pelo comentário – Você não necessariamente sente atração por alguém que ama incondicionalmente ou por quem nutre uma amizade forte, mas pode desenvolver ambos os sentimentos por alguém por quem já sente atração.
— Eu não me lembro de ter feito essa pergunta à senhorita, Anelise. – Wagner repreendeu a garota – Talvez eu deva descontar um ponto da sua nota até aprender a não falar sem ser solicitada.
— Isso é injusto – Pedro falou atrás dela, fazendo Wagner erguer as sobrancelhas.
— E você iria preferir que eu retirasse um ponto da sua nota?
— Sim – Pedro respondeu imediatamente.
— Acho que todos aqui acabaram de receber um exemplo de Filos – A expressão irritada de Wagner se desfez dando lugar a um sorriso. – Como vocês puderam ver tanto Pedro quanto Anelise estavam dispostos a se sacrificarem – Ele fez aspas com os dedos – um pelo outro.
— Mas isso não seria ágape? – Uma menina fileira do canto ergueu a mão.
— Essa é uma ótima pergunta, Talia. – Wagner sorriu para ela – Por muito tempo ágape abrangia também a área do Filos. O conceito foi separado depois, considerando Ágape um sentimento de amor nato, como supostamente o de uma mãe por um filho. O filos é um amor inato, que se desenvolve por alguém. No caso da Ane e do Pedro aqui, todos sabemos que eles são amigos. Portanto: Filos. O amor incondicional como Anelise disse até pode ser desenvolvido por alguém de forma inata, mas isso é raro, porque nós somos seres humanos e temos nossos limites de até quando podemos amar e quando passamos a odiar.
— Algum exemplo de Ágape? – Talia ergueu a mão outra vez.
— Claro. Para quem é cristão por exemplo, um grande exemplo de abnegação é o sacrifício de Jesus Cristo.
O resto da classe parecia realmente interessada na explicação agora, mas Flávia ainda continuava lançando olhares irritados para Anelise, quase como se quisesse matá-la com um olhar. A ruiva, no entanto, não estava prestando atenção, seus olhos focados no caderno enquanto fazia anotações.
— O cu chegou a trancar agora – Pedro se curvou mais sobre a carteira para que a ruiva pudesse ouvir sem se virar.
— Eu não acredito que ele usou a gente como exemplo pra uma merda dessas – A garota falou de volta, virando a cabeça apenas o suficiente para que o outro ouvisse antes de se voltar para o caderno outra vez.
— Mas temos que admitir que foi uma interpretação muito boa de Snape – Pedro se aproximou ainda mais, o suficiente para sentir o cheiro de amêndoas no cabelo de Ane. Seu tom se tornou ainda mais baixo para ter certeza que Wagner não ouviria – Eu estava esperando ele descontar dez pontos da Grifinoria.
Ane bufou com o comentário e se virou por um momento, apenas o suficiente para que Pedro percebesse o sorriso que enfeitava seus lábios. Era a primeira vez que ela sorria naquele dia e o loiro, por algum motivo, se sentiu eufórico por saber que havia causado isso. Ele sentiu um sorriso correspondente surgir em seu rosto e não parou de sorrir pelo resto da aula.
Quando o sinal para o intervalo bateu, Pedro e Anelise pegaram suas mochilas para sair da sala. Flávia os seguiu, praticamente se pendurando no pescoço do namorado. Ane nem mesmo tentou disfarçar o revirar de olhos com o óbvio exagero da garota ao abraçar e beijar o rapaz enquanto este tentava manter uma conversa normal.
— Você vai encontrar o Rafael? – Pedro perguntou, tentando esconder o desconforto que sentia com a morena agarrada a ele.
— Você fala como se eu tivesse uma lista gigante de amigos entre os quais escolher. – A ruiva brincou. – Além disso ele me mandou uma mensagem pedindo desculpas, não vou deixar aquele idiota se sentar sozinho durante o intervalo se culpando por tudo de ruim que já aconteceu no planeta terra.
— Vamos lá então – Pedro começou, mas foi interrompido quando Flávia parou a sua frente com os braços cruzados – O que foi, princesa? – Ane quase engasgou ao ouvir o apelido. Ela apertou os lábios tentando não rir.
— Você disse que íamos ficar juntos no intervalo – A morena reclamou fazendo beicinho e Ane revirou os olhos ao ver a garota agindo como criança. – Sozinhos.
— Tudo bem – Pedro lançou um olhar apologético para Ane que apenas deu de ombros, apesar de sentir uma imensa vontade de arrancar a franja da garota com as mãos.
— Te vejo depois então – A ruiva deu um tapa na nuca do rapaz a guisa de despedida e começou seu caminho para o refeitório.
— Vamos, bebê – Ane se virou e olhou para Pedro com com as sobrancelhas tão altas quanto possível ao ouvir o apelido de Flávia para seu amigo. A morena estava de costas para ela, seus braços ainda em volta do pescoço do loiro como se fosse um bicho preguiça.
"Bebê?" Ane formou com os lábios sem emitir nenhum som. Pedro mostrou o dedo do meio por trás das costas de namorada e a ruiva retribuiu fingindo vomitar.
Flávia, sem notar a presença de Anelise – ou fingindo não notar – Praticamente arrastou Pedro na direção da saída de incêndio. Assim que os dois desapareceram entre os outros alunos que iam e vinham pelo corredor, Ane fez seu caminho na direção do refeitório. Ela estava começando a sentir mais pena de Pedro pelo relacionamento com Flávia do que ciúmes.
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Rafael chegou ao refeitório sozinho. Bianca não parecia tão brava depois que voltou do período livre, – ela até sorriu conspiratoriamente para ele quando a professora de sociologia passava a próxima etapa do trabalho para a sala – mas assim que o sinal para o intervalo bateu, Celeste fez um sinal pedindo para Bianca permanecer na sala.
Rafael teria esperado, mas estava ansioso demais para falar com Ane – Isso se a garota ainda quisesse falar com ele.
O rapaz se sentou em uma mesa vazia e pegou o celular esperando que Ane tivesse respondido sua mensagem. A pouca esperança que tinha de que a garota o desculpasse se esvaiu quando viu que ela havia visualizado a mensagem cinco minutos atrás e não se deu ao trabalho de responder.
— Deixa eu adivinhar – Uma voz às suas costas o assustou e ele se virou para ver Anelise com uma leve carranca parada ali – Você já tá colocando um monte de caraminhola na cabeça, né? – Ela não esperou uma resposta antes jogar sua mochila sobre a mesa e se sentar de frente para o amigo. – A Bianca tá pegando alguém ou você irritou ela também?
— A Celeste pediu para ela ficar na sala para conversar – Rafael mexeu os dedos das mãos nervoso, sem saber como abordar a briga de mais cedo, mas precisando da garantia de que eles estavam bem.
— Eu não tô brava com você – Ane declarou, entendendo a preocupação do amigo apenas pelos seus gestos nervosos – OK. – Ela acrescentou após uma pausa. – Eu ainda tô um pouco puta com você, mas não por você ter surtado. Sinceramente estava esperando por esse momento há muito tempo.
— Bianca disse algo parecido – O moreno sorriu se sentindo um pouco mais aliviado. Ele fez uma pausa antes de acrescentar – Eu sei que não devia ter colocado sua família no meio da discussão, não é como se você vivesse num comercial de margarina também.
— Definitivamente não – A ruiva riu sem humor – Mas você estava certo em partes. Eu tenho uma mãe e irmãos que me amam e ter um pai de merda não significa que eu sei como você se sente. Apesar de saber que eu amei o desgraçado em algum momento, os anos que ele passou enchendo a cara e batendo na minha mãe antes de sumir e deixar a gente sem um tostão foram suficientes para apagar qualquer afeto que eu tivesse por ele. – A garota balançou a cabeça tentando afastar as memórias da última vez que havia visto seu pai antes de ser preso – Mas isso não é sobre mim e meus daddy issues. É sobre você e sua família de merda e se a coisa do casal de Chernobyl te incomoda, nós vamos ajudar você a resolver.
— Como?
— Sei lá. – Ane deu de ombros – A gente manda uma carta anônima pra sua madrasta. Arranca o pau do Mathias – Ela olhou pensativa para o lado por um momento antes de acenar levemente com a cabeça – Eu particularmente gosto bastante da última opção. – Rafael sorriu para o quão típica era aquela fala vinda da boca da amiga. A ruiva se tornou mais séria antes de acrescentar – Apesar do que eu disse antes, eu provavelmente estaria preocupada se estivesse no seu lugar.
— Provavelmente? – Rafael perguntou já sabendo a resposta.
— OK. Eu estaria preocupada – Ela cedeu com um revirar de olhos – Temos que concordar que por mais que a Letícia seja uma cruza do capiroto com o cusaruim, nem ela merece ficar com o escroto do Mathias.
Rafael concordou e os dois ficaram em silêncio por mais um tempo antes que o Rapaz falasse:
— Desculpa por quase ter contado pro Pedro que você gosta dele.
— Shhh – Ane olhou ao redor tentando se certificar de que ninguém ouviu – Não repita isso em público nunca mais.
— OK. – O moreno concordou facilmente, mas depois de um momento de silêncio acrescentou – Mas acho que é besteira sua esconder. Principalmente porque tenho certeza de que ele também gosta de você.
— Claro. E é exatamente porque me ama que ele tá namorando a Regina George da 25 de março. – Anelise bufou irritada – Você acredita que aquela filha da puta foi reclamar com a Celeste porque era injusto que o Pedro fizesse o trabalho com um amigo quando todos estavam fazendo com quem não conversa?
— Ela não está exatamente errada – Anelise lançou um olhar mortal para para Rafael – Que absurdo – Ele imediatamente reformulou tentando parecer o mais indignado possível.
— Eu sei que ela estava certa nisso – Ane disse exasperada – Só que depois, ela simplesmente se ofereceu para ser a dupla do Pedro, porque assim "Seria mais justo com a classe e ao mesmo tempo nenhuma outra dupla seria prejudicada ao trocar os pares e ter que refazer o trabalho" – Ela imitou deixando a voz mais aguda e irritante possível.
— E a Celeste caiu nessa? – O moreno perguntou cético.
— Não. A mulher é maluca, mas não é burra. – Anelise bufou – Mas ela também não queria foder com os outros grupos, daí aceitou a ideia. Agora Pedro está fazendo dupla com a oferecida e eu com um dos mathiminions.
— Rogério ou Bruno?
— Bruno. – Ela respondeu mal-humorada. – Eu usei a sua ideia e disse que a gente devia fazer o trabalho por mensagem enquanto desse. Ele aceitou a ideia porque me odeia tanto quanto eu odeio ele.
— De quem estamos falando mal? – Bianca se sentou ao lado de Anelise e jogou seu braço sobre os ombros da garota de um jeito displicente.
— Do Bruno – Rafael respondeu.
— Um escroto do caralho – Bianca adicionou o insulto sem se preocupar com o contexto da conversa – Meus pêsames, a propósito – Ela olhou para Ane, sabendo que a amiga e o garoto estavam fazendo o trabalho juntos.
A ruiva apenas soltou um bufo ainda irritada com a situação, mas optou por mudar de assunto.
— O que a Celeste queria com você?
— O de sempre. Dizer que eu tenho um futuro brilhante pela frente e blá blá blá – A negra revirou os olhos – Aparentemente ela estava fazendo um estudo comparativo entre o rendimento escolar de alguns formandos do 1º para o 2º ano e descobriu que minha média caiu de 9,5 e 8 pra 6 e 5. Ela está querendo saber o que aconteceu e me ajudar a recuperar as notas, porque tenho muito potencial – Ela viu seus dois amigos trocarem um olhar e Rafael morder o lábio – O que foi?
— Eu sei que você vai ficar puta por eu dizer isso, mas ela está certa – Bianca abriu a boca para interromper, mas Rafael continuou – Você foi a única pessoa da sala que acertou todas as questões de matemática na semana passada. Eu sei que fez isso pra ajudar o Victor e eu no trabalho em grupo, mas acho que está na hora de fazer isso por você.
— E daí o que? Não é como se eu fosse fazer algo incrível com as minhas notas. Eu vou ficar presa nessa cidade seguindo a maldita tradição de família – Ela olhou para os lados para ter certeza que Pedro não havia ouvido.
— Biz, – Rafael começou, mas a garota balançou a cabeça.
— Não começa. Eu não preciso que as pessoas voltem a espalharem boatos meus com os professores por causa de uma nota alta, ou a falar comigo como se eu fosse a porra de uma enciclopédia – Ela mudou para um tom mais humorado quando continuou – Sabe como é difícil pegar um cara quando ele se sente intimidado pela sua inteligência? – Os outros dois não pareceram achar o comentário engraçado – Imagino que não... Victor deve achar seu jeito nerdola cativante. – Ela riu quando a pele pálida de Rafael ganhou um tom vermelho nas bochechas e aproveitou para afastá-los ainda mais do assunto de suas notas – Você já contou sobre a nova fase do trabalho pra Ane?
— O que é? – A ruiva olhou de Bianca para Rafael curiosa. Bianca sorriu internamente, feliz por ter conseguido se livrar dos holofotes.
— Não é nada demais – Rafael respondeu gaguejando um pouco – A gente vai ter que compartilhar nossos interesses de entretenimento, ler livros, assistir filmes, ouvir músicas preferidas um do outro.
— E nós temos que fazer isso em encontros – Bianca frizou a última palavra fazendo Rafael ficar ainda mais vermelho.
Como era esperado Anelise ficou tão animada com a notícia quanto Bianca. Se possível ela parecia até mais feliz que o próprio Rafael.
O moreno, por sua vez, não podia negar que a perspectiva de momentos assistindo filmes e ouvindo músicas junto com Victor parecia maravilhosa – Pelo menos agora que sabia que esses encontros não acabariam com ele no hospital – mas ele também estava com medo. Sua ansiedade sempre aumentava quando Victor estava por perto. De certa forma, Rafael sentia falta de odiar o rapaz. Pelo menos a raiva conseguia derrubar um pouco o medo de fazer ou dizer algo idiota na presença do outro.
Rafa foi afastado de seus pensamentos quando o sinal para a próxima aula bateu. Os três amigos pegaram suas mochilas e começaram o caminho de volta para as salas. Pedro estava parado na escada – Provavelmente esperando por Ane – e para alívio dos três Flávia não estava a vista.
— Então, vocês estão de boa agora? – Ele perguntou para Ane. Ao contrário Bianca, Pedro nunca foi uma pessoa sutil. Ou bom interpretando sinais. Ele precisava de confirmação verbal para ter certeza do que estava acontecendo em pelo menos 70% das vezes e quase nunca evitava pedir essa confirmação, por mais incoveniente que fosse.
— Obviamente – Anelise bagunçou os cachos de Rafael para frizar sua resposta.
— Ótimo. – O loiro comentou – Porque eu tenho essa piada ótima e vocês estarem brigados estragaria o clima. Vocês sabem qual a árvore que tem diarréia?
— Tô fora – Bianca não esperou o irmão terminar de falar antes de começar a subir as escadas. Ela já tinha que aguentar as piadas de Pedro em casa, não ia aturar isso na escola também.
— Estraga prazeres – O loiro resmungou, mas continuou a olhar com expectativa para os dois outros.
— Qual? – Ane cedeu depois de alguns momentos.
— O Jatobarro. – Pedro riu. Anelise bateu com a mão no rosto e Rafael teve que se controlar para não fazer o mesmo.
— Essa foi horrível – Ane reclamou.
— Eu gostei. – Ane se virou para ver quem tinha falado e se assustou quando viu que Victor estava parado atrás dela rindo um pouco.
— Por favor, não o incentive – Pediu Rafael ao mesmo tempo em que Pedro se animava com a perspectiva de ter um público.
— Eu posso contar outra – Ane deu uma cotovelada em suas costelas e começou a arrastá-lo para sala. – Talvez mais tarde.
— Estamos atrasados para aula. – A ruiva comentou por cima do ombro enquanto andava.
Victor e Rafael observaram enquanto os outros dois se afastavam por um momento e então começaram o caminho para a própria sala.
— Você parece bem mais feliz agora – Victor comentou enquanto subiam as escadas. – Acho que aquela merda não era tão difícil de limpar, né?
— Acho que não. – Rafael sorriu um pouco sem jeito pelo exagero na metáfora mais cedo.
— Sobre o nosso encontro... – Victor começou um momento depois, as palavras fizeram Rafael se atrapalhar com os próprios pés e tropeçar no próximo degrau, Victor segurou seu braço por reflexo para impedí-lo de cair.
— Porra – O moreno falou quando conseguiu recuperar o equilíbrio – Eu odeio essa escada.
— Você está bem? – Victor olhou para ele dividido entre divertido e preocupado.
— Sim. Não é a primeira vez que isso acontece. Pés atrapalhados e escadas não combinam. – O rapaz tentou parecer normal apesar da euforia crescente ao perceber que o outro continuava segurando seu braço enquanto subiam os últimos degraus – Sobre o que você estava falando?
— Nosso encontro de sociologia – Victor lembrou – Eu sei que você trabalha quase todo o final de semana, mas pensei que eu poderia ir para sua casa no domingo a tarde pra começar.
— Eu acho que vai ser muito difícil conseguir fazer qualquer coisa em casa nesse final de semana. As irmãs da minha madrasta vão vir para a cidade. O que significa que vou ter que dormir no sofá. Ou passar a noite garantindo que a Lili não mate as primas enquanto dormem.
— E se você vier pra minha casa no sábado depois do trabalho? – Victor ofereceu sem pensar. – Eu peço pro motorista te levar pra lavanderia no domingo.
— Sério? – O moreno sorriu. Ele normalmente não aceitaria a proposta, mas ficar em uma casa abarrotada de gente que o olhava como se estivesse transportando a peste negra não era nem um pouco tentador.
— Sério – Victor sorriu de volta, encantado em ver as covinhas no rosto do moreno.
— OK.
— OK. – Victor olhou para baixo, finalmente percebendo que estivera segurando o braço do garoto enquanto andava e o soltou. – Desculpe.
— Eu nem percebi – Rafael deu de ombros tentando parecer indiferente embora uma voz estivesse se esgoelando em seu cérebro e gritando "Mentiraaaa".
A professora de história já estava na sala quando eles entraram e metade do quadro já estava preenchida com a agenda do dia.
— Ah, vejo que os senhores resolveram participar da minha humilde aula. – Rosa ergueu as sobrancelhas embora não parecesse realmente zangada. Rafael podia ver Bryan e Kevin mexendo a boca para simular um boquete no fundo da sala enquanto alguns outros alunos riam. – Silêncio – A mulher repreendeu o resto da sala antes de voltar a atenção para os dois atrasados – Vão para os seus lugares.
Os dois rapazes obedeceram e se sentaram. Bianca lançou um olhar malicioso para Rafael e o moreno sentiu seu rosto aquecer, mas balançou a cabeça tentando transmitir que nada havia acontecido.
No fundo da sala Victor, voltou sua atenção para o caderno quase imediatamente, se apressando para terminar de copiar tudo antes que a professora apagasse. Foi só depois de copiar tudo e ficar olhando para a lousa esperando a professora começar a aula, que seus pensamentos voltaram para a conversa que teve com Rafael.
Ele havia convidado Rafael para sua casa.
Ele havia convidado um garoto abertamente gay pra passar a noite em sua casa.
Uma noite em que seu pai também estaria lá.
— Merda. – Ele murmurou para si mesmo, considerando dizer a Rafael que teriam que pensar em outra forma de fazer o trabalho. Ele descartou o pensamento um momento depois. O moreno parecia tão feliz em não ter que dormir no sofá da própria casa que ele não tinha coragem de retirar o convite.
"Talvez meu pai ache alguma coisa para fazer no sábado" Ele pensou "Se não, no mínimo vai ser uma noite interessante"
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NOTA DA AUTORA
Demorou um pouco mais que eu esperava para sair esse capítulo, mas espero que tenha valido a pena.
Próximo capítulo tem mais Rafael e Victor.
Bye, meus clichezudos. Até o próximo 🤟🏳️🌈
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