Capítulo 4

- Eu deveria socar a cara daquele idiota. - Lauren resmunga entredentes.

- Pare de bobeira.

- Bobeira Camily? Ele fez você perder anos da sua vida namorando.

- O que queria que eu fizesse? Arrastasse ele até uma igreja e obrigá-lo a se casar comigo? - Pergunto.

Apesar de tudo ainda tenho um pouco de amor próprio, então com toda certeza foi melhor acabar com esse relacionamento antes que eu ficasse me iludindo achando que Frank mudaria de ideia algum dia.

- Óbvio que não Camy, mas se Frank não tinha nenhuma intenção de se casar desde o começo, deveria ter deixado isso bem claro antes de começarem a namorar.

- Frank nem mesmo me ama, então é aceitável que ele não tenha intenção de se casar comigo. - Falo.

- Você deveria estar brava. Não sei como consegue manter a calma em um momento desses. No seu lugar eu já teria arrancado os olhos daquele estúpido.

- Ainda bem que somos bem diferente uma da outra. - Sorrio abertamente.

Eu sei que perdi muito tempo da minha vida, mas o que eu iria fazer? Não posso obrigar ninguém me amar, então tudo o que posso fazer é seguir em frente.

Não iria adiantar de nada ficar com raiva e querer matá-lo, pois no final das contas eu acabaria corrompendo a mim mesma por estar odiando alguém tão fortemente.

Se Frank não foi capaz de me amar, desejo que ele encontre uma mulher que possa fazê-lo mudar de ideia, porque apesar de já ter feito sua escolha, talvez ele mude de ideia quando encontrar seu verdadeiro amor, que no caso não sou eu.

- Eu jurava que ele te amava. - Lauren fala.

- Você estava errada minha amiga.

- Estou tão triste por você. - Ela pega minha mão e segura com firmeza.

- Não fique. - Nego com a cabeça. - Se não deu certo vida que segue.

- Você tem razão. - Lauren bate palmas. - Quem perdeu mesmo foi aquele idiota.

Por que tenho uma sensação que fui eu a perder alguma coisa? Odeio me sentir assim, mas eu sei que vai demorar algum tempo até eu enfim superar completamente, então tudo o que posso fazer é me manter firme enquanto espero pelo dia que enfim eu irei esquecê-lo.

- Se por acaso ele mudar de ideia, não o perdoe facilmente. - Lauren aponta o dedo para mim. - Faça-o sofrer.

- Isso não vai acontecer.

- Como tem tanta certeza? - Lauren pergunta.

- Frank não é alguém que volta atrás com a sua palavra, então nem estou pensando nessa possibilidade.

Lauren se levanta rapidamente, pega minha mão e me puxa em sua direção. Assim que me levanto ela começa a me puxar em direção ao meu quarto.

- O que está fazendo? - Pergunto confusa.

- Vamos sair essa noite. - Ela fala. - Você precisa se divertir um pouco.

- Não quero. - Solto minha mão do seu aperto.

- Camy...

- Não quero sair não porque estou me sentindo triste demais para fazer isso, mas sim porque tenho que trabalhar amanhã. - A corto.

- Tem certeza? - Ela parece não acreditar em mim.

- Tenho certeza. - Confirmo com a cabeça.

Eu realmente não estou afim de sair de casa nesse momento, então espero que Lauren não tente me obrigar a aceitar suas loucuras.

Conheço minha amiga bem o suficiente para saber que ela ainda vai aprontar alguma coisa vergonhosa, só por achar que vai estar me animando.

- Já que não quer sair então me ajude a arrumar meu quarto. - Ela sorri abertamente.

- Mudei de ideia, agora quero sair de casa o mais depressa possível.

- Não pense que pode escapar. - Lauren semicerra os olhos.

Ela pega minha mão e começa a me puxar em direção ao seu quarto, enquanto eu resisto sem muito sucesso.

Quando Lauren abre à porta do quarto meus olhos se arregalam a ponto de saltar do meu rosto.

- Que bagunça.

Tem roupas e livros sobre a cama e espalhados pelo chão. Tem caixas por todos os lados, o que dificulta se movimentar dentro dele.

Quando Lauren trouxe sua mudança eu havia saído para fazer compras para abastecer minha despensa, então não vi a completa bagunça que está seu quarto.

- Parece que passou um tornado por aqui. - Continuo olhando em volta sem acreditar.

- Nem está tão bagunçado assim. - Lauren revira os olhos.

- Você só pode estar brincando. - Começo a rir. - Vamos demorar um mês para organizar tudo no seu devido lugar.

- Não seja exagerada Camily.

Eu realmente não estou exagerando. Lauren é extremamente desorganizada, mas não consegue enxergar isso.

- Por que está tudo bagunçado? - Pergunto. - Por que tirou as roupas das malas e jogou por todo o quarto?

- Estava procurando pelo meu colar. - Ela fala rindo. - Depois que eu baguncei tudo, percebi que ele estava no meu pescoço.

- Como assim Lauren? Não olhou antes?

- Não. - Ela nega com a cabeça.

- Cada dia que passa está ficando ainda mais louca. - Começo a rir.

Esse colar é a única coisa que Lauren tem da sua falecida mãe, então ela cuida dele como se fosse um filho.

Seu pai ainda está vivo, mas nem no passado e muito menos agora ele foi um pai presente. Sua mãe a criou sozinha com muita dificuldade depois que o traste fugiu com o dinheiro da família, as deixando na miséria.

Lauren não gosta que nem menciona o nome do seu pai, então nunca falamos sobre ele. É um assunto proibido.

Quando eu voltei para Nova York sua mãe já havia falecido, e infelizmente eu não estava presente em um momento de tamanha dor para ela.

Não deve ter sido nada fácil passar por algo tão triste sozinha. E para piorar ainda mais sua situação, no dia seguinte após a morte da sua mãe, seu pai apareceu do nada, e lhe tomou o único bem que ela possuía, uma pequena casa onde ela e sua mãe passaram por momentos felizes e tristes.

Eu ainda acho que seu pai forjou os documentos da casa, pois Clarissa jamais iria deixar a filha sem nada, e passar o único bem que possuía para o homem que acabou com sua vida.

Lauren não quis correr atrás dos seus direitos, porque não queria ver seu pai em sua frente, então acabou abrindo mão do pouco que tinha para se manter longe do homem que tanto odeia.

Olhando para o passado turbulento e dificultoso da minha amiga, percebo o quanto fui fútil a maior parte da minha vida. Ela passou por tantas dificuldades, mas se manteve firme, e hoje posso dizer com toda certeza que Lauren é a mulher mais forte e decidida que eu conheço.

Tenho orgulho de ser sua amiga, e tenho orgulho da mulher incrível que ela se tornou. Talvez algum dia eu aprenda a ser pelo menos um pouco como ela, para mim já seria o suficiente.

- Por onde devemos começar? - Pergunto enquanto olho em volta.

- Essa é uma ótima pergunta.

Lauren coloca a mão na cintura e também começa olhar em volta com desânimo.

- Se não fosse tão desatenta, teria evitado essa bagunça. - Digo.

- Fique quieta e comece a arrumar minhas roupas.

- Pode ter certeza que vou cobrar pelos meus serviços. - Sorrio cínica.

- Você não teria coragem. - Ela semicerra os olhos.

- Pode ter certeza que eu tenho coragem. - Pisco para ela.

Lauren se abaixa, pega um monte de roupa e do nada joga no meu rosto.

Sinto um cheiro meio estranho que parece ter ficado impregnado no meu rosto, e quando olho para baixo me deparo com uma calcinha vermelha.

- Por favor, me diga que essa calcinha está limpa. - Levo a mão a boca.

Lauren caminha até mim, se abaixa e pega a calcinha no chão e fala rindo:

- Ela está suja, usei ontem.

- Sua porca! Como tem coragem de jogar uma calcinha suja no meu rosto?! Por quê misturou as roupas limpas com as sujas?!

Corro em direção ao banheiro, mas acabo tropeçando em uma das caixas e acabo quase caindo de cara no chão. Por sorte consigo me equilibrar antes que fique banguela. 

Assim que entro no banheiro, abro a torneira da pia, pego um sabonete e começo a esfregar pelo meu rosto enquanto escuto Lauren rindo atrás de mim.

Enxaguo meu rosto após esfregá-lo diversas vezes, então Lauren me dá um toalha para me enxugar. Só aceito porque fui eu que a coloquei no banheiro, então sei que ela está limpa.

- Que nojo. - Faço uma careta.

- Tão enjoada. - Ela revira os olhos.

- Está falando isso porque não foi você que acabou com uma calcinha suja da sua amiga no rosto.

Esse tipo de coisa só acontece comigo. Pelo jeito estou nos meus dias de azar, então já posso me preparar para o pior.

- Vai ter que lavar todas as suas roupas. - Falo.

- Por quê? - Lauren pergunta.

- Você misturou as limpas com as sujas. - Falo.

- É só cheirar Camy.

- Até parece que vou cheirar suas roupas para saber se está suja ou não.

- Você é tão higiênica. - Lauren sorri de canto.

- Alguém nessa casa precisa ser não é? - Dou um tapinha no seu ombro.

- Está me chamando de porca? - Ela finge estar brava.

Lauren não chega ser extremamente porquinha, mas também não é tão limpa quanto deveria ser.

- Agora que estou próxima de você estou sentindo um cheiro estranho. - Começo a farejar. - Você por acaso tomou banho ontem?

- Bem...

- Que porquice Lauren. - Faço uma careta.

- Eu acabei adormecendo no sofá, só fui acordar hoje de manhã.

- Primeira regra a se cumprir nessa casa é tomar banho todos os dias. - Começo a rir.

- Acho que vou embora. - Lauren sai do banheiro.

- Quero só ver se quando tiver um namorado vai continuar com essas porquices. - Cruzo os braços.

Ela para e se vira para mim, coloca um sorriso largo nos lábios e fala com desdém:

- Aqui é no amor e no fedor minha amiga.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top