Capítulo 09
— Aquele viado, filho da puta fez o quê? – Mathias olhou para Letícia com os olhos cheios de raiva.
— Eu não sei como ele descobriu, aquele nerd do caralho não faz outra coisa além de estudar e trabalhar. Deve ter sido um daqueles amigos esquisitos dele quem falou.
— Eu vou quebrar todos os dentes daquele filho da puta – Mathias levou o cigarro que estivera fumando de volta aos lábios, dando uma última tragada antes de jogar a bituca na direção de um aluno do Primeiro ano que estava passando. O garoto olhou irritado na sua direção como se estivesse prestes a dizer algo, mas ao ver Mathias, desviou os olhos e continuou seu caminho.
— Olhe, é o Victor – Letícia interrompeu as divagações do rapaz olhando para o garoto negro que se acabava de passar pelos portões.
Mathias não estava contente com a interrupção, mas colocou de volta os óculos e olhou na direção que Letícia havia indicado. A garota já estava acenando para o rapaz e fazendo sinal para que ele se aproximasse. Victor não parecia muito feliz, mas sorriu com educação antes de chegar perto.
— Oi, Letícia – Ele cumprimentou, antes de olhar para Mathias – Você é o gay... – Victor pareceu instantaneamente horrorizado com as próprias palavras e Mathias estava prestes a dar um soco na cara do rapaz, quando ele se desculpou – Merda. Eu não quis dizer isso. Eu só ouvi o Rafael ontem no ponto de ônibus.
— Você e meio mundo – Resmungou Mathias irritado – Aquele merdinha me paga.
— Ele realmente é um Idiota – Victor bufou – Odeio essa merda de bullying, sair por aí intimidando as pessoas é uma atitude tão babaca. Onde ele pensa que tá? Num filme clichê dos Estados Unidos?
Letícia arregalou os olhos quando Victor disse isso, ela olhou para Mathias esperando que o loiro realmente socasse a cara do filho do prefeito dessa vez. Para sua sua surpresa, no entanto, um sorriso cínico se formou no rosto do loiro antes de falar.
— Eu concordo totalmente, amigo. Ele sai por aí falando essas merdas homofóbicas... – Mathias fez um esforço para manter as feições sérias antes de acrescentar – Quero dizer, um dos meus melhores amigos é gay e por isso ele me trata como se eu fosse também? Isso é ridículo... Não que tenha algo errado em ser bich... gay, mas ainda assim...
— Eu sei, mano. Tem um monte de gente ignorante assim por aí... Esse babaca em específico é minha dupla no trabalho de sociologia... – Victor suspirou descontente.
— Meus pêsames – O loiro bufou, fingindo que a informação era novidade.
Victor não sabia o que responder e o silêncio que se seguiu o deixou desconfortável. Um sorriso se formou em seu rosto quando viu Laura e Marcos passando pelo portão da escola e ele os chamou, agradecido por ter uma desculpa para se afastar.
Letícia imediatamente se escondeu atrás de Mathias quando a irmã olhou na direção deles, torcendo para que a mais nova não a visse. Ela mal respondeu à despedida de Victor.
— O que foi isso? – A garota riu quando Victor e seus amigos estavam fora do campo de visão – Virou apoiador da causa LGBT de repente?
— Credo, não. Eu quero que essas bichinhas explodam, mas acabei de ter uma ideia de como infernizar o Gayfael.
— O quê? Você acha que o Victor vai ficar nessa por muito tempo? Ele vai perceber logo que o Rafael não é um valentão. – Letícia zombou – Ele é sonso demais pra fazer bullying. Além disso, a escola inteira sabe que ele é gay, por mais burro que o Victor seja, não tem como ele ficar sem saber por muito tempo.
— Não importa – Mathias deu de ombros – O tempo que ele acreditar tá bom pra mim. E se seu irmão levar uns socos enquanto isso, melhor ainda.
— Ele não é meu irmão – Letícia revirou os olhos.
— Que se foda. Mas como diz aquele ditado vamos matar dois viados com uma cajadada só.
— Acho que o ditado é sobre coelhos – Letícia franziu a testa. – Você acha que o Victor também é gay? – Ela perguntou descrente.
— Claro que é – O rapaz respondeu com arrogância – Ninguém defende tanto um viado se não for viado também.
— Se você diz – Letícia deu de ombros e Mathias a puxou para frente enlaçando seu corpo com os braços de forma que seus rostos quase se tocavam.
— Sim, eu digo – A garota abriu a boca para responder, mas ele a beijou. O beijo foi um tanto agressivo, mas Letícia retribuiu com empolgação por alguns momentos antes de se afastar.
— A gente não devia estar fazendo isso – Apesar de suas palavras, ela não parava de encarar os lábios de Mathias. – Minha mãe disse que eu tinha que terminar com você.
— O que ela não sabe não vai machucar – Ele a beijou novamente e sorriu com arrogância ao se afastar – Além disso, ninguém me dá um pé na bunda.
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— Você não dormiu? – Perguntou Anelise vendo Rafael bocejar pelo que parecia a décima vez nos últimos quinze minutos.
— Não, – O rapaz respondeu cansado – Muito medo da Letícia enfiar uma aranha ou escorpião por baixo da porta do meu quarto. – Ele bocejou de novo antes de completar – Obrigado por me ajudar tomar conta da Lilith.
— Como se fosse a primeira vez que eu faço isso – A menina bufou. – Sua Pessimadrasta sempre deixa a Lili na lavanderia pra ir no salão de beleza. Se ao menos ela percebesse que não tem conserto...
Rafael deu um soco de brincadeira no braço da amiga e eles continuaram o caminho do ponto de ônibus para a lavanderia.
— Rafafa – A garota de seis anos correu para o irmão assim que a porta se abriu.
— Oi Lilith, você se comportou? – Apesar da pergunta ser dirigida a irmã, seus olhos buscaram Marina que ainda estava do outro lado do balcão arrumando as coisas para ir embora.
— Sim – A menina respondeu ao mesmo tempo que a atendente fazia um sinal positivo com a cabeça. Liliane pareceu notar Anelise pela primeira vez e soltou Rafael, indo ao encontro da ruiva. – Tia Ane.
Anelise lançou um olhar mortal a Rafael sabendo que era ele quem tinha ensinado a Lili a chamá-la de tia.
— Oi, pirralha – Ela cumprimentou com uma batida de punhos ao invés de um abraço.
— Eu já estou indo – Disse Marina sorrindo para os dois, ela se dirigiu a Rafael para continuar– A Lili já comeu e escovou os dentes, mas ela queria esperar você para fazer a lição de casa.
— Tudo bem, obrigado, Marina – A mulher abraçou Liliane e acenou com a mão em adeus para os dois mais velhos.
Rafael jogou a mochila atrás do balcão antes de se sentar no chão com Ane e Lili para ajudar a mais jovem terminar a lição.
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Cerca de três horas depois Rafael estava atrás do balcão mexendo no celular. Anelise se levantou do chão, se aproximou e sentou sobre a bancada. Depois de terminar as atividades, Liliane estava ocupada com um de seus desenhos e nem percebeu a ruiva se afastar.
— Se importa em descer daí? – Rafael ergueu as sobrancelhas para amiga.
— Na verdade, sim – Em vez de descer, Ane colocou as duas pernas sobre o balcão e se ajustou para olhar para seu amigo – Então...
— Ane, eu já disse que não – O rapaz lançou um olhar irritado para a amiga – Eu não gosto de festas e, mesmo se eu gostasse, não tem a mínima chance que a Luciana me deixe sair no sábado. Eu trabalho o dia todo no sábado.
— Rafaaaaaa – A garota gemeu – Sábado é o único dia que o pessoal sai com fantasias legais ao invés de quase pelado. Eu quero ir no Carnaval das bruxas. Por favoooorrrrr.
— Eu não estou te impedindo de ir – O rapaz revirou os olhos – Só dizendo que não vou com você. Você pode ir com o Pedro e a Bianca
— Eu adoro aqueles dois, mas não é a mesma coisa. – Ane bufou – Eu não quero passar a noite toda segurando vela igual o ano passado. Vai Rafa – A ruiva deu a ele uma imitação totalmente falha de um olhar do Gato de Botas da DreamWorks. – Você vai ter muito tempo pra ser um babaca viciado em trabalho quando terminar a escola, cara.
— Ela tem razão – Rafael olhou na direção da sala de máquinas e viu Francesca parada perto da porta.
— Vó Fran, não dá corda pra ela – Ele pediu passando a mão pelo rosto.
— Você tem que se divertir um pouco, garoto – Ela deu um sorriso travesso antes de acrescentar – Arrumar um ou dois namoradinhos também.
Rafael sentiu o rosto ficar vermelho com as palavras da mulher mais velha e Liliane como boa pestinha que era, escolheu aquele momento para prestar atenção na conversa.
— Rafafa tem um namorado – Ela gritou se levantando e se juntando ao grupo.
— Não, Rafafa não tem um namorado – Ele corrigiu, mostrando discretamente o dedo do meio para Ane que estava rindo.
A ruiva finalmente saltou da bancada e carregou Liliane sussurrando alguma coisa em seu ouvido. Rafael já sabia o que viria a seguir antes que Ane colocasse Lili sentada na bancada e a loira lhe lançasse um olhar triste/fofo muito mais eficiente que a tentativa anterior de Anelise.
— Rafafa, você tem que ir na festa – Ela disse fazendo beicinho – Ane vai ficar triste se você não for. – Anelise sussurrou mais alguma coisa em seu ouvido e a garota acrescentou – Eu vou ficar triste também.
— Tudo bem. Vocês venceram – Rafael revirou os olhos enquanto as duas garotas se cumprimentavam com um "high five". Se o rapaz fosse honesto, uma parte dele queria mesmo ir ao Carnaval das bruxas, ele não tinha ido a um desde que seu pai morreu e, como Ane havia dito, era o dia mais legal de carnaval na cidade, as pessoas saiam na rua com fantasias de filme de terror à noite ao invés de ficarem seminuas o dia todo sob o sol escaldante. – Se vocês acharem um jeito da Luciana me deixar sair, eu vou no Carnaval das bruxas com você.
— Ela não precisa saber. – Rafael olhou para Francesca que sustentava um olhar astuto – Não é como se ela viesse à lavanderia para saber que você não está aqui.
— Isso é verdade – Considerou o rapaz – OK. Eu vou pra por... – Ele olhou para Lili enquanto quase deixava o palavrão escapar – Porcaria da festa.
— Ótimo – Anelise deu o maior sorriso que Rafael já havia visto e o rapaz tinha certeza que ela só não o abraçou para não estragar a postura de "bad girl".
Francesca conversou com eles por mais alguns momentos, dizendo que falaria com Marina para cobrir o turno da noite de Rafael no sábado. Quando ela se afastou, voltando para a sala das máquinas, Anelise caminhou na direção da porta.
— Você já vai? – O rapaz perguntou surpreso, Ane não costumava ir embora antes que Luciana aparecesse para buscar Lili.
— Só até a barraca no final da rua. Comprar Pastel e caldo de cana pra Lili. – Ela piscou para a menina loira que estava de volta a seu desenho no outro canto da recepção.
— Você subornou ela com isso, né? – O sorriso de Ane foi resposta suficiente – Traíra – Ele resmungou olhando para irmã que espichou a lingua para ele.
— Não a culpe por ser esperta – Ane continuou seu caminho para a porta. Ela se virou antes de atravessá-la – Quando eu voltar vamos falar sobre sua fantasia.
Rafael gemeu com isso, pelo olhar no rosto da ruiva ele tinha certeza que ia se arrepender de ter concordado em ir para a maldita festa.
NOTA DA AUTORA
Tá chegando a hora da festa... O que será que vai rolar?
Espero que tenham gostado do capítulo, vou atualizar o próximo assim que der.
Até o próximo capítulo 🤟🌈
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