Capítulo 01
Rafael acordou com o celular tocando ao lado de sua cama, indicando que eram 5:30 da manhã, ele cogitou desligar o aparelho e voltar a dormir, mas se o som estridente do alarme não fosse o suficiente para acordá-lo, o grito de sua madrasta no outro quarto dizendo para ele "Levantar a bunda preguiçosa da cama", seria.
Depois de tomar um banho rápido e escovar os dentes ele foi para a cozinha vestido com um roupão de banho para preparar o café da manhã, sabendo que suas irmãs e madrasta estariam acordadas em aproximadamente vinte minutos.
Seus amigos sempre diziam o quanto era errado que ele tivesse que acordar mais cedo que os outros e, principalmente, ter que cozinhar para eles todos os dias quando suas meias irmãs não faziam nada o dia todo e ele ainda tinha que trabalhar na lavanderia depois da escola.
Rafael sabia que não era justo, mas sua vida não havia sido justa desde quando seu pai morreu, um ano e meio atrás. Ele sentia falta do homem, que sempre foi gentil mesmo em suas repreensões e apenas sorriu e disse que ele era livre para amar qualquer pessoa quando ele "saiu do armário".
Com sua madrasta, no entanto, sempre foi diferente, ela nunca o desrespeitou abertamente, mas a homofobia era visível na forma contraia os lábios e torcia o nariz para qualquer coisa relacionada ao LGBT. Depois que Miguel morreu, porém, ela mudou sua atitude de "Eu não tenho nada contra" para "Você é uma aberração e só não te mando para a rua porque não quero ser presa"
- Rafafa - Veio a voz animada da entrada da cozinha e o adolescente se virou para ver Liliane parada na porta, a garota tinha seus cabelos pretos cacheados bagunçado em todas as direções e estava vestindo um pijama de princesa anormalmente grande para seu corpo de seis anos.
- Ei, Lilith - Ele sorriu para a criança e depois de desligar o fogão e pôr o prato de bolinhos de chuva e o café recém coado sobre a mesa, se aproximou da menina e a carregou. Liliane o abraçou com força como fazia todas as manhãs.
Ela era a única filha de sua madrasta que não parecia odiá-lo, talvez porque, ao contrário de Letícia e Laura, Liliane era muito pequena quando seus pais se casaram. Ou talvez fosse só porque ela ainda não tinha se contaminado com a ignorância da mãe.
- Torrada? - Ela pediu em meio a um bocejo quando Rafael a colocou sentada em uma das cadeiras.
- O que você quer hoje? - O rapaz sorriu ao ver os olhos verdes da menina se iluminarem.
- Tartaruga - Ela praticamente gritou fazendo Rafael levar o dedo a boca para pedir silêncio. - Tartaruga - Repetiu mais baixo
Rafael concordou com a cabeça, antes de pegar três fatias de pão de forma e começar a trabalhar. A casa não tinha uma torradeira, mas ele havia aprendido a fazer as "torradas especiais de frigideira" com seu pai. Poucos minutos depois ele voltou com uma torrada que parecia bastante com uma tartaruga e cujas partes eram coladas com geleia e o desenho do casco e rosto eram feitos com Nutella.
- Você tem que comer isso antes da sua mãe acordar, OK, Lilith? - Ela acenou com a cabeça e ele deu um beijo em sua testa. - Eu já volto.
Ele correu para o quarto para se preparar para ir para escola. O moreno não se deu ao trabalho de tentar pentear os cabelos, - seus cachos rebeldes apenas voltariam a mesma posição - apenas vestiu o uniforme cinza horrível da escola e um Jeans e saiu arrastando a mochila para a cozinha enquanto tentava calçar os sapatos. Ele ficou aliviado ao ver que Liliane ainda estava no mesmo lugar, a menina podia ser um furacão às vezes. Esse foi o motivo porque ele a apelidou de Lilith depois de ver Supernatural.
Rafael tinha acabado de passar manteiga em um pão e se servir de um copo de de café com leite quando outro alarme ecoou na casa indicando que em breve suas irmãs e madrasta estariam de pé. Ele se esforçou para engolir o café e o pão o mais rápido que podia e não se importou em lavar o copo, sabendo que ainda estaria lá quando voltasse de seu turno na lavanderia.
- Estou saindo, Lily - O adolescente pegou três bolinhos de chuva para comer no caminho e deu um beijo molhado no rosto da irmã que a fez gemer de desgosto.
Ele sabia que faltava quase uma hora para as aulas começarem, mas gostava de sair mais cedo de casa para evitar começar o dia ouvindo os insultos de Luciana e suas filhas. Já teria que aguentar muitos deles quando voltasse.
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A escola estava quase vazia quando Rafael chegou dez minutos depois. Não era incomum, os únicos outros alunos que estavam na escola tão cedo eram aqueles que moravam em áreas muito afastadas e cujos ônibus tinham mais de uma linha para fazer.
O jovem foi imediatamente para a entrada da escola, onde estavam as listas de alunos por sala, para descobrir o que o no terceiro ano. Não era tão ruim quanto poderia, ele iria dividir sala apenas com dois de seus bullys habituais e, apesar de Pedro e Anelise não estarem em sua sala, Bianca estava.
Ele se afastou e começou a andar na direção do refeitório para esperar por seus amigos, mas parou em seu caminho quando viu passar um homem negro com um corte de cabelo baixo e expressão séria usando um terno, acompanhado por um adolescente, também negro, usando um corte afro baixo e roupas caras demais para uma escola pública suburbana.
- O prefeito está transferindo o filho dele para cá - Rafael saltou um pouco quando ouviu a voz de Anelise tão perto de seu ouvido. A ruiva riu antes de dar um tapinha em suas costas. - E então, já viu qual o número da nossa cela esse ano?
- Bianca e eu na cela C, você na cela A e Pedro na D. - Ele viu a expressão de desamparo no rosto da amiga e acrescentou - Pelo menos Otávio está na sua sala, ele tem uma bunda linda.
- Eu trocaria a bunda linda dele pela sua cara feia a qualquer hora - Anelise riu, seus olhos castanhos brilhando de malícia - Ou pela bunda magrela do Pedro. - Ela gemeu - Mais a porra de um ano em uma porra de uma sala em que ninguém gosta de mim e eu não gosto de ninguém.
- Veja pelo lado bom - Rafael deu um sorriso forçado - Pelo menos você não é o único aluno gay assumido em uma escola de trezentos alunos, dos quais pelo menos quinze por cento acha que você é uma aberração, um pervertido ou que vai pegar HIV com um toque seu.
- Sim, definitivamente é uma merda ser você - O rosto de Anelise se contorceu em simpatia - O "Bullshit Squad" caiu na mesma sala que você de novo?
- Só o Kevin e o Bryan - Rafael deu de ombros, eles não eram tão insuportáveis quando o líder não estava por perto - Bruno e o Rogério foram para o A com você - Anelise gemeu de novo - Felizmente, Mathias foi para o B, só vamos ter que aguentar aquela praga nos intervalos, almoços e, provavelmente, na saída.
- Bom, pelo menos uma merda a menos - A garota concordou enquanto eles voltavam a caminhar indo na direção à mureta que ficava perto do portão.
Agora, mais perto da hora de bater o sinal, a quantidade de alunos da escola estava aumentando bastante. Rafael estava tão distraído olhando para as pessoas que atravessavam o portão que nem percebeu que alguém colocou o pé em sua frente antes de tropeçar. Ele caiu em suas mãos e joelhos e olhou para cima ao ouvir uma risada. Um garoto baixo e corpulento olhava para ele, seu sorriso mais brilhante que o de um comercial de pasta de dente.
- Aposto que você gosta bastante dessa posição, não é, "Fag"?
- Sabe - Rafael se levantou batendo nos joelhos para tirar a sujeira das calças. Essa não era uma ocorrência incomum nos anos anteriores - O mundo seria um lugar muito melhor se você usasse o Google tradutor para estudar em vez de aprender palavras ofensivas.
Ignorando as outras ofensas que Bruno lhe atirava, Rafael alcançou Anelise que estava parada a alguns metros o encarando.
- O que aconteceu? - Ela perguntou, embora por sua expressão ela parecesse já saber a resposta.
-;Bullying clássico. - O rapaz suspirou - Meu pai sempre disse que eu devia ter orgulho de quem eu sou, mas às vezes eu me pergunto se não era ficar trancado no armário até a faculdade ou... Não sei... Para sempre.
Anelise passou o braço por trás do pescoço do amigo e usou a outra mão para bagunçar seus cachos rebeldes ainda mais .
- Seu pai estava certo e não deixe um bando de idiotas com cérebros do tamanho de ervilhas te dizerem o contrário.
- Quem você está xingando a essa hora da manhã? - Perguntou uma voz feminina. Os dois amigos olharam para trás e viram Pedro e Bianca com sorrisos idênticos no rosto.
Essa era uma das poucas ocasiões que era possível ver alguma semelhança nos gêmeos. Filhos de uma descendente de alemão e um imigrante cubano, os dois deviam bater algum recorde de gêmeos mais diferentes. Bianca era negra e tinha os mesmos olhos azuis da mãe, Pedro era loiro e herdou os olhos castanhos do pai.
- Você definitivamente devia controlar esses seus problemas de raiva. - A única resposta de Anelise foi mostrar o dedo do meio para ele.
O sinal irritante da escola começou a soar, tirando um gemido coletivo dos alunos. Rafael e Bianca foram para o Terceiro ano C que ficava no primeiro andar do segundo bloco e Pedro e Anelise foram para respectivas salas que ficavam no térreo do mesmo bloco.
A primeira aula do 3ºC foi matemática e pareceu se arrastar como uma tartaruga de três patas, mesmo com todo o tempo tomado com as formalidades de início de ano. O novo professor era o sr. Patrício, ele parecia ter por volta de setenta anos, Rafael o achou bastante parecido com o Tio do desenho Jack Chan.
O segundo Período foi sociologia e a professora Celeste estava falando sobre o projeto de aula quando a porta da sala se abriu e o coordenador entrou acompanhando o adolescente que Anelise havia identificado como o filho do Prefeito. Rafael não pode deixar de se questionar de onde o rapaz havia surgido. Ele nem sabia que o prefeito tinha um filho.
- Esse é o filho do nosso querido prefeito, Victor - Apresentou o Sr. Valder, pomposo como sempre. O garoto fez uma careta com a apresentação e Rafael não pode deixar de se sentir um pouco mal por ele, afinal, sabia o quanto era horrível ter um título que não tinha nada a ver com suas habilidades ou personalidade. Quando a apresentação só recebeu alguns murmúrios de reconhecimento da sala, o coordenador insistiu - Sejam educados e o cumprimentem, por favor.
- Bom dia, Victor - O cumprimento coletivo desanimado lembrava muito o de uma sala do primário e Rafael não resistiu e, quando todos se calaram, acrescentou - Seja bem-vindo a nossa classe.
Alguns risos abafados percorreram a sala, até mesmo Kevin e Bryan estavam rindo. O olhar de Victor se fixou em Rafael e este sentiu seu rosto queimar de vergonha e abaixou os olhos para o caderno. Mesmo naquele breve momento, não pôde deixar de notar o quanto o aluno novo era bonito, alto com as sobrancelhas grossas e os olhos escuros brilhantes.
O coordenador não pareceu entender a ironia das palavras de Rafael e sorriu:
- Pelo menos alguém aqui é educado.
Quando Valter deixou a sala, Celeste indicou um dos lugares e Victor atravessou a sala e se sentou na penúltima carteira da fileira do meio, logo atrás de Bianca.
- Como eu estava dizendo - Celeste começou tentando chamar a atenção do dos demais alunos da sala. - O projeto de sociologia desse primeiro semestre vai ser um experimento social. - Houve alguns gemidos e bufos descontentes na sala. Celeste era conhecida na por seus experimentos sociais de merda. Corria um boato pela escola de que, no ano anterior, ela quase havia sido demitida porque um de seus alunos foi à uma boca de fumo entrevistar traficantes. - Como eu estava dizendo, vocês vão se separar em duplas - Automaticamente o olhar de Rafael e o de Bianca se encontraram, mas seus sorrisos se apagaram com a frase seguinte - As duplas precisam ser entre alunos que não conversam normalmente, portanto estou vedando duplas como Kevin e Bryan, Lúcia e Marcos e Rafael e Bianca.
Rafael escondeu a cabeça entre os braços na carteira enquanto Bianca xingava baixinho. A reação foi espelhada por muitos dos alunos. A única pessoa que parecia empolgada com a tarefa era Raquel, o que não surpreendeu ninguém, ela sempre foi tão puxa-saco dos professores, quanto Valter era do prefeito e isso era dizer muito.
- Eu vou escolher cada uma das duplas e não quero reclamações, a menos que haja uma boa razão para isso. Raquel e Marcos - Ela anunciou. A menina sorriu enquanto o rapaz revirou os olhos. - Bianca e Sandra - Bianca soltou um suspiro aliviado, Sandra não era sua pessoa favorita, mas com Kevin, Bryan, Raquel, Kaique e Denise na sala, as coisas poderiam ser piores.
Conforme a professora ia formando as duplas na sala Rafael sentiu o pânico crescer. A probabilidade de acabar em uma dupla com Kevin ou Bryan estava aumentando e, embora ele conseguisse revidar a maior parte do bullying com comentários inteligentes na escola, não tinha certeza se poderia fazer isso trabalhando em um projeto fora da escola com um deles, principalmente se o bullying se tornasse físico.
Quando faltavam apenas seis alunos sem dupla, Celeste chamou seu nome, ele lançou um olhar cheio de desespero para Bianca e esperou pela sentença prendendo a respiração. A professora concluiu:
- Victor será sua dupla.
- Graças a Deus.
Rafael não percebeu que havia dito isso muito alto até que ouviu as risadas. Ao olhar para os lados viu que todos o estavam encarando, a maioria tinha a expressão divertida, mas havia alguns olhares de nojo como eram o caso de Kevin, Bryan e Denise. O rapaz sentiu seu rosto esquentar com a atenção.
Ele olhou para Bianca e percebeu que ela estava se esforçando para não rir também, atrás dela, Victor tinha as sobrancelhas levantadas e um leve rubor no rosto.
Rafael voltou a olhar para frente e bateu a cabeça na carteira em um gesto dramático murmurando:
- Zeus, apenas mande um raio e me desintegre agora.
*NOTAS DA AUTORA*
Oi, gente, epero que tenham gostado do primeiro capítulo.
Esse é o primeiro romance que eu escrevo, então se não estiver tão bom me dê um desconto. Uma hora eu pego o jeito
Vou tentar postar pelo menos 1 cap a cada 2 semanas pra revezar com o outro livro que estou escrevendo.
Então é isso, até o próximo 🤟
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